terça-feira, 30 de outubro de 2018

Jesus de Genesaré - Apresentação da obra


CONVITE

M. A. Filipe dos Santos (227114545 - 917124779), Mestre em Filosofia, ex-seminarista dos Combonianos, ex-COP-Conselheiro de Orientação Profissional do S. N. Emprego, ex-professor de Filosofia (1975-1980) e ex-Vice-Presidente do CD e Presidente do CA do Liceu (1979-1980) e ex-professor de Filosofia (1990-2002) e ex-Presidente do CP da ESAS (1999-2002), convida todos os interessados para participarem, pelas 16 horas, de 11/11/2018, Domingo, no Hotel Holiday Inn (3.º piso, sala Vargelas) de V. N. Gaia (R. Diogo Macedo, 220, junto à ESAS e ao Jardim Soares dos Reis), na sessão de lançamento do seu 2.º livro, “Jesus de Genesaré” (estudo crítico da obra “Jesus de Nazaré” do papa Bento XVI), publicado pelas Edições Vieira da Silva.

Grato pela atenção dispensada, despeço-me com os melhores cumprimentos e votos de felicidade.

Filipe dos Santos
____________________

M. A. Filipe dos Santos

Rua Conceição Fernandes, 1097
4430-066 - Vila Nova de Gaia

Um anjo no céu 30 de Outubro de 2018 - JIM


O grupo Jovens em Missão (JIM) tem um anjo no Céu: Joana Leandro, 22 anos, da paróquia de Lavre, membro do JIM, Fé e Missão Sul. No Natal+ 2017, sobressaiu pela sua alegria, generosidade no serviço, capacidade de fazer amigos. Quando lhe pedi para dar o seu testemunho de “missionária” na Eucaristia final, ficou admirada, mas aceitou e fê-lo com coragem, convicção e um sorriso de humor. Toda a assembleia a aplaudiu. A sua vida foi um desafio para todos. Estudante na escola superior de educação em Santarém, era “a vida da paróquia” de Lavre, como disse o pároco, e continuava ligada ao JIM. “P. Carlos, tenho aqui livros e roupas boas que podíamos mandar para Moçambique. Pode vir buscá-las?”, foi a última mensagem que tinha recebido dela, com o coração sempre em missão.

O nosso anjo partiu para o Céu no dia 15 do mês missionário de Outubro, vítima dum acidente de viação. Estivemos no seu funeral e voltaremos a Lavre no dia de todos os Santos, 1 de Novembro. Vamos celebrar a sua vida e missão e pedir as bênçãos de Deus por sua intercessão, ela que do Céu nos ilumina e vela por nós.
...

COMPREENDER O MUNDO E ATUALIZAR A IGREJA - DM -

O padre jesuíta Manuel Antunes, de quem estamos
a celebrar o centenário de nascimento, tem
uma conclusão notável sobre a importância de
articular a fé, não só com a vida, mas também
com as «exigências do pensamento», que muitos
escutaram, repetidas vezes, da boca do professor
e padre Manuel Moreira da Costa Santos:
«Quando hoje se pensa na quantidade de
energia despendida em defender certas coisas
indefensáveis, sente-se não apenas a melancolia
das causas perdidas, porque não mereciam
ser ganhas, mas também a mágoa pela ausência
de um trabalho positivo que poderia ter sido
feito e não o foi». Esta frase surge entre os
escritos sobre «o pensamento e o Reino» e pode
ser lida numa recente compilação dos «grandes
textos» do padre Manuel Antunes: «Compreender
o Mundo e atualizar a Igreja» (ed. Gradiva),
obra coordenada por José Eduardo Franco
e Luís Machado de Abreu. Revisitar a herança
de um dos mais importantes pensadores portugueses
do século XX (nasceu em 1918 e faleceu
em 1985), um «despertador de energias
adormecidas», pode ser uma forma proveitosa
de alimentar o processo de renovação pastoral
em curso nas comunidades paroquiais.
Neste itinerário, reconhecemos a importância
em construir um património de reflexão pastoral
que seja promotor da «renovação inadiável
» proposta pelo Papa Francisco. Não queremos
ficar no lamento pelas «causas perdidas»,
mas realizar um «trabalho positivo» que pode
ser feito em prol da novidade que é o Evangelho
de Jesus Cristo.
Diário do Minho de 29-10

quarta-feira, 24 de outubro de 2018

Os santos são humanos como nós. Que nós sejamos santos como eles!- D M

1. Há quem pense que, nos últimos tempos, tem havido
mais empenho em «fazer santos» do que em
cada um «fazer-se santo».
O diagnóstico é de Raniero Cantalamessa, que
realça a maior tendência para dar a conhecer os
santos do que para imitar os santos.
2. O problema não está, obviamente, em «fazer santos». Está
nas resistências de cada um a «fazer-se santo».
A santidade é, sem dúvida, excepcional, mas está ao alcance de
todos. Devia, por isso, fazer parte da normalidade da vida cristã.
3. Diria que os santos são como as flores.
Tal como nem todas as flores de um jardim vão para os altares,
também nem todos os santos da Igreja figuram nas igrejas.
Mas o principal é que floresçam na Igreja.
4. A santidade de cada um faz reluzir a santidade de Deus e
da santidade da Igreja.
Deus é santo (cf. Lev 19, 2) e, em Deus, a Igreja também é santa
(cf. Ef 5, 27).
5. O santo é aquele que acolhe a santidade de Deus, incorporando-
se na santidade da Igreja.
A prioridade do santo é, pois, fazer avultar a santidade de
Deus e da Igreja.
6. Daí que não falte quem procure mais ajudar a que «se façam
santos» do que em divulgar o santidade dos ( já) conseguiram
ser santos.
Consta que um dos lemas da Cartuxa é «non sanctos patefacere
sed multos sanctos facere». Isto é: «Não mostrar os santos,
mas fazer santos».
7. É evidente que não é mal nenhum mostrar os santos. Mas
é muito melhor (ajudar a) fazer santos.
Compreende-se, assim, que, quando morre um membro da
Cartuxa com uma vida santa, haja apenas um comentário: «Laudabiliter
vixit». Ou seja, «viveu de uma forma muito louvável».
8. No túmulo da Cartuxa, o único epitáfio é a Cruz.
Enfim, tudo e todos se apagam para que só Deus brilhe.
9. Habitualmente, gostamos de dizer qu e os santos são humanos
como nós.
É verdade. Mas é igualmente importante que nós procuremos
ser santos como os santos.
10. Acresce que a santidade não faz bem apenas ao santo. Como
notou Teresa de Calcutá, «a santidade é uma necessidade»
— não um luxo — para o mundo.
Um dia, havemos de concordar com Gounod quando afirmou
que «uma gota de santidade vale mais do que um oceano de génio"
João Teixeira

