de um pároco da Sardenha" A carta do dia: "Caro
monsenhor Viganò, eis o pensamento
29/08/2018
Papa Francisco
Publicamos hoje a carta aberta de padre Francesco
Murana, pároco de Milis, a monsenhor Carlo Maria Viganò.
***
"Egrégia Eminência,
Escrevo-lhe por meio das páginas de um
jornal "de periferia"; essas periferias tão amadas tanto pelo Senhor
(que cresceu em Nazaré, ao seu tempo uma aldeia de montanha) quanto pelo atual
Pontífice, o Papa Francisco.
Quem escreve é um padre que estudou em Roma
e teve muitas oportunidades de encontrar um espaço "confortável e
adequado" para se esconder num dos muitos escritórios e dicastérios que o
enorme aparato da Cúria Romana oferece.
Mas eu escolhi, já em 1986, vir para as
periferias da Sardenha, cortando assim as minhas pernas para qualquer possível
"carreira".
Se o Senhor quiser outra coisa de mim,
Ele inventará os caminhos para que eu faça outra coisa e em outro lugar.
Nestes anos que passaram (32!) vi
acontecer de tudo dentro do clero. Fiquei parado e calado no meu lugar tentando
dar. Regozijei-me e regozijo-me porque temos um Papa como Francisco.
Ele é verdadeiramente humano e não é
hipócrita (no sentido grego! Não é ator, não faz o papel). É ele mesmo e – por
ser sincero - às vezes escorrega para linguagens de pároco e – como eu pároco
sou – sinto-me menos sozinho.
Sinto-o vizinho.
Ao contrário, ao senhor, eu o sinto
longe.
Além disso, o senhor deveria
contentar-se com ter chegado a setenta e sete anos e ter vivido uma vida mais
do que confortável e respeitada... Pergunto-lhe: o que mais deseja? Eu sou um
padre de aldeia por opção, mas o senhor pensa realmente que não sou capaz de
ver nas suas acusações ao Papa Francisco outros motivos e outras intenções?
O senhor acusa o papa Francisco de
silêncio.
Mas tem consciência de que pode ser
acusado da mesma coisa, visto que acorda agora, depois de cinco anos? Visto que
dormiu durante cinco anos, conta-nos agora nas próximas onze páginas o que
sonhou? Tenha vergonha.
Diante de todos nós padres, que cuspimos
sangue todos os dias, em solidão: vocês brincam de bancar os prelados, servidos
e reverenciados em tudo.
Tão viciados pelo poder que não veem
mais nada, corroídos pelos ciúmes pelo demasiado tempo de que dispõem, nunca
satisfeitos com o que recebem e sempre de olho nos "postos que
contam" ocupados pelos outros.
Tenho certeza de que o Papa Francisco é
capaz de fritar um ovo e lavar as próprias meias, sozinho.
Do senhor não; do senhor tenho apenas a
certeza de que, para conseguir satisfazer um capricho seu, feito "para o
bem da Igreja", é capaz de desenterrar o esterco dos outros.
Eu estou na Igreja: o que o senhor fez
de bem por mim e pelos paroquianos com quem vivo? Nada. Na língua sarda, o
senhor é um "imboddiosu": aquele que pega uma meada alheia e dá nós
no fio; obrigando assim a tecedeira a perder tempo para desatá-los e continuar a tecer ...
O trabalho continuará, mas teremos
perdido tempo graças ao ‘imboddiosu’ de plantão.
Graças ao senhor, perdemos – pela
enésima vez – cara e tempo.
Padre
Francesco Murana, pároco de Milis, diocese de Oristano
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