sexta-feira, 30 de outubro de 2015
Misericórdia é o tema da Semana dos Seminários 2015
“O sacerdote, homem chamado e escolhido de entre os outros homens, é fruto do olhar misericordioso de Jesus, que quer salvar a todos. Não se trata de alguém perfeito, irrepreensível e santo, mas de alguém para quem o Senhor olhou com misericórdia, sem explicação nem motivação compreensíveis”,
terça-feira, 27 de outubro de 2015
Colocada estátua de Comboni no santuário de Guadalupe
"...O P. Erasmo Bautista, superior provincial, com o seu conselho, convocou os confrades e amigos para participarem nesta cerimónia de entronização e bênção de uma escultura de São Daniel Comboni, em bronze, no maior santuário mariano do mundo..."
domingo, 25 de outubro de 2015
SÍNODO DAS FAMÍLIAS OU DOS BISPOS? (2) Frei Bento Domingues
1. Perguntaram-me, com razão, na sequência do texto do
Domingo passado: O Sínodo das Famílias até pode ser uma boa ideia, mas que se entende,
hoje, por Família?
O documento de
trabalho para a preparação do Sínodo (2014) apresentou as situações inéditas que teriam estilhaçado, nas últimas décadas, a
significação mais óbvia de família ou assim considerada.
O texto de O. Bonnewijn, reprodução de uma sua conferência em
Cracóvia, tenta descrever e avaliar as chamadas famílias pós-modernas[i].
Estas seriam o resultado de uma desconstrução crítica e de uma reconstrução
livre, com as peças desconjuntadas das concepções tradicionais dos
agregados familiares.
Como é que isso foi acontecendo? Procurando, por um lado,
reinventar - ao sabor e à medida de projectos individuais e sociais - a
constituição e a articulação de laços, papéis, sexos e gerações; por outro,
promovendo, ao máximo, os valores de autonomia criativa e optando - no sentido
ultraliberal do termo – pelo desenvolvimento pessoal, pela qualidade relacional, pelo desabrochamento afectivo e sexual.
Ao concretizar um modelo igualitário, democrático e
contractual, as famílias pós-modernas julgam estar a realizar uma revolução antropológica
e cultural, fruto de um progresso decisivo e irreversível da humanidade.
Nesta perspectiva, as novas concepções seriam o dobrar dos
sinos das famílias-clã pré-modernas, isto é, um sistema patriarcal de tendência
holística, sem espaço privado, cuidando apenas em transmitir a vida e o
património.
O dobrar dos sinos recai
também sobre as famílias nucleares modernas, pelo menos na sua forma
conservadora: um homem entregue à produção, unido a uma mulher destinada à
reprodução e às tarefas domésticas. Este modelo sócio-cultural estaria fundado
sobre a desigualdade dos parceiros e dos seus respectivos papéis, sobre uma
definição naturalista dos sexos e num certo machismo hétero-sexista, sobre
valores do dever, do sacrifício e da rentabilidade industrial. Esse tipo de
família, fabricado pela burguesia, teria sido sacralizado pela Igreja e
difundido como um ideal nas classes trabalhadoras.
2. Estamos, agora,
perante modalidades radicalmente novas de agregação familiar, assim
caracterizadas: modalidade heterossexual, recomposta ou não: um homem e uma
mulher vivendo em conjunto sem compromisso civil ou religioso, com ou sem
filhos; modalidade homossexual, declarada homo-parental, em caso de
parentalidade; modalidade celibatária, declarada monoparental, em caso de
parentalidade; modalidade de casamento institucional, hétero ou homo, aconteça
ou não depois de um divórcio e o que mais possa vir a acontecer.
A desconstrução e a
reconstrução atingem também a paternidade e a maternidade. Com ou sem a ajuda
da biotecnologia dá para haver várias “mães” e vários “pais” (ou nenhuns) da
mesma criança. Introduzindo uma separação entre o biológico e o social
construído, as famílias podem figurar como puros produtos culturais. A família
fundada sobre a diferença dos sexos e sobre a sucessão das gerações estaria ameaçada
de marginalização.
