Caríssimo Antônio Pinheiro,
Provavelmente não me conheces, pois eu também não te
conheço (ou seja, não me lembro de ti ou do teu nome). Sou da turma que entrou em Viseu em 1954.
Tive como colegas e amigos, entre muitos outros, o Isidro (que tu certamente
conheces), o António Santos Dionísio, o João Santos Rodrigues, o Jorge Ferreira
Silva, o António Marques Martins, o Manuel Anjos Martins, o Manuel Ferreira
Horta (estes últimos três, padres).
Vivo no Brasil desde 1967 e moro na cidade de Goiânia (a
cerca de 200 km de Brasília, onde cheguei em 1969.
Durante muito tempo procurei esquecer o passado e perdi
contato com todos os meus ex-colegas e conhecidos, até que, alguns anos atrás
(não lembro exatamente quando) fui “descoberto” pelo Tavares (que mora em São
Luiz do Maranhão). Ele me pôs em contato com outros ex-colegas de Viseu: o
Antônio Dias da Cal (que morava em Belo Horizonte), o Pe. Domingos Ferreira
Oliveira (da diocese de S. Mateus, Espírito Santo), ambos já falecidos; além do
Gregório Rodrigues dos Santos (padre comboniano, que estava em Teresina, Piauí,
e agora está na Paraíba).
Com estes contatos caiu a barreira que eu tinha erguido e
uma saudade avassaladora irrompeu na minha alma, causando uma grande
reviravolta na minha vida. Ao contrário do que vinha fazendo, passei a
estimular minha memória e meu inconsciente para relembrar os anos que vivi sob
os cuidados dos Combonianos (em Viseu e Famalicão) e depois como membro da
Congregação (na Maia e em Roma).
Intensifiquei meus contatos (principalmente por email) com alguns
(Tavares, Isidro, Olindo Marques) e, por meio deles, pude ter (eventualmente)
algumas notícias de outros antigos colegas, como por exemplo, recentemente, do
Luiz Afonso da Costa.
Participei do Encontro de Santarém e gostaria muito de
participar, este ano, do Encontro de Viseu.
Agradeço muito o teu convite mas, por motivos alheios à minha vontade,
não poderei estar presente. Espero poder fazê-lo em outra oportunidade.
Agradeço também as letras e a partitura das “músicas” do
tempo de Viseu. Verifiquei que, em relação às que a minha turma cantava, houve
mudanças mais ou menos significativas nas letras de duas delas (O comboio do
Vale do Vouga e Seminário das Missões).
A letra da primeira era assim:
Um comboio que vai seguro / É o comboio do Vale do Vouga.
Todo o dia fumegando,
/ Corre sempre sem parar.
Tem as rodas que são quadradas, / Tem uma linha que está
bem prantada.
Tem assentos sem almofada, / Nunca podes aí bem dormir.
Todo o mundo, sim, tem inveja / Do comboio do Vale do
Vouga.
Europeus, americanos, / Todos querem lá andar!
Como podes ver, as letras eram feitas “na marreta”, como
se diz por aqui. Os padres, todos italianos, não conheciam bem a língua
portuguesa, não tinham grandes dotes poéticos e nem mesmo de preocupavam com a
rima. O importante era pôr a garotada
para cantar ...
Se eu lembrar de outras “canções” daquela época
(protocomboniana, prometo mandá-las para você que, se achar oportuno, poderá
repassá-las a quem quiser.
Um grande abraço!
Orlando F. R. Almeida
Prezado Anigo Orlando, Saudoso Companheiro de um tempo já distante,
ResponderEliminarAcabo de ler a mensagem que enviaste ao António J. Pinheiro.
Senti-me tocado pelos sentimentos que nela expressas, porventura porque reavivou em mim um sentimento de claustrofobia temporal desencadeado pela intangibilidade de vibrantes vivências de um passado de adolescência e juventude em que partilhámos ideais de vida de profundo valor ético.
Recordo-me perfeitamente de ti, mas admitindo que o recíproco não se verifique, refiro que entrei em Viseu no ano lectivo de 1957/58, quando tu já frequentavas o terceiro ou o quarto ano. Viria, posteriormente, a reencontrar-te na Maia, onde ingressei no ano lectivo de 1962/63.
Já em Gozzano de 1965/66 a 1966/67, acompanhei toda a comunidade aqui em formação a Venegono, onde estavam , na altura, alguns portugueses, entre os quais, o João Tavares, o (Pe.) Fernando Guimarães e o (Pe.) Martins. Não me lembro se, na altura, te encontravas aí ou em Roma, por onde, juntamente com o Celso Lopes Ferreira, que viria a morrer em combate em Moçambique em 1968, passei no meu regresso a Portugal e onde fui amavelmente acolhido por alguns colegas que tinha tido no ano anteterior em Gozzano e, muito especialmente, pelo (Pe.) Horta e pelo Ciamferoni (não me recordo de outros).
