domingo, 29 de abril de 2018

A IMPERTINÊNCIA DA EVANGELIZAÇÃO Frei Bento Domingues, O.P.


1. Encontrei, em várias intervenções de Thierry-Dominique Humbrecht[1] e no título de um dos seus livros, A evangelização impertinente, a sugestão para esta crónica, ainda que com desvios.

O autor referido pretende escrever um guia do cristão nos países pós-modernos. Teve bom acolhimento. Não se conforma com a moleza das expressões da presença cristã em algumas sociedades ocidentais. Não é preciso estar inteiramente de acordo com o seu diagnóstico nem com as suas propostas. É mais importante suscitar um debate do que apresentar soluções para cristãos apressados e preguiçosos.

Th-D. Humbrecht é um investigador da filosofia medieval e já deu provas da sua acutilância analítica. Não se resigna, porém, a viver na sua torre de marfim do passado, nem se conforma com o silêncio dos católicos nos actuais debates que percorrem a sociedade. O cristão parece intimidado, excluído da cultura, dando a impressão de que não se deixa interrogar pela gravidade do que está acontecer. Ao julgar irremediável que o país deixe de ser cristão, não se apercebe que existe uma estratégia, dita pós-moderna, interessada em libertar-se dessa herança. O niilismo exibido esconde, no entanto, um projecto de poder, por vezes, também, uma nostalgia.

Tendo em conta esse ambiente, que abrange uma grande complexidade, como é que um cristão se pode situar entre a compaixão, a cumplicidade e a contracultura? Perante os cortes na transmissão do que há de vivo no passado, o abandono de muitas heranças, a ditadura do relativismo e certo ateísmo católico, muitos cristãos têm a impressão de que o grande navio se tornou uma simples barcarola.

De facto, o próprio cristão cede muitas vezes a essa lógica: escolho o que me apetece e deixo de lado o que não me interessa. Nestas condições, como fazer ouvir o Evangelho? Pela palavra ou pelo exemplo? E onde: na família, na educação, na política, na cultura?

Entre a laicidade mal compreendida e os vãos apelos ao milagre, o caminho da providência é o que se baseia na nossa coragem pública. O cristão tem algo de insubstituível a dizer aos seus contemporâneos. Não há Igreja sem evangelizadores impertinentes, que ofereçam uma mensagem de esperança para tempos de relativismo.

Para o conseguir, é preciso desembaraçar-se de um paradoxal anti-intelectualismo. O cristão deve, pelo contrário, cuidar a sua formação e tornar-se competente sob o ponto de vista intelectual. Por isso, os jovens cristãos devem preferir profissões criativas, em todas as suas expressões, àquelas que acenam apenas com sucesso pessoal no campo financeiro.

 O filósofo dominicano Th. D. Humbrech, professor em várias universidades, inconformado com a incultura do vale tudo e o seu contrário, luta por uma viragem cultural, por um catolicismo competente no campo literário, artístico, filosófico, teológico, espiritual, ético e político.

2. Agrada-me esta vontade de acabar com um catolicismo culturalmente envergonhado e complexado. Detesto, porém, todas as derivas de compensação que vão desaguar no catolicismo fundamentalista, em nome da verdadeira doutrina da Igreja e se esgota na falsa tranquilidade dos catecismos e do Direito Canónico. A fé cristã não se fixa nas formulações dos credos. É uma entrega ao infinito amor de Deus que nenhuma expressão O pode limitar. O místico é aquele que não pode parar. É uma viagem permanente, sem apeadeiros, sem estações definitivas, até chegar à plenitude da alegria de Deus.

A fé é um activador da criatividade, não um extintor. Tomás de Aquino insistiu sempre em que uma coisa é recitar os credos da ortodoxia, outra é procurar entender Aquele a quem nos confiamos. Recitar o Credo sem procurar responder à questão: como é que é verdade aquilo que confesso ser verdade?, posso ser muito ortodoxo, mas sou uma cabeça vazia.

Também não basta ler os textos e as narrativas do Novo Testamento (NT). A letra mata, só o espírito do texto vivifica. Quando um padre ou um bispo faz uma homilia a repetir a leitura que já escutámos, bem podia ficar calado. É fundamental entrosar as narrativas bíblicas com as experiências actuais da fé, na encruzilhada dos problemas vividos na sociedade.

O Concílio Vaticano II, tão esquecido, lembrou que «é dever da Igreja investigar, a todo o momento, os sinais dos tempos e interpretá-los à luz do Evangelho; para que assim possa responder, de modo adaptado em cada geração, às eternas perguntas dos seres humanos acerca do sentido da vida presente e futura e da relação entre ambas. É, por isso, necessário conhecer e compreender o mundo em que vivemos, as suas esperanças e aspirações, o seu carácter tantas vezes dramático[2]».

A criatividade da fé cristã não se pode manifestar, apenas, nas expressões teológicas e na poesia mística. Pertence-lhe activar e exprimir-se em todas as grandes formas de criatividade humana: literatura, artes plásticas, encenações teatrais, cinema, bailado, humor e, sobretudo, música. Dentro e fora da liturgia.

Não é preciso nenhum mandamento divino para justificar esta atitude. Como dizia Tomás de Aquino, o bem deve ser praticado porque é bem e o mal devia ser evitado porque é mal.

3. Não podemos esquecer a impertinência do Evangelho de Jesus Cristo. Se tivesse sido mais acomodado podia ter tido uma carreira brilhante. O diabo do poder de dominação económica, política e religiosa bem o tentou e o Nazareno não tinha o fascínio de João Baptista pela austeridade. Ele gostava da vida. Tinha o defeito de não suportar ver uns à mesa e outros à porta; uns como povo de Deus e outros não se sabe de quem; uns classificados, à partida, como santos e outros como pecadores; uns privilegiados porque eram homens e outras marginalizadas porque eram mulheres.

Tinha a impertinência de gostar da vida para todos, desenvolvendo as potencialidades humanas e os talentos, sem discutir se estavam bem ou mal distribuídos. Tinha ainda um outro defeito: detestava a ganância e o carreirismo. Os discípulos que escolheu andavam sempre a perguntar-lhe o que ganhavam na sua companhia e o lugar que lhes estava destinado. Um dia teve de pôr tudo em pratos limpos, mas sem grande sucesso.