domingo, 21 de outubro de 2018

DE PORTUGAL PARA O MUNDO Balanço do Colóquio Rastos Dominicanos (1) Frei Bento Domingues, O.P


1. Não foram poucas as pessoas que quiseram saber por que razão não tinha publicado a crónica no passado Domingo. Vou explicar, mas começando mais atrás. Continuam a perguntar-me porque acrescento, à minha assinatura, OP. É uma longa história. Podia dizer simplesmente, dominicano pois pertenço a uma Ordem religiosa, fundada no seculo XIII, em França, por S. Domingos de Gusmão. Ele, porém, não queria fundar dominicanos, mas uma Ordem de Irmãos cuja missão, na Igreja, seria a pregação que a primeira Ordem dos Pregadores – a dos Bispos – tinha abandonado. Domingos não pretendia que o reproduzissem, mas que inventassem, em todos os tempos e lugares, os modos de partilhar a palavra do Evangelho da alegria. Os membros da Ordem não vivem para reproduzir a fisionomia do seu Fundador, mas para assumir o rosto das urgências da evangelização, em cada época. Não foi por acaso que o célebre pintor Matisse o apresentou sem a figuração do rosto.

Esta missão exigiu, desde o começo, o casamento do estudo com o anúncio e a reinterpretação contínua do Evangelho. Dessa ligação nasceu a teologia em diálogo com a cultura, elaborada de forma exemplar por Santo Alberto Magno e S. Tomás de Aquino. Da mesma raiz brotou a mística do infinito desassossego do Mestre Eckhart e o ardor da reforma da Igreja, com Santa Catarina de Sena. Da pregação incarnada no tempo e lugar irrompeu uma das páginas mais belas da história da humanidade com o Sermão de António de Montesinos. O seu grito contra a exploração dos índios transformou-se numa aliança de investigações e intervenção contínua entre Bartolomeu de Las Casas, a Escola de Salamanca representada por Francisco de Vitória: por direito natural, os índios são os verdadeiros senhores das suas terras e das suas riquezas. A nenhum título, nem o Papa nem o Rei de Espanha os podem privar desse direito![1]

Não se julgue que essa efervescência filosófica e teológica esquecia a cristologia narrativa do povo iletrado: a distribuição das cenas evangélicas, pelos mistérios do Rosário, alimentou o povo católico por todos os continentes. Em nome da liberdade - uma Igreja livre num Estado livre - Henri Lacordaire, nos finais do século XIX, restaurou a Ordem dos Pregadores, em França. A sua lucidez teve uma fecundidade espantosa, no século XX, preparando, numa história atribulada e criativa, muitas das inovações do Vaticano II.

2. Esta rápida evocação atraiçoa a complexidade de uma longa história. Passados 800 anos e com presença em todo o mundo, a Ordem dos Pregadores, autorizada por Inocêncio III, em 1215, confirmada por Honório III, em 22 de Dezembro de 1216 e reforçada pela bula Gratiarum omnium, de 21 de Janeiro de 1217, sentiu a necessidade de fazer um balanço histórico, de tão longo percurso, feito de fidelidades e traições ao seu projecto.

Esta Ordem terá chegado a Portugal entre os anos de 1220 e 1222. Frei Luís de Sousa antecipa a presença dos primeiros pregadores em Portugal para 1217, associando-a à figura de Frei Soeiro Gomes e ao Convento de Montejunto.

Em 2016, para o estudo desses 800 anos dominicanos, uma Comissão constituída por elementos do Instituto S. Tomás de Aquino (ISTA) e do Centro de Estudos de História Religiosa (CEHR) desenvolveu em três lugares, três Jornadas com três temas de fundo: História, Memória, Património; Discursos, Teologia, Espiritualidade; Espaços, Homens, Percursos[2].

3. Na passada semana, de 09 a 11, realizou-se, no Palácio Fronteira e no Convento de S. Domingos, outro Colóquio muito original: Rastos Dominicanos. De Portugal para o Mundo. 600 anos da Província Portuguesa, com vinte e seis conferências e uma visita guiada ao Convento de S. Domingos de Benfica e à actual Igreja de Nossa Senhora do Rosário.

Eu não podia perder esta ocasião para me aproximar do mundo imenso que desconhecia.

No final, Cristina Costa Gomes, em nome do ISTA e do CEHR, fez o balanço sintético deste espantoso colóquio. Remeteu-nos, em primeiro lugar, para a sua dimensão, não só em termos de número de conferências, mas principalmente da multiplicidade de áreas temáticas abrangidas, desde a História, à Arte, à Literatura, à Espiritualidade, à Teologia, à Pedagogia e Didáctica até à Missionação e Semiótica/Textualidade.

Os conferencistas vieram de diferentes universidades do país (Lisboa, Coimbra, Porto, Évora, Minho) e de diferentes centros de investigação e academias. Trouxeram abordagens distintas, linhas de investigação recentes e em aberto, com dados inéditos e novas problemáticas.

