sábado, 30 de março de 2024

Páscoa, o Dia sem ocaso - Pe.Manuel João - MC

 Páscoa, o Dia sem ocaso

Vigília Pascal - Marcos 16,1-7: “Procurais a Jesus de Nazaré, o Crucificado? Ressuscitou: não está aqui.”
Domingo de Páscoa - João 20,1-9: “Entrou também o outro discípulo: viu e acreditou.”
Missa vespertina - Lucas 24,13-35: “Ficai connosco, porque o dia está a terminar e vem caindo a noite.”

“Este é o dia que o Senhor fez: exultemos e cantemos de alegria”, diz o salmo do dia de Páscoa (Salmo 117). Este dia foi desejado, esperado, preparado, mas não fomos nós que o fizemos! É o dia que o Senhor fez! Há coisas, as coisas que realmente importam, que a nossa mão não pode fazer. Este dia é a obra de Deus, a sua obra-prima. Na primeira “semana santa”, a semana da criação, Deus tinha posto ordem no caos, criando o tempo e o espaço, “e eis que era uma coisa muito boa” (Génesis 1,31). Nesta nova semana, a Semana Santa, Deus libertou a sua criação da corrupção da morte, trazendo a eternidade para o tempo. “Tudo isto veio do Senhor: é admirável aos nossos olhos”, continua o salmista. Sim, uma maravilha com que nunca sonhámos. Cristo, “a Porta”, pôs a terra em comunicação com o céu. A morte já não é a “porta de não retorno”, mas a porta de entrada para o Dia sem ocaso. 

Finalmente, uma coisa nova debaixo do céu!

O que foi será
e o que foi feito será feito de novo;
não há nada de novo debaixo do sol.
Talvez haja algo a dizer:
"Eis que isto é novo"? 
Isso mesmo já aconteceu
nos séculos que nos precederam”. 
(Qoèlet 1,9-10)

Eis, Qoèlet, uma verdadeira NOVIDADE! Um homem, Jesus de Nazaré, que a morte tinha engolido e o túmulo tinha encerrado, saiu vivo, vencedor da morte. Foi no dia 9 de abril do ano 30. Questiona os tempos passados. Nunca tinha acontecido nada assim! O inacreditável aconteceu! E nós somos testemunhas disso! Corremos, pois, com o coração a rebentar no peito, com lágrimas de alegria, depois de lágrimas de desespero, desejosos de dizer a toda a gente: Cristo ressuscitou!

A partir de agora tudo muda. Nada será como dantes! Qoèlet, não odeies mais a vida (2,17)! Não digas mais “Felizes os mortos, que já partiram, mais do que os vivos que ainda vivem” (4,2)! Porque...

A morte e a vida
travaram um admirável combate:
Depois de morto,
vive e reina o Autor da vida...
Sabemos e acreditamos:
Cristo ressuscitou dos mortos!”

(Sequência Pascal)

A partir desse 9 de abril, começou a corrida missionária. “Ide, dizei a seus discípulos e a Pedro que ele irá à vossa frente, na Galileia. Lá vós o vereis, como ele mesmo tinha dito” (Marcos 16,1-7, evangelho da Vigília). E os seguidores do “Caminho” (Actos dos Apóstolos 9,2, etc.), incansáveis - porque o coração feliz nunca se cansa! - continuam a percorrer os caminhos e estradas das “Galileias”, das periferias do mundo, desejosos de comunicar a todos esta Boa Nova: Cristo ressuscitou! 

O Ressuscitado deve ser procurado onde há vida! 

“Procurais a Jesus de Nazaré, o Crucificado? Ressuscitou: não está aqui”. Se “não está aqui”, onde é que o devemos procurar? Onde a vida fervilha! Onde se respira ar novo! Não onde a vida apodrece!...

É de perguntar se o ar novo e primaveril do Ressuscitado é respirado nas nossas igrejas e assembleias. Infelizmente, há que reconhecer que, por vezes, respiramos mal, há um ar viciado nos nossos ambientes eclesiais. Tornámo-nos alérgicos à novidade, não queremos ser desafiados pelo novo, por aquilo que não se enquadra nos nossos velhos padrões de vida e de pensamento. Por vezes, temos a impressão de que as portas e janelas abertas pelo Concílio Vaticano II se fecharam de novo. Não admira, pois, que pessoas inquietas, insatisfeitas com a sociedade atual e à procura de um mundo diferente, vão para outros lugares onde a vida fermenta.

Dizemos que amamos a novidade, mas à nossa maneira. Na realidade, tememos a novidade, porque ela nos inquieta e perturba os nossos ritmos habituais. Preferimos os verbos de repetição: tornar novo o velho. Foi por isso que os dois discípulos de Emaús ficaram desiludidos: “Nós esperávamos que fosse ele quem havia de libertar Israel” (Lucas 24,13-35, evangelho da missa vespertina de Páscoa): Os apóstolos esperavam o mesmo antes da ascensão: “Senhor, será este o tempo em que restaurarás o reino para Israel?” (Actos dos Apóstolos 1,6). O Senhor, porém, não é um “restaurador”, mas um inovador: “Não vos lembreis mais das coisas passadas, não penseis mais nas coisas antigas! Eis que estou a fazer uma coisa nova, que já está a brotar, não a vedes?” (Isaías 43,18-19). 