O Evangelho de S. Mateus[3], fruto de muita reflexão e de muita experiência pós-pascal, quis deixar, em três parábolas, algo de extraordinário: a importância da lucidez contra o deixar correr, a importância de ninguém se desculpar por não ser um génio, mas não há nenhuma ciência nem nenhuma capacidade de fazer fortuna que não tenha de olhar para o lado e ver os que ninguém cuida.  

29.04.2018





[1] Thierry-Dominique Humbrecht, O.P., L'évangélisation impertinente. Guide du chrétien au pays des postmodernes, Paris, Parole et Silence, 2012 (3e édition).  
[2] Gaudium et Spes, 4
[3] Mt 25

sexta-feira, 27 de abril de 2018

Nigéria: Quinze fiéis e dois padres assassinados 26 de Abril de 2018

Dois padres e pelo menos 15 fiéis foram mortos a tiro quando participavam numa celebração eucarística numa igreja na aldeia de Mbalim, no estado de Benue, na Nigéria.

México: Terceiro sacerdote assassinado em uma semana
27 de Abril de 2018
A VIDA NÃO ESTÁ FÁCIL PARA PARA OS CRISTÃOS...

quinta-feira, 19 de abril de 2018

O IMAGINÁRIO PASCAL DO ALÉM-TÚMULO Frei Bento Domingues, O.P.


     1. Uma biografia procura dar a conhecer o percurso entre o nascimento e a morte. A possibilidade de observar o desenvolvimento da vida intra-uterina é relativamente recente. Esta banalidade não pode ser esquecida na leitura das narrativas em torno da ressurreição de Cristo.

      Depois da morte, restam apenas as marcas que o falecido deixou nas suas obras e na memória dos vivos. No entanto, o imaginário da vida depois da morte sempre suscitou e alimentou insólitas “histórias” de terror e consolação[1]. Os “mapas” da geografia do Além e das crenças nos poderes invisíveis são abundantes na originalidade de cada povo e cultura. Parece que a maioria das pessoas recusa o niilismo. Não aceita que a morte seja o fim de tudo. No vocabulário cristão, a ressurreição impôs-se, mas continua a ser difícil exprimir a significação dessa gloriosa metáfora[2].

Quando lemos e proclamamos, na Eucaristia, trechos das chamadas narrativas da ressurreição de Cristo (cujo facto ninguém presenciou, nem poderia presenciar), ficamos sempre mergulhados em muitas perplexidades.

        Por um lado, no dizer de S. Paulo, se não há ressurreição, Cristo também não ressuscitou e, se Cristo não ressuscitou, estamos ligados a nada ou, apenas, à memória do que foi e nunca mais volta.

       Recordar o exemplo que Jesus de Nazaré nos deixou – a figura mais extraordinária da humanidade – deve encher de alegria crentes, agnósticos e ateus. Para os cristãos, esvaziar a sua humanidade é um atentado contra a humanização de Deus.

Por outro lado, as narrativas que falam de Jesus depois da morte enchem-nos de dúvidas e todas as exegeses aumentam as dificuldades. O que é contado aconteceu de facto, ou não são mais do que criações de uma imaginação delirante?

Nessa escrita, o verosímil e o impossível parecem constituir a originalidade do seu tecido. A actuação de Jesus, umas vezes é apresentada à imagem do que aconteceu durante o seu percurso terreno, noutros casos a linguagem é de ruptura completa.

Como mostrar que Jesus ressuscitado continua a ser o mesmo que viveu com os discípulos e que agora vive numa dimensão completamente nova e indizível? Como pode atingir-nos em todos os tempos e lugares e conviver com todos os seres humanos de todas as épocas da história?

Os narradores tiveram de recorrer a todos os recursos da imaginação para exprimir o que supera a nossa experiência intra-histórica. A linguagem simbólica é muito mais realista do que a linguagem das ciências empíricas. Quanto mais poético mais real. A música é a sua alma e apenas ela pode sugerir o que nenhuma linguagem pode conter.

2. Numa pequena tertúlia, surgiu a opinião de que essa observação era uma escapatória. Agora, as novas tecnologias oferecem e antecipam algo de muito mais milagroso e sofisticado do que as peripécias das narrativas e aventuras sobre a ressurreição.

Como sou uma nulidade acerca das possibilidades das novas tecnologias, abstenho-me do ridículo de usar as suas linguagens na interpretação dos textos do Novo Testamento.

Além disso, o uso que a liturgia católica faz desses textos não é para resolver problemas do passado nem para dar contributos à Quarta Revolução Industrial[3]. Pretende responder a esta simples questão: Jesus Cristo é ou não nosso contemporâneo? Umas vezes situamo-lo no passado, naquele tempo, ou no céu, à direita do Pai, numa espécie de férias prolongadas. Nas próprias orações das missas repete-se Ele que é Deus convosco. O Emmanuel, o Deus connosco, nessas expressões acaba por viver sem nós, situado no passado ou no “etéreo”. Não admira que as orações dos fiéis andem sempre a informar Deus acerca daquilo que por cá se passa. Não tem de ser assim.

3. A arte de entrosar o passado e o presente foi-nos oferecida por S. Lucas[4]. Escreveu um conto – os Discípulos de Emaús – como se fosse acerca do passado para dizer o que sempre acontece numa comunidade cristã. Imaginou dois dos discípulos, tristes e desiludidos pelo que aconteceu ao seu Mestre e sem esperança na ressurreição prometida. O interessante do conto é que o próprio Jesus entrou no grupo e na discussão do que tinha sido o seu julgamento. Eles estranham a ignorância e a distracção deste forasteiro e explicaram-lhe, com todos os pormenores, o que Lhe tinha acontecido. Este mostra-se muito interessado. Acabam por acrescentar: «é verdade que algumas mulheres, que são dos nossos, nos assustaram; foram ao sepulcro e vieram dizer que tiveram umas visões e que Ele está vivo. Os homens verificaram a narrativa das mulheres, mas não O viram.»  

Aí, o forasteiro explicou-lhes que não estavam a entender o que tinha acontecido. Não se dá por achado e explicou-lhes, a partir das Escrituras, o que a Esse personagem dizia respeito. Estando os discípulos perto da aldeia para onde iam, Jesus fez de conta que seguia viagem. Pediram-lhe para ficar com eles. Ficou e tomou conta da casa e da mesa. Tomou o pão partiu-o, distribuiu-o e deixaram de O ver. O espanto: enquanto O viram, não O viram. Quando O não viram, reconheceram-no no gesto eucarístico.

