Estar inserido na Igreja local
As respostas a estas perguntas, naturalmente, implicam um processo de discernimento feito com as igrejas locais onde vivemos e onde o nosso carisma está chamado a mostrar a sua fecundidade. Mas aqui começa também a segunda dificuldade, aparece outra meia-verdade que dizemos com frequência, esquecendo-nos da segunda parte da afirmação. Para justificar a tomada de paróquias afirma-se a necessidade de "estar inserido na Igreja local", "presente no coração e na vida concreta das dioceses".
Fazemos a afirmação esquecendo duas coisas. Primeira, a segunda parte dessa verdade; isto é, que devemos estar inseridos na igreja local "segundo o nosso carisma" e não a qualquer preço ou de qualquer maneira. Segunda, que também devemos e podemos estar presentes na igreja local através das demais dimensões do nosso carisma, como a formação e a animação missionária: estas são maneiras, tanto válidas como a evangelização, de estarmos presentes e sermos parte da igreja local.
Podemos, de facto, pela nossa maneira de ser e agir, colocar-nos de fora da igreja local. Mas isso não é inevitável, nem implícito, nem é a situação que nos caracteriza no momento actual. Devemos sim trabalhar para que a igreja local nos veja e sinta como parte integrante, no exercício das várias dimensões do nosso carisma. Devemos também trabalhar para que a "inserção na igreja local" não seja a sentido único e unívoco e equivalha a assumir paróquias em resposta à actual falta de clero.
Neste processo de discernimento e diálogo com a igreja local, se não defendermos, isto é, partirmos da identidade do nosso carisma, acabaremos homologados às congregações religiosas, aos olhos das igrejas locais. Isto, por muito que se diga (como algum bispo diz) que nada nos impede de desenvolver a nossa espiritualidade e carisma missionários na paróquia: não desenvolveremos o carisma se, de alguma forma, o tivermos desvirtuado aos nossos olhos e aos olhos da Igreja local (se o nosso carisma é de evangelização, de primeiro anúncio, de presença e envolvimento com os mais pobres, não fará sentido "carismático" a tomada de paróquias já estabelecidas e formadas por outros, isto tanto na Europa, como na África ou noutro continente).
Ao afirmar o que fica dito, ficamos com um problema que é: esclarecer e aprofundar a nossa identidade carismática, por um lado; encontrar, por outro, metodologias de presença, de diálogo e de primeiro anúncio, decidir-nos por formas actualizadas de envolvimento nos processos de transformação social. Esta é uma tarefa árdua, que continuamos a ter por diante, e que, apesar das tentativas dos últimos capítulos, ainda nos encontra muito dispersos. A recente achega do papa Francisco na Alegria do Evangelho poderá ajudar-nos a vencer essa dispersão e a encontrar essa convergência de visão, mística e método que (aparentemente) nos falta para encontrarmos "o novo, em termos de carisma comboniano," no discernimento que fazemos.
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