segunda-feira, 30 de março de 2015

NAQUELE TEMPO…NÃO! HOJE. Frei Bento Domingues O.P.



1. “Sejam quais forem os fenómenos inesperados do futuro, Jesus não será ultrapassado. O seu culto rejuvenescer-se-á constantemente; a sua lenda provocará lágrimas sem fim; o seu sofrimento enternecerá os corações mais bondosos, todos os séculos proclamarão que entre os filhos dos homens, nunca nasceu um maior do que Jesus”.
       Cito estas palavras de Ernest Renan escritas, em 1873, no final da sua pouco ortodoxa Vida de Jesus, porque são belas.
É verdade que essa obra já está muito longe das últimas vagas de reconstruções históricas das origens do cristianismo, nascido no mundo judaico e greco-romano no Ano I, um dos mais importantes da História universal.
 Foi em referência a Jesus de Nazaré que surgiu o movimento religioso mais significativo do Ocidente e provavelmente o de maior influência cultural e social do mundo. Isto, apesar dos crimes anticristãos que, em seu nome, foram cometidos.
Segundo o historiador Antonio Piñero, tanto entre os judeus como entre os gentios de há dois mil anos, havia uma grande aspiração a que o mundo mudasse de signo, como se pode ler nos oráculos de Sibila: com o menino que vai nascer concluir-se-á finalmente a época de ferro e nascerá, por todo o mundo, a idade doirada …
Os seguidores do Nazareno interpretaram, com eficácia, esses “sinais dos tempos”.
 É urgente perceber que o rumo do mundo actual, com tantos recursos científicos e técnicos, facilmente globalizáveis, carece de lideranças que o pensem a partir dos que foram e são os mais sacrificados aos imperativos da idolatria do dinheiro, rei e senhor.
2. Estive a ler, comovido, os discursos do Papa Francisco, em Nápoles, seguindo o roteiro do seu percurso. Na sua espantosa arte de escutar, nas suas palavras, gestos e atitudes verifico que o seu Jesus é nosso contemporâneo.
 É verdade que o dominicano S. Tomás de Aquino (1225-1274) defendeu, com excelentes razões teológicas, que a eficácia salvadora, transformante, da intervenção histórica de Jesus, de há dois mil anos, atinge todos os tempos e lugares. O monge beneditino alemão, Odo Casel (1886-1948), morreu a cantar o Exultet, um hino muito belo da Vigília Pascal, na célebre abadia de Maria-Laach. Depois de ter defendido, contra ventos e marés, a convicção de que ao celebrar o mistério do culto cristão estamos sempre envolvidos pela presença misteriosa, actual e actuante da morte e da ressurreição de Cristo, entrou no reino da luz. Não se nega a memória. É, todavia, o presente, cheio de futuro, o que mais importa.
Mas então, o que haverá e novo na intervenção de Bergoglio para nos sugerir, nas formas mais surpreendentes, que o tempo e a geografia de Jesus são hoje, seja numa prisão, num hospital, em Nápoles, em Lampedusa, na Turquia, num bairro de lata em Roma ou no Parlamento Europeu?
Diria o seguinte: os teólogos bons e os bons liturgos pensam e celebram, com consciência, a absoluta transcendência de Deus conhecido como desconhecido. Trabalham, de forma brilhante, ideias brilhantes.
Francisco segue outro caminho: não defende apenas que a teologia, a liturgia, a pregação, a catequese, a pastoral devem cheirar a povo e a rua. Não traz apenas para o nosso tempo o que aconteceu naquele tempo, na história de Jesus, interpretada pelos escritos do Novo Testamento nem faz aplicações moralizantes desses textos fantásticos, muito desconhecidos do povo católico. Faz outra coisa: recria, com uma espantosa imaginação, as narrativas de antigamente com histórias e realidades dos pobres, dos doentes, dos desempregados, jovens e adultos de hoje, a quem roubam o presente e a todos roubam a dignidade, reduzindo os idosos a produtos descartáveis e sobrantes.
Prefiro dar-lhe a palavra: “A situação de Nápoles não é só uma responsabilidade da cidade, nem somente do país, mas do mundo! Por quê? Porque há um sistema económico que descarta o povo e agora toca aos jovens serem descartados, sem trabalho e isso é grave!
Diz-se que há obras de caridade, há os voluntários, há a Caritas, há aquele centro, há aquele clube que dá de comer…” 
 O problema, diz Bergoglio, não é ter de comer, por esmola. “O problema mais grave é não ter a possibilidade de levar o pão para casa, de o ganhar! E quando não se ganha o pão, perde-se a dignidade. Esta falta de trabalho rouba-nos a dignidade. Devemos lutar por isso, devemos defender a nossa dignidade de cidadãos, de homens e mulheres, de jovens. Este é o drama do nosso tempo. Não devemos permanecer em silêncio”.
Hoje, Domingo de Ramos, começa a Grande Semana – a da esperança invencível - e dedicada, pela liturgia católica, a evocar a condenação à morte, por crucifixão, de Jesus de Nazaré. Pelo que consta, isto aconteceu devido a interesses político-religiosos, provavelmente, no dia 7 de Abril do ano 30, véspera do grande dia da Páscoa judaica.
Cristo não morre mais. Esta semana será santa se as vítimas da dominação económica, política, religiosa e de qualquer discriminação forem o nosso cuidado afectivo, orante, político. “Ao tocar nas feridas do mundo, tocamos em Deus” (T. Halík).

