quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

Pe Claudino...em Kinshasa

P. Claudino envia notícias da RD Congo




Estou em Kinshasa, capital da República Democrática do Congo.

Nestes dias, é-me dada a oportunidade de contactar os diversos tipos de Cenáculos de Oração Missionária, que se têm desenvolvido nesta imensa cidade (mais de 10 milhões de habitantes) desde que aqui os lancei, com o P. Eliseu, em Outubro de 1996: Os COM-Leigos Missionários Combonianos, os COM-Obra Missionária do Coração de Jesus, fundada pelo Sr. Mulopo e os COM "independentes" (isto é, não ligados a essas duas estruturas missionárias: são simplesmente os COM como em Portugal...).

Ontem encontrei-me, na Paróquia de Santa Cecília, com os da "Obra Missionária do Coração de Jesus" do senhor Mulopo. Quando cheguei, ele estava a falar às mais de 120 pessoas. Interrompeu logo, num grande sorriso e um grande abraço, além de um lindo aplauso dos presentes. Há oito anos que nos não víamos... Quando chegou o momento de eu falar, disse-lhes da minha grande alegria e de como tenho seguido com atenção o progresso dos COM, no Congo (Kinshasa, Kisangani, Isiro, Butembo...) e contei-lhes como os COM tem vindo a progredir e a dar frutos em Portugal.

Toda a gente ficou muito contente e determinada a vir ao Encontro Geral do próximo dia 3 de janeiro. Aqui em Kinshasa, o Núcleo de Coordenação Diocesana de todos os tipos de COM reúne-se cada três meses, para que todos os COM sigam um caminho unitário: formação, avaliação e programação. Desta vez, por eu cá estar, o Padre Comboniano Assistente dos COM de Kinshasa, o espanhol P. Kike Bayo, decidiu convidar toda a gente dos COM. Será assim um Encontro Geral. Pretendem conhecer melhor o carisma dos COM e a sua espiritualidade missionária. Eu vou basear-me na carta de S. Paulo aos Colossenses, cap 1, 1-14 e noutros textos do Evangelho para os encorajar particularmente a dar muita importância à leitura missionária, à partilha da Palavra e da leitura missionária e à multiplicação dos COM nas Comunidades Eclesiais de Base das paróquias onde existe só um e nas outras, onde ainda não existe nenhum.

Também vou exortar fortemente os Responsáveis dos Cenáculos, partindo do Evangelho de S. Lucas, cap. 12, 42 a se comprometerem seriamente na "distribuição do trigo" aos membros dos Cenáculos: formação, visitas, encontros...

Acompanhai-me vós também neste Encontro.

Um forte abraço para cada uma e cada um de vós.

P. Claudino

terça-feira, 30 de dezembro de 2014

15 "Doenças" em 20 séculos de existência...

Papa enumera 15 "doenças" na Cúria Romana



O Papa Francisco identifica 15 "doenças" na Cúria Romana e falou sobre todas esta segunda-feira, 22 de Dezembro, num discurso perante os cardeais, bispos e monsenhores que trabalham no Vaticano.

A primeira doença é "sentir-se imortal no seu cargo". Como remédio, Francisco, que apresentou à Cúria cumprimentos de Natal, aconselha "uma visita ao cemitério para perceber como tudo passa e o nosso lugar não é eterno".

Francisco criticou o "activismo dos que nunca param"; a rigidez mental dos que, "em vez de homens de Deus, se transformam em máquinas burocráticas"; e os que planificam tudo "como os contabilistas, sem contar com as surpresas do Espírito Santo".

O rol das doenças da Cúria prossegue: há os que sofrem de "Alzheimer espiritual" e esquecem o essencial; os que "rivalizam em vaidade e vã glória"; os "esquizofrénicos com dupla vida e sem contacto com a realidade"; e os que dizem mal, "sem coragem de o fazer olhos nos olhos, como fazem os velhacos", autênticos "terroristas da maledicência".