Oração e votos de Boa Páscoa

“Que a Páscoa vença o nosso pecado, desfaça os nossos medos e nos faça ver a tristeza, a doença, os maus tratos e até a morte, do lado certo: o do "terceiro dia". Desse lado, Calvário aparecer-nos-á como o Tabor. As cruzes parecerão antenas, colocadas ali para ouvirmos a música do Céu. Os sofrimentos do mundo não serão para nós os gemidos da agonia, mas as dores do parto.
E os estigmas deixados pelos pregos nas nossas mãos crucificadas, serão as brechas através das quais já vislumbraremos as luzes de um mundo novo!” (Don Tonino Bello).

Desejo a todos uma boa Páscoa!

P. Manuel João Pereira Correia mccj
Verona, 27 de março de 2024

 

 

domingo, 24 de março de 2024

PARA MEDITAR Frei Bento Domingues, O.P. 24 Março 2024

 

 

1. No Domingo passado, tentei mostrar que a realidade de um Deus de pura bondade não pode ser o responsável da crucifixão de Jesus de Nazaré. Continuo fiel ao que, então, escrevi, mas com muitas hesitações acerca da avaliação histórica do percurso atribuído a Jesus.

O Cristianismo é uma religião marcada pela História e que marcou a história de muitas áreas geográficas e culturais, por isso se coloca, depois de uma data, o a.C. ou d.C. É normal que se procure saber em que época, e até o dia, em que Jesus nasceu e morreu. Dois mil anos de história, em tantos contextos, tornam difícil uma resposta única. No entanto, não é uma mera curiosidade das ciências humanas. Surge do afecto, da relação vital com alguém – Jesus Cristo – que se manifestou, ou descobrimos, como sentido salvífico para a vida e para a morte.

A figura histórica de Jesus de Nazaré está marcada pelo tempo de Pilatos, como governador da província romana da Judeia. Calcula-se que terá morrido entre 26 e 36 d.C.[1] Se acrescentarmos o período mais curto ou mais longo possível da actividade de Jesus, ao ponto mais inicial ou mais tardio possível da sua manifestação (26 ou 29), temos um lapso de tempo que vai de 27 a 34 d.C.

Outra delimitação possível resulta dos cálculos de astronomia e calendário, embora estes não possam dar uma certeza última. A pergunta que se impõe é esta: quando é que o dia 14 ou 15 de Nissan (primeiro mês de 30 dias do calendário judaico religioso) foi numa sexta-feira, dia da morte de Jesus?

Nos anos 27 e 34 d.C., o dia 15 de Nissan foi uma sexta-feira, de modo que esses anos estariam de acordo com a cronologia sinóptica. O mesmo se aplica para o ano 31, embora com menor probabilidade.

As circunstâncias, nos anos 30 e 33, encaixam-se na cronologia joanina, em que o dia 14 de Nissan, o dia de preparação para a Páscoa, foi uma sexta-feira. Assim, o ano 30 d.C. tem a maior probabilidade de ser o ano em que Jesus foi morto, o que não exclui absolutamente outras datas.

Jesus nasceu entre os anos 6 e 4 a.C., provavelmente antes da morte de Herodes I. A sua aparição pública durou apenas um breve período no início do tempo de governo de Pôncio Pilatos (26-36 d.C.). Jesus foi provavelmente executado na festa da Páscoa judaica do ano 30 d.C.

Foi falsamente julgado e condenado à pior das mortes, mas nenhum dos seus juízes poderia sonhar que, um dia, o próprio tempo seria contado com base n’Ele. Essa contagem (cronologicamente imprecisa) traz em si a mensagem de que, com Jesus, se deu uma reviravolta na História. Ela é independente da pergunta se Jesus nasceu em 4 ou 6 a.C.; além disso, também é independente da interpretação dos que, durante a vida de Jesus, esperaram tudo dessa figura. A mensagem de Jesus e as esperanças dos seus contemporâneos estavam marcadas pelo que julgavam o fim dos tempos. Se o cálculo cristão do tempo, situa Jesus antes do fim dos tempos, então, isso altera o significado que o próprio Jesus deu à sua actividade.

Possivelmente, essa nova interpretação começou logo no chamado Cristianismo primitivo. O evangelista Lucas fez um relato da história da Igreja primitiva (Actos dos Apóstolos), depois de ter escrito o seu Evangelho. Como resultado, Jesus aparece como uma realidade da História humana, mas que a excede. No entanto, a interpretação original continua preservada quando se percebe algo, em Jesus, que atravessa qualquer tempo e lugar.

