sexta-feira, 13 de dezembro de 2024

Advento, a estação da alegria - Pe.Manuel João, MC

 Advento, a estação da alegria

Ano C – Advento – 3º Domingo
Lucas 3,10-18: “E nós, que devemos fazer?”

O terceiro domingo do Advento é chamado de “domingo Gaudete”, pela primeira palavra que abre a celebração: “Alegrai-vos sempre no Senhor. Novamente vos digo: alegrai-vos. Seja de todos conhecida a vossa bondade. O Senhor está próximo” (antífona de entrada, cf. Fl 4,4-5). No ambiente penitencial que caracteriza o tempo do Advento, este domingo traz-nos um convite especial à alegria.

O caminho do Advento é um percurso guiado. A liturgia propõe-nos três guias: o profeta Isaías, João Batista e a Virgem Maria. São três “pedagogos” que se alternam à medida que nos aproximamos do Natal. Isaías é o profeta messiânico por excelência, porque anuncia a chegada do Messias. Ele é quem alimenta a esperança. João Batista, por sua vez, chama-nos à conversão para nos prepararmos para a chegada do Messias. Por fim, a Virgem Maria ensina-nos como acolhê-lo: concebendo-o no nosso coração.

A liturgia coloca no centro do segundo e terceiro domingo do Advento a figura de João Batista, segundo a narração de São Lucas, o evangelho que nos guiará durante este ano litúrgico "C". João faz ecoar no deserto o grito do profeta Isaías: “Voz de quem clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor!” (Lucas 3,1-6, segundo domingo). O trecho do Evangelho deste terceiro domingo apresenta-nos a reação das multidões à sua pregação: “Que devemos fazer?”

Gostaria de desenvolver a minha reflexão em torno de duas palavras que encerram a mensagem deste domingo: Alegria e Conversão. À primeira vista, alegria e conversão podem parecer distantes, mas, refletindo bem, descobrimos que se harmonizam perfeitamente. A alegria brota da conversão (como mostram as parábolas da misericórdia em Lucas 15) e, ao mesmo tempo, a conversão nasce da alegria (como acontece na história de Zaqueu, em Lucas 19,8).

A ALEGRIA que dá sabor à vida!

Este terceiro domingo – como dissemos – caracteriza-se por um convite forte, convicto e decidido a alegrar-nos, porque o Senhor está próximo. 

Na primeira leitura, o profeta Sofonias exorta insistentemente o povo de Deus a alegrar-se: “Clama jubilosamente, filha de Sião; solta brados de alegria, Israel. Exulta, rejubila de todo o coração, filha de Jerusalém... Não temas, Sião, não desfaleçam as tuas mãos. O Senhor teu Deus está no meio de ti, como poderoso salvador”.
Também nós temos uma extrema necessidade de ser encorajados, sobretudo num contexto marcado por um pessimismo generalizado quanto ao futuro.
O Salmo responsorial retoma um texto de Isaías que nos convida a expressar a alegria em canto: “Entoai cânticos de alegria, habitantes de Sião, porque é grande no meio de vós o Santo de Israel.” 
Na segunda leitura, São Paulo reforça com vigor o convite à alegria: “Alegrai-vos sempre no Senhor. Novamente vos digo: alegrai-vos. Seja de todos conhecida a vossa bondade. O Senhor está próximo!”

Se olharmos à nossa volta, há bem pouco com que nos alegrarmos, presos como estamos numa rede cada vez mais intrincada de problemas e ameaças à vida. 
Qual é, pois, a alegria do cristão? Certamente não é uma alegria despreocupada ou barulhenta. Este tipo de alegria é superficial e efêmero, muitas vezes esconde um vazio interior e age como um sedativo. A alegria do cristão nasce de uma experiência única: a proximidade de Deus, sentir-se amado, saber que o Senhor está no meio de nós. “Nós conhecemos e acreditamos no amor que Deus tem por nós. Deus é amor” (1 João 4,16).

Em conclusão, o Advento é um tempo propício para redescobrir a fonte da água fresca e abundante da alegria que brota do coração de Deus.

A CONVERSÃO que faz florescer a alegria

Mas o que dizer de João Batista? Podemos considerá-lo uma testemunha da alegria? A austeridade de sua pessoa e a severidade de sua mensagem não parecem associar-se imediatamente à imagem de um mensageiro de alegria. No entanto, a figura de João não é de modo algum estranha à alegria. Pelo contrário! Ele é um evangelizador, ou seja, um portador de boas e alegres notícias. São Lucas resume a sua pregação afirmando: “João anunciava ao povo a Boa Nova” (Lucas 3,18).

João foi o primeiro “evangelizado” pela chegada do Messias, ainda no ventre de sua mãe. Isabel, sua mãe, diz durante a visita de Maria: “Logo que a tua saudação chegou aos meus ouvidos, o menino exultou de alegria no meu ventre” (Lucas 1,44). O próprio João declarará ser o amigo do esposo que “exulta de alegria ao ouvir a voz do esposo”, e concluirá: “Esta minha alegria está completa” (João 3,29).

A austeridade e a franqueza de João tornam a sua mensagem ainda mais credível. De facto, as multidões, tocadas pelo seu ensinamento, perguntam-lhe: “Que devemos fazer?”. Até mesmo publicanos e soldados aproximam-se dele para serem batizados, perguntando: “E nós, que devemos fazer?”.
A resposta do profeta surpreende-nos por duas razões. Em primeiro lugar, João não faz propostas de caráter “religioso”, como ir ao Templo, rezar ou oferecer sacrifícios. Ele convida, ao invés disso, a praticar ações de justiça social, partilha e respeito pelas pessoas. Além disso, surpreende porque não pede aos publicanos e soldados que abandonem o seu ofício, mas que o exerçam com honestidade.

Frequentemente interpretamos a conversão à maneira de Paulo, como a famosa “queda do cavalo”. O Senhor, no entanto, ajusta-se ao nosso passo, caminha ao nosso lado e, com paciência, educa-nos para uma mudança nos nossos estilos de vida. Ele não adota (geralmente!) a estratégia do “tudo ou nada”. Ele conhece bem a nossa fragilidade e o nosso medo de medidas drásticas. No fundo, somos como passarinhos enregelados num dia de inverno, desejosos de um pouco de conforto e de um carinho, mas demasiado receosos para acolher a mão estendida de Deus em nossa direção.

“Tem cuidado, Senhor, para não nos pedires demasiado, para não exigires demasiado, para não acreditares demasiado em nós!... Tem cuidado comigo, Senhor, sê calmo e doce, sê paciente comigo e com o meu coração ainda demasiado amedrontado” (Alessandro Deho’).

P. Manuel João Pereira Correia, mccj


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