segunda-feira, 14 de julho de 2025

Fazer-se próximo! - P. Manuel João Pereira Correia, mccj

 Fazer-se próximo!

Ano C – 15.º Domingo do Tempo Comum
Lucas 10,25-37: “Quem é o meu próximo?”

A passagem evangélica deste domingo (Lucas 10,25-37) narra a parábola do chamado Bom Samaritano. Um doutor da Lei pergunta a Jesus o que deve fazer para alcançar a vida eterna. Jesus convida-o a responder por si próprio, e o escriba faz uma síntese perfeita da Lei: amar a Deus e ao próximo. Mas à sua pergunta: “Quem é o meu próximo?”, Jesus responde com uma parábola.

Um homem, ao descer de Jerusalém para Jericó, é atacado por salteadores. O percurso de 27 km, com um desnível de cerca de mil metros (de Jerusalém, a +750 metros, até Jericó, a -250), era extremamente perigoso, pois atravessava uma zona acidentada e árida do deserto da Judeia, ideal para emboscadas. Por isso, era habitual viajar em caravana.

Na parábola, Jesus apresenta a atitude de três personagens perante o homem ferido: um sacerdote, um levita e um samaritano. O sacerdote e o levita, ambos ligados ao culto no Templo, veem e passam ao largo. Neste ponto, os ouvintes esperariam um terceiro personagem “leigo”, com uma certa crítica velada ao clericalismo — uma crítica que talvez agradasse a eles, e até a nós hoje.

Mas Jesus introduz um samaritano, ou seja, um herege, um estrangeiro, um inimigo. Todos ficam à espera do que ele fará. Pois bem, o samaritano “ao vê-lo, encheu-se de compaixão”. Neste momento, todos terão ficado surpreendidos, imagino. A parábola toma um rumo de denúncia profética, desmascarando uma religiosidade vazia e formal. Hoje, podemos ver-nos representados no sacerdote e no levita: os “crentes”, os praticantes. Enquanto o samaritano representaria aqueles que, mesmo sem invocar Deus ou a sua Lei, agem com generosidade e altruísmo. Neste sentido, a parábola interpela-nos profundamente.

“Que está escrito na Lei? Como lês tu?”

A primeira leitura (Deuteronómio 30,10-14), escolhida em consonância com o Evangelho, e o salmo responsorial (Salmo 18) falam de lei, mandamentos, preceitos, decretos... Usam verbos como: ordenar, obedecer, observar, cumprir... Conceitos que hoje acolhemos com dificuldade. Mesmo sabendo que as leis são necessárias para a convivência social, custa-nos aceitar limitações à nossa liberdade. Quando descobrimos que a “Lei” também regula a nossa relação com Deus, pode surgir desconforto. Com que sinceridade repetimos com o salmista: “Os preceitos do Senhor alegram o coração”?

Devemos então refletir sobre a contra-pergunta que Jesus faz ao doutor da Lei: “Que está escrito na Lei? Como lês tu?”. Como quem diz que não basta conhecer o que está escrito, é preciso também interrogar-se sobre como compreendemos essa Palavra. O “como a lês?” é dirigido também a nós. É necessário colocar-se diante das Escrituras com a intenção de passar do “que está escrito” ao “como o compreendo e o vivo”.

É interessante notar que a primeira leitura, o salmo e o Evangelho envolvem todas as faculdades do ser humano: coração, alma, mente, olhos, mãos... “Converter-te-ás ao Senhor teu Deus com todo o teu coração e com toda a tua alma” (I leitura); “Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma, com toda a tua força e com toda a tua mente, e ao teu próximo como a ti mesmo” (evangelho). Se todas estas dimensões não estão envolvidas, a leitura da Palavra permanece abstrata, teórica, parcial ou até mesmo distorcida.

Proximidade e distância

A parábola nasce da pergunta do escriba: “E quem é o meu próximo?”. Era uma questão debatida na época. Na melhor das hipóteses, o próximo era apenas o compatriota judeu praticante. Jesus muda a perspetiva: à pergunta “Quem é o meu próximo?”, responde de facto: “Não perguntes quem merece o teu amor, mas sê tu um próximo para quem precisa”.

Uma chave de leitura deste domingo é precisamente o conceito de proximidade. Na primeira leitura lemos: “Esta palavra está muito próxima de ti, está na tua boca e no teu coração, para a cumprires”. O verdadeiro sinal de que a Palavra está próxima é a compaixão, que nos torna capazes de nos aproximarmos do necessitado, como faz o samaritano: “Ao vê-lo, encheu-se de compaixão”. E fez-se próximo! Esta proximidade traduz-se em gestos concretos: “Ligou-lhe as feridas, derramando nelas azeite e vinho; depois colocou-o sobre a sua montada, levou-o a uma hospedaria e cuidou dele”.

O samaritano “encheu-se de compaixão”. O verbo usado por Lucas é splanchnizomai, que significa comover-se, “ser abalado nas entranhas”. No Evangelho de Lucas aparece apenas três vezes: quando Jesus se comove perante a viúva de Naim (7,13), na nossa passagem (10,33) e na parábola do pai misericordioso (15,20). Em todos os três casos, a compaixão exprime-se num aproximar-se e tocar. Comover-se é um verbo atribuído particularmente a Deus. Não por acaso, o escriba não usa este verbo para descrever a atitude do samaritano, mas a expressão “praticar misericórdia”.

A conclusão da parábola é clara e direta: “Então vai e faz o mesmo!” Faze-te próximo. Pratica misericórdia. E tornar-te-ás filho ou filha do Deus da Compaixão, como Jesus, o verdadeiro “Bom Samaritano”.

Para reflexão pessoal

Eis então que surge a verdade: há pessoas tidas como impuras, não ortodoxas na fé, desprezadas, que sabem ‘praticar misericórdia’, sabem viver um amor inteligente para com o próximo. Não precisam invocar a Lei de Deus, nem a sua fé, nem a sua tradição, mas simplesmente, enquanto ‘humanas’, sabem ver e reconhecer o outro na necessidade e, por isso, colocam-se ao serviço do seu bem, cuidam dele, fazem-lhe o bem necessário. Isso é praticar misericórdia! Pelo contrário, há homens e mulheres crentes e religiosos, que conhecem bem a Lei e são zelosos no seu cumprimento minucioso, que precisamente por olharem mais para o que ‘está escrito’, para o que é tradição, do que para a vida concreta, para o que lhes acontece e para quem têm diante de si, não conseguem observar a intenção de Deus ao dar a Lei: e essa única intenção, ao serviço da qual a Lei se coloca, é a caridade para com os outros! Mas como é possível? Como é possível que justamente as pessoas religiosas, que frequentam diariamente a igreja, rezam e leem a Bíblia, não só omitam o bem, mas até nem cumprimentem os irmãos e irmãs, coisa que até os pagãos fazem? É o mistério da iniquidade que opera também na comunidade cristã! Não devemos espantar-nos, mas apenas interrogar-nos a nós mesmos, perguntando se às vezes não nos encontramos mais do lado do comportamento omissivo desses justos empedernidos, desses legalistas e devotos que não veem o próximo, mas julgam ver a Deus, que não amam o irmão que veem, mas estão certos de amar o Deus que não veem (cf. 1Jo 4,20); desses militantes zelosos para quem a pertença à comunidade ou à igreja é uma garantia que os torna cegos, incapazes de ver o outro necessitado”.
(Enzo Bianchi)

P. Manuel João Pereira Correia, mccj

P. Manuel João Pereira Correia mccj
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