1. É sabido que ser homem
é ser nómada, peregrino,
viandante.
Mesmo quando nos
sedentarizamos, dificilmente
o fazemos por muito tempo
e no mesmo lugar. Muitas
vezes, só nos sentamos depois
de vencermos «toneladas» de
quilómetros.
2. Cada acção sedentarizada
programa habitualmente a
«próxima» acção sedentarizada.
Não raramente, esta ocorre
num sítio diferente e até pode
obrigar-nos a deslocações para
locais muito distantes.
3. São os efeitos da cultura
«next».
Se repararmos, nunca estamos
inteiros onde estamos.
no me desaires, la gente lo va
a notar; pues que digan lo que
quieran, contigo no he de bailar;
hechó mano a la cintura y
una pistola sacó; y a la pobre
de Rosita no mas, 3 tiros le dió;
Rosita está en el cielo, dandole
cuenta al Criador, Hipolito
está en la cárcel, dando su declaración…”.
Isto se passou, como
disse, em 1900. Já em Novembro
de 1933, aconteceu o
assassinato, numa “cantina” e
por rivalidades amorosas, de
um tal Agustín Jaime. “Agustín
bajava, a caballo, a ver a su
chata (Maria Garcia) que estaba
en Rio Bravo; bonito Saltillo,
no puedo negar, murió Agustín
Jaime, porque supo amar;
bonito caballo que Jaime montaba,
como era entendido, a
señas le hablaba”.
6 Infelizmente, os heróis
dos “corridos “ de hoje são outros).
Razão tem Trump, ao vigiar
bem a sua longa fronteira
(Califórnia, Arizona, Novo
México, Texas). Os “corridos”
de hoje celebram prósperos e
audaciosos traficantes de droga
(e agora, também de seres
humanos), ao pé dos quais a
“velha” Mafia do sul de Itália
lembra um educado pequeno
grupo de “meninos de coro”.
Estamos sempre com o pensamento
no «próximo» local, na
«próxima» actividade, no próximo
«projecto», etc.
4. Seremos mesmo «gente
que não sabe estar»? De facto e
à primeira vista, é o que parece.
Parece que deixamos de saber
«estar». O que mais fazemos
é «andar», «correr», «acelerar».
5. Tudo isto – no limite –
atira-nos para um paradoxo
existencial: por um lado, saímos
para «estar com» toda a
gente; mas, por outro lado, não
somos capazes de «estar para»
quase ninguém.
E é assim que vamos coleccionando
– à escala planetária
– «lugares de passagem». Não
arranjaremos tempo para desfrutar
de um único «lugar de
paragem»?
6. Dá a impressão de que
a mobilidade está a destapar
uma contínua – e entranhada
– insatisfação.
«Andamos», «corremos»
e «aceleramos» porque nos
sentimos insatisfeitos onde
estamos. Mas, pela amostra,
também não nos satisfazemos
muito nos espaços onde passamos
a estar.
7. Porfiamos, com extremos
de ansiedade, pela «próxima
» experiência. Mas quando
esta chega, facilmente a descartamos
com cominações de
decepção.
No fundo, o que mais consumimos
é a velocidade, a
pressa e a pressão. Quem, hoje
em dia, chega descansado de
uma viagem planificada para
descansar?
8. Desistimos de parar, de
contemplar, de valorizar o hoje
e de optimizar o agora. Estamos
numa terra e a pensar
no tempo que leva a chegar
ao «próximo» destino.
Em nenhum lugar nos sentimos
em casa. Passamos a vida
de malas feitas, passeando
pelo mundo o nosso irremediável
desconforto.
9. Até dentro de nós temos
dificuldade em parar. Até dentro
de nós não conseguimos estar
em nós.
Daí a necessidade de estarmos
sempre em movimento e
cercados de ruído. Nem de noite
nos recolhemos O encontro
connosco incomoda-nos?
Não espanta que o homem –
segundo Nietzsche – se tenha
tornado «o ser mais distante
de si mesmo».
10. Só em Deus descansaremos.
Só n’Ele venceremos
a «fadiga de ser eu» (A. Ehrenberg)
e a amargura de nos sentirmos
«apenas» nós.
Inquietos nos veremos enquanto
não repousarmos em
Deus. Só na Sua mão – como
poetou Antero – «repousa, afinal,
o nosso coração»!
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