O ideal de uma genealogia clara e coerente que permita à
criança acolher, imaginar, pensar e configurar a sua própria filiação,
respondendo a perguntas elementares, parece também marginalizado: quem é meu
pai, quem é minha mãe, quem são meus avós, os meus tios e tias, os meus primos
e primas?
Os filhos não pediram para nascer nem são consultados à
nascença sobre o modelo cultural em que desejariam crescer, mas um dia vai ser
preciso responder às suas perguntas.
3. O Sínodo
cristão das famílias ainda se torna mais urgente nesta paisagem em mudança. O
amor humano (nas suas expressões eróticas, de amizade e de pura gratuidade) é
mais forte do que a morte e foi interpretado na Bíblia, como parábola da
Aliança indissolúvel de Deus com todos os seres humanos.
Quando duas pessoas convergem em desejar, por amor, fazer
família e resolvem casar, naquele momento, formam um só desejo. Nesse desejo há
uma vontade de que seja para sempre, uma continuidade no tempo. É uma promessa
de constância. Vivemos de acreditar, de prometer, de esperar.
Esquece-se, porém, algo fundamental: a própria declaração de
casamento é mútua, mas não é a dissolução de um no outro. Nenhum é anulado na
sua irrepetível originalidade. São duas fragilidades a convergir numa só
fragilidade, numa só “carne”. Não é o casamento de duas divindades imutáveis,
alheias ao devir, ao tempo, às vicissitudes da vida, ao imprevisível.
O amor de Deus por
nós é indissolúvel em todas as situações. O amor humano, dos seres humanos,
precisa de sabedoria e de prudência para ser fiel a si mesmo. É tarefa diária para
toda a vida e tem de ser do casal.
Quando se pergunta o que pode a Igreja fazer nas situações
acima referidas, pensa-se logo: que poderão fazer o Papa, os bispos, os
cardeais, os monsenhores, os cónegos e os padres? Esquece-se o essencial: estes
são Igreja na medida em que comungam com todos os baptizados. São serviços da
Igreja, mas é o conjunto das famílias que pode evangelizar a família.
25.10.2015
sábado, 24 de outubro de 2015
Papa anuncia a instituição de um novo Dicastério
“Decidi instituir um novo Dicastério com competência em relação aos leigos, a família e a vida, que substituirá o Pontifício Conselho para os Leigos e o Pontifício Conselho para a Família, e ao qual será anexada a Pontifícia Academia para a Vida”.
domingo, 18 de outubro de 2015
SÍNODO DAS FAMÍLIAS OU DOS BISPOS? (1)- Frei Bento Domingues
1. Há dias, um
amigo dizia-me, com ar sentencioso: a vida de uma pessoa, comparada com a
duração do mundo, não é apenas breve, é insignificante. Vós, os católicos, tendes
a mania de negar a evidência, inventando a ideia de vida eterna quando, de
facto, não passa de um fruto enganador da megalomania do desejo. Para não
entrar numa discussão estéril, citei-lhe uma frase de Manuel da Fonseca, mais
radical e evidente: isto de estar vivo,
ainda vai acabar mal!
A conversa tinha começado pelos rumores em torno do Sínodo
dos Bispos. Segundo este amigo, está a preparar-se a primeira grande derrota do
Papa Francisco. O seu raciocínio era simples: os bispos de todo o mundo dispõem
de um passado e do Direito Canónico que lhes oferece a ilusão - assim como à
Cúria vaticana - de mandar no imaginário de uma realidade universal, com uma
longa história de muitas configurações culturais e religiosas: a Família. Para
eles, as normas contam mais do que a felicidade ou infelicidade das pessoas e
dos casais. O Papa Francisco, pelo contrário, acordou para as exigências do
humanismo cristão, mas não conseguiu acordar os outros bispos do sono
dogmático.
