sábado, 26 de março de 2016

Santa Páscoa!

A misericórdia de Deus não tem limites!
Papa Francisco
A UASP deseja a todas as suas Associadas e amigos uma Santa Páscoa!

sexta-feira, 25 de março de 2016

UASP em Fórum: A Misericórdia nas tradições abraâmicas!

Neste Ano Santo Extraordinário de acolhimento, contemplação e celebração da Misericórdia de Deus, proposto a toda a Igreja Católica pelo Papa Francisco, a UASP promove, em Fátima, na Casa Provincial das Irmãs do Amor de Deus, dias 29 e 30 de Abril de 2016, um encontro, aberto a todos os interessados, para reflectir sobre a Misericórdia nas tradições religiosas reveladas: Judaica, Cristã e Muçulmana. (continua)
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Vivemos entre o horror e a esperança - Anselmo Borges

A paixão e a política19 DE MARÇO DE 2016 00:02
Por Anselmo Borges   
“Pascal observou agudamente nos Pensamentos: "Jesus estará em agonia até ao fim do mundo; é preciso não dormir durante este tempo." Todos sabemos do "calvário" do mundo, e as personagens são as mesmas.

1. Jesus sabia que, a continuar nas suas palavras, atitudes e comportamentos, o que o esperava era a morte, condenado pelos poderes religiosos e políticos. Assim, realizou uma ceia, a Última Ceia: "Isto é o meu corpo", "este é o cálice do meu sangue". Aquele pão e aquele vinho são a sua pessoa entregue, para dar testemunho da Verdade e do Amor.

2. Judas era discípulo, mas sentiu-se enganado, porque Jesus não tomava o poder. Assim, entregou-o, tendo recebido trinta moedas de prata. Depois, perdido, enforcou-se. De que valera aquilo? Mas o dinheiro, em conluio com o poder político, continua a ser o móbil da entrega de milhões de inocentes à ignomínia e à morte.

3. Fora Caifás, o sumo sacerdote, que dera este conselho: "Interessa que morra um só homem pelo povo." Tinha medo do poder dos romanos. Quantos inocentes não foram e são vítimas da razão de Estado ao longo dos tempos!

4. No Getsémani, Jesus entrou em pavor e angústia, pôs-se a rezar instantemente e suou sangue. Deus aparentemente não o ouviu, até os discípulos mais íntimos adormeceram. Todos, de um modo ou outro, fomos, seremos, confrontados com horas do horror da solidão mortal.

5. Jesus é condenado em primeiro lugar pela religião oficial, cujos sacerdotes viram os seus poderes e privilégios ameaçados. Do pior que há: viver à custa da religião e condenar à humilhação, à submissão e indignidade, à violência, à morte, utilizando o santo nome de Deus.

6. Pedro era um homem espontâneo, amigo e generoso. Tinha prometido que acompanharia Jesus para todo o lado. Seguiu-o de longe até à casa do sumo sacerdote. Aí, uma criada atirou-lhe: "Esse também estava com ele." Pedro acobardou-se e negou o Mestre. Depois, recordou-se da palavra de Jesus: "Antes de o galo cantar, negar-me-ás três vezes." "E, vindo para fora, chorou amargamente." Ainda hoje aparece por vezes um galo nas torres das igrejas lembrando o facto. Pedro foi o primeiro papa. A Igreja está assente na fé de Pedro, uma fé vacilante e sempre ameaçada. "Senhor, aumentai a minha fé."

7. O conselho dos anciãos do povo, sumos sacerdotes e escribas levaram Jesus ao seu tribunal. Não tendo poder para o executar, entregaram-no a Pilatos, o governador romano, representando o império. Pilatos ter-se-á apercebido da inocência de Jesus. Mas, ao ver que os judeus se não calavam e que podiam acusá-lo ao imperador, lavou as mãos e mandou crucificá-lo. Pilatos é talvez o nome mais repetido ao longo dos séculos, porque está no Credo. Lavou as mãos, proclamando inocência. Mas elas estão manchadas pelo sangue de um poder cobarde. Ainda hoje se diz de alguém que se encontra num lugar indevido: "Está ali como Pilatos no Credo."

8. A multidão gritava: "Crucifica-o, crucifica-o." No Domingo de Ramos, tinha aclamado Jesus: "Hossana, hossana ao filho de David!" Não se pode confiar nas multidões: são volúveis, interesseiras, manipuláveis. No fim, preferiram Barrabás.

