sábado, 30 de abril de 2016

MISSÃO JOVEM 2016 - MAIA


No próximo verão, o P. Leonel Claro, missionário Comboniano, voltará para a missão do Chade (África). Por isso o próximo MISSÃO JOVEM, será o último em que participará.
Gostaríamos de te ter connosco para uma despedida em grande.

terça-feira, 26 de abril de 2016

A ALEGRIA DO AMOR (II) Frei Bento Domingues, O.P.


1. Quando tudo parece sem remédio, surge o Papa Francisco a dar uma estranha solidez à esperança, a virtude das situações difíceis. É normal que nem todos vejam assim os seus gestos. Mesmo dentro da própria Igreja, existem grupos, movimentos e personalidades que se opõem à sua orientação, usando diversos métodos para neutralizar a sua influência. A prática mais corrente é a da resistência passiva. Fazem de conta que as suas iniciativas, convocatórias e tomadas de posição não têm nenhuma importância. As pessoas com responsabilidades diocesanas e paroquiais sabem que as rotinas bastam para barrar o caminho a propostas desestabilizadoras.

 Outro método frequente é a desqualificação de Bergoglio. O que este argentino propõe de mais acertado já estava dito pelos seus antecessores. Quando procura ser original, não passa de um demagogo do terceiro mundo. A sua perspectiva social, condensada em três T- trabalho, tecto (casa) e terra –, apresentada no Vaticano, ao acolher os Movimentos Populares[1], como anseios e direitos sagrados de qualquer família, é um exemplo de pregação irresponsável. O jesuíta, C. Theobald, mostrou, pelo contrário, a originalidade e a pertinência do estilo concreto do Papa Francisco, atento à existência social infinitamente diversa e plural[2].

Enquanto ficava por aí, tinha de facto, muitas passagens da doutrina social da Igreja a seu favor. Agora, tudo se agravou. Em nome de ajustamentos pastorais, a Exortação A Alegria do Amor, deu instrumentos àqueles que procuram destruir a concepção católica da família.

Compreendo que o Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, o Cardeal Ludwig Müller, viva momentos atribulados. Tinha revelado publicamente que se sentia investido da missão de estruturar teologicamente o pontificado do Papa Francisco, pois este não era um teólogo profissional. Não sei se por vaidade ou megalomania, lutou até à última para desautorizar as posições que acabaram por vingar na Amoris laetitia. Paradoxalmente, é este documento que exige revisões no ensino da teologia moral, denunciando a moral fria de escritório[3]. Terá ele a humildade suficiente para repensar a sua teologia algo enfatuada?

2. O Movimento Internacional Nós Somos Igreja reconhece que esta Exortação Apostólica introduz uma nova época na ética sexual, na linha do Concílio Vaticano II. Agora, são essencialmente as igrejas locais, incluindo as ciências teológicas e todos os fiéis, que têm a obrigação de desenvolver as linhas gerais, as ideias e as iniciativas básicas definidas por Francisco. Quando afirma que nem toda a discussão doutrinária, moral ou pastoral deve ser decidida com uma intervenção do magistério (nº 3), o Papa Francisco devolve à Igreja a liberdade de diálogo e de desenvolvimento da doutrina, que muitos papas anteriores restringiram em excesso. Explicitamente, o Papa também exige a reflexão dos pastores e teólogos, sobre as ciências teológicas[4].

Bergoglio reparte as responsabilidades pastorais, precisamente porque todos somos Igreja. Ele convoca, não substitui, mas dá o seu contributo e, neste caso, incontornável. Fala da alegria do amor com muita alegria e pouca solenidade. Sabe que hoje muitos noivos escolhem para a celebração do casamento o hino de S. Paulo[5] à caridade. Como esta é confundida com uma esmola, passou a ser traduzida por amor e o Papa embarcou nesta opção. As leituras na missa têm tão pouca sorte, que a homilia ou as repete ou interpreta o que ninguém ouviu. Como este pontífice tem muita experiência dessa desgraça, resolveu comentar este hino, estrofe a estrofe. Confesso que não conheço nada de mais adequado para os CPM[6] e os retiros de casais.

3. O que será que permite a este Papa tanta desenvoltura humana, pastoral e teológica ao relacionar-se com as crianças, os idosos, os doentes, os sem-abrigo, os refugiados, inscrevendo tudo em responsabilidades locais e globais?

