quarta-feira, 27 de junho de 2018
Papa chama padre Tolentino Mendonça ao Vaticano e eleva-o a arcebispo 26 de Junho de 2018
O Papa nomeou, esta terça-feira, 26 de junho, o padre Tolentino Mendonça como arquivista e bibliotecário da Santa Sé, elevando-o à categoria de arcebispo.
sexta-feira, 22 de junho de 2018
Atividades de Verão para jovens - 2018
Neste Verão, sai de casa e vem descobrir um mundo. Larga o computador, a PlayStation, o mundo virtual e vem jogar no mundo real. Vem ver com os teus próprios olhos o quanto este mundo precisa de ti.
Convida os teus amigos e para passar as melhores Férias de Verão de sempre. Vê o que temos para ti e arrisca.
Grupo de jovens combonianos: Jovens em Missão - JIM
7 e 8 de julho
Encontro de jovens em regime de Acampamento. Este é um fim-de-semana com Workshops, Jogos, muita Animação… e ainda com um Festival Sunset.
De 24 a 28 de julho
Caminhada Jovem a Fátima, com saída em Azambuja (90Km a pé). São dias intensos, cheios de atividades, momentos de silêncio, partilha, oração, convívio e amizade.
De 18 a 26 de agosto
Voluntariado Missionário nos bairros na periferia de Lisboa – paróquias de Camarate e Apelação. São feitas atividades nos bairros sociais com crianças e adolescentes de várias etnias.
quarta-feira, 20 de junho de 2018
A diferença está na aceleração- Diário do Minho
A novidade não é a mudança, mas a aceleração da
mudança.
Mudanças sempre houve. Mudanças tão aceleradas
é que não nos recordamos de ter havido.
É verdade que – como notou o poeta – «o mundo
é composto de mudança». Mas salta à vista que «já não se muda
como soía».
Mudando como sempre, estamos a mudar aceleradamente como
nunca.
Daí que dificilmente nos apercebamos do que nós próprios
realizamos.
Foi a humanidade que produziu a técnica. Será que temos
consciência de que a técnica está a produzir um novo perfil de
humanidade?
No rastreio de ganhos e perdas, importa perceber que temos
conquistado muito, mas também temos desperdiçado bastante.
Como nos acostumámos a conseguir, fomo-nos desabituando
de esperar. A rapidez está a retirar-nos paciência e a esvaziar-
-nos de esperança.
Somos uma «geração apressada» e, por isso, «stressada». Mostramos
muita eficácia nos actos, mas pouca lucidez nas decisões.
Somos a geração das grandes euforias e, ao mesmo tempo, das
prolongadas depressões.
Comunicamos cada vez mais sem filtros. Os espaços mediáticos
estão cheios de protestos, pejados de murmurações e inundados
de rancores.
Sobretudo os mais jovens, com a sua espontaneidade, não
escondem as suas frustrações nem as suas rebeldias. Não
falta, assim, quem qualifique muitos adolescentes como…
«aborrecentes».
O mais curioso é que são os mais novos quem melhor se movimenta
num mundo desenhado pelos mais velhos.
A chamada «geração millennials» (também denominada «geração
y») foi apanhada em cheio por uma revolução tecnológica
que já estava em marcha.
Por sua vez, a «geração z» (que lhe sucedeu) tornou-se a primeira
geração de «nativos digitais». Nos tempos que correm, é especialmente
nas redes sociais que se estabelecem os contactos pessoais.
Só que pouco parece ser sólido. As relações entre as pessoas são
instáveis e os trabalhos precários.
Sempre à procura da última novidade, facilmente nos cansamos:
das coisas e também das pessoas.
São cada vez mais os objectos que arrumamos e as pessoas que
descartamos.
Contudo, não é por acaso que, segundo a Bíblia, «a sabedoria
está nos cabelos bran cos e a inteligência na longevidade» ( Jb 12,
12). Quem nega que a experiência é uma preciosa fonte de ciência?
Não diabolizemos o que é novo. Mas também não subestimemos
o que, vindo do passado, não está ultrapassado. Com todos
podemos aprender, enquanto nos for dado viver!
mudança.
Mudanças sempre houve. Mudanças tão aceleradas
é que não nos recordamos de ter havido.
É verdade que – como notou o poeta – «o mundo
é composto de mudança». Mas salta à vista que «já não se muda
como soía».
Mudando como sempre, estamos a mudar aceleradamente como
nunca.
Daí que dificilmente nos apercebamos do que nós próprios
realizamos.