9. Ao saber que Jesus era galileu, Pilatos remeteu-o a Herodes, que se encontrava naqueles dias em Jerusalém e que tratou Jesus com desprezo. Herodes e Pilatos ficaram amigos, pois antes viviam em mútua inimizade. Interesses comuns, políticos, económicos e outros, podem levar ao corte de relações ou à amizade. Mas será amizade mesmo?

10. Simão de Cirene foi obrigado a carregar com a cruz. Na via dolorosa da vida, também há cireneus, gente que apoia, por vezes até forçada. Mas apoia.

11. Os soldados riram-se, fizeram chacota e imensa troça de Jesus. Afinal, a sua própria vida não era feliz.

12. As mulheres, talvez porque são mais cuidadoras da vida e amem mais, foram as únicas que não fugiram e estiveram sem medo junto à cruz.

13. Mesmo no final e na suprema dor, os seres humanos comportam-se de modo diferente. Também foram crucificados dois malfeitores: um continuou a blasfemar, o outro reflectiu e pediu a Jesus que se lembrasse dele no seu Reino. O centurião deu glória a Deus: "Realmente este Jesus era justo."

14. No total abandono, Jesus perdoou a quem o matava, e rezou, a gritar, perguntando, aquela oração que atravessa os séculos: "Meu Deus, meu Deus, porque é que me abandonaste?" Deus não disse nada, mas Jesus continuou a confiar: "Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito."

15. Depois, os discípulos fizeram a experiência avassaladora de fé de que este Jesus crucificado está vivo em Deus, e acreditaram, porque Deus é Amor. Nasceu assim a esperança para todas as vítimas da história. Mas é em Sábado que vivemos: entre o horror da Sexta-Feira e a esperança do Domingo da Páscoa." Anselmo Borges, em Crónica publicada no DN de 16.03.2016 

terça-feira, 15 de março de 2016

E viva Comboni.......Comboni: 185 anos 15 de Março de 2016

São Daniel Comboni faria 185 anos nesta terça-feira, 15 de março de 2016.
Nasceu em família humilde de agricultores, num pequeno povoado à beira do lago de Garda, rodeado por montanhas.
Grande apóstolo da África.

Parabéns a toda Família Comboniana!

segunda-feira, 14 de março de 2016

O GOSTO PERVERSO DE ACUSAR Frei Bento Domingues, O.P.


1. Bergoglio, desde que foi nomeado bispo de Buenos Aires, empenhou-se em transfigurar, a partir da sua prática, o imaginário religioso do confessionário. Viu que era preciso fazer dos lugares de tortura psicológica e moral espaços e tempos de festa, mediante a manifestação da misericórdia infinita de Deus no comportamento dos confessores.

O sacramento de reconciliação tem e teve muitos nomes, até o de “tribunal”. Numa aula de teologia dos Sacramentos, um estudante, ao ouvir tal designação, exclamou: só podia ser um tribunal fascista! Para o Papa Francisco, o confessionário tornou-se um dos lugares da prática mais profunda da sua teologia da libertação e da sua actuação pastoral.

No passado dia 9 de Fevereiro, na celebração da Eucaristia, rodeado de franciscanos Capuchinhos, disse-lhes directamente: “a vossa tradição é a do perdão, oferecer o perdão”. Só aquele que se sente pecador pode ser um grande perdoador no confessionário. Os que se julgam puros e mestres sabem apenas condenar.

O argentino universalizou depois, de modo coloquial, a sua exortação[1]: “Falo-vos como irmão e, em vós, gostaria de falar a todos os confessores, especialmente neste Ano da Misericórdia: o confessionário existe para perdoar. Se tu não puderes dar a absolvição – admito esta hipótese – «não maltrates!» A pessoa procura conforto, perdão, paz na sua alma; quer encontrar um sacerdote que a abrace, lhe diga e lhe faça sentir: «Deus ama-te!» Lamento ter de o dizer, mas quantas pessoas se queixam – creio que a maioria de nós já terá ouvido esta observação: «nunca me vou confessar porque certa vez me perguntaram, fizeram-me isto e aquilo …» Por favor! “

Finalmente, com humor carinhoso, apresentou o exemplo de um grande perdoador capuchinho que ele conheceu. Tinha sempre pessoas em fila de espera para se confessarem. “Uma vez, ao visitá-lo, disse-me: Tu és bispo e podes esclarecer-me: eu penso que peco porque perdoo demais; ando com este escrúpulo, mas encontro sempre o modo de perdoar”. Que fazes, perguntou-lhe Bergoglio, quando te sentes assim? “Olha, vou à capela e, diante do tabernáculo, digo: desculpa-me, Senhor, perdoa-me, penso que hoje perdoei demais. Mas, foste tu, Senhor, quem me deu este mau exemplo”.

