Programar é importante...
Vivemos num tempo em que as reuniões se multiplicam, obedecendo à verdade que "programar é importante" para antecipar e visualizar o futuro. Mas, também aqui ficamos pela meia-verdade, esquecendo a outra metade; que "se programar é importante, o que faz a diferença é realizar, concretizar".
Entre nós combonianos vulgarizaram-se (e de certa maneira banalizaram-se) as reuniões, tanto a nível geral de instituto, como de coordenação continental e provincial. Na Europa, por exemplo, o exemplo vem de cima, com os provinciais a reunirem-se várias vezes ao ano e a multiplicarem sem evidentes frutos as reuniões dos sectores que coordenam.
Reunir-se e programar é importante, mas esquece-se que o que faz a diferença é o agir e este tem sido muito mais lento que o ritmo das reuniões. Estas têm arrastado os problemas, ou por falta de adequada preparação (reuniões sem agenda devidamente preparada) ou por falta do consequente seguimento e acompanhamento das questões. Exemplos poderiam enumerar-se, aos vários níveis, mas não é essa a função deste texto. O que importa evidenciar, para se afirmar a verdade inteira, é que reunir-se implica responsabilidades para aqueles que se reúnem, responsabilidades que começam com a preparação, sua e das agendas; e que importa não cair na sensação (na situação que em alguns casos existe já) de que se fazem reuniões para cumprir agendas ou alimentar sensibilidades, reuniões das quais nada sai e que acabam por em nada afectar a vida das pessoas, das províncias e do instituto.
O problema são os outros
A outra meia-verdade que desejo comentar, antes de terminar, tem a ver com a atitude com que geralmente reagimos ao estado de coisas, no instituto, na igreja e na sociedade. Desculpamo-nos e alijamos responsabilidades: tendemos a assumir que "o problema são os outros". Ora como realmente estão as coisas, os "outros" (o estado da sociedade, da igreja e do instituto) não serão propriamente o paraíso, mas tão pouco são o inferno e a verdade inteira manda dizer que "o problema também somos nós" e a maneira como reagimos às situações: reconhecendo a nossa situação e assumindo corajosamente as reformas que se impõem; ou assobiando para o lado como se as coisas não nos dissessem respeito.
Há tempos, falando com um bispo jovem, auxiliar de uma diocese, no contexto da actual situação de falta de clero, atrevi-me a dizer que "os bispos impõem pouco as mãos". Eu entendia dizer, como lhe expliquei, que o problema da falta do clero e da insuficiência do actual modelo, depende dos bispos que deveriam olhar o problema de frente e procurar respostas adequadas (novos modelos) e não meros paliativos. A resposta dele foi que não, na lógica de "o problema são os outros": que o problema são as comunidades cristãs que têm pouco sentido ministerial e não produzem os sacerdotes de que precisam.
Lembro aqui a cena, porque ela reproduz muitas das nossas reacções: dar-mos a culpa aos outros, a tanta coisa e pessoa, em vez de assumirmos a responsabilidade de mudarmos o status quo; assumir as consequências das situações, em vez de alijarmos as responsabilidades para outros, esperando que outros, Deus também, venham fazer o que, no fundo, é tarefa nossa. É verdade que os responsáveis pelos sectores e pelos secretariados, no caso da nossa província, têm uma responsabilidade especial no nosso ser e fazer missão. Mas o projecto da nossa presença missionária na Europa é comum e o carisma missionário comboniano é uma graça (e uma tarefa) repartida por todos os membros do instituto e das províncias: só o exercício de uma responsabilidade comum alimentará a nossa mística missionária e dará nova vitalidade apostólica ao carisma missionário comboniano nas igrejas locais da Europa.
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