segunda-feira, 26 de setembro de 2022

JERUSALÉM EDIFICADA COMO CIDADE INABALÁVEL - Parte 3 -UAASP

 Por Luís Matias, ASDL 

Belém é outra cidade governada pelos palestinianos, próxima de Jerusalém. Ficámos alojados na magnífica “Casa Nova” dos franciscanos, mesmo colada ao complexo da Basílica da Natividade. Celebrámos a Eucaristia numa das diversas capelas subterrâneas (gruta) deste complexo, num ambiente completamente extraordinário. Passeámos pela praça central da cidade, aqui junto, mergulhámos num bairro árabe, super seguro, para uma extensa conversa com um árabe, em que percebemos um pouco melhor do xadrez político e administrativo destas cidades ocupadas, onde vive um povo sem terra, e onde reina a paz por acordos, que são respeitados, mas onde sentimos que as pessoas, as comunidades não comungam o mesmo sentir, e estão contidas à força: do lado de cá (árabe, que também é Israel) e do lado de lá, Israel. A maior parte da população árabe de Belém era cristã, mas quase todos emigraram. VER MAIS


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JERUSALÉM EDIFICADA COMO CIDADE INABALÁVEL - Parte (2) - UAASP

 Por Luis Matias, ASDL

(Parte 2)

Encontrámos uma nascente de um dos afluentes do rio Jordão, num parque florestal bem bonito, bem sombrio (no bom sentido), a contrariar simpaticamente o que ditavam os termómetros. Umas quedas de água, muito cristalina, a gerarem rápidos e lagos pela montanha abaixo. E fomos para Nazareth.

Conhecemos todos estes locais, visualizamo-los pelas escrituras, ao longo da nossa vida. Estar aqui, é outra coisa. As ruínas da casa onde viviam José, Maria e Jesus, lá estão, preservadas sob uma moderníssima catedral, católica, dos Franciscanos. A igreja é fabulosa; muito bem projectada, com 3 níveis e as ruínas dentro e fora, estão absolutamente integradas. Mas o complexo tem mais: outra igreja grande, de S. José; jardins e extenso logradouro e um hotel, tudo fazendo parte do mesmo complexo. Está numa zona elevada da cidade, que é a maior cidade árabe de Israel. É governada pelos palestinianos da Fathá, mas é muito segura. Aliás, em todos os locais de Israel, incluindo a Cisjordânia, segurança total nas ruas. Pode andar-se à vontade, a qualquer hora do dia ou da noite, sem nenhum problema. Nesta e em todas as cidades (com excepção, naturalmente, da zona de conflito que ainda resta, a Faixa de Gaza, onde não fomos nem próximo). (Continua)


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JERUSALÉM EDIFICADA COMO CIDADE INABALÁVEL - Parte (1) - UAASP

 

Por Luis Matias, ASDL

Ainda mal acabados de refazer da intensidade que vivemos na nossa peregrinação à “Terra Santa”, da qual chegámos há duas semanas, apetece-me utilizar como título esta citação (adaptada à canção), do Salmo 121.

A viagem foi programada em segunda linha, por imperativo de se ter ainda adiado o já programado rumo a Moçambique, no âmbito da já famosa acção anual “Por mares dantes navegados”. A escolha da “Terra Santa” (e designamos assim porque temos dificuldade em distinguir com rigor os países e terras por onde andámos), foi unânime entre a Direcção da UASP e, sabemos hoje, não poderíamos ter melhor escolha.

Contámos, para o retumbante êxito da viagem, com o conhecimento prévio do Pe. Manuel Armindo Janeiro, que além de conhecer o terreno, conhecia a pessoa certa para nos guiar, além dos guias, na interpretação religiosa dos locais e da cultura das gentes com quem contactámos.

O Grupo constituiu-se com 30 navegantes, e em Telavive esperava-nos o 31º, o jovem Pe. Johnny, conhecedor profundo da cultura hebraica, dos lugares e, sobretudo, da sua ligação às Escrituras. Ele viveu e estudou 8 anos em Jerusalém, Sagrada Escritura, e conseguiu de forma espantosa, animar e transpor para os cenários actuais que visitámos, as cenas que sempre lemos ou ouvimos e, de alguma forma, idealizávamos nas nossas cabeças e corações e que constituem o nosso processo de conhecimento nestas matérias. (continua)

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PROTESTO E ACOLHIMENTO DE UM NOVO CAMINHO Frei Bento Domingues, O.P.

 

1. A celebração da Eucaristia nunca pode estar desligada do que vai acontecendo na vida humana, de crentes e não crentes. A narrativa eucarística mais antiga que conhecemos precede as formulações dos textos evangélicos. Encontramo-la numa célebre Carta de S. Paulo aos Coríntios[1], que manifesta a indignação acerca do que está a acontecer numa comunidade ainda pouco cristã.