Foi a humanidade que produziu a técnica. Será que temos
consciência de que a técnica está a produzir um novo perfil de
humanidade?
No rastreio de ganhos e perdas, importa perceber que temos
conquistado muito, mas também temos desperdiçado bastante.
Como nos acostumámos a conseguir, fomo-nos desabituando
de esperar. A rapidez está a retirar-nos paciência e a esvaziar-
-nos de esperança.
Somos uma «geração apressada» e, por isso, «stressada». Mostramos
muita eficácia nos actos, mas pouca lucidez nas decisões.
Somos a geração das grandes euforias e, ao mesmo tempo, das
prolongadas depressões.
Comunicamos cada vez mais sem filtros. Os espaços mediáticos
estão cheios de protestos, pejados de murmurações e inundados
de rancores.
Sobretudo os mais jovens, com a sua espontaneidade, não
escondem as suas frustrações nem as suas rebeldias. Não
falta, assim, quem qualifique muitos adolescentes como…
«aborrecentes».
O mais curioso é que são os mais novos quem melhor se movimenta
num mundo desenhado pelos mais velhos.
A chamada «geração millennials» (também denominada «geração
y») foi apanhada em cheio por uma revolução tecnológica
que já estava em marcha.
Por sua vez, a «geração z» (que lhe sucedeu) tornou-se a primeira
geração de «nativos digitais». Nos tempos que correm, é especialmente
nas redes sociais que se estabelecem os contactos pessoais.
Só que pouco parece ser sólido. As relações entre as pessoas são
instáveis e os trabalhos precários.
Sempre à procura da última novidade, facilmente nos cansamos:
das coisas e também das pessoas.
São cada vez mais os objectos que arrumamos e as pessoas que
descartamos.
Contudo, não é por acaso que, segundo a Bíblia, «a sabedoria
está nos cabelos bran cos e a inteligência na longevidade» ( Jb 12,
12). Quem nega que a experiência é uma preciosa fonte de ciência?
Não diabolizemos o que é novo. Mas também não subestimemos
o que, vindo do passado, não está ultrapassado. Com todos
podemos aprender, enquanto nos for dado viver!
segunda-feira, 18 de junho de 2018
CRISTO NÃO DESEMPREGOU OS SANTOS (1) Frei Bento Domingues O.P.
1. Não tenho
muito apego às definições de religião. Uso essa palavra para significar, na
tradição latina, a redobrada atenção às diversas dimensões do devir misterioso
do ser humano que escapam à linguagem unívoca da ciência e da técnica.
Exprime-se melhor na linguagem metafórica. Como escreveu Ésquilo, em Agamémnon,
«Sufocando no galinheiro da razão, dediquei-me a defender a causa dos sonhos».
Na história das religiões existe de tudo, do melhor e do
pior. A religião dos místicos, mesmo quando louca, é a suprema sabedoria. O
místico não é capaz de parar, de fixar um limite, de se tornar idolátrico,
pois, como diz o muçulmano, E. Hallaj, do século X: «Vi o meu Senhor com o olhar do coração,/ e disse-lhe: “Quem és tu?” Ele
disse-me: “Tu!”/ Mas para Ti, o “onde” já não tem lugar,/ o “onde” não existe
quando se trata de Ti!». A religião de Jesus não cabe em nenhuma
classificação conhecida.
No domingo passado, S. Marcos apresentava Jesus como o doido
da família e possesso de Belzebu. Neste, Jesus surge, na versão do mesmo
evangelista[1], como um pregador surrealista. Jesus queria ser
entendido ou não? A sua palavra era só para agitar o vento? Pela referência que
faz ao profeta Isaías[2], até parece que só queria
baralhar os seus ouvintes: vendo, vejam e
não percebam; ouvindo, ouçam e não entendam para que não se convertam e não
sejam perdoados.
A citação recorre a um pregador cujos lábios foram
purificados por um anjo, um serafim, com uma brasa viva. Ouviu, então, a voz do
Senhor que dizia: Quem enviarei? Quem
será o nosso mensageiro? Ele respondeu: Eis-me
aqui, envia-me. E foi enviado: Vai e diz ao meu povo: ouvi, tornai a ouvir, mas não compreendereis. Vede, tornai a ver, mas
não percebereis. Endurece o coração deste povo, ensurdece-lhe os ouvidos,
fecha-lhe os olhos. Que os seus olhos não vejam, que os seus ouvidos não ouçam,
que o seu coração não entenda, que não se converta e Eu o cure.