Podemos destacar como grandes linhas temáticas do Colóquio: os Dominicanos e as fundações Dominicanas femininas durante a Idade Média; os Dominicanos no período Moderno: espiritualidade e poesia feminina e grandes vultos dominicanos da Cultura Portuguesa do Renascimento, nomeadamente Frei Fernando de Oliveira, Frei Jorge de Santiago, Frei Luís de Sottomaior e Frei Bartolomeu Ferreira; a missionação Dominicana na África do Sudeste e na Ásia. Neste campo, em particular, questionou-se a importância dos percursos pessoais de Frei João dos Santos, Frei Gaspar da Cruz, Frei Silvestre de Azevedo e Frei Miguel de Bulhões e Sousa.

A arte acrescentou-se a estes tópicos com abordagens inéditas e propostas de diálogo entre a pintura, a arquitectura e a escultura. Desde as pinturas de Luís de Morales, às fachadas das Casas Dominicanas, no contexto da arquitectura quinhentista e seiscentista, problematizou-se a articulação entre a arte e a espiritualidade coeva.

Temas contemporâneos permitiram-nos viajar por questões como a pedagogia de Teresa de Saldanha, a edição da Revista Concillium (1965-1966) e a participação dos Dominicanos Fr. Mateus Peres, Fr. Raimundo de Oliveira e Fr. Bento Domingues nesta publicação, assim como a missionação dominicana no Brasil e experiências missionárias em Moçambique e no Peru.

Estes dias de trabalho levantaram novas problemáticas sobre o que falta fazer e que não cabem nesta crónica. Terei de voltar a esse desafio.

        

21. Outubro. 2018



[1] António de Montesinos, O.P.; Bartolomeu de las Casas, O.P.; Francisco de Vitória, O.P., E estes não serão homens?, Ed. Tenacitas, Coimbra, 2014
[2] António Camões Gouveia, José Nunes, OP, Paulo F. de Oliveira Fontes (Coord.), Os Dominicanos em Portugal (1216-2016), CEHR da UCP, Lisboa 2018; Actas do Colóquio (Porto, Outubro 2012), A Restauração da Província Dominicana em Portugal. Memória e Desafios, Tenacitas, Coimbra 2012.

quarta-feira, 17 de outubro de 2018

Ano da Missão, Vida em Missão - D.do M

1.Estamos a entrar no
Ano da Missão com
o propósito de nunca
sair de uma vida em
missão.
2. Este ano é, pois, um
despertador para que a nossa
vida se robusteça com
mais vigor.
Ao convocar esta iniciativa,
a Conferência Episcopal
Portuguesa não podia
ser mais envolvente nem
englobante.
«Todos, tudo e sempre
em missão». Assim se intitulava
a Nota Pastoral dos
Bispos de Portugal.
3. Torna-se, assim, claro
que a missão não é só para
alguns momentos, para algumas
áreas e para algumas
pessoas.
Nunca é demais insistir.
A missão é para todos, para
tudo e para sempre.
4. A missão nunca há-de
ser condicionada, sectorial
ou limitada. Ela tem de ser
mobilizadora, totalizante e
permanente.
5. A missão é uma «invasão
». Missionar é «invadir».
Na «invasão» trazida pela
missão, ninguém deve ser
posto de lado e nada pode
ficar de fora.
A missão não é facultativa;
é imperativa. Ela não é
um aditamento do agir, mas
a identificação maior do ser.
Mais do que fazer missão,
todo o cristão é missão. Daí
que o Concílio Vaticano II tenha
recordado que «a Igreja
é, por natureza, missionária
». Ou seja, sem missão
não há cristão. Nem Igreja.
6. A natureza missionária
da Igreja encontra-se constituída
a partir dos começos.
Jesus escolhe discípulos (cf.
Jo 1, 35-40) para os enviar
em missão (cf. Mt 10, 5-6).
Isto significa que não é
possível ser missionário sem
ser discípulo. E é inteiramente
impossível ser discípulo
sem ser missionário.
7. O cristão é simultaneamente
discípulo e
missionário.
Dir-se-ia mesmo que todo
o cristão traz consigo o
nome de «discípulo» e o sobrenome
de «missionário».
8. É por tudo isto que onde
está o cristão, aí tem de
estar a missão. Jesus quer que
sejamos «missionários», não
«demissionários».
O contrário da missão é
a demissão. Mas a demissão
não está só na inacção. A
demissão também pode estar
na mera agitação. O fazer
por fazer pouco faz. No
fazer tem de ressoar o ser.
9. Daí que a missão comece
na oração. Foi assim
com Jesus e foi assim com
os Apóstolos da primeira hora.
Assim há-de continuar a
ser com os apóstolos desta
nossa hora.
Hoje, como ontem, a oração
é geradora de missão; a
oração é a grande «parteira»
da missão.
10. Só quem está com
Cristo se sentirá enviado
por Cristo.
A missão é uma constante
quando o missionário está
unido ao Missionante!
João Teixeira

sexta-feira, 12 de outubro de 2018

Óscar Romero canonizado a 14 de Outubro

O Papa Francisco vai canonizar os beatos Paulo VI e Dom Óscar Romero a 14 de outubro, no Vaticano.

Os Beatos vão ser inscritos no Livro dos Santos no domingo, numa celebração que vai decorrer durante o Sínodo dedicado aos jovens.

D. Óscar Romero (1917-1980), antigo arcebispo de El Salvador, foi morto a tiro em 1980, às mãos da junta militar que dominava o país.

A população salvadorenha se prepara para viver o evento com muita alegria e espiritualidade. Desde que foi fixada a data e o lugar da cerimónia de canonização do futuro santo, o governo de El Salvador e a Igreja Católica iniciaram uma programação de atividades, para a preparação espiritual e logística de todos.