Eis a narrativa: «Quando vos reunis, não é a ceia do Senhor que comeis, pois cada um se apressa a tomar a sua própria ceia; enquanto um passa fome, outro fica embriagado. Porventura não tendes casas para comer e beber? Ou desprezais a Igreja de Deus e quereis envergonhar aqueles que nada têm? Que vos direi? Hei-de louvar-vos? Nisto, não vos louvo. Eu recebi do Senhor o que também vos transmiti: o Senhor Jesus na noite em que era entregue, tomou pão e, tendo dado graças, partiu-o e disse: Isto é o meu corpo, que é para vós; fazei isto em memória de mimDo mesmo modo, depois da ceia, tomou o cálice e disse: Este cálice é a nova Aliança no meu sangue; fazei isto sempre que o beberdes, em memória de mim. Porque, todas as vezes que comerdes deste pão e beberdes deste cálice, anunciais a morte do Senhor, até que Ele venha.  Todo aquele que comer este pão ou beber o cálice do Senhor indignamente será réu do corpo e do sangue do Senhor. (…) Quem come e bebe, sem distinguir o corpo do Senhor, come e bebe a própria condenação. Por isso, meus irmãos, quando vos reunirdes para comer, esperai uns pelos outros».

A Eucaristia nasceu no contexto de uma refeição em que não pode haver indiferença em relação às gritantes desigualdades sociais. Quem participa na Eucaristia deve participar em todos os movimentos que não suportam ver uns à mesa e outros à porta[2]. A participação na Eucaristia implica a entrada num processo de conversão permanente do olhar do coração para não nos conformarmos com o mundo que temos.

2. Hoje, por exemplo, abrimos a celebração dominical com a indignação do profeta Amós (760 a 750 a.C.): «Ouvi isto, vós que esmagais o pobre e fazeis perecer os desvalidos da terra, dizendo, quando passará a Lua-nova, para vendermos o nosso trigo, e o Sábado, para abrirmos os nossos celeiros, diminuindo a medida, aumentando o preço e falseando a balança para defraudar? Compraremos os necessitados por dinheiro e o pobre por um par de sandálias. Venderemos até as cascas do nosso trigo[3]».

É importante transpor para os jogos da economia capitalista – uma economia que mata, como diz o Papa Francisco – a indignação clarividente deste pastor que nem profeta se considerava: Não sou profeta nem discípulo de profeta. Foi o Senhor Deus que me tirou de detrás do rebanho e me ordenou: vai profetizar contra Israel, o meu povo.

Também as comunidades cristãs devem denunciar todas as formas de corrupção, de mentira, de egoísmo, ao concentrar os bens destinados a todos, nas mãos de muito poucos.

Por seu lado, o texto do Evangelho, para esta celebração, é muito parecido com a observação que Jesus já tinha feito, em situação semelhante: os filhos das trevas são mais espertos para o mal do que os filhos da luz para fazer o bem. Apresenta agora, a astúcia de um administrador que caiu em desgraça e fica ameaçado de perder o lugar. Soube encontrar um processo fraudulento para fazer amigos que o acolham quando for despedido.

Louvar essa astúcia não é aprová-la. Serve para exprimir o salto radical que percorre o Novo Testamento:  Não podeis servir a Deus e ao dinheiro[4]. Ao divinizar a ganância e as suas artes, o mundo das vítimas passa a ser normal.

3. Tinha previsto, para este terceiro ponto, a santa Convocatória dos jovens economistas e empresários para abordar, em Assis, a Economia de Francisco (22-24/09/2022). Fui, entretanto, surpreendido com a viagem do Papa ao Cazaquistão e não resisti em seleccionar, como aperitivo, o começo do seu discurso de abertura do VII Congresso de Líderes de Religiões Mundiais e Tradicionais, a procura de uma comunhão universal.

«Permiti que vos trate assim com estas palavras directas e familiares: irmãos e irmãs. É deste modo que vos desejo saudar, Líderes religiosos e Autoridades, membros do Corpo Diplomático e das Organizações Internacionais, Representantes de instituições académicas e culturais, da sociedade civil e de várias organizações não-governamentais, em nome daquela fraternidade que a todos nos une enquanto filhos e filhas do mesmo Céu.

Frente ao mistério do infinito que nos excede e atrai, as religiões lembram-nos que somos criaturas. Não somos omnipotentes. Somos mulheres e homens a caminho da mesma meta celeste. Assim, a dimensão de criatura que todos partilhamos estabelece uma comunhão, uma real fraternidade. Recorda-nos que o sentido da vida não se pode reduzir aos nossos interesses pessoais, mas inscreve-se na fraternidade que nos caracteriza. Só crescemos com os outros e graças aos outros.

Amados Líderes e Representantes das religiões mundiais e tradicionais, encontramo-nos numa terra que, ao longo dos séculos, foi percorrida por grandes caravanas: nestes lugares, incluindo a antiga rota da seda, entrelaçaram-se muitas histórias, ideias, crenças e esperanças. Possa o Cazaquistão continuar a ser uma terra de encontro entre quem está distante. Possa abrir uma nova rota de encontro, centrada sobre as relações humanas: no respeito, na honestidade do diálogo, no valor imprescindível de cada um, na colaboração, construímos uma rota fraterna para caminhar juntos, rumo à paz.

