sábado, 2 de março de 2019

Manicura no Parlamento - Laureano


Sexta-feira ‘bora, ‘bora,

Ala, moça, ‘tá na hora,

Moro longe, na Amoreira,

Regresso de uns dias fora,

Unhas de segunda-feira.



Que vida desvariada

Futriqueira, estressada,

Zaruca e outras alcunhas!

Não dá tempo para nada,

Muito menos para as unhas.



Isto não é um balé,

Não é serviço de pé,

É de mãos: computador

Mais tablé, mais telelé

Deixam as mãos num horror.



Até café quente ou chá,

As prejudicam, não dá,

E rasgar o pacotinho

Do açúcar, vejam lá

As resmas de cuidadinho!



Lavar pratos, panelinhas

Ai minhas ricas mãozinhas!

Além de estragar a pele,

As unhas ficam fraquinhas,

Mais finas do que papel.



Tirar e pôr os anéis

Quatro vezes, cinco, seis,

Às unhas não dá saúde,

E manusear papéis

Não é tarefa que ajude.



Com tamanhas agressões,

De que tempo é que dispões

Para as mãos e para os dedos

Em que as unhas em funções

Desvendam tantos segredos?



A única solução

De boa apresentação

Das unhas a cem por cento

É dar-lhes uma atenção

Mínima no Parlamento.





Não as trato enquanto falo,  

Mas no tempo em que me calo,

Quando os ânimos aquecem,

Ou então no intervalo,

Minhas mãozinhas merecem.



Julgas que é brilhante ideia

Tirar foto na Assembleia

De mãos em cena escondida,

Metendo-te em vida alheia,

Mete-te na tua vida!



Se pretendes guerra acesa

Com manicura indefesa

Vais levar com plano táctico        

Do não-decreto-defesa.

Toma lá, que é democrático!:



No Parlamento indiscreto

Pode não ser o correcto,

Pode haver mil testemunhas,

Contudo nenhum decreto

Proíbe tratar das unhas.







Lauro Portugal

Nov. 2018








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