1.Instintivamente, somos mais conduzidos
pelo prazer do que pelo dever.
O ideal era que os dois convergissem
sempre. É sabido, porém, que tal raramente
acontece.
2. Numa sociedade hedonista – e de alto
teor egocêntrico –, a maior ambição é fazer o que gostamos.
Mais difícil é gostar do que fazemos.
Há palavras – e atitudes – que repelimos com impulsiva
veemência. Uma delas é «obrigação». É claro
que há imposições que são inaceitáveis. Mas será que
temos consciência das obrigações que contraímos para
com a sociedade?
3. Pagar impostos, por exemplo, é uma obrigação
que nos onera e contraria. Mas não é ela necessária para
o bem comum?
É imperioso que muitos partilhem do que possuem
para que todos possam ter acesso ao que precisam.
4. É, contudo, notório que não é com prazer que cumprimos
tais obrigações.
É vital apelar ao sentido do dever. É deste modo que
a obrigação – mesmo a que vem do exterior – se vai
inscrevendo no nosso interior.
5. Xavier Zubiri notava que, muitas vezes, seguimos
pela via da «impelência». Há prioridades que nos «impelem
» a determinados actos e compromissos.
O sentido do dever – ainda que não nos agrade –
acaba por nos influenciar poderosamente.
6. No fundo, é muito o que fazemos porque somos
obrigados.
Mas nem por isso o valor decresce. Há obrigações
que fazem parte daqueles a que Sean O’Malley chamou
«momentos Simão Cireneu».
7. Como é sabido, quando Jesus caminhava para o
Calvário, houve alguém que O ajudou. Só que não O
ajudou porque quis; ajudou-O porque foi obrigado
(cf. Mc 15, 21). Não se tratou de um auxílio voluntário
mas imposto.
Sean O’Malley conjectura até que tal imposição terá
deixado Simão Cireneu «zangado, perturbado e frustrado
». Afinal, tomar parte «numa execução não consta
propriamente da lista dos desejos humanos».
8. Sucede que esse gesto viria a mudar a sua vida. Há
quem pense que ele e os seus filhos (Alexandre e Rufo)
se tornaram cristãos.
Aquele que foi o pior dia da sua vida viria a converter-
se, assim, na hora mais decisiva da sua existência.
9. Quem não passa por estes «momentos Simão Cireneu
»? Tanta cruz para carregar! Tantas imposições
para suportar!
No início, sofremos e pouco entendemos. Mais tarde,
porém, sentimos que aquilo que mais nos doeu foi
também aquilo que mais nos amadureceu.
10. A felicidade costuma derramar sorrisos.
Mas pode começar com a face sulcada de lágrimas e
com a alma coberta de dores!
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