29.03.2014

quarta-feira, 25 de março de 2015

FAZER CRESCER A UASP

Ex.mos Senhores
Presidentes das Associadas da UASP

Caríssimos amigos!

Procurando concretizar um dos objectivos gerais delineados para este segundo triénio, e no seguimento das decisões tomadas na última Assembleia Geral, vimos, por este meio, enviar um breve relatório com o ponto da situação, à data de 2012, dos contactos efectuados com as Associações que ainda não aderiram à UASP.

Com este envio pretendemos atingir 3 objectivos:

a. partilhar informação com as Direcções das Associadas;

b. dar a conhecer a posição das não associadas em relação à UASP;

c. pedir a colaboração das Direcções das Associadas para promover o contacto com elementos das não associadas, que por ventura conheçam, no sentido de esclarecer possíveis dúvidas e convidar à adesão;

d. para melhor nos organizarmos e não multiplicarmos contactos com elementos da mesma associação, pedimos que nos informem sobre a associação ou associações que poderão abordar. Para o efeito, e após a vossa informação, poderemos partilhar os contactos que dispomos.

Como apoio, poderão servir-se do powerpoint "História de um projecto", preparado para o efeito, e que se encontra no site da UASP, no separador "Videos e apresentações".

Nota: Sugerimos que se descarregue, em primeiro lugar, o Hino que se encontra no mesmo local.
Chamamos também a atenção para o facto de o pp demorar cerca de 2 minutos a descarregar, devido ao seu tamanho. 

Aguardamos o vosso contacto, apresento os nossos melhores cumprimentos.

Com amizade
P. Armindo Janeiro
Presidente da Direcção

www.uasp.pt

terça-feira, 24 de março de 2015

São Romero da América - Um percussor de Francisco

«Uma religião feita de missa dominical, mas de semanas injustas não agrada ao Senhor. A religião de muitas orações, mas com hipocrisia no coração, não é cristã. Uma Igreja que se sente bem, esquecendo-se de protestar contra a injustiça, não é a Igreja querida por Jesus» (Homilia, 4 de dezembro de 1977).

domingo, 22 de março de 2015

TEÓLOGOS A CHEIRAR A POVO E A RUA Frei Bento Domingues O.P.