Se não me engano, é devido ao amor que move o seu pensamento, os seus passos e as suas mãos. Se fosse apenas um conhecimento científico da realidade, este criava, automaticamente, uma distância analítica, especulativa, como o daqueles que sabem tudo, mas não mexem uma palha. A sua teologia é unitiva: é um conhecimento que nasce da alegria do amor e alimenta a investigação contínua e concreta. Não é daqueles que fazem um curso de teologia, ou até um doutoramento, e ficam dispensados de pensar e investigar até ao fim da vida. Como nada os surpreende, também não surpreendem ninguém.

Na apresentação do documento final dos movimentos que se dedicaram a Escutar a Cidade[7], tive a alegria de ouvir a teóloga Cátia Sofia Tuna, cruzando experiência social e cultural, prática teológica e espiritualidade, apontando caminhos a percorrer e metas a atingir, para escutar sempre a voz de Deus, nas vozes do mundo.



24.04.2016





[1] Encontro Mundial dos Movimentos Populares, 28. Outubro. 2014
[2] L’enseignement social de l’ Église selon le pape François, NRT 138 (2016) 273-288
[3]  Amoris laetitia, n.311-312
[4] Comunicado de imprensa do IMWAC, Munique / Roma, 8 de Abril de 2016
[5] 1 Cor 13, 1-13
[6] Cursos de preparação para o matrimónio
[7] Contributos para o Sínodo da Diocese de Lisboa

Da Zâmbia - P.e Carlos Nunes

"Uma forte condenação das violências xenófobas e um forte apelo à paz: assim a Conferência Episcopal da Zâmbia (ZEC) comenta os confrontos ocorridos nos últimos dias na capital, Lusaca. Pelo menos 62 lojas pertencentes a pessoas ruandesas foram saqueadas durante os motins que afetaram nove distritos entre os mais pobres da cidade...."

sábado, 23 de abril de 2016

Ecos da Guiné: Por mares e ares dantes “navoados” .

( Crónica de saudade da Guiné )
A UASP organizou a 2ª viagem à Guiné Bissau, de 18 a 25 de Março de 2016, na qual me integrei. Éramos doze, dos quais nove aventureiros que nunca tinham ido à Guiné.
Sobrevoámos calmamente o deserto de Marrocos e as águas do Atlântico. Aterrei na minha ex-Base Aérea 12, agora sem aviões, nem gente, mas ainda com as torres de defesa.
Na gare fomos engolidos por dezenas de pessoas a oferecer serviços ou a pedir.
Dali partimos numa carrinha para a Diocese de Bafatá onde fomos recebidos pelo Sr Bispo D. Pedro Pizzi e por dois colaboradores da Diocese, todos brasileiros e de um sorriso sempre aberto. Descansámos do calor (no calor da sala) e fizemos as nossas apresentações.
Nos ias 18 e 19 comemos a comida simples da Cúria. Dormimos sem ar condicionado (que o Bispo também não tem); a ventoinha do meu quarto não funcionava.
No dia 19 tivemos a Missa de S. José e partimos para Bambadinca, Quebo (ex-Aldeia Formosa), Buba e Saltinho (ex-quartel). Aqui almoçámos bom peixe e boa cabra e no fim tivemos a única prova de ostras. Fomos muito bem recebidos pelo dono do hotel-resort.  43º à sombra e 34º dentro de casa!
Passámos a ponte “Carmona” do rio Corubal e saltámos nas pedras “pousadas” que fazem o largo rio descer em cascatas.
Neste percurso visitámos várias instituições de paróquias e missões, onde recebemos muitos sorrisos e deixámos malas com medicamentos ou roupas. Nestes oásis, com outros cuidados nas pessoas e nas casas, vimos muitas carências sem queixumes e muita paz e alegria.
No dia 20 tivemos a solene e alegre Missa de Ramos com uma procissão, com ramos de oliveira e  folhas de palmeira, de mais de 500 m.
Depois visitámos as ruas esburacadas  e as casas quase abandonadas da  Bafatá colonial, onde eu tinha passado dois fins de semana. Aqui sentimos a tristeza de um mundo a degradar-se. A população vive na parte alta com muito pó e lixo nas ruas. Alcatrão? Só em algumas ruas.
O Bispo, apenas com uma cruz de madeira ao peito, a quem deixámos um generoso óbolo, acompanhou-nos sempre nestes 3 dias com o seu sorriso de 30 anos de Guiné.
Viemos dormir a Bissau passando ao lado de Mansoa e voltei a ver Nhacra e Safim, agora com milhares de habitantes.
Ao longo da estrada de alcatrão em bom estado, percorrida a uns 90 kms/h, vendia-se de tudo. Num mundo de paz o cuidado maior era com as cabras e os porcos que gostavam de atravessar a estrada.
No dia 21 partimos para o saudoso Quinhamel, agora muito populoso e divertimo-nos com a Virgínia no bar do seu “Mar Azul”. O barco percorreu o rio Mansoa e o mar, com golfinhos, até à Ilha do Orango. No hotel-Bungalows havia mais um casal. Comemos sempre bem, fomos dormindo, visitámos uma aldeia e passeou-se pela sombra. Alguns tomámos banhos na água morna do mar com areal imenso. O meu colega de quarto não quis oferecer molhados os calções que lhe pediram e solidariamente tomámos um banho nus que, naquele isolamento, não ofendia ninguém.
Regressámos a Bissau, sem almoço não reservado em Quinhamel..( continua)…
Timoteo
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quarta-feira, 20 de abril de 2016

