segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Frei Bento Domingues

Completou há dias 80 anos de vida o teólogo  Frei Bento Domingues. Tenho acompanhado os seus escritos no Público aos domingos e digo-vos que tenho tido algumas discordânçias. É arrojado nas suas posições, às vezes demasiado arrojado para o meu gosto. Confesso, porém, que os seus 2 últimos textos intitulados " convidados para jantar" me entusiasmaram ao ponto de os querer partilhar convosco, caso os não tenham lido. Aqui vai o do último domingo:


CONVIDADOS PARA JANTAR, PROIBIDOS DE COMER (2)
                                                    Frei Bento Domingues, O. P.

1. Aconselharam-me a ter cuidado com o modo como são abordadas as problemáticas levantadas pelo Sínodo sobre a Família, pois a Igreja não pode dar a imagem de que tanto abençoa casamentos como divórcios ou recasamentos.       
Observação sábia. Não me parece, no entanto, que nos encontremos perante esse perigo. Receio algo diferente: que o descuido dos católicos com a significação da complexidade do que está acontecer possa levar à indiferença, à banalização ou a diagnósticos e remédios que matam.
As religiões são expressões públicas e sociais da fé. O legalismo e o ritualismo tendem a envenenar a sua vida concreta. Chegam a querer substituir-se à liberdade de Deus e à consciência humana. A lei e o ritual pretendem traçar o caminho a Deus e aos seres humanos: ou passam por ali ou não passam.      
Jesus rompeu com essa concepção fundamentalista. O encontro de Deus connosco não segue apenas nem principalmente o traçado das cerimónias do culto. O serviço desinteressado dos mais necessitados é o seu  teste inequívoco (Mt 25, 34-38). O próprio catolicismo precisa de ser continuamente evangelizado.
Sendo esta a realidade cristã, para que perder tempo com os rituais litúrgicos? Talvez porque somos humanos.
2. Tomás de Aquino, no comentário à primeira carta de S. Paulo aos Coríntios (c 15), sobre a ressurreição, tem uma posição arrepiante para os espiritualistas: a salvação da minha alma não é a minha salvação, pois a minha alma não é o meu eu (anima mea non est ego).  
Ao dizer isto não tenta oferecer uma explicação da vida depois da morte, da qual não sabe nada. Parte da convicção de que a morte não pode ser a última palavra do itinerário humano. A salvação não pode ser entendida como a reanimação de um cadáver.         
O ser humano é uma viva corporeidade espiritual e um espírito corporal. São duas dimensões de uma única e mesma realidade. Esta perspectiva recusa qualquer dualismo, pois não se trata de um anjo caído no mundo. Numa óptica cristã, a expressão “salvação das almas” tem inconvenientes antropológicos, cristológicos e litúrgicos insuperáveis. As celebrações sacramentais implicam uma corporeidade sensitiva e expressiva marcada pela cultura e pela história. A inculturação litúrgica não é um luxo. É uma condição de verdade.         
Nos debates do seu tempo, acerca da definição dos sacramentos cristãos, Tomás de Aquino inscreveu-a no vasto mundo da simbólica, em todos os seus registos. A diminuição da consistência sensível dos signos sacramentais é um atentado à sua significação divina e humana. A sua primeira eficácia depende da capacidade de evocação - uma exterioridade que acorda para uma interioridade -, para um acontecimento de graça, de transformação da vida. O enfraquecimento da densidade simbólica é meio caminho andado para a mecânica da magia: faz-se o truque e acontece.
A celebração dos sacramentos implica uma tríplice significação: a evocação de um acontecimento do passado, a sua eficácia presente e a abertura a um futuro sem clausura. Na Eucaristia, o sacramento dos sacramentos, quando lemos as narrativas evangélicas, começamos sempre por dizer: Naquele tempo. Não é para nos instalar no passado, mas para o confrontar com o nosso presente. Não temos de resolver questões de há dois mil anos, mas perguntar: que haverá, no que aconteceu há dois mil anos, que nos possa ajudar a desassossegar o nosso presente?
Temos a ideia de que o passado passou e acabou. S. Tomás, ao abordar os mistérios da vida de Cristo, perguntava: como poderão esses acontecimentos salvar o nosso tempo? A resposta tem sentido: Jesus estava completamente na onda de Deus e, por isso, a sua intervenção histórica, o amor que a percorria, atinge todos os tempos e lugares.  
3. Tantas voltas para quê? No Tablet[1], o cardeal Walter Kasper, é confrontado com o acesso dos católicos recasados à comunhão eucarística. Sabe muito bem que há situações diferentes, mas o que, em última análise, deve contar nas atitudes de toda a Igreja é a misericórdia. Não está a dizer nada de novo, não só do ponto de vista bíblico, como na sistematização teológica. A misericórdia efectiva é o que de melhor podemos dizer de Deus[2].
Todos estão de acordo que a simbólica da Eucaristia é a da refeição partilhada. Não há quem negue que o sacramento da Eucaristia, do princípio ao fim, é a maior celebração da misericórdia, do perdão, da reconciliação. Na própria consagração do vinho diz-se, explicitamente: Tomai, todos, e bebei: Este é o cálice do meu Sangue, o Sangue da nova e eterna aliança que será derramado por vós e por todos para a remissão dos pecados. Fazei isto em memória de Mim.  
Como esquecer a memória das refeições de Jesus com os classificados como pecadores (Mc 2, 15-17; Mt 9, 10-013; Lc 5, 29-32)?
Surge a interrogação: Porque come ele com os publicanos e com os pecadores? Ouvindo isto, Jesus responde: Não são os que têm saúde que precisam de médico, mas os doentes. Eu não vim chamar os justos, mas os pecadores. Ironia divina.
Continuaremos.