A lista é grande e Francisco não esquece também a "doença da divinização dos chefes". "Dar graxa" é um mal das pessoas mesquinhas que "só querem obter reconhecimento, em vez de dar".

Francisco também denuncia os que "fazem tudo para aparecer nas primeiras páginas dos jornais" – exibicionismos que, diz, só prejudicam a Igreja.

Para tudo isto há um remédio, disse Francisco: conversão permanente e deixar que o Espírito Santo santifique o corpo da Igreja.
( Boletim Informativo )


E se não funcionar ( digo eu ) nada melhor do que uma boa chibatada nos prevaricadores...

segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Pe João Costa ...no Chade

Nascer e viver no caminho!

Lapia Iesi

Nestes dias cruzo-me com frequência com o povo dos “bororo”. Um povo nómada, sempre a caminho! A terra é toda “deles” e a terra deles é sempre mais além! Tudo o que têm viaja com eles (“casa”, roupa, utensílios para cozinhar e muitos animais…). É difícil compreende-los. Têm uma língua e linguagem muito própria, um estilo de vida diferente… vivem no caminho e caminham, caminham, caminham.

Este povo questiona-me particularmente neste tempo natalício. Imagino José e Maria assim… no caminho a procura de um lugar para o nascimento de Jesus. O cenário é aparentemente romântico mas austero. Não ter um lugar aonde habitar. Viver no caminho. Ser nómada!

E portanto este nomadismo “tradicional” ou “original” faz-me pensar no nomadismo moderno no qual entramos quase sem nos dar-mos conta. A mobilidade humana é impressionante: viagens de trabalho, viagens de turismo, viagens de estudo… êxodos humanos frutos de tantos conflitos e situações de precaridade. À mobilidade humana propriamente dita junta-se hoje a mobilidade digital (sms, facebook, whatsapp, internet…) e aí são tantos os caminhos, os atalhos, os motivos para avançar sempre mais e mais além. Mas para onde caminho? Que procuro? Aonde quero chegar? Talvez as respostas sejam difíceis a encontrar. O importante é caminhar. Viver sem um lugar aonde habitar. Não foi este o destino de Maria e José? Não foi esse o caminho de Jesus de Nazaré?

Estimados amigos e amigas neste tempo de natal peço ao Senhor Jesus por cada um de vós. Rezai também por mim. Que o menino Jesus nos ensine a viver como nómadas nesta terra e a caminhar com esperança para Ele e com Ele.

Um abraço amigo, os desejos de um Santo Natal e 365 dias de 2015 cheios de força e alegria para Caminhar!

Chade - Doba, 22 dezembro 2014

( Boletim Informativo )

domingo, 28 de dezembro de 2014

Frei Bento Domingues



UM MILÉNIO ENTRE A EXCOMUNHÃO E A BÊNÇÃO
                                       Frei Bento Domingues, O. P.