O colóquio do Papa no avião: ampla síntese


16/04/2016 18:09



O Papa, no retorno de Lesbos, realizou a costumeira conferência de imprensa com os jornalistas presentes no vôo. Foi uma viagem – começou o Papa – "muito forte, muito forte".

Respondendo à primeira pergunta reiterou o caráter humanitário da visita: não cabe fazer nenhuma especulação política.



Saudação a Sanders, questão de educação não de política

Em seguida disse que esta manhã quando saía de Santa Marta, encontrou e cumprimentou o senador americano Sanders que veio ao Vaticano para a conferência sobre a ‘Centesimus Annus’, e estava ali à sua espera. Foi uma simples saudação – esclareceu – nada mais: chama-se educação, não um envolver-se na política. Se alguém pensa que fazer uma saudação é interferir na política eu lhe recomendo que consulte um psiquiatra (risos).



Não escolhi entre cristãos e muçulmanos

Sobre os refugiados acolhidos no Vaticano, porque teriam sido privilegiados os muçulmanos – era a pergunta – disse que não fez uma escolha entre cristãos e muçulmanos: estes tinham os documentos em ordem e podiam ser acolhidos.  Havia duas famílias cristãs, mas não tinham os documentos em ordem. Não é um privilégio, todos os 12 são todos filhos de Deus, o único privilégio é dos filhos de Deus. São acolhidos pelo Vaticano e será o Vaticano, com a colaboração da Comunidade de Santo Egídio, que irá procurar um emprego para eles. São hóspedes do Vaticano. Vão se juntar às duas famílias sírias que já foram acolhidas nas duas paróquias do Vaticano.

Integrar, não criar guetos

Sobre a integração, o Papa disse que é uma palavra que na nossa cultura atual parece estar esquecida. Hoje existem os guetos. Alguns dos terroristas são os filhos e netos de pessoas nascidas na Europa. O que aconteceu? Não houve uma política de integração e isto é fundamental. Hoje, a Europa tem de retomar esta capacidade que sempre teve de integrar. Precisamos de uma educação para a integração.

Construir pontes, não muros

Um repórter perguntou se o reforço das fronteiras na Europa é o fim do sonho europeu. Eu não sei – respondeu o Papa – mas eu entendo os governos e também os povos que têm um certo medo, devemos ter uma grande responsabilidade no acolhimento e uma das coisas em que é preciso ter responsabilidade ​​é como integrar essas pessoas entre nós. Eu sempre disse que construir os muros não é uma solução, temos de fazer pontes, mas as pontes se constroem com inteligência, com o diálogo e com a integração. Entendo um certo receio, mas fechar as fronteiras não resolve nada, porque o fechamento a longo prazo faz mal ao próprio povo.

A Europa deve urgentemente fazer políticas de acolhimento, de integração, de trabalho, de crescimento, de reforma da economia e todas estas coisas são as pontes que nos levarão a não fazer muros.

Mas depois do que vimos naquele campo de refugiados, dava vontade de chorar. O Papa mostra os desenhos das crianças refugiadas em Lesbos: as crianças querem a paz, porque sofrem. Mostra um desenho em que uma criança se afoga. As crianças viram isto. Isto – disse – as crianças têm-no no coração e vai levar tempo para que possam elaborá-lo. Num desenho aparece o sol chorando: até o sol é capaz de chorar ... a nós também nos fará bem uma lágrima.

Ajudar os refugiados da guerra e da fome

Mas a Europa – pergunta um jornalista – pode acolher toda a miséria no mundo?

É verdade – respondeu o Papa – que alguns fogem das guerras e outros fogem da fome. Isto porque se exaure a terra e porque se vendem as armas. Temos de ajudar tanto aqueles que fogem das guerras como aqueles que fogem da fome. Eu gostaria de convidar os negociantes de armas a passar um dia naquele campo e acho que para eles seria salutar. Na Síria, por exemplo, quem fornece armas aos diversos grupos?

