A quem estou unido: à Videira verdadeira ou a uma videira bastarda?
Ano B - Tempo Pascal - 5º Domingo
João 15,1-8: “Eu sou a videira, vós sois os ramos!”
Com os dois últimos domingos do tempo pascal, entramos na preparação imediata para as festas da Ascensão e do Pentecostes. Estes são os domingos da despedida.
O evangelho deste domingo e do próximo oferece-nos excertos do discurso
de despedida de Jesus aos seus discípulos na última ceia. É o seu testamento,
antes da sua paixão e morte. Porquê retomar estes textos precisamente
no tempo pascal? A Igreja segue a antiga tradição de ler durante este
tempo os cinco capítulos de João relativos à Última Ceia, de 13 a 17,
nos quais Jesus apresenta o sentido da sua "Páscoa".
Vinha excelente ou vinha bastarda?
Na tradição profética, o povo de Deus é muitas vezes apresentado como uma vinha escolhida:
“O meu amado tinha uma vinha numa colina fértil.... Por que razão,
enquanto eu esperava que produzisse uvas, produziu bagas verdes?”
(Isaías 5,1-7); “Eu tinha-te plantado como uma vinha excelente, toda de
videiras genuínas; como é que te transformaste em rebentos degenerados
de videiras bastardas?” (Jeremias 2,21). Deus sente-se desiludido porque,
depois do cuidado e do amor pela sua vinha, esperava frutos, mas a
vinha degenerada produz uvas verdes. Como não ver aqui o lamento do Senhor pelas nossas situações de infidelidade?
O Senhor, porém, não abandona a sua vinha e
responde à oração do salmista: “Deus dos exércitos, voltai! Olhai do
céu e vede e visitai esta vinha.” (Salmo 80,9-17). E eis a promessa
messiânica: “Nos tempos vindouros, Jacob criará raízes, Israel
florescerá e brotará, ele encherá o mundo de frutos.” (Isaías 27,2-5). A visita de Deus e o cumprimento da sua promessa realizam-se com Jesus. Ele é a videira, o verdadeiro Israel fiel que oferecerá ao Pai “o vinho novo” (João 2,10).
1. A videira, os sarmentos e o agricultor: a nossa relação com o PAI
“Eu sou a verdadeira vide e meu Pai é o agricultor”. O Pai é o agricultor. O que é que ele faz? “Ele
corta todo o ramo que em mim não dá fruto e poda todo aquele que dá
fruto, para que dê ainda mais fruto”. A poda é essencial para a
fecundidade da vinha e é uma arte, porque é preciso saber o que, onde e
como cortar. Por um lado, é necessário cortar os sarmentos que não vão
dar fruto e que enfraquecem a planta. Por outro lado, é necessário podar
os rebentos que vão dar frutos para favorecer a quantidade e a
qualidade. Isto é feito no início do inverno. Depois, quando os rebentos
brotam, retiram-se os mais fracos e, mais tarde, também as folhas que
não favorecem o crescimento do cacho.
Da imagem à realidade: Deus efectua uma poda ou uma purificação contínua na nossa vida. As tesouras de poda que
utiliza são, antes de mais, a sua Palavra, mas também os acontecimentos
da vida, a correção fraterna e até a crítica dos não crentes, por vezes
mordaz e impiedosa. Da nossa parte, é necessária uma atenção permanente para cortar o que está a enfraquecer a nossa vida cristã.
2. Permanecer em Cristo para dar fruto: a nossa relação com o FILHO
“Permanecei em mim e eu permanecerei em vós”.
Para exprimir a união dos ramos à videira, Jesus emprega o verbo
"permanecer", um verbo muito caro a São João. Aqui, na passagem de hoje,
ele aparece sete vezes e cerca de quarenta vezes em todo o seu
evangelho. Literalmente, o verbo significa " habitar ". A nossa relação
com Cristo é a de uma morada mútua: eu nele e ele em mim. São Paulo
exprime esta mesma realidade com a expressão "estar em Cristo", que
encontramos inúmeras vezes (164) nas suas cartas. “Já não sou eu que
vivo, é Cristo que vive em mim!” (Gálatas 2,20). Permanecer, habitar, estar em Cristo significa
estar inserido em Jesus, deixar-se guiar pela sua Palavra, ter a sua
maneira de pensar, de sentir e de agir. Este é o fruto de um longo
processo de frequentação do Senhor: “Mestre, onde moras? - Vinde e
vereis.” (João 1,38).
Passando à concretude da vida, temos
de admitir que, infelizmente, perder esta sintonia de coração e de vida
com Cristo não é assim tão difícil. Isso pode acontecer de forma quase
impercetível e sub-reptícia, e então a adaptação a uma "mentalidade mundana"instala-se.
É necessária uma atenção constante aos nossos pensamentos, desejos e
interesses. É preciso fazer periodicamente um exame de consciência para
ver onde está o nosso coração, pois “onde estiver o teu tesouro, aí estará o teu coração.” (Mateus 6,21).
“Se alguém permanece em mim e eu nele, esse dá muito fruto”. “A glória de meu Pai é que deis muito fruto”. A expressão "dar fruto" aparece seis vezes nesta passagem do Evangelho. Que fruto é esse? O amor! “É
este o seu mandamento: acreditar no nome de seu Filho, Jesus Cristo, e
amar-nos uns aos outros, como ele nos mandou.” (segunda leitura, 1 João
3,18-24). Só o amor permanecerá, quando a nossa vida for submetida ao
fogo da verdade: “A obra de cada um será bem visível, pois aquele dia a
tornará conhecida, porque será manifestada pelo fogo, e o fogo provará a
qualidade da obra de cada um.” (1 Coríntios 3,13).
Pensemos bem: o Senhor investiu tudo na nossa vida, correndo grandes riscos. Há como que uma simbiose entre a videira e os ramos.
Sem a videira, os ramos secam e são queimados, mas sem os ramos, a
videira permanece estéril. “Em cada momento da vida, constituímos um
argumento a favor ou contra Jesus Cristo” (René Bazin, 1853-1932).
3. A seiva da videira: a nossa relação com o ESPÍRITO SANTO
É o Espírito a seiva da videira. “Quem
observa os seus mandamentos permanece em Deus e Deus nele. E sabemos
que permanece em nós pelo Espírito que nos concedeu.” (segunda leitura).
Cultivar, alimentar a nossa relação com o Espírito é a condição indispensável para levar uma vida cristã fecunda e viçosa. Além
disso, uma vez que vivemos numa condição de "diáspora", num contexto de
secularismo crescente e de marginalização da fé, não podemos sobreviver
sem “a assistência do Espírito Santo.” (primeira leitura, Actos
9,26-31).
Para uma reflexão semanal
Muitas
vezes deixamos crescer tantos rebentos que só produzem folhagem.
Cultivamos demasiados interesses que absorvem a nossa energia e
comprometem a qualidade dos frutos. Há tanta futilidade, trivialidade,
interesses efémeros e duplicidade que nos distraem das coisas
importantes! Num momento de intimidade com o Senhor, peçamos a coragem de cortar e podar o que está a debilitar a nossa fecundidade.
P. Manuel João Pereira Correia mccj
Verona, 25 de abril de 2024
Para uma reflexão completa, ver: https://comboni2000.org/2024/04/25/la-mia-riflessione-domenicale-a-chi-sono-unito-alla-vite-pregiata-o-a-una-vite-bastarda/
p.mjoao@gmail.com
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