Este é um verdadeiro conto exemplar. Jesus Cristo é o clandestino da vida humana. Não damos por Ele, mas Ele anda sempre connosco. A celebração da Eucaristia implica uma ponte entre o quotidiano e a celebração. Mas sem o acolhimento do desconhecido não acontece nada. Certamente que Jesus não tinha uma forma especial de partir pão. Mas é Ele que é o pão da vida. A celebração semanal da Eucaristia serve para não perder a memória de Jesus, a transformação do presente e a abertura à esperança.

15. 04. 2018



[1] José Mattoso, Poderes Invisíveis. O Imaginário Medieval, Círculo de Leitores, 2013
[2] Cf. Padre Anselmo Borges, O que é ressuscitar?, DN 06.04.2018
[3] Klaus Schwab, A Quarta Revolução Industrial, Lenoir/Público, 2017
[4] Lc 24, 13-35

ANIVERSÁRIO: papa emérito bento xvi completou 91 anos


O Papa emérito Bento XVI completou
na passada segunda-feira 91 anos de
idade. Foi em “clima de serenidade”
que festejou o aniversário no Mosteiro
Mater Ecclesiae, onde se encontra a
morar desde a renúncia ao pontificado,
adiantou o portal de informação
Vatican News. Joseph Ratzinger nasceu
na Alemanha, em 1927, a um Sábado
Santo. Passou a infância e adolescência
em Traunstein, uma pequena localidade
perto da Áustria. No dia 19 de Abril
de 2005 tornou-se o 265.º Papa,
sucedendo a João Paulo II.

sábado, 14 de abril de 2018

POR MARES DANTES NAVEGADOS- Madeira e Porto Santo

Caros amigos e presidentes das AAASP, boa tarde!

Conforme informação dada na última Assembleia geral da UASP, vimos, por este meio, enviar o programa completo da próxima etapa do projecto "Por mares dantes navegados..." que nos levará às ilhas da Madeira e Porto Santo, nos seis séculos da sua descoberta!

Como nas etapas anteriores, o programa foi elaborado com indispensável ajuda local - neste caso, o presidente da AAAS do Funchal: Manuel Gama - que o enriqueceu nas várias dimensões que esta iniciativa contempla: histórica e cultural, eclesial e espiritual, ambiental e paisagista.

Muito gostaríamos que esta informação pudesse chegar a todos os interessados (antigos alunos, familiares e outros...) para que as inscrições, acompanhadas de metade do pagamento, nos sejam enviadas até ao dia 28 de Maio. 

Disponíveis para os esclarecimentos que forem necessários,

Atenciosamente,
P. Armindo Janeiro


www.uasp.pt | Faceboock.com/uasp


POR MARES DANTES NAVEGADOS
MADEIRA E PORTO SANTO
15 a 22 de Setembro de 2018
PROGRAMA
Sábado, 15 de Setembro – Lisboa-Funchal
11h30 - Comparência no Aeroporto de Lisboa. Formalidades de check in e embarque no voo TP 1681.
13h30 - Saída prevista do avião
15h15 - Chegada prevista ao aeroporto da Madeira. Transporte para o Funchal.
16h30 - Chegada prevista ao Hotel, no Funchal. Alojamento.
18h30 - Eucaristia dominical na igreja do Carmo, no Funchal.
Visita à Zona Velha e jantar num restaurante desta zona.
Domingo, 16 de Setembro – Volta à Ilha – Porto Moniz
Pequeno-almoço no Hotel.
09h30 - Saída com destino a Cabo Girão (o mais alto promontório da Europa), Ribeira Brava (simpática Vila costeira); Encumeada (cume a 1077 metros onde se pode apreciar as costas do norte e do sul; Chão dos Louros; S. Vicente, Seixal, Véu da Noiva, Porto Moniz.
13h00 - Almoço junto ao Cais do Seixal.
15h00 - Saída com destino a S. Vicente, Ponta Delgada, Boa Ventura, Arco de São Jorge, São Jorge, com breves paragens em cada um destes lugares.
Lanche nas Cabanas (por conta própria).
Continuação por Santana até ao Funchal pela via rápida. Passagem pelo Garajau-Caniço.
20h00 - Jantar no Restaurante Zarcos, com vista sobre o Funchal.
22h00 - Transporte para o Hotel.
2ª feira, 17 de Setembro – Funchal: Património – Museus
09h00 - Visita ao Mercado Municipal.
10h00 - Visita ao Museu de Arte Sacra.
11h00 - Visita ao museu Frederico de Freitas.
12h00 - Museu das Cruzes e Convento de Santa Clara.
13h30 - Almoço na baixa do Funchal, Rua da Queimada de Baixo.
15h00 - Visita ao Bispo do Funchal.
16h00 - Visita à Igreja e Torre do Colégio.
17h00 - Visita à Catedral do Funchal
18h00 - Eucaristia na Sé (horário habitual).
19h30 - Transporte para o Restaurante A SETA. Jantar típico.
Nota: O cumprimento deste horário fica dependente da hora da receção do Bispo do Funchal.
3ª feira, 18 de Setembro – Zona Leste da Madeira
09h00 - Saída do Hotel
09h30 - Visita à Igreja do Monte, túmulo de Carlos de Áustria e Jardins do Monte.
10h30 - Visita ao Terreiro da Luta, Poiso, Pico do Areeiro, Ribeiro Frio, Levada dos Balcões, São Roque do Faial, Faial, Santana.
13h00 - Almoço em Santana.
15h00 - Regresso pela via rápida.
16h00 - Caniçal, Zona Franca, Ponta de São Lourenço.
17h00 - Machico, visita à igreja matriz e à capela do Senhor dos Milagres.
18h00 - Eucaristia na Capela dos Milagres ou na Matriz.
19h30 - Jantar em Machico (Bodião, Castanhetas, produtos do mar).
22h00 - Regresso ao Hotel no Funchal.
UASP POR MARES DANTES NAVEGADOS
MADEIRA E PORTO SANTO
15 a 22 de Setembro de 2018
4ª feira, 19 de Setembro – Monte, Eira do Serrado, Pico dos Barcelos
09h00 - Saída do Hotel. Visita ao Jardim Botânico.
10h30 - Visita ao Miradouro da Eira do Serrado (1094 metros com vista sobre o Curral das Freiras).
12h00 - Visita ao Pico dos Barcelos.
13h30 - Almoço no restaurante Estação.
15h00 - Visita a Câmara de Lobos: Zona Piscatória, Centro, Igreja de São Sebastião, Igreja de Santa Cecília,
Pico da Torre e Convento de São Bernardino.
18h00 - Eucaristia no Convento de São Bernardino (1459-1460).
19h30 - Jantar no Lagar.
21h30 - Regresso ao Hotel.
5ª feira, 20 de Setembro – Embarque para o Porto Santo
Pequeno-almoço no Hotel.
06h45 - Transporte para o Porto Marítimo.
08h00 - Partida para Porto Santo no barco Lobo Marinho.
10h30 - Chegada prevista ao Porto Santo. Transporte para o Hotel Praia Dourada. Alojamento.
Almoço na Baiana (restaurante em obras, podendo não estar aberto nesta data. Providenciar-se-á
alternativa, nesse caso).
15h00 - Visita à zona litoral desde a cidade e até à Calheta, incluindo o Cais, a Capela do Espírito Santo, a
Capela de São Pedro, o Campo de Golfe, ….
18h00 - Eucaristia na Capela do Espírito Santo.
19h30 - Jantar no restaurante “O Forno”.
6ª feira, 21 de Setembro – Interior da Ilha do Porto Santo
Pequeno-almoço no Hotel.
09h30 - Visita à Casa de Colombo.
10h30 - Passeio para visitar o Interior da Ilha, Quinta das Palmeiras, Miradouro do Castanho, …
13h00 - Almoço num restaurante da Camacha.
17h30 - Visita à igreja Matriz (Nossa Senhora da Piedade)
18h00 - Eucaristia
19h30 - Jantar típico no Rochedo.
Sábado, 22 de Setembro – Visita ao norte da Ilha do Porto Santo.
Pequeno-almoço no Hotel.
09h30 - Saída para a parte Norte da Ilha, visitando a Quinta do Serrado onde existe um Mini Zoo.
Almoço num restaurante da zona.
17h00 - Transporte para o aeroporto. Formalidade de check in e embarque no voo TAP 1738
19h00 - Saída prevista do avião
20h30 - Chegada a Lisboa
Fim dos nossos serviços.
CONDIÇÕES
Preço por pessoa em quarto duplo: 950€ | Suplemento para quarto individual: 145€
Pagamento: 50% no acto da inscrição | 50% até 15 de Agosto 2018
Data limite de inscrição: 28 de Maio 2018
UASP POR MARES DANTES NAVEGADOS
MADEIRA E PORTO SANTO
15 a 22 de Setembro de 2018