Na discussão sobre o dia da morte de Jesus, oscila-se entre a cronologia joanina (Jesus foi morto no dia da preparação da festa pascal) e a cronologia sinóptica (Jesus foi morto no primeiro dia da festa pascal). Pode-se, contudo, pensar que nem João nem os sinópticos ofereçam a cronologia exacta[2]. Poderá sempre ser revista e é importante que o possa ser, segundo o desenvolvimento das ciências humanas. No entanto, não é nenhuma data nem nenhuma cronologia que nos pode salvar. O que nos salva é a energia divina que percorre toda a História humana, mediante o acolhimento fervoroso dessa acção divina.

2. Ninguém nega a importância dos primeiros e últimos tempos da vida de Jesus, mas por vezes esquecemos a história da Igreja, a história de fidelidade e infidelidade ao Espírito no tempo, desde o Pentecostes até aos nossos dias.

Não se devia reservar esse estudo para as Faculdades de Teologia ou para os Institutos de Investigação Histórica. Pelo contrário, se é fundamental estar sempre pronto a dar razão da nossa esperança, a história da Igreja faz parte dessa teologia narrativa. Como escreveu Hugo Santos, precisava uma palavra que contasse // a estranha solidez da esperança[3].

As Igrejas Cristãs definem-se pela sua relação viva com Jesus Cristo, em qualquer época do ano. Para os cristãos mais fervorosos, Jesus de Nazaré nunca se eclipsa. É realidade quotidiana, mas com acentuações diversas: o Natal, o Pentecostes e a Páscoa.

Nos últimos tempos, têm sido imensos os estudos dos começos do Cristianismo, assim como, os do processo da Paixão e Morte de Jesus de Nazaré. Por que é que todos os anos levantamos estas questões, nunca resolvidas? Talvez porque, como diz S. Pedro, Ele [Jesus] é a pedra que os construtores desprezaram e que se transformou em pedra angular, pois não há debaixo do céu outro nome que nos possa salvar[4].

3. No processo de Jesus, parece que as mulheres não tiveram nenhum papel relevante. São referidas apenas duas, uma de acusação – a criada do Sumo Sacerdote – e outra de defesa – a mulher de Pilatos[5].

Puro engano. No caminho para o Calvário, elas não se escondem. Pelo contrário, mostram a sua presença activa, marcadamente simbólica.

No Evangelho de S. João, a mãe de Jesus aparece nas Bodas de Caná e volta ao silêncio. Rompe apenas com esse silêncio, quando o seu filho já está abandonado na Cruz:  Junto à cruz de Jesus estavam, de pé, sua mãe e a irmã da sua mãe, Maria, a mulher de Clopas, e Maria Madalena. Então, Jesus, ao ver ali ao pé a sua mãe e o discípulo que Ele amava, disse à mãe: Mulher, eis o teu filhoDepois, disse ao discípulo: Eis a tua mãe! E, desde aquela hora, o discípulo acolheu-a em sua casa[6].

Chegados a este ponto, temos de reler toda a vida de Jesus, dos seus discípulos, dos seus adversários e familiares, para captar o significado da manhã da Ressurreição, assunto de mulheres. Será esse tema que me desafia para a próxima crónica.

 

 



[1] Cf. Antiguidades Judaicas 18, 35.89

[2] Cf. Gerd Theissen e Annette Merz, O Jesus Histórico. Um Manual, Edições Loyola, 2004, pp. 179-181

[3] Hugo Santos, Nona Carta para um Deus ausente, in Urbano Tavares Rodrigues, os poemas da minha vida, Público, 2005, p. 93

[4] Cf. Act 4, 11-12

[5] Cf. Mc 14, 66-72 e Mt 27, 19

[6] Jo 19, 25-27

sábado, 23 de março de 2024

Jesus e o Reino de Deus Anselmo Borges Padre e professor de Filosofia 23 março 2024

 Jesus e o Reino de Deus

Anselmo Borges
Padre e professor de Filosofia

23 março 2024

Na fé, pergunta nuclear é em que Deus se acredita e no que é que, acreditando, muda na vida, na
compreensão do ser humano e do mundo. Não seria digno da pessoa acreditar por medo, acreditar
num Deus que humilha o Homem, num Deus que, na sua eternidade feliz, permanecesse indiferente à
História humana enquanto um mundo de sofrimento.

Na tradição da experiência cristã, embora a relação com Deus se não esgote na ética, a salvação a
partir de Deus é experienciada e vivida no meio do mundo, na relação inter-humana, tanto no amor
face a face como na transformação política das estruturas e situações que impedem um mundo de
rosto humano. Neste sentido, “fora do mundo não há salvação”, como sublinhava o teólogo E.
Schillebeeckx.

Para os cristãos, Deus revelou-se de modo definitivo, embora não exclusivo, na figura histórica de
Jesus de Nazaré. E o núcleo da mensagem de Jesus, na sua pessoa, nas suas palavras, na sua vida, na
sua morte, é o Reino de Deus. E o Reino de Deus é o próprio Deus enquanto amor incondicional, amor
soberanamente libertador dos homens, que fazem a sua vontade. E a vontade de Deus é o Homem
digno e livre, o mundo na paz, na alegria, as pessoas na justiça, no amor, num mundo fraterno, sem
dominadores nem dominados.