S. Marcos começa pela muito conhecida parábola da sementeira
para falar do misterioso Reino de Deus. Esta não apresenta nenhuma dificuldade
especial, mas os discípulos ficaram sem perceber nada.
Jesus fica espantado com discípulos tão pouco dotados: Se não compreendeis esta parábola, como
podereis entender todas as outras?
Mais uma vez, teve paciência e explicou tudo muito bem. O
narrador sublinha que a maior dificuldade em acolher a palavra do Reino é o
mundanismo, a sedução das riquezas e outras ambições. Quando encontra bons
ouvidos, os frutos são de 30, de 60 e até de 100%.
A parábola seguinte contradiz o começo: quem traz uma lâmpada
acesa é para a esconder? Mas não será esse o defeito das parábolas em relação
ao discurso directo?
Não há nada a ocultar. Quer tudo na luz do dia. Se alguém
tem ouvidos para ouvir, ouça. Mas cuidado com o que ouvis. Com a medida que
medirdes sereis medidos e até vos será acrescentado mais. E regressa ao
paradoxo escandaloso: ao que tem, será dado e ao que não tem, mesmo o que tem,
lhe será tirado.
De repente, muda de registo. O crescimento do Reino de Deus
não é fruto do esforço humano: o semeador lançou a semente à terra e foi dormir
e, depois, quando o fruto está no ponto, vai colher. Também não há que
desesperar com a lentidão do crescimento da comunidade. Os começos nem sempre
são gloriosos e vem a parábola do grão de
mostarda, pequena semente que chega a ter grandes ramos, onde as aves do
céu se abrigam à sua sombra.
No final do capítulo, volta a insistir que Jesus
anunciava-lhes a palavra por meio de muitas parábolas como estas, conforme
podiam entender e nada lhes falava a não ser em parábolas. Remata, dizendo que
as explicações eram assunto privado para os discípulos. O narrador deixa-nos
sem podermos concluir se Jesus falava para ser entendido ou não.
2. A pergunta
fundamental, perante esta paixão pela linguagem parabólica, talvez seja esta:
porque não fez Jesus um catecismo, bem explicadinho, com perguntas e respostas
bem definidas, para não deixar os seus seguidores continuamente sem saber bem o
que pensar, o que está certo e o que está errado? Se, assim, tivesse feito,
dispensava as dificuldades da exegese histórico-crítica e as múltiplas
abordagens reconhecidas pela Comissão Pontifícia Bíblica[3]. Teria dispensado séculos
e séculos de escolas teológicas, de heresias e de conflitos.
A linguagem universal é a da ciência e da técnica,
incompatível com emoções e estados de alma. Jesus poderia ter feito uma ciência
exacta da verdadeira religião e tinha, como fruto, um sossego eterno. Donde lhe
veio a mania das parábolas e de falar só em parábolas?
Esquecemos que Jesus era e é um ser humano nascido e educado
dentro de uma cultura e de uma religião que, hoje, é possível identificar.
Jesus não sabia todas as línguas, não conhecia todas as religiões e nunca
procurou impor apenas uma versão do valor divino do humano e do valor humano do
divino. Não escreveu um livro inspirado que tivesse o condão de substituir
todos os livros de sabedoria religiosa. A falar verdade, nem sequer temos o que
Jesus escreveu na areia. Os seus gestos e palavras foram contados por outros.
São eles a grande obra de Jesus de Nazaré. Tudo no tempo, tudo efémero. Ninguém
fez o filme do que aconteceu.
As parábolas permitem resistir ao tempo pela necessidade de
serem sempre lidas e interpretadas sem sentido pré fixado.
3. As comunidades
cristãs, boas, más e assim-assim, são as únicas relíquias de Jesus Cristo e não
estão todas em Jerusalém. Não o substituem. Os santos, aqueles que, sabendo ou
não, o anteciparam e o seguiram não estão arquivados no céu nem se devem
confundir com as suas posições nos altares. Estão vivos e activos. De vez em
quando, na vida dos cristãos são evocados e respondem sempre, umas vezes no
sentido da pergunta, outras vezes complicando-a. Não perderam o estilo das
parábolas.
Houve muita confusão em torno da “vida dos santos”. Algumas
tornavam a “santidade” detestável. Eram instrumentos de desumanização de Deus e
da Igreja. Outras eram auto referentes, idolátricas: Deus tinha de contar com
elas ou não sabia o que fazer. Deus estava longe e mal informado das peripécias
da vida humana. Os santos eram os mediadores, pontes, entre o Deus distante e a
nossa condição. Ao fim e ao cabo, os cristãos entendiam-se mais com eles do que
com Deus. Transportavam, para as relações entre o divino e o humano, o sistema
das cunhas.