Ontem tomei, emprestada, a imagem da dombra; hoje, quero associar ao instrumento musical uma voz, a do poeta mais famoso do país, o pai da literatura moderna, o educador e compositor muitas vezes representado junto precisamente com a dombra. Abai (1845-1904) – como é conhecido popularmente – deixou-nos escritos impregnados de religiosidade, nos quais transparece a alma melhor deste povo: uma sabedoria harmoniosa, que deseja a paz e procura-a, interrogando-se com humildade, anelando por uma sabedoria digna do ser humano, nunca fechada em visões restritas e apertadas, mas pronta a deixar-se inspirar pelas mais variadas experiências.

 Abai provoca-nos com uma interrogação atemporal: Que beleza pode ter a vida, se não se vai em profundidade? (Poesia, 1898). (…) Precisamos de encontrar um sentido para as questões últimas, cultivar a espiritualidade; temos necessidade – dizia Abai – de manter desperta a alma e límpida a mente (Palavra 6)».

Neste discurso, o Papa Francisco respondeu a quem pergunta sobre o motivo de uma viagem tão dolorosa: Venho para amplificar o clamor de tantos que imploram a paz, caminho essencial de desenvolvimento do nosso mundo globalizado.

Tem toda a razão o Presidente cazaque, Kassym-Jomat Tokayev, ao afirmar, na sua intervenção inaugural deste Congresso: Precisamos todos de um novo movimento global para a paz.

 

 

18 Setembro 2022



[1] 1Cor 11, 26-33

[2] Lc 16, 19-31

[3] Amós 8, 4-7

[4] Lc 16, 1-13

terça-feira, 13 de setembro de 2022

Moçambique : Ataques a Missões “Combonianas”...

 

Fonte – Agência Lusa

Por: Cristina Silva Rosa.

Moçambique : Ataques a Missões “Combonianas”...

Papa recorda freira assassinada

 

Cidade do Vaticano, 11 set 2022 (Lusa) – O Papa recordou hoje a freira italiana Maria De Coppi, de 83 anos, assassinada na terça-feira passada num ataque sofrido pela missão onde vivia, na localidade de Nacala, em Moçambique.

Francisco, no final da oração do Angelus, na praça de São Pedro, elogiou a missionária comboniana, que serviu em Moçambique "por amor, durante quase 60 anos" e rezou para que "o seu testemunho dê força e coragem aos cristãos e a todo o povo moçambicano”.

Duas outras religiosas, uma italiana e uma espanhola, escaparam com vida do atentado em Nacala, província de Nampula.

A freira italiana, de 83 anos, foi morta num ataque na terça-feira à noite na missão onde vivia, na cidade de Nacala, em Moçambique, enquanto outras duas conseguiram escapar, declararam na quarta-feira os Missionários Combonianos.

"Os rebeldes atacaram a missão, incendiando todos os edifícios da paróquia. A irmã Maria, missionária comboniana nascida na cidade de Vittorio Veneto (norte), morreu durante a emboscada. Todos os sobreviventes estão agora a fugir para Nacala", disse a secretária-geral das Irmãs Combonianas em Itália, Enza Carini, na quarta-feira.

Segundo a mesma fonte, as outras duas freiras da comunidade, uma italiana e outra espanhola, “conseguiram escapar e esconder-se na floresta, juntamente com um grupo de raparigas".

A freira, que vivia em Moçambique desde 1963, estava na paróquia de Chipene, na diocese de Nacala, que albergava centenas de pessoas que fugiam dos combates no norte do país, explicou a fonte.

De acordo com relatórios enviados à agência missionária Fides, os atacantes destruíram as estruturas da missão, incluindo a igreja, o hospital e a escola primária e secundária, e a freira italiana levou um tiro na cabeça quando tentou chegar ao dormitório onde se encontravam os poucos estudantes restantes.

Outros dois missionários italianos que se encontravam na missão foram poupados, disseram os Missionários Combonianos de Pordenone, Itália.

O arcebispo de Nampula, Inacio Saure, disse não ter a certeza sobre identidade dos autores do ataque, mas considerou que “seja muito provável” tratar-se de terroristas islâmicos.

A província de Nampula, juntamente com Cabo Delgado, é palco da instabilidade causada pela presença de grupos terroristas ligados ao Estado Islâmico.

A província de Cabo Delgado é rica em gás natural, mas aterrorizada desde 2017 por violência armada, sendo alguns ataques reclamados pelo grupo extremista Estado Islâmico.

A insurgência levou a uma resposta militar desde há um ano por forças do Ruanda e da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), libertando distritos junto aos projetos de gás, mas levando a uma nova onda de ataques noutras áreas, mais perto de Pemba, capital provincial.

Há cerca de 800 mil deslocados internos devido ao conflito, de acordo com a Organização Internacional das Migrações (OIM), e cerca de 4.000 mortes, segundo o projeto de registo de conflitos ACLED.

CSR(VM)// ACL

Lusa/Fim