Nesta quarta-feira, são realizadas conferências no Vaticano e no Colégio Pio Latino-Americano sobre a vida do futuro santo e do Papa Paulo VI. Nos dias 11 e 12 de outubro, serão dedicados ao futuro santo vários eventos culturais. No sábado, 13 de outubro, serão realizadas vigílias em Roma e em El Salvador. No domingo, 14 de outubro, Dom Óscar Arnulfo Romero, mártir e profeta que se entregou ao seu povo, será canonizado.

“Depois da cerimônia de canonização, este evento não permaneça de forma isolada, porque se trata de um acontecimento eclesial que dá origem a um verdadeiro movimento de renovação da espiritualidade da Igreja Católica, que nos leva a voltar às fontes da revelação e leva a um compromisso de transformação das realidades temporais aproximando-as às vontades de Deus”, apela a Santa Sé.

quinta-feira, 11 de outubro de 2018

Ditaduras - Silva Araújo, DM

1. Uso propositadamente o vocábulo no plural.
Estou persuadido da existência não de
uma mas de diversas ditaduras, embora nem
sempre disso tenhamos consciência.
Vive-se em ditadura quando se não tem
liberdade e não há liberdade quando nos
submetemos a uma ou mais dependências. Quando existem
pessoas ou coisas sem as quais não podemos passar.
Mas isso, dirão, são dependências, não ditaduras. É
uma forma habilidosa de dar a volta à situação e de a
suavizar. Mas, se pensarmos bem, uma dependência não
deixa de ser uma ditadura. Penso assim.
2. Pessoas defensoras das mais amplas liberdades e
vêm a terreiro como lutadoras contra a ditadura estão,
na prática, sujeitas a uma ditadura a que chamam disciplina
partidária.
Indivíduos há, no mundo da política e não só, dependentes
de como pensam e do que ditam os líderes. Não
são livres de agir e de decidir conforme a própria consciência,
mas têm de seguir as orientações do chefe e é
em função dessas ordens que levantam ou não o braço,
aprovam ou rejeitam tal decisão, se abstêm de emitir
um parecer.
Porque o chefe manda, as pessoas abdicam da própria
capacidade de pensar. Não é só na Igreja que há dogmas.
3. Há ambientes de trabalho que são autênticas ditaduras.
A dependência do ordenado gera a ditadura do
medo. Há pessoas que bem gostariam de emitir uma
opinião e de discordarem do chefe, mas se o fazem sujeitam-
se a consequências desagradáveis.
Este género de ditadura produziu a geração dos lambe-
botas e dos aduladores profissionais.
Há ambientes de trabalho onde seres humanos se sujeitam
a serem tratados como máquinas. Têm tudo cronometrado.
Todos os seus passos são controlados. Como
necessitam do emprego e do dinheiro que recebem,
sujeitam-se.
4. Uma grande ditadura é a da toxicodependência.
Habituadas a consumirem determinadas
substâncias, as pessoas sujeitam-se a tudo para as
conseguirem. Esquecem-se, se for caso disso, da
própria dignidade.
5. São ditaduras o respeito humano; o parece
mal. Por vergonha dos comentários dos outros
há pessoas que se acobardam. Que assumem
publicamente comportamentos de que no íntimo
discordam. Que aplaudem quando gostavam
de censurar.
6. Uma forte ditadura é a da moda. Pessoas há
que se movem empurradas pelos interesses da
sociedade de consumo. Certos indivíduos decidem
que as pessoas hão-de vestir de determinada
maneira e há quem se lhes sujeite. Acriticamente.
Porque parece mal discordar do ditador.
Quem me conhece sabe que procuro não ofender
seja quem for. Mas acho ridículo o uso das calças
rotas. Mas como é moda, e a moda é que manda…
Já repararam na ditadura que, nos casamentos,
os fotógrafos exercem sobre os noivos?
7. Porque certa Comunicação Social ditou que
é moderno ser de esquerda há pessoas que se
coíbem de manifestar em público as suas convicções.
Daí a necessidade de, em certos casos,
se proceder ao voto secreto e não à votação de
braço no ar.
Porque certas minorias influentes ditaram que
a liberdade não tem limites, há pessoas constituídas
em autoridade que se abstêm de tomar posição,
de afirmar a defesa de princípios que são de
manter e permitem a bandalheira que por aí anda.
8. É moda, em alguns ambientes, apresentar-
-se como ateu ou agnóstico. Para não destoarem
e darem a ideia de que são prá frentex pessoas
há que se inibem de, publicamente, revelarem a
fé que no íntimo professam. E deixam de rezar
em público. E deixam de exibir sinais religiosos.
9. Se pensarmos bem verificamos haver realmente
um conjunto de ditaduras a que, inadvertidamente,
– também nos acomodamos ao mal!
– nos submetemos.
Porque nos falta a coragem suficiente para remarmos
contra a maré e de termos receio de ser
diferentes. A ditadura do medo tem muito poder.
Parafraseando parte do hino da Mocidade Portuguesa,
cá vamos, cantando e rindo, levados, levados
sim por aqueles que, dan do a ideia de que nos
servem, na realidade não deixam de nos explorar.
Ser homem é ser livre. Quem o é realmente?
Muitos dos que se afirmam paladinos da liberdade
não vivem ainda acorrentados ao Maio Parisiense
de 68?
Cuidemos
da nossa

terça-feira, 9 de outubro de 2018

P.e FELIZ MARTINS - Darfur


A missão para mim
A missão tem sido o coração da minha vida. Muito especialmente, desde o dia em que Deus me consagrou com o selo e o cariz de missionário comboniano.

Sou Feliz de nome e felicíssimo como missionário. Muito embora com sombras e obscuridades, o Sol brilha sempre mais forte no meu caminho e sinto o Deus da misericórdia ao meu lado.

A alegria em Deus e no coração sempre me tiveram por companheiro. Porém, ninguém pense que esta se manifesta só através de uma cara risonha ou às gargalhadas. Deus conhece-me por dentro e por fora e sabe da minha alegria.