No contacto com Jesus, muitos, sobretudo os pobres, os desprezados, os doentes, os publicanos e
pecadores públicos, os leprosos, os excluídos tanto pela sociedade, como pela religião oficial,
experienciaram a libertação e a salvação vinda de Deus, reencontrando a dignidade de ser ser humano
e saboreando outra vez a alegria de viver. E Jesus tinha consciência de agir e proceder como o próprio
Deus procederia, e aqueles que nele acreditaram tiveram a experiência de que, com ele, o próprio
Deus e o seu Reino estava no meio deles.

Outros contemporâneos aperceberam-se nitidamente da ameaça e do perigo que Jesus constituía,
tanto no domínio religioso, como político. Para Jesus, também se tornou claro que o seu anúncio e
práxis de um Deus, a quem chamava Abbá, Pai querido, e que não se deixa confiscar por uma casta
religiosa que, em ordem à salvação, se apoiava no mérito, no cumprimento da “Lei” e no sacrifício,
desconhecendo a misericórdia e a graça, o levariam inevitavelmente à morte. A sua crucifixão teve,
assim, motivos religiosos e políticos: o seu Deus era não só perigoso e subversivo politicamente, mas
também falso do ponto de vista religioso oficial. Jesus não foi vítima de um Deus sádico, mas de
homens, que queriam perpetuar o mal e o sofrimento nos outros homens. A morte de Jesus é a
expressão do seu amor incondicional, até ao fim, a Deus tal como o compreendia, isto é, como um
“Deus dos homens”, portanto, a favor da dignidade e contra o mal e o sofrimento. Condenado como
blasfemo e subversivo, a sua mensagem, do alto da cruz, continua a ser: sois livres para o amor sem
condições.

Ressuscitando Jesus, Deus mesmo confirma que está do seu lado, comprometendo-se com a libertação
total do ser humano. Também para os cristãos, na História há acaso e necessidade, autonomia e
liberdade. Não sendo um mero espectáculo de marionetas, a História pode falhar; porém, a fé no Deus
de Jesus, desde a criação por liberdade doadora, funda a esperança de que nem o mal, nem a morte
dão xeque-mate definitivo a Deus. A fé na ressurreição estaria, no entanto, sempre ameaçada de
projecção ilusória, se não tivesse tido realizações fragmentárias antecipadas de libertação e sentido:
como a cruz é consequência da maneira de viver de Jesus, também a ressurreição não superaria a
acusação de ideologia compensatória, se não tivesse havido a sua antecipação na práxis histórica de
libertação e salvação, apoiada na fé de que Deus mesmo, na sua liberdade soberana, decidiu ser um
“Deus dos homens".
Por isso, como o ponto de partida da obra de Jesus foi o anúncio do Reino de Deus, isto é, “a sua
experiência do contraste que clama aos céus entre este mundo de injustiça e de sofrimento e a sua
vivência de Deus como Pai ou a sua experiência de Deus como princípio de vida simultaneamente
paterno e materno”, assim a evangelização por parte da Igreja não pode ser indoutrinação, mas tem,
em primeiro lugar, de consistir em “tornar os homens conscientes do intolerável da opressão em que
vivem”: este é “o verdadeiro ponto de partida para uma missionação autêntica” (E. Schillebeeckx).
Assim, a evangelização não consiste propriamente em conquistar adeptos para a Igreja, mas situa-se
na frente dos conflitos, quando a Igreja se coloca do lado dos oprimidos na sua luta por mais
humanidade e futuro. Precisamente a preferência pelos pobres e desprezados é a prova maior do
significado e relevância universais do Evangelho. Neste combate, está viva uma leitura da História no
seu reverso, que é a história dos oprimidos, e a denúncia dos males que os homens causam aos outros
homens. Sem este serviço profético-crítico e político, a fé não tem conteúdo real e continua sob a
ameaça de ilusão ideológica. Por outro lado, a política, sem a referência à reserva escatológica divina,
sem a relação festiva, contemplativa e doxológica com o mistério do Deus vivo, estará sempre
radicalmente ameaçada de totalitarismo, niilismo e barbárie. Sem realizações, embora fragmentárias,
de libertação intra-histórica, a salvação meta-histórica não seria crível. A salvação começa a operar-se
neste mundo, esperando a sua consumação para lá dele.
(Escreve de acordo com a antiga ortografia)

Entramos na Grande Semana! - Pe Manuel João, MC

 Entramos na Grande Semana!