Os santos populares sabem mais de Deus e de nós do que se
julga. Veremos.
17. 06. 2018
[1]
Mc 4, 1-34
[2]
Is 6
[3]
A interpretação da Bíblia na Igreja,
Secretariado Geral do Episcopado, 1994.
segunda-feira, 11 de junho de 2018
Os abafadores - Paulo Fafe, D Minho
Muita gente se espantou pelo PCP, pela voz de Jerónimo
de Sousa, ter votado contra os projetos
de lei sobre a eutanásia. O bispo de Leiria Fátima,
sua eminência D. António Marto, afirmou:
“a posição do PCP na eutanásia surpreende mas
é humanista”. Claro que é um partido humanista
na estrita ideia de que o homem é o centro principal de toda a
existência. É um humanismo sem Deus ou, se quisermos, coloca
o homem no centro de todas as coisas sem necessidade de interferência
divina. Para os que se apressam a tirar paralelismo entre
o humanismo cristão e humanismo ateu, aqui fica o alerta e a reflexão.
Na discussão parlamentar sobre a legalização da eutanásia,
um dos deputados, referiu-se a uma personagem de Miguel Torga
em Novos Contos da Montanha, o Alma Grande. Nesse conto,
o Alma Grande tem o nome de abafador; era chamado pelos familiares
para esganar os doentes que, estando na hora da morte,
demoravam a morrer. No conto, o moribundo chamava-se Isaac.
O médico tinha recomendado à sua mulher que lhe fosse encomendando
o caixão. Quando o abafador entrou no quarto, o Isaac
gritou-lhe, “não… não… ainda não”. Hesitou o abafador e desistiu.
O Isaac “vinte dias depois comia o caldo ao lume como se nada
tivesse sido”. O conto não acaba assim, mas assim fica em suspenso,
pela minha parte. Daqui se conclui que Miguel Torga, que era
médico de profissão, disse-nos, com a sua sensibilidade de escritor,
que a luta pela vida vale a pena, mesmo depois de desenganado
pela ciência médica. Os quatro projectos de legalização da
eutanásia, são abafadores como o Alma Grande. As razões para o
abafamento pressupõem causas piedosas para com o sujeito e respeito
pelo seu livre arbítrio. Que livre arbítrio há nos dementes,
nos catatónicos, nos em coma profunda? Qual a diferença entre
a eutanásia e este abafador de Miguel Torga? Também ele matava
depois da desistência da ciência; também ele matava com o consentimento
de familiares e da própria mulher, também ele matava
por consentimento social. Esta questão de quem determina
a hora da morte, é tão assustadora em seus contornos morais
e existenciais, que não sei como alguém tem uma convicção tão
forte assim, que possa arriscar ser juiz. Juiz ou carrasco? “ser ou
não ser”, diria o dramaturgo Shakespear. Aliviar um sofrimento
sem cura é um ato de misericórdia ou um egoísmo de quem não
quer sofrer por ver sofrer? Mas ser capaz de chamar um matador
para eliminar um familiar em sofrimento, só porque o seu sofrimento
é o meu sofrimento, é de um egoísmo sem limite; não pode
deixar de acrescentar sentimentos de culpa para quem disser,
«desligue a máquina, mate o meu filho». E este debate prosseguirá
dentro da próxima legislatura. Para que o debate tenha o contributo
de todos nós, torna-se honesto e sincero e democrático
que cada partido diga, em seus programas, se sim se não à legalização
da eutanásia, suicídio ou morte assistida. Assim, os votantes,
ao escolherem o partido em que vão votar, saberão que estão
a dar ou não autorização para a morte legal. O Alma Grande
era um abafador oficial, legalizado pelos usos e costumes daquelas
gentes, socialmente aceite como um bem; nós teremos de saber
se queremos um abafador legal ou não. “Eis a questão”. Para
esclarecimento duma possível controvérsia: não coloco nesta discussão,
sentimentos religiosos, filosóficos, ideológicos, agnósticos
ou ateus; nem criacionismo, nem evolucionismo; o meu pensamento
emerge puro, límpido e inocente da sensibilidade e respeito
que tenho pela vida. Para mim ela é uma essência e não apenas
um percurso. Quebrar o frasco não mata a essência.
de Sousa, ter votado contra os projetos
de lei sobre a eutanásia. O bispo de Leiria Fátima,
sua eminência D. António Marto, afirmou:
“a posição do PCP na eutanásia surpreende mas
é humanista”. Claro que é um partido humanista
na estrita ideia de que o homem é o centro principal de toda a
existência. É um humanismo sem Deus ou, se quisermos, coloca
o homem no centro de todas as coisas sem necessidade de interferência
divina. Para os que se apressam a tirar paralelismo entre
o humanismo cristão e humanismo ateu, aqui fica o alerta e a reflexão.