Mas o meu ser feliz não é segredo exclusivo de Deus. Sinto, de facto, grande satisfação, como ser humano que sou, quando as pessoas à volta também se apercebem da minha alegria.

A missão nasce nas relações de amizade e encontra terreno fértil nos caminhos do deserto onde Deus desce e nos vem matar a sede a todos nós que, juntos, caminhamos.

Sou feliz mesmo quando não me apercebo da conversão ao cristianismo de alguém que caminha comigo e não pede o baptismo. Conversões anónimas que o Espírito Santo, o verdadeiro protagonista da missão, vai assistindo e fortalecendo.

Sou feliz na missão do Darfur, Sudão, onde fui enviado para ser sinal do amor e da misericórdia de Deus a quem não me canso de agradecer.

P. Feliz Martins

Missionário Comboniano

segunda-feira, 8 de outubro de 2018

HIERARQUIAS CIUMENTAS? Frei Bento Domingues, O.P.


  1. Segui vários cursos sobre as diversas expressões do profetismo bíblico, orientados pelo dominicano Francolino Gonçalves, um dos maiores especialistas mundiais em literatura profética do antigo Oriente[1]. Confesso que esses cursos e a frequente leitura dos seus textos serviram mais para admirar o seu saber e verificar a minha ignorância, do que para me sentir minimamente competente, no meio desse vastíssimo e diferenciado fenómeno de muitos estilos. Na nossa linguagem corrente, profeta é aquele ou aquela que prevê, ou se atreve, a predizer o futuro. Um adivinho. Na Bíblia, é um ser humano que tem o dom divino de ser lúcido acerca do presente, vendo as esperanças e as ameaças que encerra. Sabe discernir as opções que libertam o horizonte das que conduzem ao desastre colectivo. Importa não confundir os verdadeiros com os falsos profetas, isto é, os defensores das populações com os bajuladores dos poderosos.

 No mundo sacral, a religião, com os seus luxuosos cerimoniais, em que vive a classe sacerdotal, serve para dar cobertura à exploração dos trabalhadores e à humilhação dos pobres. Essa religião é vomitada por Deus. Sem a prática da justiça e o cuidado dos pobres, a religião é uma abominação.

O profeta Miqueias, disse o essencial: «Com que me apresentarei ao Senhor, e me prostrarei diante do Deus excelso? Irei à sua presença com holocaustos, com novilhos de um ano? Porventura o Senhor receberá com agrado milhares de carneiros ou miríades de torrentes de azeite? Hei-de sacrificar-lhe o meu primogénito pelo meu crime, o fruto das minhas entranhas pelo meu próprio pecado? Já te foi revelado, ó homem, o que é bom, o que o Senhor requer de ti: nada mais do que praticares a justiça, amares a lealdade e andares humildemente diante do teu Deus.»[2]

2. As liturgias do Domingo não são todas iguais. As escolhas dos textos são muito variadas e ainda bem. A combinação entre elas nem sempre é a mais brilhante. Não digo isto para desculpar as homilias mal preparadas como a daquele pároco que começou a sua pregação com toda a solenidade: o Evangelho de hoje não presta!

No Domingo passado, a selecção dos textos não podia ser mais apelativa, nem mais profética. Abriu com este espanto: «Naqueles dias, o Senhor desceu na nuvem e falou com Moisés. Tirou uma parte do Espírito que estava nele e fê-la poisar sobre setenta anciãos do povo. Logo que o Espírito poisou sobre eles, começaram a profetizar, mas não continuaram a fazê-lo. Tinham ficado no acampamento dois homens: um chamava-se Eldad e o outro Medad. O Espírito poisou também sobre eles, pois contavam-se entre os inscritos e, embora não tivessem comparecido na tenda, começaram a profetizar no acampamento. Um jovem correu a dizê-lo a Moisés: Eldad e Medad estão a profetizar no acampamento. Então Josué, filho de Nun, que estava ao serviço de Moisés desde a juventude, tomou a palavra e disse: Moisés, meu senhor, proíbe-os. Moisés, porém, respondeu-lhe: Estás com ciúmes por causa de mim? Quem me dera que todo o povo do Senhor fosse profeta e que o Senhor infundisse o seu Espírito sobre eles!»[3]

Moisés era considerado o profeta dos profetas, o mais clarividente de todos, mas não julgava que tinha o exclusivo. Era um democrata do profetismo. Quando se fala de democracia na Igreja, fica tudo aflito e, pelas democracias que conhecemos temos de nos render à observação de Churchill « a democracia é a pior forma de governo imaginável, à excepção de todas as outras ».

O sentido da inclusão regressa no Evangelho de Marcos entre a sabedoria e a ameaça. «Mestre, nós vimos um homem a expulsar os demónios em teu nome e procurámos impedi-lo porque ele não anda connosco»[4]. Faziam do discipulado uma propriedade privada: Jesus é só nosso! O Mestre não gostou nada dessa cegueira. Era uma questão de bom senso: quem não é contra nós, é por nós.

Não ficou por aí. Se alguém escandalizar algum destes pequeninos que crêem em mim, melhor seria, para ele, que lhe atassem, ao pescoço, uma dessas mós movidas por um jumento e o lançassem ao mar.

Escandalizar é fazer proliferar o mal de modo incontrolável. Tudo em nós pode servir para o melhor e para o pior. Para grandes males, grandes remédios. Nesta parábola exemplar, não há grande confiança na emenda. A mutilação generalizada de pés, mãos e olhos parece a única saída.

A carta de Tiago é dura como a pregação do profeta Amós. Privastes do salário os trabalhadores que ceifaram as vossas terras. O seu salário clama; os salários dos ceifeiros chegaram aos ouvidos do Senhor do Universo. Ficou para sempre cunhada a expressão: há pecados que bradam aos céus.

3. Estes textos foram lidos na celebração do Domingo passado e suscitam a pergunta: aconteceu alguma coisa nas comunidades católicas?