2. O Sumo Pontífice aproveitou a ocasião para tornar o seu discurso ainda mais abrangente: “Existem outras linguagens na vida. Não há apenas a palavra. Temos também os gestos. Se uma pessoa se aproxima de mim, no confessionário, é porque sente algo que lhe pesa, do qual deseja libertar-se. Talvez não saiba como dizer, mas o gesto fala. Se esta pessoa se aproxima, é porque gostaria de mudar, deixar de fazer isto ou aquilo, de se transformar, ser pessoa de outra maneira. Isto é dito através deste gesto de aproximação. Não é preciso fazer perguntas do género: mas tu ?... Se alguém se aproxima é porque na sua alma quer mudar. Mas muitas vezes está condicionada pela sua psicologia, pela sua vida, pela sua situação… Ad impossibilia nemo tenetur (ninguém é obrigado a coisas impossíveis).

Com esta peça de antologia, Francisco desautorizou séculos de práticas de opressão pseudo-religiosa. No entanto, o que o preocupa é o presente e o futuro. Encerrou a sua homilia com uma exortação cheia de afecto responsabilizante: O perdão é uma carícia de Deus. Na Bíblia, o grande acusador é o diabo ou os que o imitam, os que têm gosto em acusar, como os escribas e os fariseus.

3. A cena evangélica deste domingo é muito conhecida e vai na mesma direcção. Levaram a Jesus, para lhe armarem uma cilada, uma mulher surpreendida em flagrante adultério[2]. O texto não está muito preocupado com questões jurídicas concretas a esse respeito[3]. O que lhe interessa é mostrar Jesus a desmascarar as pessoas que se julgam santas, cumpridoras exemplares das leis religiosas e que andam sempre à procura de poderem acusar alguém, no caso, escribas e fariseus. Hoje, ainda existem muitas sociedades que usam os mesmos bárbaros processos. Importa encontrar os meios adequados para varrer da face da terra essa vergonha.

A preocupação de Jesus era, pelo contrário, desmascarar a hipocrisia desses acusadores, prontos a matá-la à pedrada. Jesus escreve na areia com um desprezo infinito por aquele zelo bíblico. Desarma os atiradores com uma simples observação: Quem de entre vós estiver sem pecado atire a primeira pedra. Remédio eficaz: puseram-se todos a andar a começar pelos mais velhos.

Nas sociedades ocidentais, esta prática desarmada por Jesus já não é a mais comum. Em questões de sexo, vale tudo ou quase, embora o voyeuirismo ainda alimente alguns meios de comunicação social. Mas o gosto perverso de acusar, de encontrar alguém em falta, dentro e fora das religiões, nos espaços sagrados ou profanos, diz-nos que os fariseus e os escribas ainda não são uma espécie em extinção. Quem dera! Mas ainda persiste o gosto de novas formas de apedrejar “suspeitos” em praça pública.





13. 03. 2016



[1] Cf. L’Osservatore Romano semanal (11.02.2016). A tradução, mesmo com arranjos, é sempre má. Os itálicos e as deslocações das aspas são da minha responsabilidade.
[2] Jo 8, 1-11.
[3] Cf. Deuteronómio 22, 13-29

sábado, 12 de março de 2016

ECOS DA GUINÉ : Manga di branco!..( Ena, tanto branco!...)

Arrumadas na prateleira as emoções de Bafatá e arredores (foram 3 batalhões, 13 companhias e alguns pelotões dispersos – todos visitados com alguma assiduidade), registadas num diário, escrito em folhas de bloco, paciente e sucintamente; está amarelecido, tem manchas de água mas o escrito da velha “bic” não borrou… Ainda se lê bem, numa grafia cuidada, na maioria, embora alguns dias, por inércia, enfado ou outra razão qualquer, apresentem hieróglifos apressados, ainda decifráveis com paciência. Pelo menos é um repertório de vivências, umas positivas pela esperança e pela fé, outras de quase desespero pela inutilidade duma vida que se consumia na preguiça, no deixar correr, na desconfiança, na agrura da contrariedade, em ambiente de vício, conversas e discussões porcas e picantes, jogos, bebida e tabaco. Quem não queria deixar-se contaminar… que luta! Que raiva! Que paciência! Abstracção e sublimação!!! 