1. A teologia católica, desde o Vaticano I (1869-1870) até aos anos 50 do séc. XX, expressa em diversas escolas, sentiu-se desafiada pelas várias expressões culturais da modernidade, mas foi sempre severamente vigiada e castigada pelo Santo Ofício.
A mentalidade tridentinista que o marcava e o pânico diante do chamado “modernismo” fizeram com que muitas pessoas e algumas faculdades de teologia fossem severamente vigiadas, castigadas e silenciadas.
Em geral, tentavam responder ao primordial apelo de S. Pedro: capacitar-se para dar razão da esperança cristã (1Pd.15) na actualidade, segundo as solicitações dos “sinais dos tempos”. Partiam de uma convicção teológica óbvia: aquilo que não fosse capaz de exprimir a fé, nos vários contextos do presente, era uma traição ao Novo Testamento e à verdadeira Tradição, que passou a ser cada vez mais investigada, para não ser abafada pelas florestas de tradições em expansão.
A cultura, para se manter viva, tem de assumir a tradição nas expressões mais significativas dos panoramas culturais em mudança. Foram as pessoas e as instituições mais castigadas que abraçaram, com mais entusiasmo, o espírito do aggiornamento de João XXIII. Essas tendências conseguiram, marcar o Vaticano II. A revista internacional, Concilium, continuou até hoje esse caminho, sem qualquer exclusivismo.
Diz-se que as turbulências pós-conciliares resultaram, em parte, do rápido desabrochar das teologias políticas e contextuais: europeias, latino-americanas da libertação, asiáticas, africanas, feministas, hermenêuticas, da inculturação do diálogo inter-religioso, etc. É verdade. Mas o que será uma teologia sem contexto espiritual, eclesial, religioso e cultural, isto é, sem mundo, quimicamente pura?
O cristianismo tornou-se rapidamente multiétnico, mais católico. A verdade cristã realiza-se na inculturação e adultera-se no colonialismo religioso. A lei do diálogo é simples: quem dá, recebe e quem recebe, dá. Em suma: o catolicismo é colorido e as suas teologias também.
2. A Constituição Apostólica de João Paulo II sobre as Universidades Católicas (1990) destaca o papel que a teologia e as faculdades de teologia devem desempenhar nessas instituições. Não lhes compete, apenas, contribuir para o diálogo entre fé e razão, como é óbvio. Devem dar um contributo especial na promoção da interdisciplinaridade para uma visão orgânica da realidade, estabelecendo a interacção entre as outras disciplinas da universidade (Cf. nos 18-20;46-49). Entretanto, durante o tempo do Cardeal Ratzinger, à frente da Comissão para a Doutrina da Fé, não se descansou enquanto não foram reduzidos ao silêncio os teólogos que não reproduziam o pensamento e estilo do Prefeito. O papel questionante da teologia, no seio da cultura universitária, ficava neutralizado. A Profissão de Fé e o Juramento de Fidelidade, exigidos aos professores de teologia – e não só -, não merece comentários, mas não ficaria mal num relicário.
3. Quem diz que na Igreja nada mudou mostra que ainda não se actualizou. Anda desfasado da realidade.
No discurso que o Papa Francisco fez aos membros da Comissão Teológica Internacional (05.12.2014), ao saudar a presença de algumas mulheres, destacou a sua contribuição específica para a interpretação da fé e o seu génio para aprofundar certos aspectos inexplorados do mistério insondável de Cristo.
Por ocasião do centenário da Faculdade de Teologia da Universidade Católica Argentina (UCA) (03.03.2015), Bergoglio enviou ao seu Chanceler uma carta que não pode ser ignorada. Vou destacar alguns pontos.
Varre décadas de medos que levou a teologia a esgotar-se em disputas académicas e a olhar para a humanidade a partir de um castelo de vidro. Neste tempo, a teologia também deve enfrentar os conflitos: não só os que experimentamos na Igreja, mas também os relativos ao mundo inteiro e que são vividos pelas ruas da América Latina.
Não vos contenteis, diz o Papa, com uma teologia de gabinete. Sejam as fronteiras o vosso lugar de reflexão. Não cedais à tentação de as ornamentar, perfumar, consertar nem domesticar. Até os bons teólogos, assim como os bons pastores, cheiram a povo e a rua. Com a sua reflexão derramam azeite e vinho sobre as feridas humanas. Que a teologia seja a expressão de uma Igreja-hospital de campanha.
A misericórdia não é só uma atitude pastoral, mas a própria substância do Evangelho de Jesus. Sem misericórdia, a nossa teologia, o nosso direito, a nossa pastoral correm o risco de desmoronar na mesquinhez burocrática ou na ideologia.
Tudo somado, quem é o estudante de teologia que a UCA está chamada a formar? Não é um teólogo de museu, que acumula dados e informações sobre a Revelação sem saber o que fazer deles, nem um mirone da história, mas uma pessoa capaz de construir humanidade à sua volta, transmitir a verdade cristã em dimensão humana. Não o intelectual sem talento, o éticista sem bondade, o burocrata do sagrado.
O Papa escreveu à UCA, mas o que disse deveria interrogar as faculdades de teologia de todo o mundo. Sentem-se os teólogos das universidades europeias interrogados pela crise que afectou, sobretudo, os países do sul? Que misericórdia manifestou a Alemanha, pátria da teologia?