O grande debate na Igreja, desde o Vaticano II, é o seguinte: Moisés disse o que acima transcrevemos, o desejo de um povo profético, sem exclusivos. Jesus vai na mesma linha e S. Paulo, no seguimento do Baptismo, afirma: não há judeu nem grego, não há escravo nem livre, não há homem e mulher, porque todos vós sois um só em Cristo Jesus[5].

A irritação com o Papa Francisco é o pânico de que ele, apesar de todas as iniciativas para o travar, não desista do seu programa global, A Alegria do Evangelho.

Quando, agora, quer colocar a Igreja numa focagem sinodal, isto é, colocar a Igreja toda num processo de reforma permanente, impedindo uma acção pastoral de mera conservação, envolvendo todas as pessoas, estruturas, estilos e linguagens, vem o susto: ele é capaz de não desistir e, quanto mais idoso fica, mais atrevido se mostra. O receio maior é outro: que o novo papa siga pelo mesmo caminho. Daí, as estratégias e as tácticas para desenvolver um movimento global, com muito dinheiro e meios, para impedirem uma futura eleição que continue o programa de Bergoglio. Essa tentativa já começou, nomeadamente, nos Estados Unidos.

09.10.2018



[1] José Augusto Ramos, Francolino Gonçalves In Memoriam, CADMO 26, 2016, pp 267-270; Cf. os textos de Francolino Gonçalves nos Cadernos ISTA (www.ista.pt), destacando, Iavé, Deus de justiça ou de bênção, Deus de amor e de salvação, nº 22, ano IV (2009), pág. 107-152, pela sua originalidade acerca dos dois Iaveísmos, dentro da multiplicidade dos “retratos” bíblicos de Deus

[2] Mq 6, 6-8
[3] Nm 11, 25-29
[4] Mc 9, 38-48
[5] Gl 3, 28

sábado, 6 de outubro de 2018

MADEIRA E PORTO SANTO-Por mares dantes navegados

"(...) Perante tudo isto, tenho de confessar que não me senti uma turista na ilhas da Madeira e do Porto Santo, mas antes uma visitante do seu povo, através do contacto com a sua cultura, a sua história e a sua religiosidade. Isso aconteceu graças ao grupo que integrei, sobre o qual não poderei deixar de destacar (...) VER MAIS


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Rescaldo de uma fantástica viagem-peregrinação à Madeira e Porto Santo em que me integrei no passado dia 15 de setembro.

sexta-feira, 5 de outubro de 2018

Mártires do século XX - DM de 4 DEZ

1. Acompanhei como pude a viagem apostólica
do Papa Francisco aos países bálticos –
Letónia, Estónia e Lituânia – entre 23 e 26
de setembro. Prestou homenagem às vítimas
de dois dos grandes totalitarismos do
século XX: o nazismo e o comunismo.
Concluída a visita, já no Vaticano, o Papa declarou:
“É impressionante ver até onde pode chegar a crueldade
humana. Vamos pensar sobre isso”, pediu aos peregrinos
reunidos na Praça de São Pedro, para a audiência
pública semanal.
Recordou que em Vilnius prestou homenagem às vítimas
do genocídio judaico “75 anos depois do encerramento
do grande gueto, que era antecâmara de morte
para dezenas de milhares de judeus”.
“Ao mesmo tempo, disse, visitei o Museu das Ocupações
e Lutas pela Liberdade: parei em oração nos quartos
onde os opositores do regime foram detidos, torturados
e mortos. Matavam mais ou menos quarenta
pessoas por noite”.
O Papa falou dos mártires católicos e do “grande testemunho
que deram e ainda dão tantos padres, religiosos
e religiosas idosos, que sofreram calúnias, prisões e
deportações”.
2. Esta visita do Papa é, com efeito, oportunidade para
recordar os mártires de todos os tempos, mas particularmente
os do século XX. Folheei, a propósito, dois
esclarecedores livros: «Os Mártires Católicos do Século
XX», de Robert Royal, e «O Século do Martírio», de
Andrea Riccardi.
O século XX foi um século de grande desumanidade
e sangrentas carnificinas provocadas não apenas pelas
duas guerras mundiais e pela guerra civil de Espanha mas
também por grandes perseguições ideológicas, de que
foram particularmente vítimas os judeus e os cristãos.
3. Refiro particularmente as perseguições de que foram
vítimas os cristãos, mas não devo esquecer as perseguições
de que foram objeto muitos outros, pelos
mais diversos motivos. Perseguições que conduziram
à morte violenta e perseguições que infernizaram
a vida às pessoas, marginalizando-as ou
criando-lhes difíceis ou até insuportáveis condições
de vida. Também é perseguição arrumar seres
humanos na prateleira ou massacrá-los com
o assédio sexual.
4. As perseguições têm na base o desrespeito
pela vida e pela dignidade do ser humano. A violação
do direito que todos possuem de, não ofendendo
os outros, fazerem as suas opções, a nível
religioso, político e outros.
Aquele que escolheu apoiar um clube diferente
do da minha simpatia nem por isso deixa
de ser uma pessoa como eu e de ter o direito de
ser respeitado na sua dignidade, nos seus direitos,
nos seus bens.
As diferentes opções não devem ser motivo para
ver no outro um inimigo e de o tratar como tal.
Quem não é dos nossos é um ser humano como
nós. Tem, como nós, direito a condições dignas
de vida. Numa perspetiva cristã é um nosso
irmão cuja liberdade devemos saber respeitar como
pretendemos que respeitem a nossa.
5. Qual o número de mártires cristãos no século
XX?
Impossível contabilizá-los. Desconhece-se o
nome de grande parte deles. Há quem aponte a
cifra de três milhões.
Há que tomar consciência de que o martírio
dos cristãos nem sempre tem sido devidamente
noticiado.
Escreve Robert Royal: «Os relatos do século
XX foram geralmente produzidos sob uma
perspetiva quase puramente política que, quando
admite a existência de mártires, o faz apenas
tangencialmente. A título de exemplo, a terrível
tentativa de genocídio dos Arménios operada
pelos Turcos, que teve lugar no início do século,
foi devidamente documentada pela maioria
dos textos históricos. No entanto, raramente se
refere que muitos cristãos, arménios católicos e
ortodoxos, morreram durante esse mesmo massacre
precisamente por serem cristãos. A Igreja
Católica arménia calcula que sete bispos, 126
padres, 47 freiras e cerca de 30.000 leigos perderam
a vida por causa da sua fé sob o moderno
regime turco».
Ainda hoje se não noticia devidamente a morte
violenta de muitos cristãos, vítimas de fanatismos
ideológicos. Às vezes, até, invocando sacrilegamente
o nome de Deus. Fica-se com a ideia de
que a vida só tem valor para alguns. Há filtros em
grandes meios de comunicação social que impedem
o relato de que são vítimas muitos cristãos.
Silva Araújo - Diário do Minho