Arrumadas as emoções… encaixotámo-nos o melhor que pudemos para um regresso que, à semelhança da vinda, se imaginava penoso e difícil. (continua)

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domingo, 6 de março de 2016

ECOS DA GUINÉ: GABU - Que aconteceu? UASP

Piche! Encomendação dum militar falecido. (23 de Julho de 1974)
Ida arriscada, picada longa e brutal, fui chamado de Bafatá a Piche. Um rapaz de Tomar, o Alves Correia, que, por falta de assistência, passou a “meta”. Medo, apreensão, coração nas mãos, passamos Gabu – cidade linda e bem traçada, geometricamente, com movimento especial, naquelas avenidas bem iluminadas por candeeiros de praça, solenes e altaneiros, muito bem colocados. Parecia civilização! Fardas às centenas.
Hoje? O traçado é o mesmo. Mas, ó céus, o alcatrão? derreteu, evaporou. Pó e lixo, ena tanto! Na época das chuvas como será? A entrada para o adro da igreja, a entrada para o hospital... ó buracos! Fios caídos, postes inclinados, maltratados... ainda dará luz? Duvido. A Irmã Andreia levou-nos à Casa das Mães, onde a assistência é primorosa. Não se pode fotografar o recinto do hospital. (Continua)

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UM CONTADOR DE HISTÓRIAS SUBVERSIVAS Frei Bento Domingues O.P.


1. Segundo os evangelhos sinópticos[1], Jesus não deu nenhum contributo para o avanço das ciências, nem revelou um grande pendor metafísico, embora não faltem investigadores que, hoje, o reconheçam como um filósofo.

O facto é que não deixou nada escrito. A sua breve intervenção pública acabou num fracasso tão vergonhoso, que ninguém poderia descobrir alí qualquer caminho de futuro. Aconteceu que os seus seguidores, depois de várias crises, não recalcaram a sua memória. Alguns judeus continuaram a ver, naquele carpinteiro de Nazaré, o messias esperado; outros recusaram-no, o que nada tem de surpreendente. Passados dois mil anos, Daniel Boyarin, conhecido especialista do Talmude, observa que se há alguma coisa que os cristãos sabem bem a propósito da sua religião é que ela não é o Judaísmo. Se há alguma coisa que os judeus sabem bem a propósito da sua religião é que ela não é não o cristianismo. Segundo esse professor de Berkeley, reexaminando as suas fronteiras, nem sempre foi assim nem tem que continuar assim[2]. Mais ainda: certos judeus que o tinham considerado um traidor, como aconteceu com Paulo de Tarso, acabaram por descobrir que Jesus era e é o Cristo de uma dimensão tal que não cabia nos horizontes de um só povo. As suas cartas são reconhecidas como os primeiros escritos cristãos. São textos de interpretação da significação de Jesus Cristo nas experiências de transformação da vida das comunidades cristãs.

 Nas famosas Epístolas paulinas, o Jesus pregador da vinda do Reino de Deus reaparece como Cristo pregado, esperança da ressurreição e fonte divina de salvação universal, cósmica.

Os fogosos escritos de S. Paulo, deslumbrados pela fé no Ressuscitado, não apagaram, no entanto, a memória “histórica” de Jesus.

Dispomos de quatro narrativas, com objectivos, origens e estilos diferentes, mas com o mesmo assunto: Jesus de Nazaré, o amado de Deus cravado na Cruz e que a morte não pode conter. Os três Evangelhos sinópticos insistem em Jesus pregador da proximidade do Reino de Deus. Gosto de ler esses textos imaginando Jesus a contar histórias e a participar em acontecimentos subversivos. 

Os historiadores preocupam-se em destrinçar o que se pode dizer de Jesus observando o método histórico e o que deve ser atribuído às reconstruções feitas a partir da fé das comunidades cristãs. Os textos dos Evangelhos testemunham de Jesus Cristo vivido nas antigas e novas experiências humanas das comunidades. Não cortam nem com a história nem com a realidade presente. As Escrituras crescem com os seus leitores. O real não é só o comprovadamente histórico.

Quando os pregadores repetem as leituras bíblicas da missa, atraiçoam a sua missão. Não fazem a ponte - nem pedem para ser ajudados a fazer essa ponte - entre o passado e a nossa actualidade tão complexa.