Na discussão parlamentar sobre a legalização da eutanásia,
um dos deputados, referiu-se a uma personagem de Miguel Torga
em Novos Contos da Montanha, o Alma Grande. Nesse conto,
o Alma Grande tem o nome de abafador; era chamado pelos familiares
para esganar os doentes que, estando na hora da morte,
demoravam a morrer. No conto, o moribundo chamava-se Isaac.
O médico tinha recomendado à sua mulher que lhe fosse encomendando
o caixão. Quando o abafador entrou no quarto, o Isaac
gritou-lhe, “não… não… ainda não”. Hesitou o abafador e desistiu.
O Isaac “vinte dias depois comia o caldo ao lume como se nada
tivesse sido”. O conto não acaba assim, mas assim fica em suspenso,
pela minha parte. Daqui se conclui que Miguel Torga, que era
médico de profissão, disse-nos, com a sua sensibilidade de escritor,
que a luta pela vida vale a pena, mesmo depois de desenganado
pela ciência médica. Os quatro projectos de legalização da
eutanásia, são abafadores como o Alma Grande. As razões para o
abafamento pressupõem causas piedosas para com o sujeito e respeito
pelo seu livre arbítrio. Que livre arbítrio há nos dementes,
nos catatónicos, nos em coma profunda? Qual a diferença entre
a eutanásia e este abafador de Miguel Torga? Também ele matava
depois da desistência da ciência; também ele matava com o consentimento
de familiares e da própria mulher, também ele matava
por consentimento social. Esta questão de quem determina
a hora da morte, é tão assustadora em seus contornos morais
e existenciais, que não sei como alguém tem uma convicção tão
forte assim, que possa arriscar ser juiz. Juiz ou carrasco? “ser ou
não ser”, diria o dramaturgo Shakespear. Aliviar um sofrimento
sem cura é um ato de misericórdia ou um egoísmo de quem não
quer sofrer por ver sofrer? Mas ser capaz de chamar um matador
para eliminar um familiar em sofrimento, só porque o seu sofrimento
é o meu sofrimento, é de um egoísmo sem limite; não pode
deixar de acrescentar sentimentos de culpa para quem disser,
«desligue a máquina, mate o meu filho». E este debate prosseguirá
dentro da próxima legislatura. Para que o debate tenha o contributo
de todos nós, torna-se honesto e sincero e democrático
que cada partido diga, em seus programas, se sim se não à legalização
da eutanásia, suicídio ou morte assistida. Assim, os votantes,
ao escolherem o partido em que vão votar, saberão que estão
a dar ou não autorização para a morte legal. O Alma Grande
era um abafador oficial, legalizado pelos usos e costumes daquelas
gentes, socialmente aceite como um bem; nós teremos de saber
se queremos um abafador legal ou não. “Eis a questão”. Para
esclarecimento duma possível controvérsia: não coloco nesta discussão,
sentimentos religiosos, filosóficos, ideológicos, agnósticos
ou ateus; nem criacionismo, nem evolucionismo; o meu pensamento
emerge puro, límpido e inocente da sensibilidade e respeito
que tenho pela vida. Para mim ela é uma essência e não apenas
um percurso. Quebrar o frasco não mata a essência.
domingo, 10 de junho de 2018
O DOIDO DA FAMÍLIA Frei Bento Domingues, O.P.
1. A Catalunha
continua a ser notícia por vários motivos, sobretudo por razões de ordem
política. Os meios de comunicação portugueses não foram excepção, mas
esqueceram a grande homenagem à figura marcante da cultura catalã actual e de
significação universal.
A Generalitat de
Catalunya i l'Ajuntament de Barcelona estão a celebrar, em 2018, o Ano de Raimon
Panikkar (1918-2010), centenário de um sábio do nosso tempo[1]. Filho de pai indiano
e hindu
e de mãe catalã
católica romana nasceu em Barcelona, viveu na Índia e morreu rodeado da beleza em
Tavertet.