Nos primeiros anos de "vida civil" estive entre os primeiros dinamizadores dos encontros de ex-alunos combonianos, mas a minha acção neste âmbito não prosseguiu para além de uma reunião havida em Coimbra em 1977, de cujos participantes, entre os quais alguns que nomeias na tua mensagem, juntei uma fotografia no facebbok.
Nos últimos 20-25 anos, o João Tavares teve a amabilidade de passar umas três vezes pela Fundação C. Gulbenkian e aí me visitar, o que muito me sensibilizou.
Volvidos todos estes anos, vou retomar a minha participação no próximo dia 1 de Maio e espero que um dia possa rever-te, assim como tantos outros que deixaram um selo indelével no meu espírito.
Recebe um abraço do
António Violante
Caro Orlando
ResponderEliminarObrigado pelo teu email.
É perfeitamente compreensível que quem como tu esteja assim tão longe não possa estar presente todos os anos. Eu lembro-me muito bem de ti. Estivemos juntos em Viseu; tu no 5º ano e eu no primeiro dado que entrei em 58. Estivemos juntos também na Maia; tu no último ano do escolasticado e eu no 1º de filosofia. Foi naquele ano em que terminou o noviciado em Famalicão e nós passámos a ir para o noviciado ( Espanha ou outro) no fim da filosofia. Estou convencido que assisti aos teus primeiros votos no fim do teu noviciado em Famalicão dado que eu sou natural de Riba de Ave, concelho de Famalicão, e nas férias procurava estar presente nas vossas festas. Tenho algumas fotos de noviços, mas não encontrei nenhuma tua ainda. Lembro-me muito bem de que tu eras um aluno excelente. Na Maia, com o saudoso P.e Signoretti, tu e o Horta andavam sempre em "despique" pelas melhores notas. O Alcides Balula Chaves que também era do teu ano, não estudava lá muita coisa, mas com o paleio que tinha e a boa capacidade de síntese...lá conseguia iludir o também saudoso P.e Poda. Como vês ...lembro-me muito bem de ti. Depois da Maia fui enviado para Sunningdale, Inglaterra, para fazer lá o noviciado. O P.e Poda também foi connosco ( eu, o agora P.e Dário B. Chaves e o já falecido P.e José Augusto Martins do Val) e por lá se manteve muitos anos. Depois do noviciado fui enviado para teologia em Venegono onde me voltei a encontrar com o António Martins e o Gregório, entre outros, que estavam no último ano de teologia.. Deixei Venegono em meados do 1º ano de teologia, em 68. Fiz a tropa, licenciei-me em economia e especializei-me em administração hospitalar de que fiz profissão até me reformar há já 4 anos.
É interessante esse teu processo de reconhecimento do passado comboniano. Pelas mais diversas razões, há muitos colegas nossos que ainda não conseguiram encontrar-se com esse passado. Tenho tentado que estes nossos encontros sejam uma forma de nos reencontrarmos com esse passado e de valorizarmos o que de bom e útil ele trouxe às nossas vidas. Há uma catarse a fazer-se, mais difícil para uns do que para outros. Conheço colegas que pura e simplesmente rasgaram todas as fotos que tinham desse tempo, na tentativa de fazer esquecer esse passado. Reconheço que nem tudo foi perfeito, que tenha havido comportamentos que nos magoaram muito, mais uns do que outros, mas essa é a nossa história. Faz parte da nossa vida, dos anos em que mais sonhávamos....
Eu tiro um prazer imenso destes reencontros. De alguns não me lembro os nomes, outros já não os reconheço...mas só o gosto de pensar que no período mais lindo das nossas vidas, quiçá também o mais difícil...partilhamos emoções, sonhos, as brincadeiras, as dificuldades...enfim, vivemos.
Foi isto que me animou a, juntamente com alguns outros colegas, constituirmos a Associação por forma a promovermos estes encontros.
Eu sei que as letras estão alteradas. Penso que o P.júlio fez de propósito ou inventou por já não se lembrar. Tenho pena que se tenha perdido muito das memórias desses tempos pioneiros, nomeadamente do saudoso Faleiro. Se tiveres alguma coisa e ma quiseres mandar...eu fá-la-ei chegar aos outos colegas.
Vou publicar a tua carta no blog.
Um abração
António Joaquim Pinheiro