 

Ano B - Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor: Marcos 11,1-10 (bênção dos ramos); Marcos 14,1-15,47 (paixão do Senhor)

 

Com o Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor, iniciamos a Semana Santa, também chamada a Grande Semana. Após os quarenta dias de preparação, estamos prestes a celebrar o mistério da Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus (Tríduo Pascal). Mistério tremendo e inefável, obscuro e luminoso, diante do qual permanecemos estupefactos e incrédulos: “Quem teria acreditado na nossa revelação?” (Isaías 53,1). A Igreja e os seus filhos vivem esta semana como um retiro espiritual, em íntima comunhão com o seu Senhor. 

Este domingo tem dois rostos, duas partes distintas. A primeira: a bênção dos ramos, seguida da procissão, caracterizada pela alegria e pelo entusiasmo. A segunda: a Eucaristia, com a proclamação da paixão, marcada pela tristeza, pelo fracasso e pela morte.

A) O Domingo de Ramos e a lei do jumentinho

A partir do evangelho da bênção dos ramos (Marcos 11,1-10), gostaria de chamar a atenção para dois protagonistas: a multidão e o jumento. Em primeiro lugar, a multidão que acompanha Jesus à entrada de Jerusalém, aclamando-o como o Messias. Geralmente, identificamos esta multidão, presumivelmente constituída sobretudo por galileus, com a multidão que, dias mais tarde, exigirá a crucificação de Jesus. Esta identificação parece-nos bastante improvável e um pouco injusta. Jerusalém era uma cidade com várias dezenas de milhares de habitantes e, na Páscoa, duplicava a sua população, com a chegada dos peregrinos. Esta multidão de galileus, aliás considerados exaltados, acabaria por se dispersar, talvez até desiludida nas suas expectativas messiânicas em relação a Jesus. A multidão que pedirá a morte de Jesus, pelo contrário, era agitada pelas autoridades religiosas da cidade e era certamente constituída por cidadãos judeus. O risco para o discípulo de Jesus não é ser um cata-vento ou um vira-casacas, mas deixar-se dominar pelas massas; deixar-se condicionar pelo “todos fazem assim” ou pelo “politicamente correto”; ou pecar por cobardia ao declarar-se seguidor de Jesus! 

O carácter messiânico de Jesus exige uma profunda mudança de mentalidade. É por isso que Jesus recorre a uma profecia esquecida, que apresenta um messias humilde e manso, que prefere o jumento, um animal de carga , ao cavalo: “Eis que vem o vosso rei, manso, montado numa jumenta e num jumentinho, filho de um animal de carga” (Zacarias 9,9). Jesus é o Messias que carrega os nossos fardos na cruz: “Ele carregou os nossos sofrimentos, tomou sobre si as nossas dores” (Isaías 53,4). Por conseguinte, o cristão também deve fazer o mesmo: “Levai as cargas uns dos outros: assim cumprireis a lei de Cristo” (Gálatas 6,2). “Porque toda a lei de Cristo é a lei do jumento” (Silvano Fausti).

“Quando o cristianismo, a Igreja, cada um de nós, sabendo que o único modo de existência é viver como o jumento, começa a piscar o olho ao "mundo", aos reis e aos poderosos da terra, desejando viver e ser como eles através do poder, da riqueza e do sucesso, então terá lugar uma espécie de hibridação trágica. Nós, feitos para viver como jumentos, juntar-nos-emos ao cavalo, símbolo do poder mundano, e o resultado será encontrarmo-nos como mulos, animais estúpidos mas sobretudo estéreis.” (Paolo Scquizzato).

B) O carácter sagrado da narrativa da paixão 

A narrativa da paixão é a parte mais antiga, mais desenvolvida e mais sagradados evangelhos. Acredita-se que a redação essencial, retomada no evangelho de Marcos, tenha ocorrido alguns anos após a morte de Jesus no ano 30, possivelmente antes do ano 36, quando Caifás terminou o seu mandato de sumo sacerdote, uma vez que o seu nome não é mencionado no relato de Marcos, o que sugere que Caifás ainda estava no cargo. Este relato circulava nas comunidades e, presumivelmente, era lido na celebração eucarística.

Os apóstolos eram as “testemunhas da ressurreição”. Por que razão, então, os cristãos da primeira geração davam tanta importância à memória da paixão? Porque viram que o perigo de ignorar a cruz de Cristo era muito grande e que isso teria sido uma traição à mensagem cristã. Este perigo continua a ser uma grande tentação para não poucos cristãos. O querigma, ou seja, o anúncio, é um tríptico que une indissoluvelmente a paixão, a morte e a ressurreição do Senhor!

C) Propostas para interiorizar o relato da paixão

- Uma forma de abordar a longa narrativa pode ser fixar a nossa atenção em cada personagem que intervém neste drama e perguntarmo-nos em quem nos vemos espelhados. Cada um de nós tem o seu papel neste drama. Cada pessoa que intervém desempenha um papel no qual se cumpre a Escritura. Que Palavra se cumpre em mim?

- Uma segunda via poderia ser a de nos determos nalguns elementos característicos do relato de Marcos. Menciono cinco deles.