Ficha de Inscrição
Nome 1: _______________________________________________________________
Nome 2: ______________________________________________________________
Endereço: ____________________________________________________________
Cod Postal ________-_____ Localidade ____________________________________
E-mail _________________________________ Telef. / Tlm: __________________
Seminário/Instituto: ____________________________________________________
ALOJAMENTO: Em quarto duplo: 950€ /pessoa Em quarto individual: 950€ + 145€ = 1.095€
DATA LIMITE DE INSCRIÇÃO: 28/05/2018
PAGAMENTO: 50% no acto da inscriçaão; 50% até 15/08/2018
FORMA DE PAGAMENTO: por transferência bancária através do NIB 0045 5023 4025 07857 5995 (UASP) ou por cheque à ordem da UASP. No caso da transferencia bancária, informar, por favor, o Secretariado da UASP do valor e data da mesma através do e-mail: uaaasp@gmail.com. Para envio via CTT, enderessar a: P. Armindo Janeiro, Praça da Republica, nº 18, 2490-498 Ourém
Pagamento da 1ª tranche:
Transferência bancária em ____ / ____ / 2018 no valor de ______________€
Cheque s/ o banco ________________ nº _______________________ no valor de ____________€
Data: _____ / _____ / 2018
Assinatura: __________________________________________________

terça-feira, 10 de abril de 2018

Papa quer menos burocratas na Igreja - Diário do Minho

Papa Francisco afirma
que «a Igreja não
precisa de tantos burocratas
e funcionários,
mas sim de missionários
apaixonados»,
elogiando os religiosos
que desvalorizam o conforto
e lembrando que
qualquer um pode ser
santo.Francisco faz esta reflexão
na sua terceira exortação
apostólica intitulada
"Gaudete et Exsultate"
("Alegrai-vos e exultai"),
que o Vaticano publicou
ontem e na qual aborda «a
santidade no mundo contemporâneo
», seus «riscos,
desafios e oportunidades».
Jorge Bergoglio elogia
os «padres, freiras, religiosos
e leigos que se dedicam
a anunciar e a servir
com grande fidelidade,
muitas vezes arriscando
suas vidas e, certamente,
à custa de conforto».
suas vidas às novidades
do consumo, enquanto
outros só olham de fora
enquanto sua vida passa
e termina miseravelmente
», refere.
O Papa Francisco pede
ainda aos cristãos
que ajudem os pobres e
necessitados.
«Não podemos considerar
um ideal de santidade
quando se ignora a
injustiça deste mundo, onde
alguns celebram, passam
felizes e reduzem
suas vidas às novidades
do consumo, enquanto
outros só olham de fora
enquanto sua vida passa
e termina miseravelmente
», refere.
O Papa critica ainda casos
em que também os
cristãos fazem parte de
redes de violência verbal
através da internet e vários
fóruns ou espaços de
intercâmbio digital.
«Mesmo nos media
católicos, é possível ultrapassar
os limites, tolerando-
se a difamação
e a calúnia e parecendo
excluir qualquer ética e
respeito pela fama alheia.
Gera-se, assim, um dualismo
perigoso, porque, nestas
redes, dizem-se coisas
que não seriam toleráveis
na vida pública e procura-
se compensar as próprias
insatisfações descarregando
furiosamente
os desejos de vingança»,
diz, adiantando que por
vezes, pretendendo defender
outros mandamentos,
seja ignorado o
oitavo: «não levantar falsos
testemunhos».
Papa propõe modelo
cristão de felicidade
Na terceira exortação
apostólica do pontificado,
dedicada à santidade,
Francisco propõe um modelo
cristão de felicidade
como alternativa ao consumismo,
à pressa e à indiferença
face ao outro.
«Se não cultivarmos
uma certa austeridade,
se não lutarmos contra
esta febre que a sociedade
de consumo nos impõe
para nos vender coisas,
acabamos por nos transformar
em pobres insatisfeitos
que tudo querem ter
e provar», escreve.

