sábado, 29 de dezembro de 2018

Até para o ano, se Deus quiser - Luis Sousa, DM

Os períodos do Natal e de final do ano trazem com
eles a oportunidade de refletirmos um pouco sobre
o nosso papel no meio em que vivemos, tentando,
cada um de nós, na medida do possível e
da nossa vontade, imprimir uma dinâmica mais
proativa na construção de uma sociedade melhor.
Na generalidade, nesta quadra curta, fazemos mais pelo próximo
do que nos restantes longos meses do ano, lembrando-nos
de ser mais generosos para com os que nos rodeiam e pensando
um pouco mais naqueles que precisam.
Estes finais de dezembro são, de facto, lufadas de ar fresco
na sociedade tão quezilenta em que vivemos. São balões de oxigénio
que nos fazem bem, apesar de tardios no ano que finda.
Mas, se deixar tudo para a última não fosse um hábito tão português,
eu seria o primeiro a estranhar o porquê de muitos de
nós reservarmos apenas estes finais de ano para nos lembramos
dos nossos amigos ou os nossos familiares. Diria que, imbuídos
por um espírito Natalício, tentamos ser, por esta altura,
um pouco melhores do que aquilo que efetivamente demonstramos
ser no resto do ano. E, por tudo isto, vem-me à memória
o tão famigerado chavão natalício que nos diz: – Natal deveria
ser todos os dias!
Felizmente, o Natal, sendo uma celebração com raízes e fundamentos
marcadamente Cristãos, tem o condão de incluir e não
excluir, havendo espaço para os que o vivem focados em Deus
e para aqueles que, sendo ateus ou professando outros credos,
partilham e comungam de um modo próprio os mesmos valores
cristãos. Esta capacidade de acolhimento, a que a Igreja dá o
exemplo, não é, de todo, lamentavelmente, refletida na forma
como determinados setores da sociedade se indignam perante
vivências de fé que outros manifestam. Por que razão tanto espanto
e indignação com a expressão «Até amanhã, se Deus quiser
» que uma pivô da estação pública utilizou para se despedir
dos telespectadores? Não sei se esta expressão, tão enraizada na
nossa cultura, foi proferida pela jornalista, com sentido religioso
ou não, mas, independentemente disso, tem critérios para se
encaixar naquilo a que chamamos de insulto?! Ofende, exclui,
discrimina?! Temos mesmo que viver num mundo de pessoas
«tábuas rasas» onde manifestar crenças, valores, fé, assumirmos
um ideal que é nosso, e apenas nosso, pode ser entendido como
fator de exclusão do outro ou discriminação do próximo?
Espanta-me esta nova moral vigente, que nem provérbios
com animais nos quer deixar usar, levando ao extremo do irracional
o politicamente correto. Vive-se, hoje, numa sociedade
estrangulada pela intolerância, onde o que é tolerável se encaixa
num espaço cada vez mais confinado e onde uma nova
moral se quer impor àquilo que são os nossos valores tradicionais,
culturais, civilizacionais e históricos. A forma como opiniões
contrárias são trucidadas no espaço público amordaçam
e ensombram qualquer ensejo de liberdade que sonhamos ter
para o século XXI. Por isso, vemos redes sociais pejadas de insultos
e maledicência, como se a boa educação ficasse algures
perdida no meio da rede, nesse mundo infinito do world wide
web. Como é fácil deixar cair os filtros da boa educação perante
um teclado, no mundo virtual, quando nos deparamos com
uma opinião diferente da nossa!
E por aqui me fico. Até para o ano, se Deus quiser.

Sem comentários:

Enviar um comentário