segunda-feira, 22 de março de 2021

Terá futuro, a língua portuguesa? - LAUROPORTUGAL

 

SOMOS PORTUGUESES, MAS WE SPEAK ENGLISH!

(Terá futuro, a língua portuguesa?)

 

Lamentável e contra-sensual, no mínimo, é haver gente nada e criada aqui, em Portugal, que a toda hora, em qualquer lugar ou circunstância, utiliza termos e expressões em inglês, quando bem podia usar os correspondentes em português. Por que há-de dizer-se “task force”, por exemplo, quando se pode utilizar “grupo de trabalho”? Por vaidade? Por ser moda? Por ser “nice”?

“Se não for travada a entrada na nossa língua de estrangeirismos desnecessários”, afirma José Eduardo Agualusa, “Portugal não deixará de ficar de joelhos”. Também João de Araújo Correia sentencia: “Se Portugal perder o bom uso do Idioma, não perderá as algemas. Terá de se conformar com a escravidão.”

 

“All together now” é letra de um tema dos Beatles. Em 2018 a BBC estreou uma mostra de talentos com o mesmo nome. Agora, em Março (2021) a TVI avançou com o formato inglês (como não podia deixar de ser, já que somos uns “macacos de imitação” – não é preciso dizer em inglês “copy cats” –, incapazes de criar algo), “All together now”, evidentemente. A maioria dos participantes CANTAM EM INGLÊS, claro.

 

Naturalmente a “cereja no bolo” tinha de aparecer. E apareceu. No Festival da Canção deste ano (2021). OS BLACK MAMBA VENCERAM COM UM TEMA CANTADO EM INGLÊS (“Love is on my side”). Não está aqui em causa a valia do quinteto que obteve passaporte para Roterdão, valia que tem, com certeza, já que há dez anos se mantém na cena musical. O problema é que o REGULAMENTO DO FESTIVAL NÃO IMPEDIA A CANDIDATURA DE CANÇÕES EM INGLÊS! Regulamento emanado pela televisão promotora do festival no nosso país, A RTP, A TELEVISÃO PORTUGUESA, empresa pública, que duas vezes recebe subsídios dos cidadãos: directamente do Estado (que somos todos) e pela “contribuição audiovisual” na factura da electricidade de cada cliente. NÃO LHE CABE A OBRIGAÇÃO DE DEFENDER/DIFUNDIR A LÍNGUA PORTUGUESA? Mas, para cúmulo da estupefacção, a canção dos “Black Mamba”, que no final estava empatada com o tema “Por um Triz”, acabou vencedora, pelos votos do público! O PÚBLICO PORTUGUÊS VOTOU POR UMA CANÇÃO EM INGLÊS! Mas em que país estamos?

 

Assim, não tenhamos dúvidas: Portugal corre o risco de perder a identidade, tornando-se, no dizer de Eduardo Lourenço, “um ser intrinsecamente mortal”. Haverá tempo – e vontade – para inverter a situação? É que já estamos a assistir a um conjunto de profundas alterações que descaracterizam o idioma português.

Sei que este escrito não passa de uma análise factual com pouca visibilidade, um alerta contra a negligência que nos impele a deixarmos de ser nós próprios. Das opções que fizermos hoje dependerá o futuro da nossa língua – o nosso futuro. Porque o desleixo faz-nos correr o SÉRIO RISCO DE A LÍNGUA PORTUGUESA, A LÍNGUA DE CAMÕES, DE AQUILINO, DE PESSOA – A NOSSA LÍNGUA – NÃO TER FUTURO.

 Laureano Leitão - Antigo Aluno Comboniano

 

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