O DIA DO GRANDE ESCÂNDALO!
21º Domingo do Tempo Comum (B)
João 6,60-69: “Para quem iremos, Senhor?”
Chegamos ao final do capítulo 6 do Evangelho de São João, que
ouvimos durante cinco domingos. A passagem de hoje apresenta-nos a
reação dos discípulos de Jesus ao discurso que ele havia acabado de
concluir na sinagoga de Cafarnaum. Não se fala mais da multidão ou dos
judeus, mas do grupo de discípulos que tomam posição diante da afirmação
de Jesus de ser o Pão/Palavra, alimento e bebida, descido do céu.
O trecho divide-se em duas partes. Na
primeira, encontramos o grupo de seus seguidores que murmura: “Estas
palavras são duras. Quem pode escutá-las?”. Esses discípulos
escandalizam-se e decidem ir-se embora. Na segunda parte do texto, Jesus
interpela os Doze, perguntando-lhes: “Também vós quereis ir embora?”.
Pedro faz-se porta-voz do grupo e responde: “Para quem iremos, Senhor?
Tu tens palavras de vida eterna. Nós acreditamos e sabemos que Tu és o
Santo de Deus”.
Este é um momento dramático de crise no ministério de Jesus, que
corresponde ao seu insucesso em Nazaré, relatado pelos três evangelhos
sinóticos. Lá, Jesus havia reagido com admiração, aqui com amargura. Não
pensemos que Jesus fosse insensível à reação de seus ouvintes! Ele
também experimentou todos os nossos sentimentos. Neste caso, podemos
imaginar que ele tenha sentido tristeza, frustração e amargura pela
dureza de coração dos ouvintes.
E os Doze? É
a primeira vez que o grupo aparece no evangelho de São João. Talvez nem
eles tenham entendido muito bem, e uma mistura de pensamentos e
sentimentos enchera de confusão suas mentes e corações. Pedro fala aqui
pela primeira vez e, com sua profissão de fé, ajuda o grupo a
reencontrar a unidade. Mas nada será como antes. Além da incredulidade e
do abandono de muitos, flutua agora sobre o grupo a nuvem negra do
anúncio de uma traição.
Pontos de reflexão
1. “Escolhei hoje a quem quereis servir!” Existem
momentos em que somos forçados a tomar uma decisão e a comprometer as
nossas vidas. “Escolhei hoje a quem quereis servir”, diz Josué às doze
tribos reunidas em Siquém (Josué 24). “Também vós quereis ir embora?”,
pergunta Jesus aos Doze. Nós, infelizmente, às vezes tendemos a adiar
decisões e a seguir em frente com um pé em dois sapatos, tentando manter
todas as possibilidades abertas. Mas quem tudo quer, tudo perde!
2. “Mesmo que todos te abandonem, eu nunca te abandonarei!”. Impressiona
o facto de que Jesus esteja disposto a deixar partir também o grupo dos
Doze e a retomar a missão sozinho. Sozinho, mas firme! No momento
supremo, ele dirá: “Vocês me deixarão só; mas eu não estou só, porque o
Pai está comigo” (João 16,32).
Neste momento histórico em que a fé cristã já
não goza mais do consenso social, quando se cumpre, mais uma vez, a
palavra do evangelho: “Muitos dos discípulos afastaram-se e já não
andavam com Ele”, precisamos de cristãos sinceros e generosos como
Pedro. Que Deus permita que, apesar da consciência de nossa fragilidade,
possamos dizer, num impulso de confiança simples como a de uma criança:
“Se todos se escandalizarem de ti, eu nunca me escandalizarei!” (Mateus
26,33).
P. Manuel João Pereira Correia, mccj
Para a reflexão completa, ver:
P. Manuel João Pereira Correia mccj
p.mjoao@gmail.com
https://comboni2000.org
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