1. Segundo a cronologia, devia ter deixado para hoje o que escrevi no Domingo passado. Mas assim é melhor. Vamos, então, à fonte donde nasceram as questões que os jornalistas levantaram ao Papa, no voo de regresso da Turquia.
Foi uma peregrinação que durou três dias cheios de acontecimentos, cuja significação profunda e decisiva para o futuro passou quase despercebida. Começo pelo contraste complementar entre as declarações fervorosas sobre o Islão – a não confundir com as organizações que o invocam para matar em nome de Deus - e o apelo veemente aos dirigentes religiosos e políticos muçulmanos para que se unam na denúncia clara e pública desses crimes e ameaças.
 A Turquia é a fronteira de muitas fronteiras políticas, religiosas e cristãs. Bergoglio não foi lá dar lições a ninguém. Foi encorajar os que procuram caminhos de paz no Medio Oriente, intensificar o diálogo inter-religioso e revigorar a proximidade católica com o mundo cristão da Ortodoxia.
Era conduzido pelo desejo de congregar as energias de todas as pessoas de boa vontade, daquelas que vêem o mundo a partir do rosto das vítimas da violência, dos pobres e dos excluídos e que não aceitam esta vergonha como uma fatalidade.
2. Depois de se referir ao horror da islamofobia, da cristianofobia e de realçar a importância do diálogo inter-religioso, ele próprio explicou a alma da sua viagem: Eu fui à Turquia e fui como peregrino, não como turista. De facto, o que me levou, o motivo principal, foi a festa de hoje: fui precisamente para a partilhar com o Patriarca Bartolomeu; foi um motivo religioso. Depois, quando fui à Mesquita, não podia dizer: «Não! Agora sou turista!» Isto não; era tudo religioso. E vi aquela maravilha! O mufti explicava-me bem as coisas, com tanta serenidade e mesmo com o Alcorão, onde se falava de Maria e de João Baptista, explicava-me tudo... Naquele momento, senti necessidade de rezar. E disse: «Rezamos um bocado?» «Sim, sim!» - disse ele. E rezei… pela Turquia, pela paz, pelo mufti... por todos... por mim, que bem preciso... Rezei verdadeiramente. E, sobretudo, rezei pela paz. Disse: «Senhor, acabemos com a guerra!» Assim mesmo. Foi um momento de oração sincera.
3. Ao participar na Oração Ecuménica, na Sede do Patriarcado Ortodoxo, no dia da festa de Santo André, fez e disse algo, que irritou os fanáticos da superioridade católica e à qual as outras igrejas se deveriam render: “(...) André e Pedro eram irmãos de sangue, mas o encontro com Cristo transformou-os em irmãos na fé e na caridade. E nesta noite jubilosa, nesta oração de vigília, quero, sobretudo, dizer: irmãos na esperança.
Que grande graça, diz Francisco a Bartolomeu, poder ser irmãos na esperança do Senhor Ressuscitado! Que grande graça – e que grande responsabilidade – poder caminhar juntos nesta esperança, sustentados pela intercessão dos Santos irmãos Apóstolos, André e Pedro! Saber que esta esperança comum não desilude: está fundada - não sobre nós e as nossas pobres forças - mas sobre a fidelidade de Deus.
Com esta jubilosa esperança, transbordante de gratidão e trepidante expectativa, formulo a Vossa Santidade, a todos os presentes e à Igreja de Constantinopla os meus votos cordiais e fraternos pela festa do Santo Patrono. E peço um favor: de nos abençoar, a mim e à Igreja de Roma.
Um milénio entre este pedido de bênção e o envio de uma excomunhão papal!
 Com este espírito, não era difícil que, no final da Divina Liturgia, de Domingo, o Patriarca Bartolomeu e o Papa assinassem uma Declaração Comum de empenhamento em superar os obstáculos que dividem estas Igrejas.
Não é uma Declaração para servir as respectivas “sacristias”, mas para colocar as duas Igrejas no horizonte das suas responsabilidades no mundo, escutando as suas vozes: a voz dos pobres, que pedem uma ajuda material necessária em muitas circunstâncias, mas sobretudo que os ajudemos a defender a sua dignidade de pessoas humanas e a lutar contra as causas estruturais da pobreza; a voz das vítimas dos conflitos, em diversas partes do mundo - conflitos, muitas vezes entre grupos religiosos; a voz dos jovens, que vivem sem esperança, dominados pelo desânimo e resignação e que vão buscar a alegria apenas à posse de bens materiais e na satisfação das emoções do momento. Devemos encorajar as multidões de jovens, ortodoxos, católicos e protestantes, que se reúnem em Taizé, apressando o momento da unidade de todos.
Na Catedral Católica, o Papa sublinhou a nossa permanente tentação de resistir ao Espírito Santo, porque ele perturba, revolve, faz caminhar e incita a Igreja a avançar. É sempre mais fácil e confortável acomodarmo-nos nas posições estáticas e inalteradas. Na realidade, a Igreja mostra-se fiel ao Espírito Santo, quando desiste de o regular e domesticar e afasta a tentação de só olhar para si própria. Nós, cristãos, tornamo-nos autênticos discípulos missionários, capazes de interpelar as consciências, se abandonarmos um estilo defensivo para nos deixamos conduzir pelo Espírito. Ele é frescura, criatividade, novidade.
O diagnóstico das 15 doenças do Vaticano só pode vir de quem se incomoda e não se acomoda. Bom Ano!
28.12.2014