Era padre, cientista, filósofo, teólogo e místico. Sem
deixar de ser católico integrou, na sua identidade, vários elementos de outras
crenças religiosas. Como diz Ignasi Moreta, editor das suas Obras Completas,
das quais já saíram 10 volumes, «era uma ponte entre o Oriente e o Ocidente,
entre as Letras e as Ciências, entre as expressões do Cristianismo, do
Induísmo, do Budismo e do Pensamento Secular».
Esta forma de viver, pensar e escrever evoca Ramon Llull (1232-1315),
o escritor, filósofo, poeta, missionário, teólogo, o símbolo cultural da Catalunha.
Nascido em Palma de Maiorca, na encruzilhada de três culturas - cristã,
islâmica e judia – foi o criador da língua catalã literária, mas também se exprimia,
com elegância, em castelhano, latim, árabe e Langue d’oc.
Acerca de R. Panikkar surge sempre a pergunta: mas ele era
católico ou hindu? Não se pode dizer que fosse católico pela mãe e hindu pelo
pai. A religião não é uma herança de ordem genética. O sincretismo religioso
foi sempre mal visto, pois não parece exprimir uma identidade, mas uma
confusão. Talvez sim, talvez não. Não se exigiu, aos primeiros discípulos de
Jesus a renúncia à condição judaica. Começaram por ser todos judeus de várias
tendências. O problema nasceu quando as portas e janelas, que a prática de
Jesus abriu, passaram a ser fechadas às outras tradições religiosas. Paulo de
Tarso, judeu de pura cepa, não aceitou que se fizesse depender a graça de Deus,
manifestada em Jesus de Nazaré, da condição judaica. A salvação não estava
ligada a uma condição étnica nem religiosa. Era universal como a graça de Deus
que não faz acepção de pessoas e povos.
2. Quem abriu
todos os horizontes foi Jesus de Nazaré que viajou pouco, mas sabia muito. No
texto do Evangelho de hoje[2], existe uma polémica
duríssima sobre esta questão. Começa com um desentendimento familiar tão
profundo que até julgavam que ele estava doido. É dito textualmente: «ao
verificarem o seu comportamento, os parentes saíram para o deter, pois diziam, está fora de si». Qual era a estranheza?
A casa de família estava invadida por quem não era da família. A família estava
sem casa.
Mais adiante, voltaremos às razões desta confusão toda. No
mesmo texto, é dito que ele estava pior que doido, estava possesso de Belzebu.
Era este que lhe dava poder para expulsar os demónios.
Jesus observa aos escribas que estão a ser completamente parvos, pois, se é Satanás
a expulsar Satanás, é o império do diabo que se autodestrói.
Neste ponto, não é capaz de passar adiante: «tudo será
perdoado aos filhos dos homens, os pecados e blasfémias que tiverem proferido,
mas quem blasfemar contra o Espírito Santo nunca terá perdão, será réu de
pecado para sempre». Os senhores da inteligência da vontade e da acção de Deus
estavam a negar a evidência em nome da sua cegueira. Não há pior cego do que
aquele que não quer ver, como mostrará mais tarde[3].
S. Marcos vai radicalizar a questão central do universalismo
cristão. Jesus perturba a família que se quer fechar sobre si mesma. Os filhos
de Deus não são apenas os da própria família.
Maria e os familiares vão tentar encontrar-se com Jesus para
esclarecer esta situação. Diz o texto: «entretanto, chegaram a sua mãe e os
seus irmãos, que ficaram fora e mandaram-no chamar. A multidão estava sentada à
sua volta quando lhe disseram, a tua mãe
e os teus irmãos estão lá fora à tua procura e, olhando para aqueles que
estavam à sua roda, declarou: eis a minha
Mãe e os meus irmãos. Quem fizer a vontade de Deus esse é meu irmão, minha irmã
e minha Mãe».
Estava mesmo doido. Os limites do cristianismo não são as
outras religiões ou os ateísmos, etc.. São os que não reconhecem que ser irmão
é a vocação de todo o ser humano. Assim se responde aos que criticam Raimon
Panikkar. O cristianismo só tem um limite: a
exclusão do outro, religioso ou não.
3. Em nome do cristianismo,
em nome da sua exclusiva posse da verdade, foram muitas vezes condenadas as
outras religiões, pois a verdade e o erro não merecem o mesmo respeito.
Do anátema passou-se à tolerância. Não eram igualmente verdadeiras,
mas para superar as guerras de religião, o melhor era suportá-las. Mal menor.
O pluralismo humano e cultural apontava para algo mais
positivo. Nasceu a teologia sobre as outras religiões, baseada na pergunta:
qual a significação que a diversidade religiosa pode ter no plano de Deus?
