1.É certo que não podemos branquear o mal. Mas
será correcto esquecer tão ostensivamente o bem?
Dizem que o positivo não vende e que só o negativo
rende.
2. «A boa notícia não é notícia».
Eis uma sentença que também parece contaminar alguns
sectores da nossa Igreja.
3. Por vezes, dá a impressão de que decalcamos o temperamento
depressivo que o Padre Manuel Antunes reconhecia
nos portugueses.
De facto, também em nós, cristãos, «o negativo prevalece
sobre o positivo, os defeitos sobre as qualidades e os defeitos
das nossas qualidades sobre as qualidades dos nossos defeitos».
4. Com tanta predisposição para publicitar as suas fraquezas,
até parece que na Igreja nada há de positivo.
Acontece que isto, além de não ser justo, está longe de ser
verdadeiro.
5. Mas o mais intrigante é que estas notícias e opiniões não
vêm apenas de fora.
Muitas vezes é de dentro que surgem palavras de censura,
que rapidamente encontram altos índices de aprovação.
6. Esta situação contribui para criar um ambiente «eclesiodepressivo
» e uma mentalidade «eclesiofóbica».
Parafraseando uma conhecida máxima, dir-se-ia que, acerca
da Igreja, só o mal – não o bem – cá para fora vem.
7. Porque é que – sem vaidade, mas também sem vergonha
– não acendemos as luzes, que excedem em muito as sombras?
Será proibido falar bem da Igreja? Será que a única forma
de «debater» a Igreja é «bater» na Igreja?
8. Porque é que havemos de ocultar aquilo que o mundo
deve à Igreja?
Como apurou o reputado académico Thomas Woods, foi a
Igreja que introduziu as bases do sistema universitário e do direito
internacional. E que pensar da rede mundial de assistência
aos mais pobres que a Igreja continua a assegurar?
9. A moldura da Europa foi desenhada sobretudo a partir
dos mosteiros.
Réginald Grégoire, Léo Moulin e Raymond Oursel certificam
fartamente como os monges ao fervor espiritual aliaram sempre
um forte progresso civilizacional. Foram eles que lançaram centros
de ensino, redes de fábricas e até métodos de criação de gado.
10. Enquanto «tangibilidade histórica da presença de Deus»
(Karl Rahner), a Igreja é portadora de um legado muito belo,
que nos devia encher de alegria e inundar de gratidão.
As suas falhas são o preço que ela paga por não excluir ninguém.
Como bem percebeu Henri de Lubac, a Igreja «não é
uma academia de sábios nem uma assembleia de super-homens
». Pelo contrário, «os miseráveis de toda a espécie têm
cabimento na Igreja». Não são eles os que mais precisam dela?
( In Diário do Minho)
Sem comentários:
Enviar um comentário