1. Dizem que o
Papa Francisco não é um homem apressado, mas tem muita pressa. Tentarei
compreender porquê. Para já, quero manifestar a alegria que vivi na leitura da
primeira Encíclica de um Bispo de Roma, dirigida a cada pessoa que habita este
planeta a reconhecer, a respeitar e a cuidar. Ele é a nossa própria casa. A
humanidade não pode continuar a envenenar o seu próprio futuro.
É um rio de muitos afluentes. Pelo horizonte, pelo conteúdo
e pelo estilo é justo chamar a este texto a Carta Magna da ecologia integral[1].
Ao contrariar a liberdade de exploração egoísta dos recursos
de todos, o Papa Francisco vai ter de enfrentar novas campanhas contra o seu
pontificado, campanhas movidas por aqueles que procuram reduzir tudo a negócios
de miopia. Pedem-lhe que se ocupe do Céu e esqueça os pobres. Mas este
argentino continuará a protestar contra os vendilhões da terra de todos apenas
para benefício de alguns.
2. Hoje, porém,
quero chamar a atenção para uma outra história muito breve, muito atrevida e
abafada pelos “empatas profissionais” do ecumenismo oficial.
Vejamos: a 23 de Maio, Bergoglio enviou uma mensagem-vídeo a
uma jornada de diálogo organizada pela Diocese de Phoenix (EUA), em colaboração
com pastores evangélicos de orientação pentecostal.
Era uma mensagem de radical indignação contra a cegueira
cruel, paradoxal e chocante do movimento ecuménico.
Eis o facto: neste momento, quem mata os cristãos, aos
milhares, tanto lhe dá que sejam ortodoxos, católicos ou protestantes. Para os
assassinos, são Cristãos e basta!
Sabem reuni-los pelo mesmo ódio.
Pelo contrário, os Cristãos
andam sempre a fazer mil distinções para adiar, sine die, a união que Jesus Cristo insistentemente lhes pede. Cedem
ao “ecumenismo do ódio”, mas continuam a retardar sempre a união na diferença, mais que estudada. Como dizia Jesus de Nazaré,
os filhos das trevas vêm mais do que os filhos da luz.
O melhor é ler o que Papa realmente disse, no seu estilo
inconfundível: “Hoje reunidos, eu em Roma e vós aí, pediremos que o Pai envie o
Espírito de Jesus, o Espírito Santo, e que nos conceda a graça, a fim de que
todos sejam um só, «para que o mundo creia». Vem-me ao pensamento o desejo de
dizer algo que poderá ser insensato, ou talvez uma heresia, não sei. Mas alguém «sabe» que somos um só, não obstante as diferenças.
“Quem será esse alguém? É aquele que nos persegue, aquele
que hoje persegue os cristãos, que nos unge com o martírio; ele sabe que os
cristãos são discípulos de Cristo: que são um só, que são irmãos! Não lhe
importa se são evangélicos, ortodoxos, luteranos, católicos, apostólicos...
isso não lhe importa! São cristãos! É
aquele sangue que nos une.
“Hoje, amados irmãos, vivemos o ecumenismo do sangue. Isto deve impelir-nos a fazer aquilo que já
fazemos: rezar, falar entre nós, diminuir as distâncias, irmanar-nos cada vez
mais.
“Estou convencido de que a unidade entre nós não será feita
pelos teólogos. Os teólogos ajudam-nos, a ciência dos teólogos assistir-nos-á,
mas se esperarmos que os teólogos se ponham de acordo entre si, a unidade só será alcançada no dia seguinte
ao do Juízo Final.
“A unidade é feita pelo Espírito Santo; os teólogos
ajudam-nos, mas assiste-nos a boa vontade de todos nós que estamos a caminho e
com o coração aberto ao Espírito Santo!
3. Bergoglio não
está contra o papel indispensável dos teólogos. Está contra uma casta
especializada em notar, até ao último pormenor, até à última virgula, aquilo
que deve impedir a união dos cristãos. É uma casta de juízes, em vez de aprendizes. Acabam por cair
na cegueira que Jesus censurava: vêem o
argueiro no olho do outro e não dão pela trave que há no seu próprio olhar[2].
Não entram nem deixam entrar. Bem pode o Papa rezar com Santa Catarina de Sena:
Senhor, alargai-lhes a alma!
A boa prática teológica é o empenhamento da inteligência
cordial na adesão a Jesus Cristo, abraço do mundo. É uma construção de pontes,
não a arte de criar obstáctulos. O universo simbólico realiza-se no registo da
aproximação do que está distante. O “diabo”, ao contrário do símbolo, afasta o
que está próximo.
A verdade em teologia não é um adquirido. É um infindável
horizonte de busca, uma contínua passagem para a outra margem e uma navegação
que se faz sempre mais ao largo.
A teologia vive bem
na oração, como consciência do mistério insondável de Deus. Este não cabe em
nenhuma definição. Quando a teologia se torna soberba, pensa que tem Deus na
mão e transforma-se em juíza das
expressões da fé das outras confissões cristãs. Não concebe a importância de
procurar os pontos de convergência no caminho para uma Realidade que não é
propriedade das Igrejas Ortodoxas, da Igreja Católica Romana, ou das Igrejas
Protestantes.
A virtude do caminho
ecuménico é a Esperança, a não confundir com a arte de adiar o que urge
resolver. Será sabedoria cristã repetir apenas que o futuro a Deus pertence,
que é melhor deixá-lo nas mãos de Deus e não se perguntar se Ele gostará de
tanta confiança em nome da nossa irresponsabilidade e preguiça?
Essa irresponsabilidade teológica deixará a unidade dos
cristãos para o dia seguinte ao do Juízo
Final.
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