Pequenos gestos, uma gota muda o mar

A uma pergunta sobre o valor dessa viagem, o Papa respondeu com uma frase da Madre Teresa de Calcutá: tanto esforço, tanto trabalho, apenas para ajudar as pessoas a morrer? É só uma gota no mar. Mas após esta gota o mar não será o mesmo. Trata-se de um pequeno gesto, mas são os pequenos gestos que todos devemos fazer para estender a mão a essas pessoas.

Vivamos mais sobriamente

Sobre a questão da austeridade, ele fez uma comparação com o desperdício. Com uma refeição de cada um de nós poderíamos eliminar a fome no mundo. E nós na nossa casa quanto desperdício fazemos sem querer! É a cultura do desperdício. Vivamos um pouco austeramente!

Migrantes americanos

No que diz respeito aos migrantes latino-americanos, o Papa disse que é a mesma situação: fogem da fome. É um problema global, falou dele aos bispos mexicanos, pedindo para cuidarem dos refugiados.

Divorciados recasados ​​e a crise familiar

As últimas perguntas foram sobre a Exortação ‘Amoris Laetitia’. Se mudou alguma coisa sobre a disciplina para os divorciados e recasados. Eu posso dizer que sim – respondeu – mas seria uma resposta muito pequena, recomendo que vocês leiam a apresentação que fez o Cardeal Schoenborn, que é um grande teólogo, é nessa apresentação que esta pergunta terá a resposta. Mas acrescentou que a mídia deu demasiada relevância à questão da Comunhão aos divorciados recasados.

Isto causou-lhe alguma tristeza porque não se percebe que esse não é o grande problema, não se percebe que a família - que é a base da sociedade -  está em crise no mundo inteiro, não se percebe que os jovens não querem casar, não se nota a queda da taxa de natalidade na Europa que é de fazer chorar, não se nota a falta de trabalho, que obriga os pais e as mães a ter dois empregos enquanto as crianças crescem sozinhas e não aprendem a crescer em diálogo com o pai e a mãe. Estes são os grandes problemas.



http://it.radiovaticana.va/news/2016/04/16/il_colloquio_del_papa_in_aereo_ampia_sintesi/1223439


segunda-feira, 18 de abril de 2016

A ALEGRIA DO AMOR (I) Frei Bento Domingues, O.P.


. A partir do século XIX, pode-se falar de uma crescente inflacção de documentos pontifícios sobre tudo e mais alguma coisa, mas, como já foi observado muitas vezes, ainda não apareceu nenhum sobre o humor. A queixa é muito mais antiga. Humberto Eco, no seu romance O Nome da Rosa, refere um debate monacal para responder a uma pergunta transcendente: Jesus riu ou não? Para o grande historiador, Jacques Le Goff, esse foi um tema constante da Idade Média.

Se alguém tentasse fazer uma enciclopédia do humor e do riso provocados pelas figuras da Bíblia, dos evangelhos, da história da Igreja, dos monges do Deserto, da prática dos sacramentos, da vida dos santos, das devoções, do céu, do inferno e do purgatório, nos diferentes países e continentes, teria matéria hilariante para muitas vidas. Pode ser intermitente, mas na área católica, nunca se esgota.

Depois do sisudo catolicismo da primeira parte do século XX, foi eleito papa, João XXIII. Passado pouco tempo, perguntaram-lhe: quantas pessoas encontrou a trabalhar no Vaticano? – Mais ou menos metade. Quando é que decidiu convocar o Concílio? – Quando estava a fazer a barba. Os seus Fioretti correram o mundo.

Ao angustiado Paulo VI, sucedeu João Paulo I, o abreviado Papa do sorriso. Esquecendo-se de que estava no Vaticano, continuou com o seu costume de chamar a Deus Pai e Mãe e de manifestar, com bonomia, a vontade de varrer a cúria romana. Não teve sorte.

Veio um longo inverno e depois precipitou-se a primavera com um argentino, chamado Mário Bergoglio que, sendo jesuíta, se fez franciscano radical, Francisco. Parece habitado por uma paixão estranha que mistura indignação e misericórdia, bom humor e gestos proféticos, reforma da cúria vaticana e deslocação às periferias mais abandonadas. Desde a primeira Exortação Apostólica até à mais recente, tudo é feito por causa da alegria[1].