terça-feira, 2 de outubro de 2018

Viver hoje o carisma comboniano - M C.

Na conclusão dos trabalhos da Assembleia Intercapitular, os participantes dirigiram uma mensagem de comunhão e gratidão pelo que sois e fazeis no quotidiano da missão.

“Viver hoje o carisma comboniano… é tomar consciência das transformações que estão a acontecer e aprender a mostrar o Deus da história, sempre próximo dos últimos da terra. A leitura da realidade, bela e trágica ao mesmo tempo, tocou-nos profundamente, chamando-nos à conversão pessoal e comunitária, para «ser missão» num mundo renovado pelo Evangelho de Jesus”, lê-se na mensagem.

Para os participantes na Assembleia Intercapitular, realizada em Roma de 9 a 29 de setembro de 2018, “a missão, hoje mais que nunca, pede coerência de vida e uma espiritualidade cada vez mais próxima a Jesus e ao seu projeto. Não podemos viver a missão sem levar a sério o seu chamamento à santidade”.

“O nosso carisma é claro e dinâmico, mas deve retornar às fontes que o renovam”, afirma a mensagem.

“O novo paradigma da missão, do qual fala o Capítulo, deve surgir da relação afetiva com a Trindade e tornar-se serviço à comunhão, gerador de novas relações humanas baseadas na justiça e na misericórdia. Estas relações de fraternidade devem renovar-nos a partir de dentro, levar-nos a uma opção radical pelos mais pobres e a cuidar da «casa comum». Somos discípulos missionários do Senhor ressuscitado, que devolvem aos povos e à criação a dignidade que receberam do Deus-Amor desde o princípio”, escrevem.

Durante o período da Assembleia Intercapitular, “preocupações e esperanças” mexeram com os participantes:

- Escrevemos uma carta ao Papa Francisco para expressar a nossa proximidade e apoio nas escolhas que cada vez mais parecem isolá-lo, mesmo dentro da Igreja.

- Acompanhamos com alegria os esforços de paz no Sudão do Sul e entre a Etiópia, a Eritreia e a Somália, as etapas de reaproximação das duas Coreias e os desenvolvimentos de um novo diálogo entre a Igreja e o governo chinês com o acordo sobre a nomeação dos novos bispos.

- Partilhámos a dor das famílias no naufrágio recente no Lago Vitória, Tanzânia, e pelas vítimas de eventos climáticos extremos nas Filipinas, China, Estados Unidos e Nigéria. São apelos para incluir nas nossas preocupações missionárias também a grave crise socioambiental, provocada pelo atual modelo neoliberal de produção e consumo.

- Condenámos o massacre dos civis inocentes na cidade de Beni, no Kivu do Norte, República Democrática do Congo, bem como as vítimas de grupos fundamentalistas pelo controle de recursos no norte de Moçambique.

- Rezámos pelo Pe. Pierluigi Maccalli, SMA, sequestrado por fundamentalistas islâmicos no Níger.

- Lamentámos a morte de mais de cem migrantes no Mediterrâneo e refletimos sobre a vida precária de muitos migrantes que fogem da guerra, da fome e das mudanças ambientais em muitas partes do mundo.

- A situação sempre preocupante da República Centro-Africana e a crise na Venezuela e na Nicarágua não nos deixaram indiferentes.

- Vimos nesta humanidade sofredora o povo da promessa, a caminho dos novos céus e nova terra (2Pe 3, 13) onde a justiça terá uma morada permanente. Cabe a nós missionários preparar e abrir este caminho!

No final do encontro, todos se comprometeram a renovar o carisma missionário recebido de Comboni, “a quem repetidamente invocámos na nossa assembleia”.

“Que seja ele a conduzir-nos neste tempo e a projetar-nos com esperança no futuro. A ele, finalmente, confiámos o trabalho nestes dias”, conclui a mensagem.

Leia AQUI a mensagem completa.

segunda-feira, 1 de outubro de 2018

NÃO VARRER A CASA AO DIABO (2) Frei Bento Domingues, O.P.


 1. Estaremos no bom caminho? Parece-me que sim. Digo isto com toda a convicção, mas nada está garantido, à partida. A história da Igreja não é, nunca foi, nem pode ser, desenhada como uma auto-estrada de santidade. Quando certa apologética infantil, ignorante ou perversa falava da história admirável da Igreja, como uma procissão de heróis, santos, mártires, doutores e místicos, ilustrada nas pinturas e esculturas das igrejas e capelas, faltava lá o reverso da medalha: a lista das vítimas dos inquisidores, dos criminosos e perversos em nome da santa vontade de Deus. Em defesa da revelação divina e da sua verdade contida nas escrituras, nos concílios ecuménicos, no magistério ordinário e extraordinário dos Papas, decretaram-se condenações e excomunhões odiosas.

