Saídas do seminário como as que vos relatei da última vez aconteciam volta e meia. Sobre elas era guardado o mais ruidoso silêncio! Nada de comentários. Parece que havia o receio que a moléstia se propagasse. Claro, isto acontecia naqueles anos mais penumbrosos . Mesmo assim, nós entendíamos que os seminário religiosos já eram muito abertos a alguma modernidade por comparação com o que se passava com os seminários diocesanos. O facto de a maioria dos padres e prefeitos serem italianos contribuiu para que esta abertura se fizesse mais cedo. Quase todos eles tinham já experiências internacionalistas e interculturais. Mas uma das coisas que se manteve por alguns anos e que contribuiu para experiências menos agradáveis nestas mudanças de rumo, sendo até causa de alguma revolta, era o ostracismo a que muitos destes colegas eram votados. Desde logo pelos superiores do seminário que não gostavam de os ver por perto não facilitando por vezes a sua reintegração escolar nas escolas oficiais. Aliás o próprio Estado se encarregava de criar dificuldades, não reconhecendo habilitações. Salazar em conluio com Cerejeira! Quase que parecia vigorar a ideia de que quem saísse teria que sofrer um castigo por isso. Há alguns colegas que demoraram anos a ultrapassar alguma revolta interior pela forma como foram tratados quando , por decisão própria ou alheia, tiveram que mudar de rumo. Eu ,felizmente, não tive essa experiência.
Há dias falei-vos do meu mestre de barbearia, o Luis Afonso. Foi ordenado padre. Alguns anos depois e estando em Itália, quis fazer uma experiência fora da congregação. Parece que só encontrou dificuldades pela frente. Acabou por sair e hoje é um bem sucedido empresário turístico em Milão ,se não me engano. A revolta pela forma como foi tratado durou anos e deu origem a um pequeno livro ( Expulso da Liberdade) que colocarei por email à vossa disposição para leitura. Este livro é uma espécie de catarse que o Luis Afonso tenta fazer para se reencontrar com o seu passado. Há muitos anos que não estou com ele. Talvez desde 1963. Imaginam, portanto, qual seria a minha satisfação se ele aparecesse num dos nossos próximos encontros. Eu espero que tal aconteça. Foi ele que me ensinou a poupar as orelhas do saudoso Pe Poda. Revisitaremos com prazer momentos de outra época, que ,apesar de tudo, muito contribuiram para sermos os homens que hoje somos.
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O Luis Afonso é o 4º do banco a contar da direita |
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