Anselmo Borges fez
muito bem em apresentar um artigo de J. M. Castillo que mostra e documenta que
não existe nenhuma declaração dogmática que imponha a indissolubilidade
absoluta do casamento[i]. Nestas crónicas,
notifiquei, desde 1993, as posições que justificavam a possibilidade do acesso
dos divorciados recasados à Eucaristia,
assim como a discussão aberta em torno da indissolubilidade do Matrimónio que o
Direito Canónico impôs[ii].
Além disso, se a vida das pessoas é muito breve, a ética
inter-geracional não pode pensar apenas em termos do tempo curto das pessoas,
mas insistir no tempo longo: o mundo não começou agora nem vai acabar hoje. Não
é saudável deixar para o futuro o que já é possível resolver. A espiritualidade
do provisório, do pão nosso de cada dia, é parecida com o dito do poeta: não há
caminho, o caminho faz-se caminhando. De qualquer modo, o Evangelho de Jesus
Cristo segue a lei do alívio dos oprimidos, não a atitude farisaica que carrega
os abatidos sempre com mais pesos.
2. Ao que parece,
há agitações no Sínodo e fora do Sínodo, com ameaças de cismas, de cisões na
Igreja e não sei que mais!
Parece-me que se está a esquecer algo de muito elementar:
estamos perante o Sínodo dos Bispos sobre a Família, não do Sínodo das Famílias
traçando orientações para a sua caminhada segundo as diferenças de continentes
e culturas. Este virá a seguir. Agora estamos perante o Sínodo dos bispos
celibatários, com responsabilidades inalienáveis na Igreja universal,
confrontando pontos de vista antropológicos, cristológicos e pastorais para
oferecerem um bom contributo para a felicidade das famílias. Não alimento
sonhos delirantes nem visões apocalíticas sobre esta grande reunião.
Procurou-se esquecer o Vaticano II (1962-1995) que foi a
grande revolução católica do séc. XX. Agora, estamos a colher as consequências
desse vazio. Foram várias gerações que o não aprofundaram e que ouviram, a
vários níveis, as vozes que apresentaram a sua memória como uma desgraça para a
Igreja. Quando se julgava que estava enterrado para sempre, surge o Papa
Francisco estragando esse cálculo.
Muitos queixam-se de que é o no seio do clero mais novo que
surgem os padres mais reacionários. Talvez. São, porém, facilmente cooptados
pelos movimentos e grupos que desejam neutralizar o impacto Bergoglio, a nível
interno da Igreja e da sociedade. São manipulados que tentam manipular.
3. Em vez de
perder tempo com as atoardas sobre os possíveis cismas na Igreja, devido à
livre discussão que o Papa Francisco introduziu na sua orientação pastoral,
talvez fosse melhor começar a pensar e a desenhar o próprio Sínodo das
Famílias, segundo os continentes geográficos e culturais, a partir das
paróquias, dos movimentos, dos casais, de forma inclusiva, em termos de
caminhada, mais ou menos longa, segundo os contextos. Os Bispos têm mensagens e
orientações para as famílias, mas não serão as famílias que vivem experiências
de êxitos e fracassos matrimoniais a poderem apontar caminhos possíveis para a
felicidade familiar?
Várias vezes nestas crónicas, destaquei a falta de senso
quanto ao acesso dos divorciados recasados à Comunhão Eucarística, cuja
simbólica é uma ceia. Como é possível convidar uma pessoa para jantar e
dizer-lhe: vem, mas não podes comer!? Além disso, recomenda-se a estes pais -
cuja norma os impede de comungar - que preparem e acompanhem a comunhão dos
filhos. De repente, a criança pode pensar: mas a comunhão será só para
crianças? Aí começa a debandada.