2. A Exortação A Alegria do Amor, sobre a família - uma análise, uma autocrítica  e uma proposta- não é de alguém que se julga infalível a definir doutrina ou a ditar leis irreformáveis. Procura que a Igreja, na sua intervenção pastoral, abandone o inveterado mau gosto de lamentar e condenar. No capítulo II, ao apresentar a realidade actual e os desafios que ela representa para a vida familiar, destaca, por um lado, a tentação de querer resolver os problemas actuais, reproduzindo receitas gastas. Nem a sociedade em que vivemos, nem aquela para onde caminhamos, permitem a sobrevivência indiscriminada de formas e modelos do passado[2]. Por outro lado, também não se pode cair na ideia de que tudo é descartável, cada um usa e deita fora, gasta e rompe, aproveita e espreme enquanto serve e, depois … adeus.

Entretanto, o Papa não se limita a mostrar que esses são becos sem saída. Adverte, no entanto, que devemos ser humildes e realistas para reconhecer que, às vezes, a nossa maneira de apresentar as convicções cristãs e a forma como tratamos as pessoas ajudaram a provocar aquilo de que hoje nos lamentamos, pelo que nos convém uma salutar reacção de autocrítica. Além disso, muitas vezes apresentamos de tal maneira o matrimónio que o seu fim unitivo, o convite a crescer no amor e o ideal de ajuda mútua ficaram ofuscados por uma ênfase, quase exclusiva, no dever da procriação.

Bergoglio lembra que não fizemos o acompanhamento dos jovens casais nos primeiros anos, com propostas adaptadas aos seus horários, às suas linguagens, às suas preocupações mais concretas. Outras vezes, apresentamos um ideal teológico do matrimónio demasiado abstrato, construído quase artificialmente, distante da situação concreta e das possibilidades efectivas das famílias tais como são.

Esta excessiva idealização, sobretudo quando não despertámos a confiança na graça, levou a que o matrimónio deixasse de ser desejável e atraente; muito pelo contrário[3].

3. Na acção pastoral, custa-nos deixar espaço à consciência dos fiéis, que são capazes de realizar o seu próprio discernimento, mesmo em situações onde se rompem todos os esquemas. Somos chamados a formar as consciências, não a substituí-las.

Muitas vezes agimos na defensiva e gastamos as energias pastorais multiplicando os ataques ao mundo decadente, com pouca capacidade de propor e indicar caminhos de felicidade. Muitos não sentem a mensagem da Igreja sobre o matrimónio e a família, como um reflexo claro da pregação e das atitudes de Jesus, o qual, ao mesmo tempo que propunha um ideal exigente, não perdia jamais a proximidade compassiva às pessoas frágeis, como a samaritana ou a mulher adúltera[4].

Hoje, destacamos apenas a mudança radical de atitude e de método da pastoral da Igreja sobre a família, realidade incontornável na sua diversidade, em todos os povos e culturas. Triste seria uma pastoral das falências[5] sem apontar os caminhos para a alegria do amor sem a qual não se pode falar de família[6].

17.04.2016





[1] Evangelii Gaudium (A alegria do Evangelho), 24. 11.2013; Laudato Sí (Louvado sejas), 24. 05. 2015; Amoris Laetitia (A alegria do Amor), 19.03.2016
[2] Amoris Laetitia, 32-39
[3] Amoris Laetitia, 36
[4] Amoris Laetitia, 38
[5] Amoris Laetitia,308
[6] Os itálicos das citações da Exortação Apostólica são da minha opção

domingo, 17 de abril de 2016

ENCONTRO VISEU : 7 DE MAIO DE 2016

Caros Colegas e Amigos

É já no primeiro sábado de maio( dia 7)  que nos reuniremos novamente em
Viseu no super conhecido e famoso Seminário das Missões por onde
passaram velhas e grandes glórias dos Combonianos  e de antigos
alunos... não menos velhos e gloriosos.
Para uns será a saudade, para outros a amizade, para outros a
oportunidade de regresso às origens dos sonhos da nossa adolescência e
juventude e a oportunidade de se encontrar com aqueles com quem se
partilharam esses mesmos sonhos. Sonhos e ideais vividos por muitos mais
noutras casas dos combonianos, Maia,Coimbra, Santarém, Vila Nova de
Famalicão.

Para todos será certamente um convívio de reconhecimento da educação
recebida, do mundo que nos foi aberto quando Portugal se encontrava
ensimesmado e à procura da libertação cultural, e social que nos
permitisse a realização por todos ansiada. Era um mundo novo de
oportunidades que se nos abria, saídos das nossas aldeias mais ou menos
recónditas...apagadas na dureza da sobrevivência campesina ou fabril
das nossas existências.

Reconheçamos a realidade e sejamos gratos ...