sábado, 27 de dezembro de 2014

PAZ...pelo nosso colega Lauro Portugal

     P a z  
                         


Paradoxal
Não há paz no Natal
Nem fora do Natal cada segundo
As guerras continuam em Belém
As guerras continuam pelo mundo

A globalização
Aproxima
A Sul Norte Oriente e Ocidente
A gente não se entende

As armas pesam pouco
Que muito pesa o mal
Um aceno um botão um toque digital
Bastam hoje

Hoje inúteis são carros e cavalos
Qualquer antigo escudo
Os que mandam com olhos nos ecrãs
É que ficam com tudo
Restam os príncipes
Infortunadamente para os simples

Tomando o todo pela parte
O desejo afinal é oração
Que esta contém aquele
Por isso se alguém pede o fim das guerras
Deseja simplesmente que a vontade
Seja efeito

Mas hoje infelizmente
As guerras continuam
Pelo mundo
Os homens não aprendem
Nada nada

Mas não é de admirar pois nas escolas
Os filhos fazem guerra a professores
A livros a cadernos simples lápis

E em casa os brinquedos são pistolas
Metralhadoras jactos mísseis PUM!
É o jogo da guerra das estrelas

Mas a vida não é senão um jogo
E estas guerras deixarão alguém
Para assistir à guerra das estrelas?

Ao menos
Seja rio na foz
A paz dentro de nós

Lauro Portugal

terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Pe Giuseppe Brunelli



Natale 2014-LUCCA- (Missionari Comboniani)                                                                               “Dio ha dato a tutti una stella, alcuni ne han fatto di essa un sole, altri non riescono a vederla” (Helene Kolody).
Tempo di Avvento che si compie nel Natale e nell’ Epifania si rivela: apparizione di quella Stella che porta la Gioia del Vangelo, gioia  vera  perché  è  bello  vivere  bene,  sempre, e in pace tra  noi. Ecco il tempo favorevole per rimetterci a riascoltare con gusto quell’annuncio che Giovanni ha fatto risuonare nel deserto di Giuda, che oggi si rivela in quei deserti divenuti bersaglio e campo di tante guerre che non finiscono più e dove la gente soffre… Ascoltiamo tutti: ” Vi annuncio  che  l’Agnello  è già tra noi, venuto a portare  Salvezza. Convertitevi!”
Dio non si stanca mai di noi. Nemmeno in questo Natale di crisi mondiale. Lui è sempre fedele all’ Alleanza che ha stretto con noi ed è sempre ricco di  tenerezza  che  distribuisce  abbondantemente, a piene mani, a tutti. Papa Francesco non si stanca di ricordarcelo.
In questa comunità, noi comboniani perseveriamo a ridire l’annuncio del Precursore nella piana di Lucca e dintorni. Siamo un gruppo sempre più ridotto, ma rimaniamo colmi di energia.  
Ci  ritroviamo  provenienti da esperienze diverse di missione:  Africa, America Latina , Asia. Rimaniamo uniti affinché la nostra testimonianza risulti vera. “Vedo che voi comboniani siete i tappabuchi in questa diocesi.  Guai  se  mancaste !”,  mi ha detto un giorno con decisione un sacrestano. Alcuni giorni fa, incontrandomi occasionalmente, il vescovo, mi ha detto: “Anche tu,  missionario  comboniano a Lucca? Che fai di bello?”. “Mi faccio presente nei conventi, nelle case di anziani e ammalati, nelle sue parrocchie, monsignore, che sono anche mie e  nostre..”. E il vescovo: “Bene! Così mi piace sentir parlare !”.
Ultimamente sono esondati i fiumi, causando disagi ovunque. Anche il travolgente fiume di giovani in “Comics&Games” è esondato in Lucca, mostrando tanto entusiasmo nella ricerca di felicità… e della Stella.
Mi piace ricordare qui una  leggenda  natalizia  che  ci  può  accompagnare  nel nostro cammino verso la Grotta. Tra i pastori che solleciti andavano a Betlemme per incontrare il Bambino, ce n’era uno più povero degli altri, disprezzato, oggetto di bullismo. Si sentiva a ragione vergognoso, pur camminando anche lui con determinazione, ma pur sempre a mani vuote.  Maria non  sapeva  come  accogliere  tanti  doni dei pastori perché teneva il Bimbo Gesù in braccio. Fu allora che, notando il pastore più povero con le mani alzate e vuote, gli depose tra le braccia il suo Gesù, così da avere le mani libere per accogliere i doni. Fortunato quel pastore che si chiamava Khalil… e che era venuto dalla Striscia di Gaza.
Senza potere e a mani vuote, anche noi ci possiamo sentire fortunati.
Buon Natale e felice 2015!
p. Giuseppe Brunelli e tutta la comunità