Na preparação da entrada no Terceiro Milénio[1] manifestou-se, em alguns sectores da Igreja, a vontade de confessar, publicamente, os crimes e os pecados do passado, fazendo propósitos de emenda em relação a determinados processos e instituições que se tinham tornado prática odiosa e corrente. Basta lembrar o texto de João Paulo II: “Muitos motivos convergem, com frequência, na criação de permissas de intorlerância, alimentando uma atmosfera passional, à qual só os grandes espíritos, verdadeiramente livres e cheios de Deus, conseguiram, de algum modo, subtrair-se. No entanto, a consideração das circunstâncias atenuantes não dispensa a Igreja do dever de lamentar, profundamente, as debilidades de tantos dos seus filhos que desfiguraram o seu rosto, impedindo-o de reflectir, plenamente, a imagem do seu Senhor crucificado, testemunha insuperável do amor paciente e manso. Destes traços dolorosos do passado, emerge uma lição para o futuro, que deve levar todo o cristão a ter em conta, o princípio de ouro proclamado pelo Concílio Vaticano II: A verdade só se impõe pela força dessa mesma verdade, que penetra nas almas, com suavidade e firmeza.”

De facto, o que estava a ser esquecido, e cada vez mais, era, precisamente, o espírito do Vaticano II.

Desde o Syllabus (1866), da encíclica Pascendi (1907) e, por fim, da Humani Generis (1953), as lideranças da Igreja despresaram a liberdade de investigação e expressão com repetidas e requintadas condenações. Acabo de ler, a história do historiador e exegeta Alfred-Fermin Loisy[2]. Este católico, que tanto queria que a fé cristã fosse uma luz no mundo contemporâneo – que não pode fazer jejum da razão - foi excumungado. Nunca se resignou a essa situação e pediu que, na sua campa, fosse escrito: Alfred Loisy. Padre. Retirado do ministério e do ensino. Professor no Collège de France (1857-1940). Tuam in votis tenuit volontatem. Correspondia ao que estava num dos missais usado na liturgia nos anos 30: de coração ele (Loisy) ficou sempre ligado à Vossa Vontade.

Quando fui acolhido nos Dominicanos em 1952, vivia-se na Ordem, sobretudo em França, uma situação atormentada que Yves Congar descreveu com toda a crueza e que, há poucos anos, François Leprieur analisou[3], sem dó nem piedade.

2. Evoco esse passado por uma simples razão: os tormentos chegaram ao fim com a eleição do Papa João XXIII, o milagre maior que eu já vivi. Por dificuldades em Portugal, tive a graça de, antes e durante o Concílio, poder frequentar, devotamente, as suas audiências públicas. Vi, pela primeira vez, um papa que parecia o avô de toda a gente. Podíamos verificar que ele gostava de nós todos, os que estavam lá e os que não estavam, crentes e não crentes, porque todos acreditávamos que ele era a voz da humanidede à procura de paz e de esperança. Este João era a alegria bem-humorada. Chegou a dizer que se lembrou de convocar o Concílio quando estava a fazer a barba. Veio o Concílio. Abriu portas e janelas, acreditando que as correntes de liberdade mais contrastadas ajudavam a encontrar novos caminhos.

Morreu antes de o poder levar ao fim a sua santa loucura. Foi triste. Muito triste.

As tormentas do pós-Vaticano II continuam. As manobras sobre a pílula, o impedimento de padres casados, a situação dos divorciados recasados, o impedimento do acesso das mulhers aos ministérios ordenados, o cerciamento da liberdade de investigação e expressão teológicas, a impossível reforma da cúria e dos escândalos financeiros do Banco do Vaticano, o êxito ambíguo das viagens papais, etc. encobriram e fizeram esquecer, em muitas situações, o principal: a vida real das comunidades cristãs e a forma como estavam a ser servidas ou atraiçoadas. Quando deram por ela, começaram as queixas sobre abusos sexuais de padres, bispos e cardeais sobre os menores que lhes tinham sido confiados.

Seria injusto reduzir o que a Igreja realizou em todos os continentes, no pós-Vaticano II, a esses milhares de vítimas de crimes horrorosos. Sinto o sofrimento de muitos cristãos de terem de lidar com o espelho dos meios de comunicação que lhe falam do que nunca se tinham dado conta. É preciso compreender que é uma fonte de vergonha. Quando lhes dizem que há poucas vocações para padres, observam: se querem manter o mesmo modelo que tornou a vida impossível a tantas crianças e adolescentes, é melhor que não haja. Mas o zero não é productivo.

3. O que me tem irritado são as manobras para fazer do Papa Francisco o bode expiatório de décadas de encobrimentos, distracções e resistências a reformas inadiáveis. Fazem o mal e a caramunha. Quando, porém, julgavam que tinham isolado e encurralado o Papa Francisco, pediam a sua demissão. Tiveram de verificar, uns com gosto e outros com desgosto, um coro imenso de apoio ao seu programa de reformas, com que começou o seu pontificado: a Alegria do Evangelho, a acolher e a semear por todo o mundo.

Bergoglio não tem jeito para a auto-contemplação. Aproveitou para uma nova convocatória das conferências episcopais e da renovação e intensificação da prática dos sínodos dos bispos, abertos aos não bispos. Estes e as suas conferências são intimados a serem a voz das comunidades. Antes de falar têm de escutar, viver no seu meio para ajudar a renovar e a serem renovados por elas. Realizar aquilo que Sto Agostinho lembrava: Convosco sou cristão, para vós sou bispo.

Não sei porque esquecemos o espantoso ritual do Baptismo, Effathá: abre os olhos, abre os ouvidos para poderes falar. Os cristãos não recebem um báculo de pastores, mas recebem uma vela. Os pastores não deviam esquecer a luz de Cristo que vem através de todos os cristãos, de dentro e de fora da Igreja.

O Papa Francisco varreu a casa ao Espírito Santo!

30.09.2018



[1] João Paulo II, Tertio Millenio Adveniente, 1994
[2] Cf. DHGE, pp 1085-1100
[3] Quand Rome condamne, Paris, Cerf, 1989