16/04/2016 18:09
O Papa, no retorno de Lesbos, realizou a
costumeira conferência de imprensa com os jornalistas presentes no vôo. Foi uma
viagem – começou o Papa – "muito forte, muito forte".
Respondendo à primeira pergunta reiterou
o caráter humanitário da visita: não cabe fazer nenhuma especulação política.
Saudação
a Sanders, questão de educação não de política
Em seguida disse que esta manhã quando
saía de Santa Marta, encontrou e cumprimentou o senador americano Sanders que
veio ao Vaticano para a conferência sobre a ‘Centesimus Annus’, e estava ali à
sua espera. Foi uma simples saudação – esclareceu – nada mais: chama-se educação,
não um envolver-se na política. Se alguém pensa que fazer uma saudação é
interferir na política eu lhe recomendo que consulte um psiquiatra (risos).
Não
escolhi entre cristãos e muçulmanos
Sobre os refugiados acolhidos no
Vaticano, porque teriam sido privilegiados os muçulmanos – era a pergunta –
disse que não fez uma escolha entre cristãos e muçulmanos: estes tinham os
documentos em ordem e podiam ser acolhidos.
Havia duas famílias cristãs, mas não tinham os documentos em ordem. Não
é um privilégio, todos os 12 são todos filhos de Deus, o único privilégio é dos
filhos de Deus. São acolhidos pelo Vaticano e será o Vaticano, com a
colaboração da Comunidade de Santo Egídio, que irá procurar um emprego para
eles. São hóspedes do Vaticano. Vão se juntar às duas famílias sírias que já
foram acolhidas nas duas paróquias do Vaticano.
Integrar,
não criar guetos
Sobre a integração, o Papa disse que é
uma palavra que na nossa cultura atual parece estar esquecida. Hoje existem os
guetos. Alguns dos terroristas são os filhos e netos de pessoas nascidas na
Europa. O que aconteceu? Não houve uma política de integração e isto é
fundamental. Hoje, a Europa tem de retomar esta capacidade que sempre teve de
integrar. Precisamos de uma educação para a integração.
Construir
pontes, não muros
Um repórter perguntou se o reforço das
fronteiras na Europa é o fim do sonho europeu. Eu não sei – respondeu o Papa –
mas eu entendo os governos e também os povos que têm um certo medo, devemos ter
uma grande responsabilidade no acolhimento e uma das coisas em que é preciso
ter responsabilidade é
como integrar essas pessoas entre nós. Eu sempre disse que construir os muros
não é uma solução, temos de fazer pontes, mas as pontes se constroem com
inteligência, com o diálogo e com a integração. Entendo um certo receio, mas
fechar as fronteiras não resolve nada, porque o fechamento a longo prazo faz
mal ao próprio povo.
A Europa deve urgentemente fazer
políticas de acolhimento, de integração, de trabalho, de crescimento, de
reforma da economia e todas estas coisas são as pontes que nos levarão a não
fazer muros.
Mas depois do que vimos naquele campo de
refugiados, dava vontade de chorar. O Papa mostra os desenhos das crianças
refugiadas em Lesbos: as crianças querem a paz, porque sofrem. Mostra um
desenho em que uma criança se afoga. As crianças viram isto. Isto – disse – as
crianças têm-no no coração e vai levar tempo para que possam elaborá-lo. Num
desenho aparece o sol chorando: até o sol é capaz de chorar ... a nós também
nos fará bem uma lágrima.
Ajudar
os refugiados da guerra e da fome
Mas a Europa – pergunta um jornalista –
pode acolher toda a miséria no mundo?
É verdade – respondeu o Papa – que
alguns fogem das guerras e outros fogem da fome. Isto porque se exaure a terra
e porque se vendem as armas. Temos de ajudar tanto aqueles que fogem das
guerras como aqueles que fogem da fome. Eu gostaria de convidar os negociantes
de armas a passar um dia naquele campo e acho que para eles seria salutar. Na
Síria, por exemplo, quem fornece armas aos diversos grupos?
Pequenos
gestos, uma gota muda o mar
A uma pergunta sobre o valor dessa
viagem, o Papa respondeu com uma frase da Madre Teresa de Calcutá: tanto
esforço, tanto trabalho, apenas para ajudar as pessoas a morrer? É só uma gota
no mar. Mas após esta gota o mar não será o mesmo. Trata-se de um pequeno
gesto, mas são os pequenos gestos que todos devemos fazer para estender a mão a
essas pessoas.
Vivamos
mais sobriamente
Sobre a questão da austeridade, ele fez
uma comparação com o desperdício. Com uma refeição de cada um de nós poderíamos
eliminar a fome no mundo. E nós na nossa casa quanto desperdício fazemos sem
querer! É a cultura do desperdício. Vivamos um pouco austeramente!
Migrantes
americanos
No que diz respeito aos migrantes latino-americanos,
o Papa disse que é a mesma situação: fogem da fome. É um problema global, falou
dele aos bispos mexicanos, pedindo para cuidarem dos refugiados.
Divorciados
recasados e a crise familiar
As últimas perguntas foram sobre a
Exortação ‘Amoris Laetitia’. Se mudou alguma coisa sobre a disciplina para os
divorciados e recasados. Eu posso dizer que sim – respondeu – mas seria uma
resposta muito pequena, recomendo que vocês leiam a apresentação que fez o
Cardeal Schoenborn, que é um grande teólogo, é nessa apresentação que esta
pergunta terá a resposta. Mas acrescentou que a mídia deu demasiada relevância
à questão da Comunhão aos divorciados recasados.
Isto causou-lhe alguma tristeza porque
não se percebe que esse não é o grande problema, não se percebe que a família -
que é a base da sociedade - está em
crise no mundo inteiro, não se percebe que os jovens não querem casar, não se
nota a queda da taxa de natalidade na Europa que é de fazer chorar, não se nota
a falta de trabalho, que obriga os pais e as mães a ter dois empregos enquanto
as crianças crescem sozinhas e não aprendem a crescer em diálogo com o pai e a
mãe. Estes são os grandes problemas.
http://it.radiovaticana.va/news/2016/04/16/il_colloquio_del_papa_in_aereo_ampia_sintesi/1223439
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