quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019

1."O acesso à experiência da fé, hoje!”. V FORUM - uaasp

O Acesso à Experiência da Fé, hoje!
Dificuldades e oportunidades que a cultura actual oferece na comunicação da Fé
José Milhazes

Caros amigos, penso que o desafio que me foi feito para falar de tão altas matérias deveria ser dirigido a outras pessoas melhor preparadas do que eu. Por isso, perdoem-me se ficar aquém das expectativas criadas. Gostaria de iniciar a minha intervenção não pelas dificuldades, mas pelas oportunidades que a cultura actual oferece na comunicação da Fé. Será uma banalidade afirmar que as novas tecnologias de informação e a globalização criaram possibilidades nunca vistas. Basta ter um computador em casa ou na escola ligado à Internet para aceder a um mundo a que eu chegava com enorme dificuldade e atraso quando comecei a minha carreira de jornalista em 1989, para já não falar quando estudava no Seminário dos Combonianos. Daí eu me debruçar inicialmente sobre as oportunidades que a Cultura, através de meios tecnológicos e humanos, oferece na comunicação da Fé. Além do mais, as manifestações e variedades de Cultura multiplicam-se com uma rapidez nunca vista, fruto também da veloz evolução tecnológica e humana. O principal problema continua a ser tão antigo como a Cultura: a sua definição e formas de manifestação. Iúri Lotman, um dos pais da Semiótica, definia assim a Cultura: “Conjunto de informação geneticamente não herdada no campo do comportamento humano”, ou seja, aquilo que tem como raiz a espiritualidade do homem, a forma como ele olha para o mundo cujas folhas e frutos são a Cultura. Para mim, pessoalmente, e penso que para muitos de vós, nem tudo o que é apresentado como Cultura o é, por muito popular que possa ser. É minha opinião que a Cultura deve ter por objectivo o aperfeiçoamento da Humanidade e, por isso, é uma via importante para se chegar à Fé. Aliás, quanto mais culta for a base da Fé, mais sólida é esta. Mas outro problema com que nos defrontamos é que, no momento actual, vive-se uma profunda crise tanto na Cultura como na Fé. E isto tem várias explicações. A qualidade da Cultura é cada vez mais relativa e a Fé, pelo menos no mundo ocidental, parece ser cada vez mais um fenómeno exótico, raro. E isto, frequentemente, deve-se ao facto de tentarem fazer da Cultura um instrumento de combate à Fé, considerando esta uma espécie de obscurantismo. Parece impossível, mas é verdade, que em Portugal não exista um “Museu dos Descobrimentos”. Porquê? Porque minorias agressivas, mas fortemente posicionadas, por exemplo, no nosso Ensino Superior, acham que afinal esse passo civilizacional dado pelos portugueses não o merece. Retire-se já o monumento ao Padre António Vieira em Lisboa, devido ao seu “esclavagismo selectivo”, mas já não protestam contra culpados pela morte de dezenas de milhões de pessoas, como Lenine, Trotski, Estaline, Mao ou Fidel Castro. Pelo contrário, baseando-se na sua fé inabalável, pedem ao povo que os deixem fazer, mais uma vez, experiências desse tipo, prometendo utilizar outros métodos e evitar “danos colaterais”.

Vivemos numa época em que velhas utopias malditas pareciam ter passado ao lixo da História – o fascismo e o comunismo –, mas estão de volta e, aqui, mais importante ainda é fazer da Cultura, do Conhecimento uma via para a Fé. A Igreja tem de competir no mundo da informação. Mas quando é que a Igreja Católica Portuguesa terá um canal televisivo próprio, onde faça chegar a sua palavra aos portugueses sobre os mais diferentes aspectos da vida nacional e internacional? Quando poderemos ler um jornal electrónico de tendência claramente católica? Deram conta do chinfrim que os defensores de todas as causas fizeram quando a jornalista Diana Aguiar, grande profissional, pronunciou a frase: “Até amanhã, se Deus quiser!”? Talvez a reacção fosse bem mais pacífica se ele pronunciasse: “até amanhã, camaradas!” Talvez eu esteja a dizer isto por estar mal informado devido ao facto de ter andado por fora tantos anos, mas parece-me que a Igreja Católica demora a reagir aos desafios dos tempos, perdendo terreno para aqueles que prometem tudo e rapidamente. Por exemplo, quantos anos nós tivemos de esperar para que a Igreja Católica começasse a limpar as suas fileiras de padres pedófilos? A iniciativa devia ter sido tomada pelo Vaticano, mas isso não foi feito, facto que é aproveitado pelos adversários para desacreditarem a Igreja Romana. Recentemente, li, com surpresa, que o padre e poeta português Tolentino Mendonça foi nomeado pelo Santo Padre, e passo a citar a imprensa, “responsável pelo Arquivo Secreto do Vaticano”. Numa Igreja que se quer e deve ser transparente, que “documentos secretos” existirão nesse arquivo? Depois não se venham queixar dos milhões de livros que se vendem à custa das teorias da conspiração em torno do secretismo do Vaticano. Como historiador, jornalista e católico, não compreendo.
A Cultura oferece oportunidades únicas na comunicação da Fé, mas para isso é indispensável reagir, agir para a solução dos problemas e não esperarmos que alguém o faça por nós.
Fátima 24 Novembro 2018

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