18.10.2015
[i] Anselmo Borges, Casamento católico: indissolúvel? DN 10.10.2015; José Maria
Castillo, El Papa puede admitir a la
eucaristía a los divorciados vueltos a casar, Religión Digital, 26.08.2015
[ii] Frei Bento Domingues, A Humanidade de Deus, p. 203-206, 1995; As Religiões e a Cultura da Paz, p 88-91, 2002. Cf. Fidélité et Divorce, Rev. Lumière &
Vie, n.206, 1992 ; Francisco Gil
Delgado, Divórcio en la Iglesia. História y Futuro, 1993; Michel Legrain, Os
Divorciados e a Igreja, 1995
sexta-feira, 16 de outubro de 2015
Medalha de Mérito para o comboniano Francisco de Medeiros
"A Junta de Freguesia de Santa Clara, na Ilha de São Miguel, Açores, acaba de homenagear três personalidades, de entre as quais um missionário comboniano. O P. Francisco Alberto Almeida de Medeiros, de 64 anos, foi distinguido com o Diploma e a Medalha de Mérito de Santa Clara «pelo contributo dado à causa missionária além-fronteiras.» Nasceu em Fenais da Ajuda, mas os pais tinham residência em Santa Clara. Hoje, o missionário é superior da comunidade comboniana de Viseu, em Portugal, depois de ter trabalhado 24 anos na África do Sul, em dois períodos distintos."
Parabéns.
terça-feira, 13 de outubro de 2015
Dia de São Daniel Comboni
"Celebramos no sábado, 10 de Outubro, a Festa de São Daniel Comboni, fundador dos institutos Missionários Combonianos e das Missionárias Combonianas"...
"Daniel Comboni nasceu a 15 de Março de 1831, em Limone sul Garda, Itália e morreu em Cartum, Sudão, no dia 10 de Outubro de 1881. Foram apenas 50 anos de vida, devorados por uma grande paixão: a de levar o Evangelho até o coração da África, caracterizada pela miséria e pelo comércio de escravos."...
"No dia 10 de Outubro de 1881, em Cartum, Comboni sucumbe devido ao peso do cansaço e das febres, dizendo aos seus companheiros: «Coragem no presente, mas sobretudo no futuro. Eu morro, mas a minha obra não morrerá!»"
A comunidade da Maia celebrou a festa de Daniel Comboni no dia 12 de Outubro com uma palestra feita pelo Provincial, Pe. José Vieira, sobre o Capítulo em que participou. Seguiu-se uma Eucaristia presidida pelo Provincial de Moçambique com a participação de toda a comunidade e alguns convidados, após o que se seguiu um almoço e convívio.
Eu estive presente a convite do Pe. Dário e em representação dos antigos alunos.
segunda-feira, 12 de outubro de 2015
Pe. Francisco Machado - Rumo ao GANA
Depois de umas " curtas" férias entre nós para retemperar forças e celebrar em família os 25 anos da sua ordenação sacerdotal, o nosso colega Pe. Francisco Machado despediu-se de Portugal para retomar o seu trabalho no Gana. A despedida foi feita na Maia coincidindo com a festa da Comunidade local. Os colegas de turma do Pe. Francisco resolveram fazer-lhe uma surpresa e aparecer em força na Maia para lhe dar um abraço. O Coelho de Barcelos foi a força motriz deste movimento que congregou elementos das turmas de 77, 78 e 79. Foi pena não estarem todos, mas o óptimo é inimigo do bom.
UMA PROFECIA EM ACÇÃO - Frei Bento Domingues
1. Compreendo o
desejo, manifestado por alguns leitores, de não terem encontrado na crónica do
Domingo passado a transcrição integral dos referidos 10 princípios para um novo
humanismo de J. Kristeva. Talvez não tenham reparado que deixei, em nota, a
forma fácil de recorrer à sua tradução brasileira[i].
Estas crónicas nunca poderão superar o seu carácter
fragmentário. A abordagem dos acontecimentos ou dos temas selecionados pretende
apenas sugerir que é preciso pensar, questionar e debater se não quisermos ser
vítimas dos arsenais mediáticos, mais ou menos sofisticados, vozes diversas do
mesmo intuito de dominação.
