domingo, 21 de janeiro de 2024

Uma questão de tempos! - Pe. Manuel João, MC

 Uma questão de tempos!

 

Marcos 1,14-20O tempo está cumprido e o Reino de Deus está próximo; convertei-vos e acreditai no Evangelho!

 

Com o terceiro domingo do Tempo Comum, retomamos o nosso caminho de fé, revivendo a aventura de Jesus tal como nos é apresentada no evangelho de São Marcos, o primeiro dos evangelhos, no qual podemos respirar a frescura dos inícios. Que o Espírito Santo nos conceda "a graça dos começos" para retomarmos o caminho com o entusiasmo da primeira hora! 

Estamos conscientes de que a tarefa está longe de ser fácil. A experiência dos nossos fracassos pessoais, o sentimento de cansaço a nível eclesial e o ambiente de indiferença e ateísmo que nos rodeia contribuem para nos desmotivar. Em todo o caso, a perspetiva de escolher entre duas alternativas antagónicas (não há terceira via!) pode estimular-nos: por um lado, o sério risco de sermos sugados pelo vórtice da falta de sentido da vida; por outro, a crença na perene novidade do Evangelho. 

No fundo, trata-se da escolha dramática que a palavra de Deus nos apresenta desde sempre: "Eis que hoje te proponho a vida e o bem, a morte e o mal". (Deuteronómio 30,15). Sabemos bem que, para percorrer o caminho da vida, precisamos da graça, pois: "até os jovens trabalham e se cansam, os adultos tropeçam e caem; mas os que esperam no Senhor recuperam as forças, ganham asas como águias, correm sem se cansar, caminham sem se fatigar". (Isaías 40:30-31).

 

1. Uma questão de "tempos"!

Gostaria de abordar a Palavra de Deus de hoje na perspetiva do "tempo". A categoria do tempo une as três leituras. 

Na primeira leitura, fala-se de uma questão de dias: Jonas é enviado a Nínive, "uma cidade muito grande, de três dias de caminho", e o profeta começa a percorrê-la "durante um dia de viagem", anunciando um prazo: "Mais quarenta dias e Nínive será destruída!"

Na segunda leitura, o apóstolo Paulo diz à comunidade de Corinto que "o tempo escasseia".

No Evangelho, Jesus proclama que "o tempo está cumprido!". Encontramos ainda no evangelho o advérbio temporal "agora", que é um forte apelo à urgência destes "tempos". 

Há tempos e tempos, tempos de "chronos" e tempos de "kairos", tempos neutros e tempos "oportunos". O nosso problema é não saber discerni-los (Lucas 12,54-56). "Tudo tem o seu tempo, e cada acontecimento tem o seu tempo debaixo do céu", diz o Qohèlet (3,1). Creio que se praticássemos o discernimento dos tempos, a nossa vida mudaria radicalmente. 

 

2. Há um tempo para cada coisa!

Penso, em primeiro lugar, que a anotação do Evangelho: "Depois de João ter sido preso, Jesus partiu para a Galileia, anunciando o Evangelho de Deus", é muito significativa. Há um tempo para começar e um tempo para terminar. João termina o "seu tempo" e Jesus percebe que chegou o "seu tempo": deixa Nazaré e vai para Cafarnaum, junto ao lago. Jesus sente que chegou o momento da passagem de testemunho e de assumir o lugar de João. Isto exige, de ambos, uma grande coragem: para Jesus, é o momento de assumir abertamente e arriscar a sua própria vida; para João, é o momento de se retirar! 

Este discernimento falta-nos muitas vezes, numa sociedade em que os adultos se iludem de que permanecem eternamente jovens, de que podem começar uma nova vida em qualquer idade, ou de que se agarram a um estilo de vida que já deviam ter a coragem de "largar". Por outro lado, muitos jovens continuam a adiar o momento da tomada das grandes decisões. 

 

3. O tempo está cumprido, mas... tornou-se breve!

Num simples versículo, Marcos apresenta a síntese da pregação de Jesus em quatro pontos: "O tempo está cumprido e o Reino de Deus está próximo; arrependei-vos e acreditai no Evangelho!"Dois anúncios, seguidos de dois convites (imperativos)!

 

O tempo está cumprido e o Reino de Deus está próximo: o tempo amadureceu e Deus tornou-se próximo. É um tempo favorável, uma oportunidade a aproveitar sem duvidar. "Aquele tempo" de Jesus é o início de um tempo que dura ainda hoje, para o anúncio do Evangelho. Mas isto não significa que eu possa esperar por "amanhã", porque é "hoje": "Eis agora o tempo favorável, eis agora o dia da salvação!" (2 Coríntios 6,2). É por isso que São Paulo sublinha que "o tempo escasseia". Não há tempo a perder! E o autor da Carta aos Hebreus diz-nos: "Exortai-vos, antes, uns aos outros todos os dias, enquanto dura este dia!" (3,13). É hoje que Jesus passa e nos convida a segui-lo. Santo Agostinho dirá: "Teme a Deus que passa uma vez e não volta mais!

 

Convertei-vos e acreditai no Evangelho! O apelo à conversão assusta-nos, digamo-lo! Ouvimo-lo muitas vezes e talvez, com um esforço de boa vontade, tenhamos até tentado mudar, mas com poucos resultados e desanimámos. E arriscamo-nos a deixar de levar a sério este convite. Porquê este nosso fracasso? Talvez porque tenha havido pouco evangelho na nossa "conversão". Passámos ao lado da segunda parte do convite do Senhor: "Acreditai no Evangelho". O Evangelho é a alavanca para a "mudança de mentalidade" (é isto que significa "conversão"). E não se muda de um dia para o outro. É preciso um trabalho paciente e quotidiano de escuta da Palavra de Deus e de abertura à ação do Espírito Santo. A primeira conversão é à Palavra e à oração!

 

4. Um tempo de urgência!

É uma conversão permanente, mas isso não nos retira a urgência de responder ao apelo de Jesus: "Segue-me!". Um dos traços mais marcantes de Jesus no evangelho de Marcos é o sentido de movimento, de pressa e de urgência. Encontramos o advérbio "imediatamente" (euthys) inúmeras vezes: onze vezes no primeiro capítulo. Simão e André, Tiago e João captam este sentido de urgência e "deixaram imediatamente as redes e seguiram-no", sem saberem ainda como ou porquê. Os ninivitas de Jonas também se apercebem da gravidade do momento e convertem-se imediatamente. Esta urgência do tempo que "se faz breve" leva Paulo a dizer aos Coríntios que relativizem tudo o resto. E nós, temos este sentido de urgência em seguir Jesus?

 

Exercício para a semana

No início do dia, lembre-se do girassol e vire a corola do seu coração para o Sol de Cristo. E cada um dos seus dias será um dia de "conversão"!

 

P. Manuel João Pereira Correia 

Castel d'Azzano (Verona) 20 de janeiro de 2024 

p.mjoao@gmail.com

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