22.03.2015

sábado, 21 de março de 2015

2ª Etapa do projecto "Por mares dantes navegados": Guiné Bissau.

UASP , conforme decisão na última Assembleia Geral, está a preparar a segunda etapa do projecto "Por mares dantes navegados", desta vez para a Guiné Bissau, a meados de Janeiro de 2016. 

Será uma nova oportunidade de encontro e partilha, conhecimento mútuo e enriquecimento espiritual, cultural e ambiental, como foi a de Cabo Verde.

Dado que o número de participantes nesta viagem será limitado, e temos que nos organizar com mais tempo de antecedência, vimos pedir a todas as Direcções das Associações que informem os seus associados desta proposta e, até meados de Abril, nos façam chegar os nomes e contactos de possíveis interessados.

Os custos totais serão inferiores aos de Cabo Verde; visitaremos as duas Dioceses (Bissau e Bafatá); o programa está a ser preparado com ajuda local; há a hipótese de ficarmos alojados nas instalações das Dioceses; faremos também recolha de fundos para partilhar localmente…

Agradecemos, desde já, toda a colaboração possível.

Com amizade

P. Armindo Janeiro
O Presidente da Direcção da UASP

quarta-feira, 18 de março de 2015

Arquivo Audácia

Todas as revistas Audácia de junho de 1997 a junho de 2014 estão do lado de lá de um clique neste título: AUDACIOTECA

AQUI as publicações 2014/2015.

