NO SEU NOME
XXVI Domingo do Tempo Comum (B)
Marcos 9,38-48: “Quem não é contra nós está a nosso favor”
NO SEU NOME
O
trecho do Evangelho de hoje é a continuação daquele do domingo passado.
Ainda estamos “em casa” (Marcos 9,33), na casa de Pedro e de Jesus. O
facto de isso ocorrer em casa tem um valor simbólico. Significa que
Jesus se dirige especialmente à comunidade cristã, dando aos seus
algumas normas de vida.
Após
a questão sobre quem seria o maior e o ensinamento de Jesus sobre a
pequenez, surge outro fato, levantado pelo apóstolo São João: “Mestre,
vimos alguém expulsar demônios em teu nome e queríamos impedi-lo, porque
ele não nos seguia”. Os “exorcistas”, para dar força ao seu exorcismo,
costumavam invocar nomes de anjos e de personagens que supostamente
tinham poder de cura. Os Doze estavam com ciúmes (como Josué na primeira
leitura) de que outros fora do grupo usassem o nome de seu Mestre. A
resposta de Jesus é categórica: “Não o impeçam, porque ninguém que faça
um milagre em meu nome poderá logo depois falar mal de mim: quem não é
contra nós é a nosso favor”.
Seguem-se
três ditos de Jesus, encaixados aqui, aparentemente sem conexão entre
si. Na verdade, cada sentença está ligada à anterior por meio de uma
palavra ou de um tema. Três temas emergem do conjunto do texto do
evangelho: o nome de Jesus, a pequenez e o escândalo (em relação aos
pequenos e a nós mesmos).
Pontos de reflexão
1. “Em teu nome”. Pelo
que diz o apóstolo São João, parece que os Doze queriam “apropriar-se”
do nome de Jesus. Somente eles podiam expulsar demônios em seu nome.
Pretendiam ter exclusividade. Aquele outro fazia-o indevidamente, porque
não era “um dos deles”. A tentação de monopolizar o nome de Cristo, de
enclausurá-lo na nossa igreja, no nosso grupo, associação ou movimento, é
sempre atual. Dividimos o mundo em dois: nós, que estamos “dentro”, e
os outros, que estão “fora”. Mas quem está realmente “dentro” e quem
está “fora”?
O Espírito é livre e não se deixa confinar. O
Reino de Deus não conhece fronteiras de pensamento, de credo ou de
religião. Ele está presente e atua em toda a parte, tanto no coração do
crente quanto no do agnóstico ou do ateu. Somente Deus é realmente
“católico”, ou seja, universal! É Deus e Pai de todos. Nós,
infelizmente, às vezes somos como São João e Josué: queremos
apropriar-nos do Espírito e sofremos de ciúme ao perceber que muitos são
melhores, mais generosos e solidários do que nós, sem fazer referência
ao nome de Cristo. Um dia, eles ouvirão com surpresa esta palavra de
Jesus: “Vocês fizeram isso a mim” e “fizeram isso graças a mim”! Pode-se
agir em nome de Cristo sem sequer saber. O cristão “católico” é aquele
capaz de reconhecer a presença e ação do Espírito Santo, em qualquer
pessoa e lugar onde se faz o bem, e de maravilhar-se e louvar o Senhor,
santificando assim o seu Nome.
A expressão “em meu nome” (na
boca de Jesus) ou “em teu nome” (na boca dos apóstolos) ou em nome de
Jesus/Cristo/Senhor aparece frequentemente no Novo Testamento,
especialmente nos Evangelhos (quase quarenta vezes) e nos Atos dos
Apóstolos (cerca de trinta vezes). O cristão é aquele que age em nome de
Jesus: nasce, vive, opera, ora, anuncia, combate o mal, sofre, é
perseguido, morre... sempre por causa do Seu Nome. O Seu Nome torna-se
progressivamente nossa identidade, o nosso nome, até que possamos dizer
como Paulo: “Já não sou eu quem vive, mas Cristo que vive em mim”
(Gálatas 2,20).
Podemos perguntar-nos, no
entanto, se é esse nome que rege nossa vida. Porque pode acontecer que
outros nomes (de vários ídolos) sejam os donos de nossa vida,
esquecendo-nos de que “em nenhum outro há salvação; pois, debaixo do
céu, não existe outro nome, dado entre os homens, pelo qual devamos ser
salvos” (Atos 4,12).
2. Os pequenos gestos feitos em Seu Nome. “Quem
vos der a beber um copo de água (Mateus acrescenta: ‘fresca’) em meu
nome, porque sois de Cristo, em verdade vos digo: não perderá a sua
recompensa”. Este dito de Jesus, sobre o valor dos pequenos gestos, está
ligado ao anterior pela menção ao nome de Jesus. Fazer coisas em nome
de Cristo traz uma graça extra, mesmo que sejam pequenos gestos, porque
“são os gestos mínimos que revelam a verdade profunda do homem” (S.
Fausti).
3. A atenção para com os pequenos: “Quem
escandalizar um só destes pequeninos que creem em mim, melhor seria
para ele que fosse pendurada ao seu pescoço uma pedra de moinho e fosse
lançado no mar.” Ser lançado no mar era a pior das mortes, pois apenas o
corpo sepultado ressuscitaria. Jesus se refere aqui aos fracos na fé,
mas o que ele diz pode ser aplicado a todos os tipos de pequenos: os
marginalizados, os pobres, os sofredores, os necessitados...
4. Uma poda contínua. “Se
a tua mão te faz pecar, corta-a... Se o teu pé..., corta-o... Se o teu
olho..., arranca-o!” Jesus usa expressões muito duras para expressar a
determinação na luta contra aquilo que nos faz tropeçar e cair em nossa
vida. Todos temos mãos, pés e olhos a serem cortados ou arrancados.
Muitas vezes somos como certas figuras da mitologia grega, com cem mãos
que agarram tudo, cem pés que nos desviam continuamente do caminho reto,
cem olhos que nos impedem de concentrar o nosso olhar em Cristo. A vida
cristã exige uma poda contínua. Talvez hoje esta palavra nos convide a
um exame de consciência para discernir o que deveríamos podar para não
correr o risco de perder a vida.
P. Manuel João Pereira Correia, mccj
p.mjoao@gmail.com
https://comboni2000.org
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