quinta-feira, 26 de julho de 2018

MAFARRICO - Laureano - 1959


  Mafarrico



A vinha do verde vinho

Traz a verdade ao de cima

A pinha do verde pinho

Só de olhá-la nos anima.



Viu-se na televisão

A famosa discussão

Que se deu no Parlamento

Provocada por conflitos

Acesos nesse momento

Que trouxe à baila os palitos.



Protestava o deputado

Invocando mil razões

Contra as argumentações

Do ministro que, zangado,

Não gostando dos protestos,

Não economizou gestos

E nem deles fez segredos,

Levantou sobre a cabeça

Os indicadores – os dedos –

Num sinal que disse tudo,

Não é coisa que se esqueça.

O povo, primeiro mudo,

Logo fez a tradução

De tal gesto estranho e raro,

Desatando a rir, é claro.

Resultado: a demissão.



Das hilariantes cenas

Que a Assembleia produziu,

Exibir o par de antenas,

Coisa que nunca se viu,

Não dá muito boa imagem,

Mas é acto de coragem

 – coragem a dois por cento,

Como se pode entender,

Pois coragem a valer

É o que falta em São Bento.



Fez lembrar um mafarrico,

Porém, convencido fico

De que há por lá muitos mais,

Mas não querem dar sinais.



Oh, que desvariação

No coruto da nação!



Lauro Portugal, Versos Desvariados  (prep.)

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