Francisco faz esta reflexão
na sua terceira exortação
apostólica intitulada
"Gaudete et Exsultate"
("Alegrai-vos e exultai"),
que o Vaticano publicou
ontem e na qual aborda «a
santidade no mundo contemporâneo
», seus «riscos,
desafios e oportunidades».
Jorge Bergoglio elogia
os «padres, freiras, religiosos
e leigos que se dedicam
a anunciar e a servir
com grande fidelidade,
muitas vezes arriscando
suas vidas e, certamente,
à custa de conforto».
Francisco lembra que
«para ser santo não é necessário
ser bispo, sacerdote,
religioso ou religiosa
», mas que qualquer
um o pode ser com o seu
comportamento diário.
«Para ser santo, não é
necessário ser bispo, sacerdote,
religiosa ou religioso.
Muitas vezes somos tentados
a pensar que a santidade
está reservada apenas
àqueles que têm possibilidade
de se afastar das ocupações
comuns, para dedicar
muito tempo à oração.
Não é assim. Todos somos
chamados a ser santos, vivendo
com amor e oferecendo
o próprio testemunho
nas ocupações de
cada dia, onde cada um se
encontra», refere.

O Papa considera que
a fixação no próprio "eu"
impede o compromisso
na ajuda a «quem está
mal».
Alerta para a tentação de
superioridade que leva a
julgar o outro, criticando
quem vive apenas para
cumprir «preceitos e
prescrições».
«Não nos faz bem olhar
com altivez, assumir o papel
de juízes sem piedade,
considerar os outros
como indignos e pretender
continuamente dar lições
», assinala.
Francisco alerta para
a obsessão de fazer um
«controlo rigoroso sobre
a vida dos outros» e remete
a proposta cristã para a
essencialidade das palavras
de Jesus Cristo.
O Papa, que tem sido
alvo de críticas por alguns
setores católicos, refere
que na Igreja convivem
«legitimamente» diferentes
maneiras de interpretar
muitos aspetos da doutrina
e da vida cristã.
Propõe uma maior
atenção aos mais necessitados
e à justiça social na
vida dos católicos, que desafia
a «reconhecer Jesus
nos pobres e atribulados».
Redação/Lusa/Ecclesia

domingo, 8 de abril de 2018

EVANGELHO SEGUNDO O PAPA FRANCISCO Frei Bento Domingues, O.P.


1. Um dos fenómenos mais característicos do catolicismo do século XX foram os movimentos da Acção Católica. Paulo Fontes estudou o seu papel na criação de verdadeiras elites, em Portugal[1]. Para a hierarquia eram o seu braço estendido. Chegavam onde ela não conseguia entrar. Os jovens eram desejados, encorajados, mas a sua criatividade estava limitada pelo mandato que os dirigentes recebiam dos bispos. Eram um laicado super controlado. Daí, os mil conflitos que os assistentes eclesiásticos, correias de transmissão, tinham de saber gerir até onde fosse possível. Que Deus sabe escrever direito por linhas tortas é um aforismo português. Teve muito que fazer. Se a hierarquia perdeu os jovens, e muitos se afastaram da prática religiosa oficial, o Papa Francisco não se resignou a essa debandada, aos vencidos do catolicismo.

Na abertura da reunião pré-sinodal dos jovens[2] (19.03.18), o Papa não repetiu as asneiras controladoras do passado. Nem cedeu à ideologia aduladora da juventude, de palmadinhas nas costas. Para ele, a juventude não existe. É uma abstracção. Existem os jovens, histórias, rostos, olhares, ilusões. Dizer que importa escutá-los e dialogar, já se sabe. O Papa não tem jeito para conversa fiada. Resolveu, com o seu comportamento e o seu discurso alterar, radicalmente, o relacionamento da Igreja com os jovens. Dados os limites desta crónica, terei de me contentar com algumas passagens e um convite à leitura integral do seu atrevimento.

2. Bergoglio conhece o terreno que pisa: «Há quem pense que seria mais fácil manter-vos à distância para não se sentirem provocados por vocês. (…)

Os jovens devem ser levados a sério! Parece-me que estamos rodeados por uma cultura que, se por um lado, idolatra a juventude, por outro, impede que os jovens sejam protagonistas. É a filosofia da maquilhagem. As pessoas procuram pintar-se para parecerem mais jovens, mas não deixam crescer os jovens. Isto é muito comum. Porquê? Porque não querem ser interpelados.

Vocês são marginalizados da vida pública normal e obrigados a mendigar ocupações que não lhes garantem um futuro. Não sei se isto acontece em todos os vossos países, mas em muitos... Se não erro, a taxa de desemprego juvenil aqui na Itália, dos 25 anos para cima, é de cerca de 35%. Noutro país próximo da Itália, é de 47% e noutro ainda, mais de 50%.

O que faz um jovem que não encontra trabalho? Adoece. É a depressão. Cai no desespero, nas dependências, suicida-se. Devemos reflectir: as estatísticas do suicídio juvenil estão todas alteradas. Ou se torna rebelde, mas é uma forma de se suicidar. Ou apanha um avião e vai para outra cidade que não quero mencionar e alista-se no EI[3] ou num desses movimentos guerreiros. Pelo menos a vida tem sentido e terá um ordenado mensal. Isto é um pecado social! A sociedade é responsável por isto. Mas eu gostaria que fossem vocês a dizer as causas, os porquês e não digam: “mas se eu nem sequer sei porquê”. Como vivem este drama? Saber o que pensam ajudar-nos-ia muito. É verdade que são construtores de uma cultura, com o vosso estilo e com a vossa originalidade. (…)  Queremos este espaço do Sínodo para conhecer e participar nessa vossa cultura».