Natal, invenção do Amor!..

O Natal, invenção do Amor! …
Atravessa os séculos – este é já o vigésimo primeiro – a notícia espantosa, a todos os títulos surpreendente, do Natal do Deus Menino que, de formas muito diferentes, tem inspirado o mundo inteiro! (Continua)

Para ler o artigo na integra, clique AQUI

www.uasp.pt

segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Frei Bento Domingues



QUANTOS CRISTOS RESSUSCITARAM? (1)
                                 Frei Bento Domingues, o.p.


1. Nas crónicas de Natal, durante vários anos, preocupei-me, com questões de ordem histórica e teológica, levantadas pelo género literário dos chamados “Evangelhos da Infância”. Esses belos tecidos simbólicos, anunciando o reinado do Espirito de Cristo – recusa do mundo de senhores e escravos – são mal servidos por uma leitura estéril de biologia milagrosa.
Este ano, opto pela peregrinação ecuménica do Papa Francisco à Turquia, fundamental para o renascimento das Igrejas. Selecciono, apenas, duas respostas descontraídas a perguntas dos jornalistas, no voo de regresso[1]. Voltarei, em breve, a outros aspectos.
O Papa Bergoglio tinha afirmado que, para chegar à suspirada plenitude da unidade, “a Igreja católica não tem intenção de impor qualquer exigência”. Daí a questão: “estaria a referir-se ao Primado (do Bispo de Roma)?
Resposta: A questão do Primado não é uma exigência; é um acordo porque também os ortodoxos o desejam. É um acordo para encontrar uma modalidade que seja mais conforme com a dos primeiros séculos. Li, uma vez, algo que me fez pensar – um parêntesis - aquilo que sinto de mais profundo acerca deste caminho da unidade está na homilia que fiz, ontem, sobre o Espírito Santo. Li, com efeito, que só o caminho do Espírito Santo é caminho certo, porque Ele é surpresa. Ele mostrar-nos-á onde está o ponto decisivo. Ele é criativo…
Talvez isto seja uma autocrítica, mas corresponde, mais ou menos, ao que eu disse nas congregações gerais, antes do Conclave, o problema está no seguinte: a Igreja tem o defeito, o hábito pecador, de olhar demasiado para si mesma, como se imaginasse que possui luz própria. Mas, como sabem, a Igreja não tem luz própria. Deve voltar-se para Jesus Cristo!
 À Igreja, os primeiros Padres chamavam-lhe mysterium lunae, o mistério da lua, porquê? Porque dá luz, mas não tem luz própria; é a que lhe vem do sol. E, quando a Igreja olha demasiado para si mesma, aparecem as divisões. Foi o que sucedeu depois do primeiro milénio. Hoje, à mesa, falávamos do momento, de uma terra – não me lembro qual – em que um cardeal foi comunicar a excomunhão do Papa ao Patriarca (ortodoxo). Naquele momento, a Igreja olhou para si mesma; não estava voltada para Cristo. Creio que todos estes problemas que surgem entre nós, entre os cristãos – falo pelo menos da nossa Igreja católica – surgem quando ela olha para si mesma: torna-se auto-referencial.