UMA RELIGIÃO QUE CONDENA ESTÁ CONDENADA Frei Bento Domingues, O. P



1. Manifestei-me, desde muito cedo, contra certas representações da religião e em particular do catolicismo, mas tive sempre o pressentimento de que era na dimensão religiosa e de modo especial no cristianismo católico, liberto de pretensões exclusivistas ou inclusivistas, que estava escondida a alma do mundo, o impulso do amor da pura gratuidade e da infinita misericórdia.
Encontrei algumas pessoas que, desde a adolescência, me mostraram que as dúvidas e o questionamento são intrínsecos ao processo da fé cristã. Ninguém tem a verdade, mas é possível viver no horizonte da sua busca, com o contributo de todos os que a procuram, em todas as áreas de conhecimento, seja qual for o universo cultural e religioso. Tudo na vida é uma criação de possibilidades, de acontecimentos imprevisíveis. Nunca me dei bem com crenças inamovíveis, com o determinismo.   
Uma “religião” que se apresente como inimiga do questionamento, da investigação e da liberdade deve ser denunciada pelas pessoas e instituições religiosas, como ridícula blasfêmia.
2. A religião como atitude pessoal e como fenómeno social, não começou ontem nem vai acabar tão cedo, apesar da fúria dos loucos do império islâmico e dos observadores apressados, mas não está condenada a ser como sempre foi. É um fenómeno imenso em todos os continentes, menos na Europa preconceituosa. Vê-se, agora, enredada em movimentos, instituições e acontecimentos com os quais não sabe lidar, não os pode eliminar e recusa-se a entender.     
Já na pré-história há indícios de religiosidade, a começar pela ritualização da morte, o que implica a existência de uma concepção simbólica, isto é, de um mundo feito de visível, invisível e imprevisível. Apenas no ser humano, e em nenhum outro ser vivo, se observa semelhante comportamento e tão extrema resistência simbólica.
Alguns investigadores e hermeneutas criaram a categoria de sagrado para caracterizar a ancestral atitude perante o “mundo tremendo e fascinante”. É a religião – subjectiva e objectiva - que o ritualiza e codifica. No âmbito da cultura latina, o termo religião, segundo Cícero, vem de reler, examinar com a atenção, isto é, não ser leviano na observação da complexidade da natureza, do ser humano e da sociedade. Para o cristão Lactâncio, a sua etimologia é mais construída e mais evidente: significa religar, como se os seres humanos reconhecessem que precisam de se religar a uma transcendência e uns aos outros, numa comunidade. O mediólogo, Regis Debray, analisou cuidadosamente a função política da religião, mostrando que a sociedade precisa de reunir os indivíduos através de algo invisível – seja ele qual for - que os transcende.
A consciência desenganada da nossa evidente finitude levanta a questão fundamental acerca do sentido da vida, sem resposta única para todos.
O grande filósofo pragmático, John Dewey, desejaria que o futuro da religião estivesse ligado à hipótese de desenvolvimento de uma fé nas possibilidades da experiência humana e na capacidade humana para estabelecer relações que criem um sentido vital da solidariedade dos interesses humanos e inspirem acções capazes de transformar esse sentido em realidade.
3. Em pouco tempo, Bergoglio tornou-se o pragmático da reforma da Igreja Católica. Não se ficou pelo Banco do Vaticano e pela Cúria Romana, apesar de todas as resistências aí instaladas. A hierarquia eclesiástica, as cúrias diocesanas, as conferências episcopais, as secretarias paroquiais podem, em muitos casos, tentar resistir à mudança. Sentem, no entanto, que o programa reformador do Papa e sobretudo os seus gestos, atitudes, discursos e pregações desorganizaram um mundo que, peça a peça, tinha sido construído para resistir aos que reclamavam reformas urgentes. Começam a sentir-se mal quando lhes dizem que o caminho do Papa Francisco é mais cristão do que o mundo de privilégios sacralizados. Gostavam de citar os Papas para manter a “ordem”. Agora sentem-se em desequilíbrio.
Os movimentos de leigos e, sobretudo os mais elitistas, que se julgam a verdadeira Igreja, a do futuro, não escapam às interpelações de Bergoglio. Ao caminho “Neocatecumenal” fez-lhe observações muito concretas para as correcções de rumo e de métodos, inscrevendo-o nas igrejas locais, de forma inculturada, vencendo as suas tentativas monopolistas.
Foi, porém, no encontro de 7 de Março, com o movimento Comunhão e Libertação - que se julgava um modelo de fidelidade a Roma na luta contra todos os desvios do catolicismo pós-conciliar –, que o Papa aproveitou para marcar o primado na moral cristã e fazer a denúncia da substituição da centralidade de Cristo pelo meu método espiritual, o meu caminho espiritual e o meu modo de o implementar. É uma forma de sair do Caminho e ficar com o carisma petrificado numa garrafa de água destilada, de se tornar guias de museu e adoradores de cinzas.
A Igreja, para encontrar o seu centro em Cristo, tem de sair para todas as periferias do mundo contemporâneo.
Deus não enviou o Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por Ele.
O discurso está na íntegra, em italiano, no site do Vaticano. Que bom seria encontrá-lo em português, sem acordo!