2. Neste Domingo, é proclamada a parábola do Filho Pródigo[3]. Espero que nenhum pregador a vá apresentar como uma boa prática a recomendar aos pais e educadores. Seria um desastre. Compensar e festejar os mais mal comportados!? Mas não há nada como ler essa bela narrativa de um filho estroina, um pai que perde a cabeça e do filho ajuizado, completamente indignado.

A linguagem das parábolas não é a dos catecismos nem a dos manuais de boas maneiras. Destina-se, no caso dos Evangelhos, a subverter as representações que temos de Deus e da religião. A nossa tendência é fazer um Deus à imagem dos nossos interesses. O que as parábolas dizem, sem dizer, é que a lógica de Deus é muito diferente da nossa mediocridade e justiça mesquinha.

A parábola não ensina, dá que pensar. Liberta a imaginação. Não nos deixa acorrentados às religiões que herdámos. A fé cristã, ao proclamar, na Eucaristia dominical, a parábola do Filho Pródigo vem dizer: não estraguem o Domingo! É a festa das pessoas em processo de transformação. A Eucaristia - o Papa Francisco tem insistido muito neste ponto - não é um prémio, uma recompensa para os bem-comportados, segundo um código de moral convencional. É um convite para a festa, para a festa de Deus revelada nos gestos e nas palavras de Jesus.

3. Segundo os Evangelhos, o Mestre revelou-se um grande contador de histórias subversivas ou consoladoras. Reconstruidas segundo o que era importante para as comunidades, comunidades criativas, fiéis, mas não herdeiras da repetição.

Agora, quem conta histórias na missa? Quando é que se reúnem os participantes, por grupos, para seleccionar, em correlação com os Evangelhos, as histórias mais significativas e mais interpelantes, no coração da nossa história?

Os cristãos juntam-se para um jantar de festa. Não é para dizer que está tudo bem, pois sabemos que a criação inteira geme e sofre as dores de parto até ao presente[4], mas é por causa da alegria que vivemos e lutamos para que ela seja completa[5].



06.03.2016



[1] Mateus, Marcos e Lucas
[2] Le Christ Juif, Cerf, Paris, 2013 p.13
[3] Lc 15, 11-32 faz parte das chamadas Parábolas da Misericórdia
[4] Rom. 8, 22
[5] Jo. 15, 11; 1 Jo 1, 4

sexta-feira, 4 de março de 2016

ECOS DA GUINÉ : É Domingo ( em Bafatá ) - UASP

Pés enterrados na poeira infecta, circulando para evitar os montes de lixo e excrementos dos animas a vaguear em liberdade pelas ruas, atravessámos uma rua (pouco) alcatroada e penetrámos no meandro das tabancas assoladas de lixo e pó, aqui e ali bancas improvisadas, primitivas, com laranjas descascadas, mancarra, peixe, sandes, e outros géneros, à disposição e à espera de quem apareça para comprar. Dois burricos, a cismar, atrelavam uma carrocita com alguns trastes. O Bispo, com a saquita das alfaias debaixo do braço, distribuía sorrisos e saudações a alguns conhecidos que connosco cruzavam… Igreja cheia, a igreja da missão (Nossa Senhora de Fátima) acolheu um bom grupo de cristãos, de vestes domingueiras, bem apetrechados, com quem celebrámos festivamente o Dia do Senhor. (continua)

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quarta-feira, 2 de março de 2016

ESTA QUARESMA COMEÇOU BEM (2) Frei Bento Domingues, O.P.


1. Há 25 anos, a convite do Centro Bartolomé de Las Casas, de Cusco, participei num congresso internacional sobre modelos de Inculturação e Modernidade, realizado na cidade do México. Samuel Ruiz Garcia, bispo de San Cristobal de las Casas, estava hospedado no convento dominicano onde também eu tinha sido fraternalmente acolhido. Pude conversar longamente com esta figura do catolicismo mexicano que, na altura, já andava nas bocas do mundo, vigiado pelo Governo e pelo Vaticano. Contou-me que tinha sido um padre muito conservador. O contacto com a vida terrível e humilhada dos índios de Chiapas, a participação no Vaticano II e na conferência de Medellin (Colômbia), mostraram-lhe que o caminho do catolicismo era o da incarnação nas culturas nativas. Daí brotou a teologia indigenista que se prolongou na teologia da libertação.

Participei, então, com representações de várias dioceses, numa fervorosa romagem ao Santuário da Virgem de Guadalupe, presidida pelo referido bispo, de protesto contra a prisão de um padre responsável pela nova orientação pastoral indigenista[1].