1) A angústia de Jesus. Uma nota desconcertante do relato é o medo e a angústia de Jesus: “Começou a sentir medo e angústia. Disse-lhes: A minha alma está triste até à morte”. Jesus não é um super-herói, mas um de nós: ama a vida e teme a morte!

2) A solidão. Jesus aparece abandonado por todos, mesmo pelos seus amigos mais próximos e até pelo seu Pai: “Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste?”. A solidão faz parte da experiência do cristão. É o tempo da provação e da purificação da fé!

3) Abbá! Nesta hora de provação, Jesus reza com extrema confiança: “Abbá, Pai! Tudo te é possível: afasta de mim este cálice! Mas não o que eu quero, mas o que tu queres”. “Abba” é o nome carinhoso que a criança dá ao seu pai: papá, paizinho. É a única vez em todos os evangelhos que encontramos esta palavra e, por coincidência, no momento mais trágico da sua vida!

4) O silêncio. O silêncio de Jesus, várias vezes sublinhado, surpreende-nos. Este silêncio interpela-nos. Temos tendência para reagir a todo o custo, incapazes de suportar a humilhação!

5) A profissão de fé do centurião romano. Que estranho! Jesus não é reconhecido como Filho de Deus pela obra dos milagres, mas pela forma como sofreu e morreu na cruz! É um pagão a primeira pessoa no evangelho de Marcos que faz a profissão de fé em Jesus como Filho de Deus, para a qual Marcos queria conduzir os seus leitores!

Boa entrada na Semana Santa!

P. Manuel João Pereira Correia mccj
Verona, 21 de março de 2024

Para a reflexão completa, ver: https://comboni2000.org/2024/03/21/la-mia-riflessione-domenicale-entriamo-nella-grande-settimana/

P. Manuel João Pereira Correia mccj
p.mjoao@gmail.com
https://comboni2000.org

quinta-feira, 21 de março de 2024

A ética, as vítimas inocentes, Deus - Anselmo Borges Padre e professor de Filosofia

 A ética, as vítimas inocentes, Deus

Anselmo Borges
Padre e professor de Filosofia

16 março 2024

Pela tomada de consciência da finitude e da pergunta que constitutivamente lhe está
associada - de pergunta em pergunta, o ser humano deparar-se-á com a pergunta pelo
Fundamento último de tudo e pelo Sentido último -, Deus virá sempre à ideia.

A questão de Deus impõe-se igualmente por causa da ética, das vítimas inocentes e da
esperança. Lá está sempre Immanuel Kant - celebra-se este ano o terceiro centenário do
nascimento - com as suas perguntas, as de qualquer ser humano atento: “O que posso
saber? O que devo fazer? O que é que me é permitido esperar?” A última está vinculada à
religião: cumprindo o seu dever, o Homem torna-se digno da salvação de Deus.

A autonomia da razão prática, que vincula universalmente todos os homens, e para a qual
Kant deu um contributo decisivo, é uma conquista definitiva da Humanidade: a moral é uma
forma de auto-obrigação. Mas a questão ergue-se em todo o seu abismo, quando somos
confrontados com a questão ética no seu limite. Edward Schillebeeckx apresenta
precisamente o exemplo dramático do soldado que, numa ditadura e sob pena de morte,
recebe a ordem de matar um inocente, só porque ele é judeu, comunista ou cristão. Por
motivos de consciência, o soldado recusa executar a ordem, ficando assim numa situação
que toca as raias do absurdo: de facto, ele próprio será morto e outro matará o inocente.
Aparentemente, ninguém beneficiou desta acção ética absolutamente digna.

Como responder à pergunta formulada por Freud, ao confessar: “Quando eu me pergunto
por que é que sempre procurei com seriedade ser solícito, e quanto é possível ser bondoso
para com os outros e por que é que o não deixei de ser quando verifiquei que se é
prejudicado por isso e massacrado, pois os outros são brutos e infiéis, não conheço
qualquer resposta?”

Voltando ao exemplo de Schillebeeckx, estamos perante uma aporia: por um lado, somos
incondicionalmente apelados pelo respeito para com o outro; por outro, não há qualquer
garantia de que o mal - a violência e a injustiça, a tortura e a morte - não seja a última
palavra sobre as nossas existências finitas no mundo.

A pergunta torna-se, pois, inevitável: por que é que devo continuar a respeitar
incondicionalmente o outro, embora ele seja também fonte de injustiça e violência? Há
apenas dois caminhos de resposta eticamente responsável: a resposta religiosa e a resposta
que se reclama de uma acção heróica a favor do Humanum. Ambas se apoiam na esperança
de que, contra todas as aparências fácticas, a justiça triunfará sobre a injustiça,
o Humanum sobre a desumanidade.