Para Kristeva, a refundação do humanismo não é nem um dogma
providencial, nem um jogo de ideias. Confessa que se trata de uma aposta, isto
é, da coragem de apostar na renovação contínua das capacidades dos homens e das
mulheres, juntando crer e saber no
“multi-universo”, cercado de vazio.
Pertence ao novo humanismo o cuidado amoroso do outro, o cuidado
ecológico da Terra, a educação dos jovens, a assistência aos doentes, aos
deficientes, aos idosos, aos fracos.
O novo humanismo não será um regulador do liberalismo. Ao
contrário, será capaz de o transformar, sem inversões apocalípticas ou
promessas de futuros gloriosos. Não cede nem ao delírio nem ao niilismo.
Por outro lado, não tem um discurso fechado, seja em relação
ao passado, ao presente ou ao futuro. É uma aposta de trabalho, um caminho de
abertura e participação na revolução antropológica em curso, carregada de
promessas e ameaças. Ao juntar ousadia e humildade, criatividade e reavaliações
permanentes torna-se a via da sabedoria. O poder de dominação é a droga e o
veneno dos sonhos e projectos imperiais.
Por que razão, perguntava Rousseau, apenas o ser humano
corre o risco de se tornar imbecil? Ele conhecia a resposta: pode cometer os
maiores excessos, quer no mal quer no bem, por que não é guiado apenas pelo
determinismo da Natureza. Custa-lhe, por outro lado, tomar consciência da sua
finitude, do tempo que passa e da morte que o espreita. Tanto o culto de uma
religião alienante, como a rendição à pura imanência, não respeitam a
complexidade da condição humana.
2. Malebranche
dizia que entre todas as ciências humanas, a do homem é a mais digna dele, mas
não é nem a mais cultivada nem a mais desenvolvida. Kant, o grande filósofo da
modernidade, assinalou, com agudeza, a tarefa de uma antropologia filosófica
que deve responder a quatro questões: 1ª, que posso eu conhecer? 2ª, que devo
eu fazer? 3ª, que me é permitido esperar? e 4ª, o que é o homem?
À primeira pergunta, corresponde a metafísica, a moral à
segunda, a religião à terceira, à quarta corresponde a antropologia.
Acrescenta: todas estas disciplinas podem ser reconduzidas à antropologia, pois
as três primeiras desaguam na última.
Kant nunca chegou a escrever essa obra. Como diz Martin
Buber, embora tivesse nos seus escritos um conjunto de preciosas observações
sobre o conhecimento do homem, não abordou nenhum dos problemas que a
antropologia implica: o lugar especial do homem no cosmos, a sua relação com o
destino e com o mundo das coisas, a compreensão dos seus semelhantes, a sua
existência como a de quem sabe que há-de morrer, a sua atitude em todos os
encontros, correntes e extraordinários, perante o mistério.
Podemos, hoje, lamentar a linguagem machista destes
filósofos. Nunca poderiam ter convivido com os movimentos feministas. A questão
de fundo era outra: a diversidade sexual não era importante para a antropologia
filosófica corrente. Entretanto, muita água correu sob as pontes e a
transformação e a diversificação das ciências antropológicas mudaram
completamente o panorama. J. Kristeva pode agora escrever: O humanismo é um feminismo.
3. A proposta do
Papa Francisco assume muito bem esta aposta assim como a de muitos outros
cientistas, pensadores e activistas sociais. A Laudato Si desenvolve e integra a convicção de que tudo está
estreitamente ligado no mundo. A visão holística fica integrada no pensamento
social da Igreja. Esta perspectiva responsabiliza a política local e
internacional pela casa comum, nosso bem-comum. Tudo isso será bem acolhido
pelos crentes e não crentes que procuram uma orientação de responsabilidade inter-geracional para todas as dimensões
da vida humana. A originalidade do Papa Francisco não consiste apenas em
apresentar uma proposta que tem tido uma repercussão absolutamente
extraordinária, apesar de todas as resistências encontradas, dentro e fora da
Igreja. O que ele tem feito é ajudar a ver que nada pode ser resolvido se não
encararmos o mundo a partir dos excluídos, seja qual for o género de exclusão.
