sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

Pe Manuel Augusto - Meias verdades 5

Num ano especial
O ano de 2015, que hoje começa, anuncia-se prenhe de acontecimentos e dinâmicas eclesiais que, se por um lado nos poderão ajudar a voltar às “verdades inteiras que nos libertam”, por outro lado poderão contribuir para manter as ambiguidades, se falharmos no discernimento que se impõe fazer. Refiro-me ao Ano da Vida Consagrada, que o Papa Francisco decretou, de 30 de Novembro passado até 2 de Fevereiro de 2016. Refiro-me também ao próximo Capitulo Geral que teremos em Setembro deste ano.
Afirmar que somos “instituto religioso”, que fazemos parte da “Vida Consagrada” na Igreja, é dizer só meia-verdade. A verdade inteira é que somos “pessoas consagradas”, homens e mulheres na família comboniana, “para a missão”, o testemunho e o anúncio do Evangelho aos povos. Este “para a missão, para o serviço do Evangelho” faz toda a diferença, como já sublinhou o Superior Provincial Pe José Vieira no editorial do mais recente Diálogo, o boletim provincial, abordando a vivência dos votos.
Configurarmo-nos simplesmente como instituto religioso tem para nós alguns riscos que nos podem afastar da intuição originária do Fundador, que nos sonhou como grande movimento missionário em favor da África. Configurarmo-nos, por isso, como amplo movimento missionário de pessoas consagradas, a vários títulos e de várias maneiras, de serviço ao Evangelho entre os povos, de preferência nas nigrícias (periferias, fronteiras) do nosso tempo, é garantia de fidelidade ao Espírito e ao carisma inicial e de renovada fecundidade apostólica no futuro.
Certamente sentimo-nos inspirados, massajados interiormente, ao ler os dois documentos que de Roma vieram, não para nos sentirmos empolgados numa auto-referencialidade típica da vida religiosa (de que S. Daniel Comboni desconfiava), mas  para nos ajudar a viver a verdade inteira do nosso carisma. Eu pessoalmente gostei mais de ler o texto da carta do Papa Francisco, do que o documento da Congregação Romana da Congregação da Vida Consagrada. Para além da repetição de documentos, o Papa Francisco foi mais claro ao fixar os objectivos para este ano.
Primeiro objectivo, “olhar com gratidão o passado. Cada um dos nossos Institutos provém duma rica história carismática. (...) Será oportuno que cada família carismática recorde os seus inícios e o seu desenvolvimento histórico... para manter viva a identidade, robustecer a unidade da família e o sentido de pertença dos seus membros. Não se trata de fazer arqueologia nem cultivar inúteis nostalgias, mas de repercorrer o caminho das gerações passadas para nele captar a centelha inspiradora, os ideais, os projectos, os valores que as moveram, a começar pelo Fundador”.
Segundo objectivo, “viver com paixão o presente. A lembrança agradecida do passado impele-nos, numa escuta atenta daquilo que o Espírito diz hoje à Igreja, a implementar de maneira cada vez mais profunda os aspectos constitutivos” do nosso carisma. “O Ano da Vida Consagrada questiona-nos sobre a fidelidade à missão que nos foi confiada (...). A nossa presença corresponde àquilo que o Espírito pediu ao nosso Fundador, sendo adequada para atingir as suas finalidades na sociedade e na Igreja actual?”
Terceiro objectivo, “abraçar com esperança o futuro... é a esperança que não desilude e que (nos) permitirá continuar a escrever uma grande história no futuro, para o qual se deve voltar o nosso olhar, cientes de que é para ele que nos impele o Espírito Santo a fim de continuar a fazer, connosco, grandes coisas”. Dito também com palavras de S. Daniel Comboni, não poderíamos ter melhores votos para este 2015: “muita coragem para o presente, mas sobretudo para o futuro!”

Pe Manuel Augusto Lopes Ferreira, mccj
1 de Janeiro de 2015
Festividade de Santa Maria, Mãe de Deus, e Dia Mundial da Paz

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