3. O Papa Francisco lança um desafio: « Precisamos de ousar novos caminhos. Não se assustem: ousar novos caminhos, mesmo correndo riscos. Um homem, uma mulher que não arrisca, não amadurece. Uma instituição que faz escolhas, sem arriscar, permanece criança, não cresce. Arrisquem, acompanhados pela prudência, pelo conselho, mas vão em frente. Sem arriscar, sabem o que acontece a um jovem? Envelhece! Vai para a reforma aos 20 anos! Um jovem envelhece e também a Igreja envelhece. Digo isto com sofrimento. Quantas vezes eu encontro comunidades cristãs, até de jovens, mas velhas. Envelheceram porque tiveram medo. Medo de quê? De sair, de ir rumo às periferias existenciais da vida, de ir onde se joga o futuro. Uma coisa é a prudência, que é uma virtude, mas outra é o medo. Precisamos de jovens, pedras vivas de uma Igreja com o rosto jovem, mas não maquilhado, como disse: não rejuvenescido artificialmente, mas reavivado a partir de dentro. Vocês provocam-nos a sair da lógica do: sempre foi assim. Essa lógica é um veneno. É um veneno doce, porque te tranquiliza a alma e te deixa como que anestesiado e te impede de caminhar.

Sair da lógica do sempre se fez assim, para viver de maneira criativa no sulco da autêntica tradição cristã. De modo criativo. Eu, aos cristãos, recomendo que leiam o Livro dos Actos dos Apóstolos: a criatividade daqueles homens. Aqueles homens sabiam ir em frente com uma criatividade que se nós fizermos a tradução para o que significa hoje, ficávamos assustados! Vocês criam uma cultura nova, mas estejam atentos: esta cultura não pode ser “desenraizada”. Um passo em frente, mas preservar as raízes! Não voltar às raízes, porque se acaba por ficar enterrado: dá um passo em frente, mas sempre com as raízes. As raízes — isto, desculpem, é do coração — são os velhos, são os idosos bons. As raízes são os avós. As raízes são aqueles que viveram a vida e que são afastados por esta cultura do descartar, já não servem, rua! Os idosos têm este carisma de conservar as raízes. Falem com eles. Mas o que hei-de dizer? Tenta!

Recordo-me de uma vez, em Buenos Aires, a falar com os jovens, disse: “Porque não vão a uma casa de repouso tocar viola para os velhinhos que lá estão?” Mas, padre... Vão só uma hora. Ficaram mais de duas! Não queriam sair, porque os velhinhos estavam assim, um pouco adormecidos, ouviram tocar viola, acordaram todos e começaram a falar. Os jovens ouviram coisas que os comoveram.

O profeta Joel diz isto muito bem. Para mim esta é uma profecia de hoje: «Os idosos vão sonhar e os jovens profetizar». Nós precisamos de jovens profetas, mas estejam atentos: nunca serão profetas se não tiverem em conta os sonhos dos mais velhos e se não forem fazer sonhar um velhinho que está ali triste, porque ninguém o ouve. Fazei sonhar os mais velhos e estes sonhos vão-vos ajudar a ir sempre mais longe[4]. Lê isto, far-te-á bem. Deixai-vos interpelar por eles.

A Páscoa ainda não acabou e os sonhos também não.

08.04.2018



[1] Cf. Paulo Fernando de Oliveira Fontes, Elites católicas em Portugal: O papel da Acção católica (1940-1941),Fundação Calouste Gulbenkian, 2011
[2]  Uma Igreja que não arrisca envilhece,L’ Osservatore Romano, 22.03.2018
[3] “Estado Islâmico”
[4] Joel 3, 1.

sábado, 7 de abril de 2018

5 de MAIO 2018 - Encontro Anual em VISEU


Caros Amigos

Realiza-se já no 1º sábado do próximo mês de Maio, dia 5, o nosso encontro anual em Viseu – Seminário das Missões. O 1º encontro foi realizado em Coimbra em 1976.

ORDEM DE TRABALHOS

09.00/10.00  -  Recepção e Acolhimento

     11.00       -  Reunião Geral :
                        -  Abertura com o Hino da Associação
                        -  Informações gerais
                        -  Pe.António Carlos: As minhas vivências nas FILIPINAS                      
                        -  Pe. José Vieira ( Provincial) – Informações sobre a Congrgação 
   

      12.30        -  Celebração da Eucaristia presidida pelo Pe. Gregório que comemora 50   anos da sua ordenação sacerdotal (num grupo que inclui os P.es António  Martins, José Cunha, Olindo, Horta e o Manuel dos Anjos)
                                            

      13.30      -  Almoço . Convívio com vídeos editados pelo José Faria

A reunião, como assembleia geral que também é, pode ser ocasião para renovar os órgãos sociais da Associação. Surja uma lista!!!!!!

APARECE. Traz a família ou outros colegas que tu conheças. VEM CEDO  para fazer render o dia.

Este ano a turma de 1968 e a de 1958 fazem  50  e 60 anos, respectivamente. Seria interessante o reencontro e uma foto de conjunto…50 e 60 anos depois…

Por razões logísticas ( e para minimizar custos), agradece-se que até ao dia 4 de Maio confirmes a tua presença por email ou por telefone para um dos seguintes números:

Isidro Almeida – 234198433 – 926493057 – isidro.almeida@gmail.com

Pe.Maravilha – 967909553- avelinomaravilha@gmail.com

António Pinheiro – 252413057 – 918612894 – aspinheiro@clix.pt


Obs. Se alguém de mais longe quiser pernoitar no seminário deverá entrar em contacto com o Pe. Medeiros Tel. 232422834 para reserva.Têm boas instalações.