Jean-Paul Sartre, no seu leito de morte, dizia “Eu ainda continuo a confiar na humanidade do
Homem.” No entanto, o humanista ateu/agnóstico não pode dar nenhum tipo de garantia de
que a sua esperança, exclusivamente fundada ético-autonomamente, se concretize. De
qualquer forma, para as vítimas que já caíram e para aquelas que no futuro continuarão a
tombar, não há salvação. O Homem não pode, por si mesmo, operar a sua plena salvação: a
uma total auto-libertação emancipatória, à maneira, por exemplo, da situação ideal de fala
contrafáctica, de Jürgen Habermas, opõe-se o facto de o Homem ser para os outros não só
graça, mas também violência e aniquilação, numa história de maldade que parece não ter
fim: “mistério da iniquidade”, dizia S. Paulo..
Por isso, Theodor Adorno, da Escola Crítica de Frankfurt, escreveu que a esperança tem de
incluir a todos e que, a haver justiça, ela teria de ser justiça também para os mortos . Neste
sentido, o seu amigo Max Horkheimer, outro fundador da Escola Crítica, escreveu: “Toda a
pretensão de fundamentar a moral na inteligência terrena e não num Além (...) constrói
sobre ilusões harmonizadoras. Em última análise, tudo o que se relaciona com a moral tem
a ver com a teologia”, sendo a teologia - “exprimo-me com toda a precaução - a esperança de
que, não obstante a injustiça que caracteriza o mundo, não acontecerá que ela, a injustiça,
seja a última palavra.” Neste sentido, também Walter Benjamin insistiu que a solidariedade
com os mortos, concretamente com as vítimas inocentes, não permitia conceber a história
“a-teologicamente”.
Também o crente é obrigado a empenhar-se incondicionalmente pelos outros, em caso-
limite até ao martírio, e não precisa de Deus como fundamento imediato do seu agir ético. A
entrega incondicionada do mártir não tem como motivo a conquista da recompensa eterna:
na fundamentação autónoma da ética, trata-se do Humanum absolutamente digno e da
esperança da justiça sobre a injustiça - et si Deus non daretur (como se Deus não existisse).
No entanto, o crente sabe que a sua acção é mais forte do que a morte, e, acreditando em
Deus, considera a fé no triunfo do bem sobre o mal, da justiça sobre a injustiça, como
experiência do meta-humano e meta-ético, que os homens na sua história intramundana
não podem realizar. Desta forma, o mal e o absurdo não são anulados, nem sequer
racionalmente compreendidos (neste sentido, Hans Albert tinha razão quando falava do
“mito da razão total”), mas, para o crente, não têm a última palavra: sendo Deus a fonte e o
fundamento transcendente da ética, há esperança para as vítimas e para os mortos, que,
fora desta perspectiva, ficam definitivamente anulados na História. O apelo a Deus é vivido
no empenho ético e na fé de que a justiça é mais forte do que a injustiça, na plenitude da
vida.

A PÁSCOA, O GRANDE DESEJO Frei Bento Domingues, O.P. 17 Março 2024

 

1. Na celebração cristã deste Domingo, é proposto um enigmático texto do Evangelho, com muitos paralelos no Novo Testamento (NT)[1]: «Entre os que tinham subido a Jerusalém à Festa para a adoração, havia alguns gregos. Estes foram ter com Filipe, que era de Betsaida da Galileia, e pediam-lhe: Senhor, nós queremos ver Jesus! Filipe foi dizer isto a André; André e Filipe foram dizê-lo a Jesus. Jesus respondeu-lhes: Chegou a hora de se revelar a glória do Filho do Homem. Em verdade, em verdade vos digo, se o grão de trigo, lançado à terra, não morrer, fica ele só; mas, se morrer, dá muito fruto. Quem se ama a si mesmo, perde-se; quem se despreza a si mesmo, neste mundo, assegura para si a vida em abundância.

Se alguém me serve, que me siga, e onde Eu estiver, aí estará também o meu servo. Se alguém me servir, o Pai há-de honrá-lo. Agora a minha alma está perturbada. E que hei-de Eu dizer? Pai, salva-me desta hora? Mas precisamente para esta hora é que Eu vim! Pai, manifesta a tua glória! Veio, então, uma voz do Céu: Já a manifestei e voltarei a manifestá-la!

Entre as pessoas presentes, que escutaram, uns diziam que tinha sido um trovão; outros diziam: Foi um Anjo que lhe falou! Jesus respondeu: Esta voz não veio por causa de mim, mas por amor de vós. Agora é o julgamento deste mundo; agora é que o dominador deste mundo vai ser lançado fora. E Eu, quando for erguido da terra, atrairei todos a mim. Dizia isto dando a entender de que espécie de morte havia de morrer»[2].

Como é normal para os cristãos, nesta quadra do ano, tudo se passa entre o sentido da vida e o sentido da morte, assumindo a vida e a morte, a dor e a alegria que tecem os nossos dias. Não é para morrer nem para sofrer que viemos ao mundo. O sentido do cristianismo não é a cruz, mas a Ressurreição, a plenitude da vida.

Uma celebração cristã da Eucaristia parece uma montagem de textos. Não nos enganemos. Não são eles que nos salvam. O que nos salva é o acolhimento da graça da nossa transformação e das nossas relações humanas.