15.03.2015

domingo, 15 de março de 2015

15 de Março: Nascimento de S. Daniel Comboni

Nascido a 15 de Março de 1831, Comboni viria a falecer com 50 anos de idade, em Cartum (Sudão). Dedicado, desde os inícios do seu sacerdócio, à evangelização da África, conseguiu interessar toda a Igreja do seu tempo pelos africanos, alternando o trabalho de evangelização directa, na África, com a actividade de animação missionária, na Europa.

sexta-feira, 13 de março de 2015

Estudante chadiana primeira beneficiária de bolsa de estudos para mulheres

Uma estudante chadiana, Jeanne Dina Kitoko, de 17 anos, foi designada como primeira beneficiária do Fundo de Bolsas de Estudos para Mulheres segundo um comunicado divulgado segunda-feira, 9 de março.

quinta-feira, 12 de março de 2015

JORGE MANUEL DOS SANTOS GOUVEIA - Felecimento

Tive hoje conhecimento do falecimento do antigo aluno Pe Jorge Manuel dos Santos Gouveia, nascido em Freixo da Serra, Gouveia, em 1938 e muito provavelmente um dos primeiros alunos de Viseu. Deve ter feito o noviciado em Vila Nova de Famalicão, o escolasticado na Maia, e a Teologia em Venegono tendo sido ordenado em Milão. Parece ter deixado a Congregação para se dedicar ao apostolado entre os emigrantes e, depois, como pároco. Faleceu a 15 de Fevereiro no Hospital de S. João, no Porto.
Penso que nunca terá aparecido a nenhum dos nossos encontros.
Em nome da Associação apresento a todos os familiares  os nossos sentidos pêsames.
 É provável que seja um desta foto. Alguém saberá identificar?

terça-feira, 10 de março de 2015

Memória de Comboni e causas de canonização de combonianos 10 de Março de 2015

 Giuseppe Ambrosoli e Bernardo sartori....dizem alguma coisa aos mais velhos dos antigos alunos. Ainda me lembro da apresentação épica que nos era feita da vida e obra do Pe. Ambrosolli, médico e sacerdote, .assassinado no Uganda éramos nós jovens alunos.

segunda-feira, 9 de março de 2015

A MISSA COMO ANTIDEPRESSIVO Frei Bento Domingues, O. P.