Um grande abraço
 Pela Direcção
António Pinheiro

                                                          Vila Nova de Famalicão, 7 de Abril de 2018

sexta-feira, 6 de abril de 2018

O que é ressuscitar? Pe Anselmo Borges

1.Eu tinha dito às crianças para escreverem uma carta a Jesus. Apareceram várias, que foram lidas na missa do Domingo de Ramos. Jesus acabou por receber muitos beijinhos e desejos de Páscoa feliz. Houve uma particularmente encantadora, a da Margarida, 8 anos. Alguns parágrafos: "Nesta minha carta gostava de te dar uma ideia - espero que não fiques chateado. Se calhar, se falasses um bocadinho mais alto, as pessoas podiam ouvir-te um bocadinho melhor e seguir o teu caminho. Eu acho que assim haveria menos guerra e menos fome. (...) Eu ainda não percebi muito bem como se pode ressuscitar mas, como és infinitamente bom, sei que é possível."
2. Apesar da idade, a Margarida já tem as suas perplexidades perante o mistério. E o Mistério, o Absoluto, tem duas faces: Deus e a morte. Quando nos confrontamos com a morte, é mesmo com o mistério que estamos. Ninguém sabe o que é morrer nem o que é estar morto, mesmo para o próprio morto. E tropeçamos em conflitos da linguagem e da realidade, quando, perante o cadáver do pai, da mãe, de uma pessoa amiga, dizemos: o meu pai está aqui morto, a minha mãe está aqui morta, o meu amigo, a minha amiga, está aqui morto/morta... O que falta é precisamente o pai, a mãe, o amigo, a amiga... E que os levamos à sua última morada ou que os vamos visitar ao cemitério... Quem se atreveria a enterrar ou a cremar o pai ou a mãe, a pessoa querida? Nos cemitérios, com excepção dos vivos que lá vão, não há ninguém, só "ossos e podridão", diz o Evangelho de modo cru. Então, o que há nos cemitérios para que a sua profanação seja um crime hediondo? Lá, o que há é a memória e uma infinita interrogação: o que é o Homem? A morte é o impensável - o filósofo Michel Foucault, nos seus últimos dias no hospital, terá sussurrado: "O pior é que não há nada a dizer" - que obriga a pensar.
Claro que é natural morrer. Sim, a vida acaba-se como uma vela..., mas já Ernst Bloch se insurgia: "O ser humano não é uma vela." Morremos como qualquer animal, mas a pessoa não é um animal qualquer: o que caracteriza o ser humano é mesmo a consciência de que é mortal, insurgindo-se ao mesmo tempo contra a morte. Lá está Pascal: a condição humana situa-se algures entre le néant et l"infini (o nada e o infinito) e daí nascem, sem fundo e sem fim, as perguntas últimas, metafísicas e religiosas: qual é o fundamento de tudo, o que sou e quem sou, donde venho, para onde vou, qual o sentido, o sentido último da minha existência e de tudo?
3, Com a morte acaba tudo? Evidentemente, ficam os nossos átomos, ficam os filhos, os netos, uma obra, um livro..., mas já J.-P. Sartre se queixava do vazio que seria quando já ninguém o lesse na Biblioteca Nacional. A curto, a médio, a longo prazo, todos iremos estando mortos, e o núcleo da questão é a aniquilação do eu: o que será de mim?, como é que alguém se pode tornar ninguém? "Ai, que me roubam o meu eu", clamava Unamuno frente à morte. E Tolstoi também, pela boca de Ivan Ilitch moribundo: "Onde estarei, quando deixar de existir?" Hoje, a morte é tabu, disso pura e simplesmente não se fala. Mas isso não acontece porque a morte deixou de ser problema; pelo contrário, de tal modo é problema, o único problema para o qual uma sociedade poderosíssima nos meios, que vive na imediatidade e na fragmentação, do ter e sem ser, sem capacidade de resposta para a questão decisiva das finalidades humanas, do sentido, que a única solução é: disso não se fala. Mas Ernst Bloch, o ateu religioso, continuava a erguer a pergunta radical: "Para quê o esforço da nossa existência, se morremos completamente, vamos para a cova e, em última instância, não nos resta nada?"
O ser humano é constitutivamente o ser da esperança, mas assim: por mais que realizemos dela, ficamos sempre aquém do que verdadeiramente esperamos, porque o que esperamos é "esse não sei quê" que é a vida eterna plena na Vida. Sem a alcançarmos, ficaríamos na situação da ponte que não atinge a outra margem... E foi tudo para nada?
O mundo é enigmático, ambivalente, claro-escuro, com bem e mal, beleza e horror, vida e morte, sentido e sem-sentido, mas, no meio da escuridão, com razões para a esperança, e é no próprio acto de confiar no Deus vivo, que tudo criou por amor, como Jesus revelou e testemunhou até à morte e morte de cruz, que se mostra a razoabilidade desse acto, porque então tudo se ilumina e adquire sentido. Aliás, se na morte tudo desembocasse no nada, não seria já tudo nada? Que distinção haveria na realidade entre verdade e falsidade, bem e mal, justiça e injustiça, dignidade e indignidade? Perante a alternativa do sentido último ou do sem-sentido, do mistério ou do absurdo, faz sentido optar pelo Mistério que salva. Como escreveu J. A. Pagola, acreditar em Jesus, o Vivente, "é resistir a aceitar que a nossa vida é só um pequeno parêntesis entre dois imensos vazios".
O que é ressuscitar? Eu acredito na vida eterna. Como é? Ninguém sabe. Enquanto ser do "entre o nada e o infinito", o ser humano tem de aprender a conviver com a incerteza - com a dúvida, mas optando -, porque, como viu bem o médico e filósofo Pedro Laín Entralgo, o que é certo (o saber científico) é da ordem do penúltimo; a ultimidadade, em relação com o decisivo - somos imortais ou com a morte acaba tudo, Deus existe ou não -, é saber de crença e de fé, com razões, mas incerto.
"Crer em Deus quer dizer ver que a vida tem um sentido" último, escreveu L. Wittgenstein. E se, precisamente na hora da morte, me fosse revelado que andei enganado? Também aqui concordo com o célebre teólogo Hans Küng, que também pergunta: "E se me tivesse enganado e na morte entrasse não na vida eterna de Deus, mas no nada? Se assim fosse, de qualquer modo teria vivido uma vida melhor e com mais sentido do que sem esta esperança."
Padre e professor de Filosofia ( DN)

segunda-feira, 2 de abril de 2018

FOI MORTO, MAS ESTÁ CADA VEZ MAIS VIVO! Frei Bento Domingues, O.P.


1. Quando alguém diz «aquele não é bem acabado», está a falar de si próprio e dos outros, porque o ser humano nunca está bem acabado. Não sabemos quem somos, pois, o que seremos é-nos desconhecido. Não somos só o passado nem só o presente, mas o futuro e esse é filho da esperança. A esperança tem muitos nomes. São frequentes as sondagens de opinião que tentam conhecer os desejos, as espectativas e as esperanças de cada um. Não é novidade nenhuma saber que todos desejam ser felizes. Varia muito, no entanto, o que cada pessoa entende por felicidade. A expressão antiga diz bem a nossa condição animal: «haja saúde e coza o forno». É saudável que todos desejem melhorar as suas condições de vida, avançar na carreira como forma de auto-estima, para além do interesse monetário. Mesmo se o dinheiro não der felicidade, dá muito jeito. Muita gente espera a vida inteira o euro-milhões. O Papa Francisco contenta-se com pouco, mas deseja para todos os três Ts, como forma mínima de dignidade: tecto, trabalho e terra. As pessoas gananciosas, para satisfazer os sonhos de riqueza, saltam por cima de tudo e de todos. A lista dos mais ricos de um país ou do mundo não é muito grande. Grande é a distância entre os poucos loucamente ricos e os muitos loucamente pobres e miseráveis. Mas não tem de ser assim.