Um grande abraço
António Joaquim Pinheiro

ORDEM DE TRABALHOS


09.00/10.00  -  Recepção e Acolhimento

     11.00       -  Reunião Geral com:

                     -  Informações gerais

                     -  Informações sobre o estado da nação Comboniana :

                     Pe. José Vieira ( Provincial) –Orientações do Sínodo e Capítulo Geral dos  

                     Combonianos.   

                     Pe. Manuel Augusto( ex Geral) – Prelúdio da “História dos Combonianos    

                     em  Portugal”, décadas 60 e70.
   
      12.30      -  Celebração da Eucaristia presidida pelo Provincial Pe José Vieira 
                                       

      13.30      -  Almoço . Convívio com vídeos editados pelo José Faria

A reunião, como assembleia geral que também é, pode ser ocasião para renovar os órgãos sociais da Associação. Surja uma lista!!!!!!

APARECE. Traz a família ou outros colegas que tu conheças. VEM CEDO  para fazer render o dia.

Este ano a turma de 1966 e a de 1956 fazem  50  e 60 anos, respectivamente. Seria interessante o reencontro e uma foto de conjunto…50 e 60 anos depois…

Por razões logísticas, agradece-se que até ao dia 5 de Maio confirmes a tua presença por email ou por telefone para um dos seguintes números:


Isidro Almeida – 234198433 – 926493057 – isidro.almeida@gmail.com

Ir. Valentim – 967838001- valentimrodrigues@hotmail.com

António Pinheiro – 252413057 – 918612894 – aspinheiro@clix.pt


Um grande abraço

 Pela Direcção

António Pinheiro



                                                          Vila Nova de Famalicão, 14 de Abril de 2016

quinta-feira, 14 de abril de 2016

DITOSO FALEIRO

A MELHOR ESTÂNCIA DE FÉRIAS EM PORTUGAL nas décadas de 60,70 e 80 do século passado...

Fui ao Faleiro com uns amigos que têm casa em Arcozelo das Maias. Andamos por lá duas horas. Tudo num abandono total. A casa do caseiro degradada e cheia de silvas. A casa do capitão, segundo informações no local, ficará quase submersa. A casa toda vandalizada. Tem ares de que foi um aviário. 
Não sei a quem pertence neste momento. 
Hoje este espaço vale muito dinheiro. 
Vim de lá com um enorme nó na garganta.
É a vida. Em frente.
José Lázaro

domingo, 10 de abril de 2016

FORUM - FÁTIMA

(...) Após o acolhimento (09h00) e abertura (09h30), serão oradores de manhã: Frei Herculano Alves (09h45) que abordará “A Misericórdia na tradição judaica” e o P. Armindo Janeiro (11h30) visita “A Misericórdia na tradição cristã”; de tarde, “A Misericórdia na tradição islâmica”, será tema para Riaz Issa, da Comunidade Muçulmana Shia Imami Ismaili (14h30) e “A Misericórdia na Mensagem de Fátima”, será apresentada por Mons. Luciano Guerra (16h15).

Para ver o artigo na integra clique AQUI



O BEM E A PAZ CANSAM Frei Bento Domingues, O.P.


1. Segundo o mito bíblico, a Criação[1] é uma vitória sobre o caos. Deus viu tudo o que tinha feito e era muito bom. Um paraíso. Os antigos próximo-orientais faziam um balanço da história da humanidade diametralmente oposto ao dos modernos ocidentais. Contrariamente à ideia do progresso irreversível, os antigos pensavam que o mundo começou perfeito, mas degradou-se progressivamente. Os mitos mesopotâmicos também expressam essa convicção. No mundo grego, esta ideia esquematizou-se no mito das cinco idades do universo[2]. Esses mitos veem no dilúvio a principal fronteira dos primórdios da humanidade. Na versão bíblica, é uma descriação[3].

No entanto, quando parece que se chegou à degradação sem remédio, surge sempre uma esperança. A título de exemplo, cito o Profeta Isaías[4]: “O povo que andava nas trevas viu uma grande luz (…) porque um menino nos nasceu, um filho nos foi dado que anuncia uma paz sem fim”. A IV Bucólica de Virgílio[5] parece copiada desse profeta. No seu poema há também um Menino que vai deixar o mundo livre do medo, governando a terra em paz.

Os cristãos viram nessas figuras míticas do Menino, Jesus de Nazaré, o príncipe da paz, cuja proposta foi rejeitada em público e em tribunal. Acabou na cruz. Este facto foi tão traumatizante para os discípulos que lhes matou a esperança. Todas as narrativas da Ressurreição testemunham que se sentiram completamente perdidos. O Ressuscitado encontrou, nas mulheres que o seguiram e procuravam, as evangelizadoras dos apóstolos, paralisados pelo medo. A era da audácia, dentro e fora do judaísmo, é atribuída à irrupção do Espírito de Cristo.

