segunda-feira, 10 de julho de 2023

Quem é o teu... cônjuge? - Pe. JOÃO mc

 Quem é o teu... cônjuge?


Ano A - XIV Domingo do Tempo Comum
Mateus 11,25-30

 

Naquele tempo, Jesus exclamou: 
«Eu Te bendigo, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste estas verdades aos sábios e inteligentes e as revelaste aos pequeninos. Sim, PaiEu Te bendigo, porque assim foi do teu agrado. 
Tudo Me foi dado por meu Pai. Ninguém conhece o Filho senão o Pai e ninguém conhece o Pai senão o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar. 
Vinde a Mim, todos os que andais cansados e oprimidos, e Eu vos aliviarei.
 Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de Mim, que sou manso e humilde de coração, e encontrareis descanso para as vossas almas. Porque o meu jugo é suave e a minha carga é leve».

 

Depois do discurso missionário (Mateus 10), encontramos agora uma secção narrativa (Mateus 11-12), seguindo o procedimento literário caro a Mateus de alternar discursos e narrações. Esta secção narrativa é caracterizada por uma atmosfera de tensão crescente. Jesus apercebe-se de que a sua mensagem e a sua obra não são compreendidas: João Batista duvida do seu messianismo; o povo revela-se inconstante como as crianças; as cidades junto ao lago, onde tinha feito tantos milagres, não se convertem; escribas e fariseus opõem-se-lhe... Jesus vê-se assim confrontado com o insucesso e a perspetiva do fracasso! É este o contexto trágico do trecho evangélico de hoje.

O texto compõe-se de três parágrafos distintos: no primeiro, a oração de louvor que Jesus dirige ao Pai: Jesus e o Pai; no segundo, a relação estreita entre o Pai e o Filho; no terceiro, a relação entre Jesus e nós, com o convite a ir ter com ele.
A passagem, em grego, começa de forma estranha: “Naquele tempo, Jesus, respondendo,
exclamou...”, mas antes não encontramos nenhuma pergunta! Dir-se-ia que Jesus responde à pergunta que esta situação de aparente fracasso da sua missão lhe coloca! E qual é a resposta? “Eu Te bendigo, ó Pai!

 

1. Jesus desiludido, mas não desanimado!

Perguntamo-nos: como é que Jesus, neste contexto de oposição e de fracasso, reage com uma oração de louvor, com o seu “magnificat”? Jesus não se deixa abater, não desanima, como nós teríamos feito. Mesmo que tenha ficado desiludido com a falta de fé de tantos dos seus ouvintes e espectadores dos seus milagres. Jesus elabora esta situação na oração, em conversa com o Pai, e descobre que o Pai realiza o seu projeto de amor, não através dos sábios e dos doutores, mas com os pequeninos.

Esta é uma situação muito atual. Assistimos ao abandono de tantos cristãos e à marginalização da fé cristã na cultura ocidental, e perguntamo-nos para que serve o anúncio do Evangelho num tal contexto. Talvez também nós nos sintamos desiludidos com as promessas de Deus que tardam em realizar-se! Envelhecemos com a esperança de uma Igreja renovada... E a tentação da resignação, do desânimo, do pessimismo cínico... é forte. Jesus convida-nos à coragem da oração para discernir de onde e para onde sopra o Espírito!

 

2. Novo apelo, para todos: Vinde, tomai, aprendei!

Jesus sai do seu encontro com o Pai reconfirmado na sua missão messiânica: “Tudo me foi dado por meu Pai”. E recomeça com os pequeninos: “Vinde a mim, todos os que andais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei”.
Quem é este povo cansado e oprimido? Aqueles que estavam sob o jugo da Lei. Para a tradição rabínica, de facto, o jugo era a imagem da Lei: os 613 preceitos tirados da Escritura e os milhares de prescrições menores. Além disso, o jugo representava a escravatura, pois eram geralmente os escravos que o utilizavam para transportar cargas pesadas (ver Levítico 26,13). 

Jesus convida a quebrar esse jugo e a ir ter com ele para encontrar o repouso, isto é, o descanso prometido por Deus ao seu povo (ver carta aos Hebreus cap. 3-4). Depois, porém, convida-nos a tomar o seu jugo e a aprender com ele, “manso e humilde de coração”. Que podemos aprender com ele, um mestre de coração manso e humilde, que não faz como os escribas e fariseus que “atam fardos pesados e difíceis de suportar e os põem aos ombros dos homens”(Mateus 23,4), estamos certos, mas não esperaríamos esta associação entre jugo e descanso.

 

O que é este jugo de Jesus? O jugo era um instrumento de madeira que unia dois animais, para arar ou puxar uma carroça. O jugo de Jesus é a cruz, aquela que ele carregou por nós, por isso é a nossa cruz, é o nosso jugo! Jesus é o Cireneu que está ao nosso lado. Ele é o nosso companheiro, o nosso... cônjuge! Sim, porque o termo cônjuge vem do latim “cum-iugum”, isto é, carregar o mesmo jugo, partilhar a mesma sorte, “conjugar”! Trata-se, portanto, de uma imagem esponsal! 

Jesus afirma: “O meu jugo é suave e a minha carga é leve”. Porque é que é suave? Porque é o jugo do amor! Como é que é leve? Porque ele o carrega connosco!

 

Perante este convite de Jesus, há duas tentações. primeira é a de querer quebrar todo o jugo, todo o vínculo, a todo o custo, incluindo o jugo “suave e leve” do amor. Como o falso profeta Ananias, que quebrou o jugo simbólico de madeira de Jeremias, prometendo ao povo liberdade e prosperidade. O que é que pode acontecer neste caso? Encontrar-se com um jugo de ferro! (ver Jeremias 28).
segunda tentação é confiar no jugo de novas leis para garantir a ordem e o poder, seja no domínio social, eclesiástico, familiar ou de qualquer outro tipo. Com a consequente derrota da liberdade, da solidariedade e do amor!

 

Exercício de reflexão semanal 

- Como é que eu reajo aos fracassos e às desilusões?
- Quem é o meu “cônjuge” no carregar da cruz: Cristo ou o novo 'messianismo' actual?
“Quero agradecer-Te, Senhor, pelo dom da vida. Li algures que os homens são anjos com uma só asa: só podem voar se forem abraçados. Por vezes, em momentos de confiança, atrevo-me a pensar, Senhor, que também tu tens uma só asa. A outra manténs escondida: talvez para me fazeres compreender que não queres voar sem mim” (Don Tonino Bello)
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P. Manuel João Pereira, Comboniano
Castel d'Azzano (Verona) 7 de Julho de 2023

P. Manuel João Pereira Correia mccj
p.mjoao@gmail.com
https://comboni2000.org

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