1.O crente não tem de ser anti-ateu. Será que o ateu terá
de ser anticrente?
Sucede que a novidade hoje já não é o ateísmo; é a
atitude anti-religiosa. O que mais impressiona actualmente
não é haver quem não tenha fé; é haver quem
hostilize quem pretende viver a fé que tem.
2. O regresso da intolerância – assinalado recentemente por
Lídia Jorge – não é um exclusivo da religião.
A intolerância vai assumindo também uma feição cada vez
mais anti-religiosa.
3. No ocidente, esta intolerância não é feita através de uma perseguição
declarada. Ela é tecida sobretudo através de condicionamentos
e depreciações.
Na hora que passa, a religião não é abertamente combatida.
Mas a sua expressão é crescentemente limitada e teimosamente
retorcida.
4. Polarizado o tempo em torno do instante, o perene da mensagem
tende a ser zurzido como retrógrado, desfasado.
As manifestações de fé são, muitas vezes, truncadas e distorcidas.
Há quem as apresente com um ar escarnecedor e zombeteiro.
5. À semelhança dos outros poderes, também o poder mediático
não é favorável à religião.
Em nome de uma presumida neutralidade, opta-se geralmente
por um silenciamento. Este é pontualmente quebrado para expor
aspectos marginais. Ou então – como tem sucedido ultimamente
– para explorar «ad nauseam» algumas fragilidades.
6. Acontece que, dada a sua capacidade para influenciar, os
«media» acabam por formatar a sensibilidade das pessoas acerca
da religião.
São muitos os que validam a mais improvável informação sem
cuidar de conferir a respectiva veracidade.
7. Quem lê os documentos da Igreja? Quando muito, lê-se o
que é dito – e mostrado – sobre tais documentos.
Sem nos apercebermos, não debatemos o que dizem directamente
os Padres, os Bispos e o Papa. Passamos o tempo a discutir o
que sobre eles passa nos jornais, nas televisões e nas redes sociais.
8. Dir-se-á que é a realidade, a que temos de nos habituar.
O problema é que aquilo que é veiculado parece partir de arquétipos
e preconceitos anti-religiosos.
9. Quantas não são as vezes em que temos de coar o que nos
é transmitido, encaminhando os interlocutores para o encontro
com a realidade e com as fontes?
Mas há sempre quem tome uma possibilidade como um facto
consumado. E não falta sequer quem transforme uma mera suspeita
numa definitiva – e impiedosa – sentença.
10. Acresce que nesta intolerância quase ninguém repara.
O direito de não crer é indiscutível. Mas será que o dever de
respeitar quem crê é menos sagrado?
José António Teixeira - Teólogo in Diário do Minho
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