2. Na sua apologia da Roma cristã, o bracarense Paulo Orósio[6] vê no Império Romano um sistema quase perfeito, no preciso momento em que está a ruir, dilacerado pelas contradições internas e pelas invasões germânicas: “as mesmas leis que se subordinam ao Deus único reinam por toda a parte e por onde quer que eu vá, sem ser conhecido, não receio uma violência repentina, como se fosse um homem sem protecção. Entre romanos, como disse, sou romano; entre cristãos sou cristão; entre homens sou homem; apelo para a república pelas suas leis, para a consciência pela fé, para a natureza pela igualdade. Faço uso temporariamente de toda a terra como se fosse a minha pátria, porque aquela que é a verdadeira pátria e que eu amo não está, de modo algum, na terra[7]”. Sol de pouca dura.

Na Idade Moderna, entramos noutro mundo. Desenvolveu-se a suspeita de que a religião era a fonte de todos os males, de todas as opressões, de todas as guerras. Para que o ser humano fosse livre e criador do seu destino, precisava de se desfazer da ideia de Deus. As ciências e as técnicas acabariam por vencer todas as interrogações de ordem psicológica, metafísica e religiosa.

O liberalismo desconstrutivista transferiu para os seres humanos os atributos divinos.

As ciências, as técnicas e as suas indústrias acabarão por criar o pós-humano. O niilismo de todos os juízos de valor liberta o terreno de preocupações éticas e deixa o pragmatismo puro e duro à solta. Em breve conheceremos a mecânica da biologia humana e desaparecerá o inconsciente individual e colectivo. Seremos transparentes.

3. Ou talvez não. Num mundo, em mudança acelerada, produz-se uma disfunção entre o tecno-económico e o sentido da vida dos cidadãos e das suas identidades. Entre as fontes onde podem ser recuperadas, encontra-se o mundo das religiões. Entre estas, destaca-se o islão e o cristianismo. Mas estas estão a afirmar-se na pior das suas configurações, no fundamentalismo. Por vezes até como justificação religiosa do terrorismo.

As sociedades democráticas ocidentais são e serão, cada vez mais, heterogéneas. A imigração configurou uma paisagem humana e religiosa multicolor. Esta situação exige especiais cuidados para que a integração se faça de tal modo que todos se reconheçam, ao mesmo título, cidadãos do mesmo país, em direitos e deveres.

Qual o papel das religiões numa sociedade democrática? Tentar reduzir o seu papel às sacristias é ilusório. Deixar que, em nome das religiões e do seu peso numérico, dominem o espaço público é minar o papel da cidadania, da política e da religião. Não basta uma cultura do diálogo inter-religioso. A cultura do diálogo deve atingir a vida da cidadania, da política e da religião. Sem distinguir o papel de cada uma destas dimensões, criam-se conflitos desnecessários. Não se resolvem negando às religiões, que respeitam as regras da democracia, a sua voz no espaço público.

O papel dos cristãos consiste em saber que, em cada época, lhes compete praticar e proclamar uma religião universal: fazer aos outros aquilo que gostamos que os outros nos façam. A lei da reciprocidade completada pelo amor aos próprios inimigos[8].

10.04.2016



[1] Gn 1-2
[2] Ouro, Prata, Bronze, Sem-Deuses, Ferro
[3] Francolino J. Gonçalves, Bíblia e Natureza, cadernos ISTA, nº 8. 1999, pp 7-40
[4] 9,1-6
[5] Poeta romano, 70-19 a.C.
[6]  ca 375 ca 416. Ver https://pt.wikipedia.org/wiki/Paulo_Or%C3%B3sio
[7] Cf. Antóno Borges Coelho, Donde viemos, Caminho, 2010, pp 49
[8] Mt 7, 12; 5, 38-44

terça-feira, 5 de abril de 2016

CAMINHOS CRISTÃOS PARA A RESSURREIÇÃO DA EUROPA? Frei Bento Domingues, O.P.


1. Alguns amigos insistiram comigo para não voltar à pergunta: “Será possível ressuscitar a Europa?”. Este continente, dentro e fora de portas, antes, durante e depois do regime de Cristandade, viveu quase sempre em guerra e assim continuará. Um interregno de 60 anos de paz foi mais fruto do cansaço do que da virtude. A política, como Aristóteles viu, é o reino do instável para o qual não existe ciência certa, apenas palpites e raciocínios mais ou menos prováveis.