Hoje, Bartolomeu usou uma palavra, não foi «auto-referencial», mas era muito semelhante, uma palavra muito bela… Agora não me recordo, mas era muito bela, muito bela [o termo na versão italiana é introversão].
Eles aceitam o Primado [do Bispo de Roma]. Hoje, na Ladainha, rezaram pelo «Pastor e Primaz». Como diziam? «Aquele que preside…». Reconhecem-no; disseram-no, hoje, na minha frente. Mas, quanto à forma do Primado temos de ir um pouco ao primeiro milénio para nos inspirarmos. Eu não digo que a Igreja errou, não. Percorreu a sua estrada histórica. Mas, agora, a estrada histórica da Igreja é aquela que pediu João Paulo II: «Ajudai-me a encontrar um ponto de acordo à luz do primeiro milénio».
Este é o ponto-chave. Quando se fixa em si mesma, a Igreja renuncia a ser Igreja para ser uma ONG teológica.
2. Uma jornalista interpelou-o “acerca da histórica inclinação” que ontem o Papa Francisco tinha feito diante do Patriarca de Constantinopla: como pensa agora enfrentar a crítica  de quem talvez  não entenda  estes gestos de abertura?  
Resposta: Atrevo-me a dizer que não se trata de um problema só nosso; é também um problema dos ortodoxos. Eles têm o problema de alguns monges, de alguns mosteiros que estão nessa estrada. Por exemplo, há um problema que se discute desde os tempos de Paulo VI: é a data da Páscoa. E não nos pomos de acordo! Mas porquê? Porque, se a fizéssemos na data da primeira lua depois do 14 de Nisan, com o avanço dos anos, correríamos o risco – os nossos bisnetos – de ter de a celebrar em Agosto. E devemos procurar… Paulo VI propôs uma data fixa concordada, um domingo de Abril.
3. Bartolomeu foi corajoso, sublinhou o Papa. Por exemplo, em dois casos, recordo um, mas há outro. Na Finlândia, ele disse à pequena comunidade ortodoxa: festejai a Páscoa com os luteranos, na data dos luteranos, para que num país de minoria cristã não haja duas Páscoas. E o mesmo problema vivem os orientais católicos. Ouvi esta, uma vez, à mesa na Via della Scrofa: preparava-se a Páscoa na Igreja católica e estava presente um oriental católico que dizia: «Ah, não! O nosso Cristo ressuscita um mês mais tarde! O teu Cristo ressuscita hoje?» O outro observou: O teu Cristo é o meu Cristo.
A data da Páscoa é importante. Há resistência a isto por parte deles e nossa. Quanto a estes grupos conservadores, devemos ser respeitosos, sem nos cansarmos de explicar, catequizar, dialogar, sem insultar, sem os denegrir nem criticar porque tu não podes arrumar uma pessoa dizendo: «este é um conservador». Não. Este é tão filho de Deus como eu. Mas convidemo-lo: vem cá, falemos! Se não quer falar é um problema dele, mas eu respeito-o. Paciência, mansidão e diálogo.
Boas festas

21.12.2014





[1] Cf. Seguirei, de perto, a narrativa do L’Osservatore Romano, 04.012.2014