Após o primeiro dia de Fórum em que se falou da Iniciação Cristã nas várias Igrejas, o segundo dia haveria de começar com um sacerdote da Ordem dos Padres Carmelitas Descalços, ordem religiosa fruto da reforma do carisma carmelita, durante o período da Contra Reforma, tendo sido reconhecida em 1593 pelo Papa Clemente VIII como uma Ordem Autónoma, na sequência de uma vontade de aprofundamento da fé por parte de Santa Teresa D’Ávila que entendia que a vida conventual onde se integrou inicialmente, designadamente o respeito pelo enclausuramento, estava demasiado relaxada pelo que decidiu fundar novos conventos de regras mais apertadas e comunidades mais pequenas para que se pudesse criar uma genuína atmosfera de fraternidade e partilha e prosseguir assim o caminho da Perfeição, tendo incutido em S. João da Cruz a ideia de que, ele próprio, deveria também iniciar mosteiros com idênticos objectivos para homens, o que viria a acontecer. E assim se mantém até hoje a separação entre a Ordem do Carmo e a Ordem dos Padres Carmelitas Descalços.
Pelo que nos foi dado conhecer, foi possível verificar que na Domus Carmeli, propriedade dos Carmelitas Descalços, onde o Fórum decorreu, prossegue-se uma tradição austera com corte profundo com o exterior. De facto, não obstante a boa qualidade das instalações e das refeições, causou alguma estranheza a inexistência de um televisor nas áreas de descanso e relaxamento comuns, não os havendo também nos quartos de cada hóspede, sobretudo porque o dia havia sido pesado.
E falou-se, nesse segundo dia, sobre “A Palavra acolhida que se faz vida”, com grande profundidade, um tema que denotou no orador, P. Pedro Ferreira, um profundo conhecimento e sólido testemunho da sua vida contemplativa e apostólica que afirmou que se foi perdendo a reflexão sobre a palavra que o Concílio Vaticano II recuperou, mas pouco.
Invocou S. João Batista que dizia “Eu sou a voz…” que é melhor que a palavra, embora João Batista não fosse ele próprio a Palavra.
Segundo o orador foram três os santos que introduziram a Palavra como essencial:
– São Mateus, (12:22), no episódio em que Cristo dá luz e voz a um possesso cego e mudo despertando na multidão o sentimento de que Ele é o filho de Deus, ao contrário dos fariseus que pensavam que expulsava demónios porque era o seu chefe. “Porque pelas tuas palavras serás justificado e pelas tuas palavras serás condenado” (Mt. 12:37);
– S. João, na sua primeira carta onde afirmou: “… e que se manifestou a nós o que nós vimos e ouvimos, isso vos anunciamos, para que também vós estejais em comunhão connosco”. O poder da Palavra é converter-vos em filhos de Deus;
– S. João da Cruz, no Livro 2, capítulo XXII, “Uma palavra falou o pai e di-la sempre em eterno silêncio”.
Na liturgia, que não são as cerimónias que o padre executa lá à frente, acolhemos a palavra que se faz vida e introduziu no tema a Virgem que é o modelo perfeito e acabado da Igreja, como resultado de um enxerto. A leitura da palavra tem muita diferença, pois o conceito de leitura conciliar é muito diferente na prática. É importante que se reze e leia na língua mãe. Por outro lado a palavra é uma coisa e outra coisa é o que o homem faz. A palavra esquece-se porque o rito desvirtuou a palavra, embora esta necessite do rito. Contudo, embora por vezes pareça que não faz efeito, de facto faz, tal qual na concepção que só algum tempo depois se manifesta.
E voltou ao silêncio tantas vezes invocado como um bem por muitos oradores, mas o modelo do silêncio é feito pelo Pai, que não fala!
Foi um fim-de-semana em que foi lançada a semente de vida sobretudo pela Palavra rumo à Fé que nos move.
Américo Lino Vinhais
Gabinete de Comunicação
Gabinete de Comunicação
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