Mas mesmo isso podia ser apenas um enunciado doutrinal. O que ele faz é uma
convocatória universal. Mas uma convocatória é sempre para os outros. Ele
tornou-se, pela sua prática de vida pessoal e pastoral, uma convocatória. É
possível ser e viver de outra maneira. Ele é uma profecia em acção.
11.10.2015
[i]http://www.ihu.unisinos.br/noticias/502342-um-novo-humanismo-em-dez-principios-artigo-de-julia-kristeva
terça-feira, 6 de outubro de 2015
EXPOSIÇÃO DE ARTES PLÁSTICAS EM BRAGA - UASP
Está prestes a chegar o
tempo em que se iniciará a exposição que a ASSASB (Associação dos Antigos Alunos dos Seminários de
Braga), inserida no âmbito da celebração do 90º aniversário da fundação do
Seminário de Nossa Senhora da Conceição, programou num quadro alargado de
atividades/eventos tendo como principais agentes todos os antigos alunos
daquele Seminário (aproximadamente 8.600, desde a sua fundação), valorizando e
promovendo as manifestações da arte, mormente a pintura, escultura e artes
plásticas.
Essa exposição está também a ser patrocinada pela UASP, envolvendo-se
assim na iniciativa todas as Associações dos Antigos Alunos dos Seminários
Portuguesas.
A iniciativa tem vindo a ser divulgada pela UASP, mas também pelas
diversas associações, mais no sentido de evento e menos quanto à mensagem e
objetivos visados.
Para isso nada melhor do que dar voz à organização, designadamente ao
Dr. Manuel Domingos, a quem colocamos algumas questões. Não será fácil a
reprodução em poucas linhas de todo o manancial de informação e ideias que o
mesmo nos transmitiu durante uma conversa de mais de uma hora.
Em concreto formulamos as seguintes questões:
1. Que mensagem concreta se procura?
O conceito de sacerdote aos olhos de potenciais
candidatos é muito limitado e confunde-se apenas com obrigações de carácter
religioso e pouco aberto a outras valências dos indivíduos. Mas o sacerdócio
não é apenas isso, é também um campo de desenvolvimento de outras competências
no campo das artes, incutindo a ideia de que, para além das suas obrigações
intrínsecas, o sacerdote tem ainda tempo para dar largas à sua criatividade.
Sobretudo em freguesias mais isoladas temos verificado que os padres, sem que o
reconheçam de imediato, são depósito de inúmeras obras de arte, autênticos
mananciais de arte. Pretende-se que os padres, sobretudo os mais novos e os
candidatos, não se acomodem em ideias preconcebidas, sendo também uma
referência para a criatividade.
2. Que objetivos se visam?
Pretende-se valorizar a capacidade de todos na relação
com a arte como instrumento privilegiado ao serviço da evangelização, mas não
só para padres, também para leigos.
3. Como tem decorrido a preparação da exposição?
Com normalidade. Dentro da comunidade dos antigos
alunos dos seminários de Braga não tem sido difícil encontrar pessoas com obras
de arte de todo o tipo, designadamente nas artes plásticas, ainda que nem todos
reconheçam o seu valor, talvez por modéstia. Mas ainda não conhece se haverá ou
não obras de antigos alunos de outras associações, até porque decorre ainda o
prazo, mas está convicto de que aparecerão no momento próprio. Tem a perceção
de que nos seminários religiosos as apetências para as artes seria até superior
à dos diocesanos, pelo que espera que também estes venham a expor algumas
obras.
4. Quando aceitou o desafio da organização imaginou o
tipo de dificuldades que surgiriam?