São, no entanto, os textos que nos acordam, nos dizem, nos provocam, para o que é preciso fazer neste mundo. Revestem, por isso, um carácter comunitário. Não são apenas para nosso proveito, mas para colocar a nossa vida ao serviço dos outros. Uma celebração eucarística situa-nos na vida de todos e para proveito de todos, o que exige a morte do nosso egoísmo. É na medida em que enterrarmos esse egoísmo que floresce a vida para todos.

2. Não podemos identificar uma celebração da fé cristã com uma exaltação do sofrimento, da dor e da morte. Não é o que faz sofrer que nos salva. O elogio do sofrimento não é necessariamente cristão. Supor que Deus gosta do sofrimento é um insulto ao Deus da vida. O cristianismo, neste mundo – ao contrário das aparências –, é para descrucificar as pessoas, não para as torturar.

É impressionante o número de textos do NT, de estilos muito diferentes, para dizer que a nossa vida só tem sentido como dom, como partilha, tornando-nos cada vez mais competentes para aliviar o sofrimento que atormenta pessoas e multidões.

Passamos pela vida a correr para não nos confrontarmos com as suas interrogações. A função do Domingo é a de nos fazer parar: que ando eu a fazer da minha vida? É bom saber o que nos salva e o que nos perde: gastar a vida de forma que dê mais vida ou gastar a vida para dar cabo da vida dos outros.

O filósofo checo, Tomáš Halík, ordenado sacerdote na clandestinidade, em 1979, tornou-se conhecido pelo seu empenho num diálogo construtivo com não-crentes e crentes de outras tradições religiosas e por uma vasta bibliografia[3].

Chamou a atenção que, na fé cristã, é impossível desligar a realidade de Deus da realidade humana e a realidade humana da realidade de Deus. «A fé cristã consiste em estabelecer uma relação constante entre o Evangelho e a nossa vida; consiste na coragem de entrar nesta história. Trata-se de tentar redescobrir, de forma sempre nova e mais profunda, o sentido das narrativas bíblicas, com base nas próprias experiências pessoais e comunitárias, deixar actuar as possantes e fortes imagens do Evangelho para que elas, gradualmente, iluminem, interpretem e transformem o fluxo da nossa vida»[4].

3. O texto-acontecimento escolhido para este Domingo é uma interrogação radical que a prática cristã não pode nem quer evitar, hoje. A alma de todas as expressões desta vida religiosa está no desejo de querer ver Jesus. Isto significa que o conhecimento de Jesus tem de ser um conhecimento de experiência feito, o conhecimento do amor.

O cristianismo transformar-se-ia em algo abstracto – num estudo, por exemplo – sem o desejo, a vontade, o esforço de um encontro pessoal e comunitário com Jesus. O desejo vai além da realidade aparente: «Tendo entrado em Jericó, Jesus atravessava a cidade. Vivia ali um homem rico, chamado Zaqueu, que era chefe de cobradores de impostos. Procurava ver Jesus e não podia, por causa da multidão, pois era de pequena estatura. Correndo à frente, subiu a um sicómoro para o ver, porque Ele devia passar por ali. Quando chegou àquele local, Jesus levantou os olhos e disse-lhe: Zaqueu, desce depressa, pois hoje tenho de ficar em tua casa. Ele desceu imediatamente e acolheu Jesus, cheio de alegria[5].

Todo o NT está dependente da visão do Ressuscitado e são bem-aventurados os que acreditam sem ver porque a fé é a mais profunda das visões[6].

Quem, em termos de desejo, escreveu os poemas cristãos mais sugestivos foi José Augusto Mourão, O.P. (1947-2011): não se extinga o desejo que nos faz viver, / Deus do nosso desejo;// alimenta em nós o fogo das paixões / que nos leva a agir / e o fogo da palavra que por dentro queime / e faça escuta;// tu que és o guardião do nosso desejo, / aviva a chaga que o nosso imaginário / constantemente quer sem falha; / que vivamos o nosso desejo sem culpabilidade;// circuncize-nos o coração a espada do amor, / pregão antigo e novo / em nosso corpo adormecido e acordado[7].

Sem o desejo, a alma morre, ficamos sem a linguagem da esperança, sem a linguagem da Páscoa.

 

 

 



[1] Mt 16, 24-26; Mc 8, 14-37; Lc 9, 23-25

[2] Jo 12, 20-33

[3] A Paulinas Editora publicou vários dos seus livros, entre eles, Paciência com Deus e A noite do confessor.

[4] Cf. Tomáš Halík, O meu Deus é um Deus ferido, Paulinas Editora

[5] O caso de Zaqueu: Lc 19, 1-10

[6] Madalena diz: Vi o Senhor, Jo 20,18; os discípulos exultaram por verem o Senhor, Jo 20, 20.25. 29

[7] do desejo, in dizer Deus ao (des)abrigo do Nome, Difusora Bíblica, 1991, p. 35