1. Sei que o título deste texto contraria a experiência de muitos católicos que se confessam ”não praticantes”, precisamente porque o velho preceito de assistir à Missa se lhes tornou impraticável. Um bom passeio, uma prática desportiva, o contacto com a natureza, um convívio com amigos, pelo bem que faz ao corpo e ao espírito, louva mais a Deus do que o aborrecimento de uma Missa enfadonha. Se aquilo era a festa da fé, preferiam ir ao café.
Apesar de tudo isso e de muito mais, mantenho o título, porque julgo que a celebração cristã do Domingo – se a comunidade celebrante encarnar e encenar hoje a significação da sua origem e da sua verdade – torna-se um divino antidepressivo semanal, um dispositivo contra o medo neste mundo carregado de ameaças e seguranças, um belo processo de refazer a vida e enfrentar os desafios de uma nova semana.
Não digo isto apenas porque os textos do domingo passado - o de S. Paulo, “se Deus está por nós, quem será contra nós” (Rm 8,31-34) e o de S. Marcos, sobre a transfiguração, quando Jesus se começa a sentir cercado (Mc 9, 2-10) - são evidentes e poderosas fontes de energia espiritual.
 Não alinho, no entanto, com liturgias destinadas a provocar estados de descontrole emocional, lavagens ao cérebro, simulações de curas milagrosas ou qualquer outra tática para atrair clientes. Não me parece que seja esse o bom caminho para acabar com as missas consideradas uma seca, um aborrecimento ou um sacrifício inútil.
Como Nietzsche observou, a questão de fundo é de ordem antropológica: O cristianismo deu de beber veneno ao Eros, mas este não morreu, degenerou em vício. Sem tentar saber o que é o ser humano, na sua complexidade e unidade, interna e relacional, no seu devir no arquipélago das culturas, não poderemos encontrar a linguagem simbólica que diga em cada tempo e em cada povo, o mistério da Páscoa de Cristo, páscoa do mundo, nossa páscoa.
A ascese culpabilizante esquece, como dizia Tomás de Aquino, que recrear-se no prazer é uma virtude. Um cristão que não seja capaz de se divertir com os outros e ser divertido, não é um virtuoso, é um chato. Sem humor nem o amor tem graça.
Deveria ser possível praticar as realidades mais sérias da fé com a inteligência do humor, protecção contra o puritanismo. Quem toma tudo a sério e sobretudo quem se toma muito a sério, pensa que a inteligência se deveria calar onde começa a piedade. Contaram-me que um miúdo que acompanhava a avó à Missa, depois de comungar, ela vinha tão constrangida, com um rosto de tanto sofrimento que o neto lhe perguntava: “ó Avó, isso dói muito?”
2. Não estou a defender missas engraçadas nem missas desgraçadas. São ambas depressivas. A graçola não é a melhor linguagem litúrgica, embora não caia o Carmo e a Trindade se, numa celebração, escorregar alguma expressão que não agrade a todos os ouvidos. As comunidades não podem nem devem adoptar todas o mesmo padrão. Seria negar as exigências da inculturação litúrgica. Não vejo mal nenhum em que os católicos, quando isso é possível, possam escolher as celebrações que sejam, para eles, as mais significativas e estimulantes. Todas, porém, devem ser suficientemente abertas para não negarem a sua essência cristã: serem família com quem não é da família. Se recusamos uma sociedade de guetos, não a vamos consagrar na missa. Investe-se muito dinheiro na construção de uma igreja ou de um espaço para celebrar e cultivar a fé. Por vezes, onde não fazem falta e com gastos que a estética de uma Igreja serva e pobre condena. Mas quanto é que se investe na formação dos católicos e na preparação das celebrações, tendo em conta a qualidade dos textos, da música, da comunicação e da partilha dos bens?
O Papa fala muito contra o clericalismo. Os padres são poucos e não deixam ordenar as mulheres. Não havendo boas soluções à vista, os clérigos têm tendência a remediar-se chamando colaboradores e colaboradoras que os reproduzam, esquecendo que os ministérios, sejam eles quais forem, não são para substituir, mas para dinamizar toda a comunidade. A celebração é dela.
3. Quando afirmo que a celebração de Domingo – a missa - é, por essência, antidepressiva, não estou a situar-me no papel de psicólogo. Refiro-me a algo que pertence à própria natureza da Pascoa semanal, à nascente da Fé cristã. Vejamos.
A condenação de Jesus de Nazaré à morte – por crucifixão – e o silêncio de Deus deixaram os Apóstolos perdidos e sem reacção, salvo as mulheres. As narrativas do NT são muito claras a esse respeito. A belíssima peça literária - Os Discípulos de Emaús - uma espantosa catequese das componentes estruturais do itinerário cristão, mostra que é à volta da mesa, no partir do pão, na Eucaristia, que se revela, sem se ver, a força antidepressiva da presença do Ressuscitado.
A vida urbana de hoje é muito complicada, uma teia de obrigações: filhos, família, profissão e casa quase não deixam tempo para respirar. Onde buscar a energia espiritual para transfigurar a semana que passou e encontrar esperança para uma vida mais verdadeira? Desde há dois mil anos que os cristãos confessam que o Domingo é a festa de Deus, nossa festa.

08.03.2015