As dificuldades são para vencer! Temos organizado
vários eventos e sempre as vencemos. Tratando-se de iniciativa de antigos
alunos a decorrer no seminário menor (da Tamanca como era conhecido ou de Nª
Srª da Conceição) é natural que a Diocese comparticipe de alguma forma. Quando
se deu a conhecer o programa a D. Jorge Ortiga este referiu que poderia apoiar
mas que não se esbanjasse! E não esbanjamos, nem sequer necessitaremos de
comparticipação financeira, basta-nos a logística. Mesmo no âmbito de dificuldades
iremos publicar um catálogo com as obras em exposição. É que são muitas as
valências dos antigos alunos que nos permitem realizar com qualidade e baixo
custo.
Finalmente apelou para a
participação de outras associações e que o façam rapidamente até para dar tempo
à elaboração do catálogo, tendo em conta que a exposição terá o seu início em
Novembro prolongando-se depois até Dezembro.
Américo Vinhais
Gabinete de Comunicação
Encerramento do Capítulo Geral: Mensagem dos capitulares
Mensagem dos capitulares
Queridos irmãos,
Paz em Cristo, nossa Vida!
...
No termo deste Capítulo, afirmamos que foi uma experiência de alegria e unidade que nos maravilhou: redescobrimos a beleza da nossa vocação missionária comboniana. O Senhor Jesus continua a chamar-nos a escrever o Evangelho da Misericórdia nas periferias sofredoras, entre os mais pobres e não evangelizados, muitas vezes descartados de um sistema de morte ou anulados pela indiferença.
Hoje, a realidade complexa da sociedade, da Igreja, do nosso Instituo faz-nos confrontar com os nossos limites de diversas maneiras. Mais que nunca, estamos convidados a uma profunda conversão pessoal, comunitária e institucional, ao encontro transformante com o Bom Pastor, coração do nosso carisma, e à requalificação dos nossos empenhos para sermos cada vez mais servos e colaboradores humildes da missão.
...
domingo, 4 de outubro de 2015
PAPA FRANCISCO, INCARNAÇÃO DO NOVO HUMANISMO - Frei Bento Domingues
1. Julia
Kristeva, de pais cristãos, nasceu na Bulgária, em 1941, onde frequentou a
escola dominicana francesa. Depois de uma pós-graduação na Universidade de
Sofia, aos 24 anos, foi para Paris.
Uma carreira brilhante fez dela uma professora de várias
universidades e uma figura cultural multifacetada: filósofa, semióloga,
psicanalista, romancista. Doutora honoris
causa de Harvard e prémio internacional Holberg, equivalente ao Nobel para
as ciências humanas apaixonou-se por uma espanhola do século XVI, Santa Teresa
de Avila.
Que poderiam ter a dizer-se uma psicanalista e uma santa
católica? A resposta surgiu num romance de 750 páginas[1]. Mais ainda do que um romance, dizem os críticos, é “um tratado de vulcanologia sobre a alma
de fogo da santa espanhola”.
Casada há 48 anos com Philippe Sollers, nesta época de
mexericos sobre divórcios, ousou escrever uma narrativa autobiográfica: “Do
casamento como uma das belas-artes”[2].
Para esta militante feminista, existe um humanismo cristão
intenso, incompreendido e que a cultura europeia deve reinterpretar
continuamente, se quiser sobreviver ao pensamento-cálculo. Pertence ao génio do
cristianismo – quando é fiel à sua vocação - a capacidade de acolher e a arte
de reciclar os contributos das culturas mais diversas.
Em vários cenários de diálogo entre crentes e não crentes,
esta grande intelectual, sente a urgência de despertar os participantes para um
novo humanismo, o humanismo do século XXI. Para Kristeva, a chamada era da suspeita já não é suficiente
para enfrentar os desafios civilizacionais que estão a bater às portas da nossa
época. Dispomos de todos os recursos para ver e prevenir o desastre, mas ao
faltar um humanismo inclusivo, não sabemos para que servem tantos meios. O
chamado desenvolvimento sustentável, sem a paixão por uma humanidade solidária
que cuida da renovação da natureza como casa de todos, sucumbe perante a teia
das máfias da ganância.
