quarta-feira, 20 de abril de 2016

O colóquio do Papa no avião: ampla síntese


16/04/2016 18:09



O Papa, no retorno de Lesbos, realizou a costumeira conferência de imprensa com os jornalistas presentes no vôo. Foi uma viagem – começou o Papa – "muito forte, muito forte".

Respondendo à primeira pergunta reiterou o caráter humanitário da visita: não cabe fazer nenhuma especulação política.



Saudação a Sanders, questão de educação não de política

Em seguida disse que esta manhã quando saía de Santa Marta, encontrou e cumprimentou o senador americano Sanders que veio ao Vaticano para a conferência sobre a ‘Centesimus Annus’, e estava ali à sua espera. Foi uma simples saudação – esclareceu – nada mais: chama-se educação, não um envolver-se na política. Se alguém pensa que fazer uma saudação é interferir na política eu lhe recomendo que consulte um psiquiatra (risos).



Não escolhi entre cristãos e muçulmanos

Sobre os refugiados acolhidos no Vaticano, porque teriam sido privilegiados os muçulmanos – era a pergunta – disse que não fez uma escolha entre cristãos e muçulmanos: estes tinham os documentos em ordem e podiam ser acolhidos.  Havia duas famílias cristãs, mas não tinham os documentos em ordem. Não é um privilégio, todos os 12 são todos filhos de Deus, o único privilégio é dos filhos de Deus. São acolhidos pelo Vaticano e será o Vaticano, com a colaboração da Comunidade de Santo Egídio, que irá procurar um emprego para eles. São hóspedes do Vaticano. Vão se juntar às duas famílias sírias que já foram acolhidas nas duas paróquias do Vaticano.

Integrar, não criar guetos

Sobre a integração, o Papa disse que é uma palavra que na nossa cultura atual parece estar esquecida. Hoje existem os guetos. Alguns dos terroristas são os filhos e netos de pessoas nascidas na Europa. O que aconteceu? Não houve uma política de integração e isto é fundamental. Hoje, a Europa tem de retomar esta capacidade que sempre teve de integrar. Precisamos de uma educação para a integração.

Construir pontes, não muros

Um repórter perguntou se o reforço das fronteiras na Europa é o fim do sonho europeu. Eu não sei – respondeu o Papa – mas eu entendo os governos e também os povos que têm um certo medo, devemos ter uma grande responsabilidade no acolhimento e uma das coisas em que é preciso ter responsabilidade ​​é como integrar essas pessoas entre nós. Eu sempre disse que construir os muros não é uma solução, temos de fazer pontes, mas as pontes se constroem com inteligência, com o diálogo e com a integração. Entendo um certo receio, mas fechar as fronteiras não resolve nada, porque o fechamento a longo prazo faz mal ao próprio povo.

A Europa deve urgentemente fazer políticas de acolhimento, de integração, de trabalho, de crescimento, de reforma da economia e todas estas coisas são as pontes que nos levarão a não fazer muros.

Mas depois do que vimos naquele campo de refugiados, dava vontade de chorar. O Papa mostra os desenhos das crianças refugiadas em Lesbos: as crianças querem a paz, porque sofrem. Mostra um desenho em que uma criança se afoga. As crianças viram isto. Isto – disse – as crianças têm-no no coração e vai levar tempo para que possam elaborá-lo. Num desenho aparece o sol chorando: até o sol é capaz de chorar ... a nós também nos fará bem uma lágrima.

Ajudar os refugiados da guerra e da fome

Mas a Europa – pergunta um jornalista – pode acolher toda a miséria no mundo?

É verdade – respondeu o Papa – que alguns fogem das guerras e outros fogem da fome. Isto porque se exaure a terra e porque se vendem as armas. Temos de ajudar tanto aqueles que fogem das guerras como aqueles que fogem da fome. Eu gostaria de convidar os negociantes de armas a passar um dia naquele campo e acho que para eles seria salutar. Na Síria, por exemplo, quem fornece armas aos diversos grupos?

Pequenos gestos, uma gota muda o mar

A uma pergunta sobre o valor dessa viagem, o Papa respondeu com uma frase da Madre Teresa de Calcutá: tanto esforço, tanto trabalho, apenas para ajudar as pessoas a morrer? É só uma gota no mar. Mas após esta gota o mar não será o mesmo. Trata-se de um pequeno gesto, mas são os pequenos gestos que todos devemos fazer para estender a mão a essas pessoas.

Vivamos mais sobriamente

Sobre a questão da austeridade, ele fez uma comparação com o desperdício. Com uma refeição de cada um de nós poderíamos eliminar a fome no mundo. E nós na nossa casa quanto desperdício fazemos sem querer! É a cultura do desperdício. Vivamos um pouco austeramente!

Migrantes americanos

No que diz respeito aos migrantes latino-americanos, o Papa disse que é a mesma situação: fogem da fome. É um problema global, falou dele aos bispos mexicanos, pedindo para cuidarem dos refugiados.

Divorciados recasados ​​e a crise familiar

As últimas perguntas foram sobre a Exortação ‘Amoris Laetitia’. Se mudou alguma coisa sobre a disciplina para os divorciados e recasados. Eu posso dizer que sim – respondeu – mas seria uma resposta muito pequena, recomendo que vocês leiam a apresentação que fez o Cardeal Schoenborn, que é um grande teólogo, é nessa apresentação que esta pergunta terá a resposta. Mas acrescentou que a mídia deu demasiada relevância à questão da Comunhão aos divorciados recasados.

Isto causou-lhe alguma tristeza porque não se percebe que esse não é o grande problema, não se percebe que a família - que é a base da sociedade -  está em crise no mundo inteiro, não se percebe que os jovens não querem casar, não se nota a queda da taxa de natalidade na Europa que é de fazer chorar, não se nota a falta de trabalho, que obriga os pais e as mães a ter dois empregos enquanto as crianças crescem sozinhas e não aprendem a crescer em diálogo com o pai e a mãe. Estes são os grandes problemas.



http://it.radiovaticana.va/news/2016/04/16/il_colloquio_del_papa_in_aereo_ampia_sintesi/1223439


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