Quando as religiões eram atacadas pelos mestres da suspeita, alguns teólogos insistiram em mostrar que o
cristianismo estava imune a esse negativismo, pois não era uma religião. Nesta
astúcia há algum fundamento. Por fim, surge o diálogo inter-religioso como uma bênção. Se a forma de viver como
humanos é o diálogo, e fora do diálogo não há salvação, as religiões devem dar
o exemplo que lhes tem faltado.
Por vezes, as mesas-redondas que o devem favorecer, com a
preocupação de vender o seu peixe e
mostrar as virtudes da própria religião, esquecem o próprio diálogo. Este, para
ser frutuoso, deve implicar em todos a respectiva autocrítica e a vontade de conversão,
de reforma. Um diálogo autêntico altera os que nele intervêm. Não pode ceder à
lógica dos debates partidários, preocupados em vencer o adversário. Se a lógica
do diálogo inter-religioso é a escuta e a busca, é normal que os participantes
possam dizer no fim: estamos melhores, podemos continuar e alargar o caminho da
unidade na diferença.
O que se pede hoje aos discípulos de Jesus de Nazaré, o doido da família, é que tenham
suficiente loucura para não se acomodarem à lógica dos donos deste mundo, à do
carreirismo eclesiástico, à do poder das religiões e que não atraiçoem o Pai
Nosso que rezam de mãos dadas na Missa. Ou será que Deus fora da Missa deixa de
ter família?
10. 06. 2018
[1]
Raimon Panikkar. Centenari d’un savi del
nostre temps, FocNou, 2018, nº 483. Ano XLV.
[2]
Mc 3, 20-35
[3]
Jo 9
terça-feira, 5 de junho de 2018
SANTARÉM - PRIMEIROS VOTOS
Eu quero seguir Jesus
04 de Junho de 2018
O noviço italiano Gabriele Messori fez a sua primeira profissão religiosa como irmão missionário no Instituto Comboniano numa celebração alegre e colorida que decorreu no Noviciado Europeu de Santarém, Portugal, na tarde do sábado, 2 de junho de 2018.
…
Este ano, 41 jovens entraram oficialmente no Instituto Comboniano através da profissão religiosa: 36 são africanos, três latino-americanos, um é asiático e o Gabriele é europeu.
domingo, 3 de junho de 2018
APOSTAR NO GÉNIO Frei Bento Domingues, O.P.
1. Os dominicanos
franceses, A. Couturier e P. Régamey, directores da famosa revista L’ Art Sacré (dos anos 50 do século
passado), impuseram a si próprios, como critério nas escolhas dos artistas
a convidar para as encomendas de novas igrejas, o de apostar no génio! Este critério deveria ser anterior às
considerações de ordem confessional. Partiam da convicção de que, numa grande
obra de arte, está inscrita uma abertura à transcendência. Os resultados da
aplicação concreta deste critério foram admiráveis e inspiradores. O Movimento
de Renovação da Arte Religiosa (MRAR) em Portugal, no século XX, foi
profundamente influenciado por essas exigências[1]. A bela exposição no
Convento de S. Domingos (Alto dos Moinhos) para celebrar os oitocentos anos da
presença dominicana em Portugal (1216-2016) testemunha a importância dessa
lucidez religiosa[2].
Alegra-me que o cardeal Gianfranco Ravasi, presidente do
Conselho Pontifício da Cultura, tenha assumido as preocupações inscritas na
metáfora do padre Alain Coutourier: apostar
no génio. Já deu muitas provas dessa esclarecida
visão. Agora, marcou a presença do Vaticano na Bienal de Arquitectura de Veneza,
na ilha San Giorgio Maggiori, um bosque com vista para o mar, com a construção
de 10 capelas de dez arquitectos de vários países e continentes. Entre eles
está o arquitecto português Eduardo Souto Moura. A encomenda da Santa Sé não lhes
exigia um templo cristão. Tinha apenas de ter uma mesa para pousar um livro.
Isabel Salema apresentou, neste Jornal, a história da encomenda das capelas e,
especialmente, a realização e as convicções de Souto Moura[3].
2. Quando se
aborda a relação da Igreja com estes temas, é indispensável saber de que se
fala ao usar a palavra igreja. Se
pensamos apenas nas hierarquias, ficamos sem saber quais são os critérios
democráticos da sua representatividade. Em princípio, todos os seus membros devem
poder dizer: a igreja somos todos nós.
A igreja são os seus membros e só, indirectamente, designa os templos mais ou
menos belos, com ou sem paredes.