Conta-se que, quando João XXIII chegou ao Vaticano, perguntaram-lhe: «quantas pessoas trabalham aqui?» «Mais ou menos metade»! A sua primeira medida foi a de aumentar os salários mais baixos, tendo em conta a situação familiar de cada um. Quando expôs esta medida ao gestor financeiro do Vaticano, este disse que era o caminho para a bancarrota. «Não me parece nada, porque desci todos os salários altos. As despesas são as mesmas»[i]. Tinha sido, aliás, a recomendação de S. Paulo. É tudo gente, como Jesus Cristo, que nada sabem de finanças, no dizer do nosso Fernando Pessoa.

As capacidades científicas e técnicas estão sempre a aumentar, mas raramente servem o desenvolvimento equilibrado dos povos. A ciência e a técnica andam mais depressa do que a ética e a sabedoria. A tendência é a concentração de poderes globais de dominação económica, política e bélica.

A minha ignorância, acerca dos efeitos bons e menos interessantes das realidades e das promessas da inteligência artificial, do mundo da robótica, volta a recomendar a leitura de A Quarta Revolução Industrial[ii]. Se os seres humanos puderem ser libertados do mundo aborrecido de tarefas aborrecidas por essas novas criaturas, bem-vindas sejam. Se vierem para mandar em nós, agradeço que os seus inventores se reformem quanto antes.

2. Aos mais velhos foi-nos dado viver um tempo em que se disputavam desejos de um mundo novo. Se Teilhard de Chardin pensava que o mundo pertenceria a quem lhe desse a maior esperança, a Gaudium et Spes, do Concílio Vaticano II, gostou da ideia: «podemos legitimamente pensar que o futuro da humanidade está nas mãos daqueles que souberem dar às gerações vindouras razões de viver e de esperar»[iii].

Muitas pessoas deliciavam-se com o belo e terno poema de Péguy, no qual, Deus não se espanta nem com a fé nem com a caridade. Só a esperança o comove, essa que todas as manhãs nos diz: bom dia![iv].

O filósofo marxista, Ernest Bloch (1885-1977), elaborou a célebre obra O princípio esperança, uma autêntica enciclopédia sobre os sonhos de uma vida melhor. Influenciou a teologia protestante e católica, a partir dos anos 60 do século passado. As perguntas do filósofo são as de sempre: Quem somos? De onde viemos? Para onde vamos? Que esperamos? O que nos espera?

Não admira que tenham sido as utopias sociais, económicas, políticas e culturais que marcaram o Concílio Vaticano II e animaram, sobretudo, os grandes debates das teologias do Terceiro Mundo.

3. Georges Bernanos, um grande romancista católico (1888-1948), que nos deixou obras extraordinárias, não era ingénuo: «para reencontrar a esperança é preciso ter ido além do desespero. Quando se vai até ao fim da noite, reencontra-se uma outra aurora»[v]. Estava, nitidamente, marcado pelo percurso do próprio Jesus de Nazaré. Este não anunciou, apenas, a alegria de que, finalmente, o Reino de Deus estava próximo. Tudo o que dizia e fazia era já a pura gratuidade do Amor em acção. Os fiéis ao mundo velho condenaram-no. Acabou na cruz gritando: Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste? Parecia o fim, mas não era.

O estilo do Apocalipse, o último livro da Bíblia, é suficientemente surrealista para alertar e consolar as Igrejas cristãs perseguidas, umas muito mais fervorosas do que outras.

Nas cartas às Igrejas da Ásia, o autor do Apocalipse apresenta Jesus Cristo como a Testemunha fiel (o mártir), o Primogénito dos mortos (o ressuscitado). Conta que João, «vosso irmão», encontrando-se na ilha de Patmos, movido pelo Espírito, ouviu uma voz forte que lhe disse: escreve o que vês num livro e envia-o às sete Igrejas: Éfeso, Esmirna, Pérgamo, Tiatira, Sardes, Filadélfia e Laodicéia. Ao voltar-se para ver a voz que falava, a face dessa figura era como o sol quando brilha em todo o seu esplendor. «Ao vê-lo, caí como morto a seus pés. Ele, porém, colocou a mão direita sobre mim, assegurando: Não temas! Eu sou o Primeiro e o Último, o Vivente; estava morto, mas eis que estou vivo para sempre»[vi].

S. Paulo atreve-se a dizer que, se não há ressurreição dos mortos, também Cristo não ressuscitou. E se Cristo não ressuscitou, anda a pregar em vão e vazia é também a fé dos seguidores de Cristo[vii].

Na Carta aos Romanos, a ressurreição é postulado cósmico e existencial: «Estou convencido de que os sofrimentos do tempo presente não têm comparação com a glória que há-de revelar-se em nós. Pois até a criação se encontra em expectativa ansiosa, aguardando a revelação dos filhos de Deus»[viii].

Quem nunca leu este capítulo, até ao fim, faça-o agora. Garanto que não ficará decepcionado. É evidente que Paulo escreveu há mais de 2000 anos. A escravidão e a corrupção do mundo em que vivia, hoje, têm novos rostos e novas vítimas. Repetem-se as denúncias de que estamos a globalizar a destruição do nosso planeta, quando temos todos os meios para fazer dele um paraíso, novos céus e nova terra[ix].

Se estamos mortos, ressuscitemos!

Boa Páscoa.



[i] Cf. Henri Fesquet, Fioretti do Bom Papa João, Morais Editora, Lisboa 1964.
[ii] Klaus Schwab, A Quarta Revolução Industrial, Público/Levoir, 2017
[iii] Gaudium et Spes, nº 31
[iv] Le porche du mystère de la deuxième vertu, in Oeuvres poétiques complètes, Gallimard, 1948, pp.169-175
[v] La liberté, pour quoi faire?, Gallimard, 1953, p. 14
[vi] Ap 1
[vii] 1 Cor 15
[viii] Rm 8

[ix] Ap 21