O que eu deveria questionar, segundo dizem, era o estado lamentável em que se encontra a liturgia da Igreja, nomeadamente a da Semana Santa. Não enche as igrejas nem as almas. A pergunta que os padres não deveriam evitar seria esta: porque será que os feriados de cariz religioso e os próprios domingos servem sobretudo para umas miniférias dos laicos e dos católicos não praticantes, cada vez mais numerosos?

 Um dia abordarei o que há de interessante e falacioso nesta pergunta. Se os feriados religiosos servem para um merecido “descanso”, já não é mau. A mítica e bela narrativa da Criação coroa de humor um Iavé feliz e fatigado: Deus concluiu no sétimo dia a sua obra e descansou (Gn 1-2).

Esta justificação, ao mais alto nível teológico, do descanso semanal é uma das expressões mais sublimes desta versão cósmica e humanista da sabedoria divina. Quando o dia da liberdade se perverteu com ritualismos opressivos, um judeu, Jesus da Nazaré, foi radical na denúncia das instituições religiosas ou outras: o sábado foi feito para o ser humano e não o ser humano para o sábado (Mc 2,27).

 O dia do culto que não seja o da celebração da alegria e da liberdade é um insulto a Deus. O homo faber, a tempo inteiro, é um escravo ou um idiota. Não é um criador.

2. Por outro lado, no coração da liturgia cristã lateja a memória da luta de Cristo contra todas as formas de fatalismo: sempre assim foi, sempre assim será!

O programa que Jesus apresentou publicamente era um manifesto libertário. Para o tornar possível desmascarou as tentações diabólicas da dominação económica, política e religiosa. Nunca quis o sacrifício, a opressão, o sofrimento, a cruz, a morte. Tudo isto lhe foi imposto, porque preferiu ser preso, torturado, crucificado, a trair o seu projeto de fraternidade ilimitada. Preferiu ser morto a trair o sentido último da sua vida.

Por tudo isto, a Cruz de Jesus, resultado imediato de um crime jurídico de natureza política, tornou-se o símbolo da generosidade e da extrema fidelidade. Nada tem a ver com a sacralização do sofrimento, como muitas vezes ainda ressoa na liturgia e na espiritualidade. Os sacrifícios exigidos pela fidelidade ao amor são a glória da vida humana. O amor do sofrimento é uma doença grave!

Passando em revista todas as narrativas e interpretações do processo de Jesus, retenho o retrato dos Actos dos Apóstolos: coligaram-se, nesta cidade, contra o teu servo Jesus que ungiste, Herodes e Pôncio Pilatos, com as nações pagãs e os povos de Israel (Act 4, 17-18).

 O extraordinário movimento litúrgico do séc. XX e que preparou a reforma da Semana Santa nos anos 50, consagrada no Vaticano II, teve muitas oscilações na sua orientação. Tanto o modelo monacal como o pastoral tiveram sempre dificuldade em perceber que não é Deus que precisa do culto litúrgico. É o ser humano que o exige para ser cristão na transformação da vida em todas as suas dimensões: imanente e transcendente, interior e exterior, pessoal e social.

A Eucaristia celebra a memória do itinerário de Jesus Cristo para não nos perdermos do essencial nos labirintos do quotidiano. Na parábola do bom samaritano, o sacerdote e o levita para não falharem o encontro com Deus no culto do Tempo, falharam o encontro com o próximo, o ser humano espancado e atirado para a valeta. O próximo é a nova categoria social dos sem categoria: o estrangeiro, o excluído de quem nos aproximamos. O amor incondicional – a caridade – é o sentido escondido do social, passa pelas instituições, mas nunca se reduz ao que elas podem abranger. Nas sociedades acontece o inesperado, a alteridade irredutível, do qual também somos responsáveis, onde devemos reconhecer o humano, o irmão sem qualquer outra etiqueta, gente da família!

3. Há 60 anos, alguns políticos, sobretudo democratas cristãos e sociais-democratas, lançaram a União Europeia com o objectivo de promover a paz, os seus valores e o bem-estar dos seus povos. Em 2012, a União Europeia foi laureada com o Nobel da Paz. Donde virá, então, o mal-estar actual? O mundo mudou. Entretanto quer a Democracia Cristã, quer a Social-Democracia perderam a alma ao abandonarem a economia social e a política do bem comum. Renderam-se à economia que mata seguindo os caminhos que aprofundam as desigualdades entre super-ricos e o mundo imenso dos pobres.

Não adianta lamentar a diminuição da prática religiosa dos cristãos. O que importa perguntar: qual é a dimensão interior e política dessa prática em favor da transfiguração da Europa aberta à transformação do mundo?



03.04.2016