No plano da cidadania e da política, não basta dizer que a igreja
é plural e cada um decide como quiser. Esta afirmação alimenta alguns equívocos.
Confunde a igreja com a hierarquia e não deixa ver o que é a liberdade eclesial
na construção da sociedade, seja a nível económico, político ou cultural. Em
nome da liberdade cristã, não vale tudo. Esquece-se, principalmente, o
confronto com a prática histórica de Jesus e com os seus equivalentes no mundo
actual. Sem este confronto, vingam as respostas sempre prontas a servir, pela
hierarquia, e deixa de ser o Evangelho a questionar os próprios cristãos. O
cristianismo e os seus valores passam a ser, apenas, uma etiqueta para quando
dá jeito.
Importa sublinhar que Jesus questionou, durante toda a sua vida
pública, a religião em que foi educado e que legitimava tudo – o certo e o
errado – em nome da vontade de Deus inscrita na Lei e nas Tradições ancestrais.
Jesus tinha antepassados no profetismo de Israel. Os profetas
não eram adivinhos. Eram pessoas clarividentes, lúcidas, acerca do que estava a
acontecer e das decisões que abriam ou fechavam o futuro. A preocupação e a
ocupação deles era o presente, para tornar a população consciente do que estava
a arriscar, segundo as opções que tomava. É interessante saber que essas vozes
incómodas foram rareando e os escribas e doutores da lei entretinham-se em
subtilezas que deixavam os que já estavam mal ainda pior, fosse em que domínio
fosse, religioso ou profano. Nesse mundo, Deus era antigo, a Lei era antiga, os
seus intérpretes constituíam uma antiga casta de legitimação de interesses ou
de conquista de posições. João Baptista lutava por uma mudança moral, mas não alterava
as antigas representações nem de Deus nem das suas leis.
Jesus foi educado num mundo em que a própria religião se
tinha tornado a cadeia dos que não tinham defesa. Ele era um leigo. Não tinha frequentado
nenhuma das escolas famosas da época, mas a sua experiência de Deus mostrou-lhe
que nem da religião nem das leis sociais vigentes se podia esperar o Reino da
alegria.
A sua intervenção libertadora, muito concreta na história de
há 2 mil anos, foi interpretada pela poética do Apocalipse, no horizonte de uma
renovação total do mundo, sem data marcada: «Vi, então, um céu novo e uma nova
terra… Eis que faço novas todas as coisas… Eu sou o Alfa e o Omega, o Princípio
e o Fim e a quem tem sede darei gratuitamente da fonte de água viva. O vencedor
receberá esta herança e eu serei o seu Deus e ele será o meu filho»[4].
Jesus de Nazaré desfatalizou
a história. Nada tem de ser como está. A juventude de Deus é a força da
renovação do mundo.
3. O Papa
Francisco, numa conversa com Thomas Leoncini, afirma que Deus é jovem[5].
Um amigo disse-me: é um título oportunista adaptado à publicidade, sabendo que,
desde há muito tempo, se repete que Deus não é velho nem novo. Morreu, acabou e
acabou também a cultura que se baseava nessa referência. É certo que a Igreja
Católica tem feito um certo esforço de renovação em muitas áreas. Chegou mesmo
a reunir um Concílio, em meados do século XX, para falar, de forma simpática,
da Igreja no Mundo contemporâneo, Mundo esse que o Vaticano, do século XIX,
tinha condenado de todas as formas e feitios.
Parece-me que esse amigo está completamente enganado pela
catequese que recebeu e pelas missas que frequentou até ao dia do desengano em
que tudo, na religião, lhe cheira a passado e a mofo. As imagens do Inimaginável, com que foi intoxicado
pelas beatices bem-intencionadas, resultaram na sua alergia actual. Precisa de apostar no génio que é o Papa Francisco
e no Deus que renova a sua juventude.
[1]
João Alves da Cunha, UC Editora, 2015
[2]
Os Dominicanos em Portugal
(1216-2016), Coord: António Camões Gouveia, José Nunes, O.p., Paulo F. de
Oliveira Fontes, UCP Lisboa, 2018
[3]
Público, 26.05.2018, pp. 32-33. Não
foi por essa magnífica Capela que este arquitecto recebeu o Leão de Ouro, a distinção máxima da
Bienal de Arquitectura de Veneza, mas pelo complexo
turístico de São Lourenço do Barrocal, recuperação de um monte
alentejano e a sua adaptação a hotel.
[4]
Ap 21
[5]
Planeta, 2018.
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