2. Nas Jornadas
de Assis (2011) J. Kristeva atreveu-se a formular dez princípios – não são dez mandamentos – para pensar as pontes
que importa reconhecer e construir com todos os universos culturais do passado
e da actualidade[3].
Na introdução à sua notável proposta, evocou a figura incontornável de S. Francisco, lembrando
que ele não buscava tanto ser
compreendido como compreender, nem ser amado como amar: despertou a
espiritualidade das mulheres com a obra de Santa Clara, colocou a criança no
coração da cultura europeia, ao recriar a festa de Natal. Antes de morrer, como
verdadeiro humanista, ante litteram, enviou
uma carta a todos os habitantes do mundo.
Na Divina Comédia, Dante Alighieri continuou a unir, em
Cristo, o divino com o humano, desenhando, numa língua nova, o humanismo
cristão. O divino e humano verdadeiros não são rivais. São aliados eternos.
Filho da cultura europeia, o humanismo é o encontro de
diferenças culturais servido pela globalização e pela informação. O novo
humanismo deve respeitar, traduzir e reavaliar as muitas variantes das necessidades de crer e dos desejos de saber, bebendo no património
universal de todas as civilizações.
A história não pertence ao passado: a Bíblia, os Evangelhos,
o Alcorão, o Rigveda, o Tao habitam o nosso presente. É utópico criar novos
mitos colectivos, mas também não é suficiente reinterpretar os antigos.
Cabe-nos reescrevê-los, repensá-los, revivê-los, dentro das linguagens da
modernidade.
3. É preciso
desfazer os equívocos gerados em torno das palavras, humanismo e cristianismo, para
compreender e participar no projecto admirável de Kristeva. Os fundamentalismos
da crença religiosa e da crença ateia têm impedido religiosos e ateus de
escutar as vozes da complexidade material e espiritual do mundo.
Para evitar as confusões, P. Ricoeur recusava a designação
de filósofo cristão, para evitar qualquer suspeita acerca da autenticidade do
seu método filosófico. Dizia-se um filósofo de expressão cristã, assim como
existem cristãos de expressão pictória, como Rembrandt ou de expressão musical
como Bach. Irritava-se quando lhe diziam: se você fosse chinês haveria poucas
possibilidades de ser cristão. “Não estão a falar de mim, mas de um outro. Não
posso escolher nem os meus antepassados nem os meus contemporâneos. Nasci e
cresci na fé cristã de tradição reformada. Mantenho-me nessa tradição,
confrontada indefinidamente, no plano de estudo,
com todas as tradições, adversas ou compatíveis, através de uma escolha
contínua”. Recusou a cristologia sacrificial que faz de Deus um monstro e do
ser humano um escravo. Não pode fazer parte de nenhum humanismo. Compreendo
todos esses cuidados.
O Papa Francisco incarna, no mundo de hoje, o humanismo
libertador de Jesus Cristo. Não só denuncia o que na religião, na finança, ou
na política mata a vida dos pobres e destrói a natureza, como se manifesta tão
humano que o divino respira em todos os seus gestos.
04.10.2015
quinta-feira, 1 de outubro de 2015
NOVO GERAL DOS COMBONIANOS - UM AFRICANO
Foto do novo Conselho Geral
"A encabeçar esta equipa representativa da continentalidade, internacionalidade e diálogo de gerações do Instituto está o novo superior geral, o P. Tesfaye Tadesse Gebresilasie. Tem 46 anos. É etíope e fez os primeiros votos em 1991. Foi ordenado em 1995 depois de terminar o curso de teologia em Roma. Trabalhou no Egito, Sudão e Etiópia antes de ser eleito assistente geral no Capítulo de 2009. É o primeiro superior geral africano dos Missionários Combonianos, fruto natural de um Capítulo que assumiu a interculturalidade como um desafio."
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