quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

OS ROSTOS DA SOLIDARIEDADE ….

No âmbito do projecto da UASP, “Por Mares dantes Navegados”, tivemos a feliz companhia de um notável cronista que, depois, ao longo do ano, nos trouxe à memória a experiência inolvidável da nossa missão solidária à Guiné-Bissau. Na verdade, há momentos da nossa vida de cristãos em que somos chamados e enviados, e como quer e testemunha o Papa Francisco, para as periferias existenciais. Para cuidar, sobretudo, daqueles que a maior parte do mundo não vê…. Em Janeiro e Março, do ano em curso, partiram dois grupos para aquela antiga colónia de Portugal onde alguns dos “peregrinos” foram antigos combatentes. Mas, agora, a missão não era de soberania, mas de Paz e, essencialmente, solidária. Nesse sentido, uma forte motivação nos guiava, como refere, na sua última crónica “AFINAL”, o Padre Artur, nosso Alferes Capelão.
A nossa viagem foi um pequeno, mas importante, sinal de Esperança para muitos dos seus habitantes que vivem em condições de extrema pobreza. Foi comovedor ver e partilhar da alegria de tantas crianças e adultos, os rostos da solidariedade, e sentir neles a força de poderem, ainda, viverem e esperarem um futuro melhor. E, para que tal aconteça, lá estão a ajudar os missionários das Ordens Religiosas e Institutos femininos e masculinos, a Igreja viva, muitos voluntários, nomeadamente, médicos e outros… Todos os que tivemos a graça de palmilhar o chão areoso e escaldante da Guiné; de atravessar bocados de um mar sereno e os muitos canais com as margens revestidas de arbustos e árvores entrelaçados e dobrados sobre as águas límpidas, como que a saudar-nos, até chegarmos às tabancas de um povo politicamente resignado, mas profundamente crente, amigo e acolhedor…. Ao visitarmos as várias instituições e casas de ajuda e acolhimento constatámos como o trabalho é realizado com alegria e disponibilidade pelos missionários e voluntários!…..
Mas, há outras maneiras de continuarmos presentes na encantadora terra da Guiné-Bissau.
E assim aconteceu!
O espírito solidário, reforçado na identidade e missão da UASP, continuou, depois, na cidade berço de Guimarães. Foram acolhidos fraternalmente e apoiados dois jovens médicos que vieram, por alguns meses, frequentarem acções de formação, da especialidade, no Hospital local e regional da Senhora da Oliveira. O dr. Amaro está destacado no hospital franciscano da Cumura que visitámos e daí o conhecíamos; o dr. Maurício, em Mansoa. Chegaram a Portugal sem recursos! Como é publico, o governo da Guiné habitualmente tem os salários em atraso e a bolsa, atribuída pela Fundação Calouste Gulbenkian, só chegou mais tarde. Mas, graças a Deus e à boa vontade dos homens, não lhes faltou o essencial para uma estadia humanamente digna. O Américo Soares, antigo aluno do Seminário Arquidiocesano de Braga e combatente, nosso Furriel enfermeiro, em Bula, acompanhou-os quase diariamente e proporcionou-lhes visitas culturais a vários pontos turísticos e religiosos do Minho, como Sameiro, Bom Jesus, Santa Luzia, em Viana do Castelo e, mais distante, a Fátima. A seu pedido, mas, igualmente, por nossa vontade, acompanhámos os jovens médicos ao Convento franciscano de Montariol, em Braga, onde o guardião, Frei João Vicente, cerca de 30 anos missionário na Guiné e Vigário Geral da diocese de Bissau, nos ofereceu o almoço conventual, proporcionando-lhes o desejado encontro com o Frei Vítor, padre franciscano e médico, durante longos anos na Cumura e, também, director clínico de quem o dr. Amaro dependia profissionalmente. Actualmente trabalha no Centro de Cuidados Continuados, “O Poverello”, que tiveram a oportunidade de visitar e constatar a qualidade dos serviços ali prestados.
Já no início do Verão também aqui chegou o Benelívio Cabral, professor no liceu de Bissau, dr. Agostinho Neto, jornalista e relator desportivo. Mereceu, igualmente, todo o apoio necessário e ainda lhe foi proporcionado um encontro com membros da direcção do Vitória de Guimarães, como era seu forte desejo, tendo em vista celebrar eventuais protocolos. Mais tarde, no passado mês de Novembro, o Américo teve conhecimento, pela imprensa local, de que dois médicos e uma enfermeira, drs. Vasco e Quintino e Enfª Alexandrina, estavam a concluir acções de formação, nas diversas especialidades, e que partiriam brevemente para a sua terra natal. Diligente, tomou a iniciativa de os contactar, promover o encontro e, desse modo, além de um jantar-convívio de despedida, de novo, generosamente, colmatou algumas dificuldades financeiras e logísticas que humildemente lhe manifestaram esses profissionais de saúde da Guiné.
Os contactos têm continuado, porque os nossos amigos guineenses têm memória e são gratos e a solidariedade perdura. Sabem que as portas ficaram abertas para futuras acções de formação médica ou visitas de outra ordem. “AFINAL”, o título da última crónica do Padre Artur, em “Ecos da Guiné”, publicada no site da UASP; afinal, o acolhimento é a expressão concreta das “Obras de Misericórdia”…..
Alfredo Monteiro, antigo aluno franciscano e Alferes Milº.

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