domingo, 22 de dezembro de 2024

Jesus, figura determinante Anselmo Borges Padre e professor de Filosofia 22 Dezembro 2024

 Jesus, figura determinante

Anselmo Borges
Padre e professor de Filosofia

22 Dezembro 2024

Numa troca célebre de cartas entre o cardeal Carlo Martini, arcebispo de Milão, aquele que
afirmou que a Igreja anda atrasada pelo menos 200 anos, e o agnóstico Umberto Eco,
publicadas com o título “Em que crê quem não crê”, este escreveu: Mesmo que Cristo fosse
apenas o tema de um grande conto, “o facto de esse conto ter podido ser imaginado e
querido por bípedes implumes, que só sabem que não sabem, seria miraculoso
(miraculosamente misterioso)”. O Homem teve, a dada altura, “a força religiosa, moral e
poética, de conceber o modelo de Cristo, do amor universal, do perdão aos inimigos, da vida
oferecida em holocausto pela salvação dos outros. Se fosse um viajante proveniente de
galáxias longínquas e me encontrasse com uma espécie que soube propor-se este modelo,
admiraria, subjugado, tanta energia teogónica, e julgaria esta espécie miserável e infame,
que cometeu tantos horrores, redimida pelo simples facto de ter conseguido desejar e crer
que tudo isto é a Verdade”.

Ouço falar no Natal pelo menos desde Agosto. Parece impossível, porque só se pensa em
compras, esquecendo o essencial, que é o nascimento de Jesus. Não quereria ser tão
pessimista, mas é possível que o famoso teólogo José I. González Faus tenha razão: “O que se
celebra hoje no Ocidente a cada 25 de Dezembro é o nascimento do messias Consumo, filho
único do deus Dinheiro. O que os cristãos celebramos no Natal é o nascimento de um
Messias ‘pobre e humilde’, filho único do Deus Amor. Ambos são absolutamente
incompatíveis.”

Evidentemente, o Natal implica festa e alegria, o Natal é talvez a grande festa da família, mas
não se pode esquecer o essencial, determinante. Seria uma perda incomensurável ignorar ou
esquecer que o Natal está vinculado ao nascimento de Jesus. Ele representa, na História, a
maior revolução, como reconheceram grandes pensadores como Hegel, Ernst Bloch, Jürgen
Habermas... Foi através dele que soubemos da dignidade inviolável de cada pessoa. Jesus
revelou que Deus é bom, Pai/ Mãe de todos os homens e mulheres e quer a alegria, a
felicidade, a realização plena de todos como seus filhos e filhas, a começar pelos mais frágeis
e abandonados. É aqui que assenta, em última análise, a fraternidade humana.

Jesus Cristo é figura “decisiva, determinante” da História da Humanidade. Quem o disse foi
um dos grandes filósofos do século XX, Karl Jaspers. Hegel afirmou que foi pelo cristianismo
que se tomou consciência de que todos são livres. Ernst Bloch, o ateu religioso, escreveu que
é ao cristianismo que se deve que nenhum ser humano pode ser tratado como “gado”.
Jürgen Habermas, o maior filósofo felizmente ainda vivo, da Escola Crítica de Frankfurt,
agnóstico, afirma que a democracia, com “um homem, um voto”, é a transposição para a
política da afirmação cristã de que Deus se relaciona pessoalmente com cada homem e cada
mulher. Frederico Lourenço, o grande especialista em literatura clássica e bíblica, agnóstico,
escreve: “Não tenho nenhum problema em afirmar que, pessoalmente, considero Jesus de
Nazaré a figura mais admirável de toda a História da Humanidade.” Jesus foi “o homem mais
extraordinário que alguma vez viveu.”

Mahatma Gandhi deixou estas palavras: Jesus “foi um dos maiores mestres da Humanidade.
Não sei de ninguém que tenha feito mais pela Humanidade do que Jesus.” Mas acrescentou:
“O problema está em vós, os cristãos, pois não viveis em conformidade com o que ensinais.”
Bom Natal!

Escreve de acordo com a antiga ortografia

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