Voltei a encontrar o bispo Samuel no meio do seu povo, onde se anunciava a guerra na qual ele desempenhou um papel de mediador, evitando um genocídio. Gostei de ver o Papa Francisco a rezar junto ao seu túmulo.

2. Na visita pastoral ao México, o Papa foi extremamente duro com os exploradores da população pobre, sobretudo com os narcotraficantes. Mas ao fazer o balanço da viagem com os jornalistas, foi enfático: Quero dizer uma coisa, uma coisa justa, sobre o povo mexicano. Tem uma cultura… milenária. Sabeis que hoje, no México, se falam 65 línguas, contando as indígenas? É um povo duma grande fé, também sofreu perseguições religiosas, existem mártires: irei canonizar dois ou três.

(…) O «povo» não é uma categoria lógica; é uma categoria mística. Como conseguiu este povo não falir, com tantas guerras? E as coisas que sucedem agora... Um povo que ainda tem esta vitalidade só se explica por Guadalupe.

No primeiro dia, o destaque foi para o encontro com o episcopado. Perante os graves problemas que este tem de enfrentar, o Papa lembrou que era preciso um olhar que reflectisse a ternura de Deus. Por isso, sede bispos de olhar límpido, alma transparente, rosto luminoso; não tenhais medo da transparência. A Igreja não precisa da obscuridade para trabalhar. Vigiai para que os vossos olhares não se cubram com as penumbras da névoa do mundanismo; não vos deixeis corromper pelo vulgar materialismo nem pelas ilusões sedutoras dos acordos feitos por baixo da mesa; não ponhais a vossa confiança nos «carros e cavalos» dos faraós de hoje, porque a nossa força é a «coluna de fogo» que irrompe separando em duas as águas do mar, sem fazer grande rumor[2].

O Papa observou que a hibridação irreversível da tecnologia aproxima o que está afastado, mas, infelizmente, torna distante o que deveria estar perto.

Por isso, nos vossos olhares, o povo mexicano tem o direito de encontrar os indícios de quem «viu o Senhor». Isto é o essencial. Assim, não percais tempo e energias nas coisas secundárias, nas críticas e intrigas, em projectos vãos de carreira, em planos vazios de hegemonia, nos clubes estéreis de interesses ou compadrios. Não vos deixeis paralisar pelas murmurações e maledicências. Introduzi os vossos sacerdotes nesta compreensão do ministério sagrado. A nós, ministros de Deus, basta a graça de «beber o cálice do Senhor», o dom de guardar a parte da sua herança que nos foi confiada, apesar de sermos administradores inexperientes. Deixemos o Pai atribuir-nos o lugar que preparou para nós[3]. Poderemos nós ocupar-nos verdadeiramente doutras coisas que não sejam as do Pai? Fora das «coisas do Pai[4]» perdemos a nossa identidade e, culpavelmente, tornamos vã a sua graça.

Se o nosso olhar não dá testemunho de ter visto Jesus, então as palavras que recordamos d’Ele não passam de figuras retóricas vazias. Talvez expressem a nostalgia daqueles que não podem esquecer o Senhor, mas, em todo o caso, são apenas o balbuciar de órfãos junto do sepulcro. No fim de contas, são palavras incapazes de impedir que o mundo fique abandonado e reduzido ao próprio poder desesperado.

3. Peço-vos que não subestimeis o desafio ético e anticívico que o narcotráfico representa para a juventude e para a sociedade mexicana inteira, incluindo a Igreja.

(…) Qual é a tentação que nos pode vir de ambientes dominados pela violência, a corrupção, o tráfico de drogas, o desprezo pela dignidade da pessoa, a indiferença perante o sofrimento e a precariedade? Qual é a tentação que repetidamente podemos ter nós, os chamados à vida consagrada, ao presbiterado, ao episcopado?

Acho que a poderemos resumir numa só palavra: resignação. À vista desta realidade, pode vencer-nos uma das armas preferidas do demónio: a resignação que nos entrincheira nas nossas «sacristias» e seguranças aparentes e nos trava na hora de arriscar e transformar.

Pai Nosso, não nos deixeis cair em tentação.

Esta Quaresma ainda não terminou.

28.02.2016







[1] Cf. Frei Bento Domingues, O.P. A Igreja e a Liberdade, Mário Figueirinhas, Porto,1997, 120-123
[2] Mt 20, 20-28
[3] Lc 2, 48-49