28.09.2014


[1] The case for mercy, Jornal The Tablet, ed. de 20 de Setembro, entrevista mensal
[2] S. Tomás de Aquino, Summa Theologiae, I, 21, 3

Outono: época das colheitas

O seminário das missões de Viseu integrava-se numa bela quinta às portas da cidade : a quinta do Viso. Hoje foi já abraçado por essa mesma cidade fazendo parte do núcleo urbano e o povoado em volta deu origem a uma nova paróquia. Setembro e outubro começavam com grande azáfama agrícola. Era preciso dar uma ajuda nos trabalhos da quinta. Recolher o milho e fazer a vindíma eram duas actividades que exigiam muita mão de obra. Eram também actividades nada alheias à maior parte dos alunos. Quando o outono era muito chuvoso era frequente ter que utilizar os largos e compridos corredores para secar o milho. E a vindima era uma animação. O Ir. António era o encarregado da quinta que geria com desvelo, pois havia muitas bocas a sustentar. O Ir. Matias, o Ir. António Borges foram sucedendo ao Ir António na orientação dos trabalhos agrícolas. Por esta altura a adega enchia-se de vida e os alunos lá se divertiam enquanto se recordavam da vida dura de muitos dos seus familiares no campo. O P.e António Ino era um dos apaixonados pela vida ao ar livre. E como era o prefeito dos mais velhos era quem dispunha de mais mão de obra para esse tipo de lides. Recordo-me de um episódio engraçado ( por ter terminado bem) no decorrer duma dessas actividades. Andava eu e mais 3 ou 4 em cima de um carro de bois. No regresso ao campo lá íamos nós todos animados quando os bois se assustam e desatam em correria maluca pelo caminho da quinta que sai da adega. Lembro-me de a meio do caminho se "prantar" o Pe António Ino fazendo frente aos bois gesticulando de braços no ar. O que é certo é que os bois pararam a corrida. Alguns de nós já tínhamos saltado do carro em movinento. Ninguém se magoou, mas foi um susto do caraças.

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Emails devolvidos

Ontem enviei para todos os colegas que constam da minha lista de antigos alunos um email e, em anexo, o livro do nosso colega Luis Afonso. Há um conjunto de 20 a 30 emails que me têm sido devolvidos. Peço desculpa aos colegas se o erro foi meu na transcrição do respectivo endereço. Provavelmente só o poderemos corrigir num próximo encontro. Se alguem não recebeu o meu email,  pode mandar-me o seu correio electrónico correcto,  seja para o meu email ( aspinheiro@clix.pt), seja para o email da Associação ( antigos.alunos.combonianos@gmail.com) e eu enviar-lhe-ei de imediato novo correio.


Lista de colegas com emails devolvidos

António Joaquim Sobral Barbosa
Cristóvão
Luis Tadeu
Armando Manuel Santos Pereira
Abel Fonseca Nunes
Abel Vinha Santos
Carlos Carreira Mendes
Francisco Pereira de Sousa
Egídio Heitor
Henrique Magueija
João Afonso Paixão
João Gonçalves Martins
João Capela
João Correia Tavares
Joaquim Machado Araújo
Joaquim Santos Messias
Jaime Manuel Fernandes
João Manuel Afonso Fonseca
João Carlos Silva Pereira
José Amaral Boaventura
José Júlio Marques
José Manuel Sá Carneiro
Isaías Soares
José Augusto Pires Pinheiro
Luis Pimenta Carvalho
Manuel Catarino
Manuel Filipe Fernandes Sequeira
Paulo Gomes
Raul Proença Martins
Rui Abel Pereira
Nuno Filipe Miranda
Virgílio Figueiredo

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Mudanças de Rumo 2

Saídas do seminário como as que vos relatei da última vez aconteciam volta e meia. Sobre elas era guardado o mais ruidoso silêncio! Nada de comentários. Parece que havia o receio que a moléstia se propagasse. Claro, isto acontecia naqueles anos mais penumbrosos . Mesmo assim, nós entendíamos que os seminário religiosos já eram muito abertos a alguma modernidade por comparação com o que se passava com os seminários diocesanos. O facto de a maioria dos padres e prefeitos serem italianos contribuiu para que esta abertura se fizesse mais cedo. Quase todos eles tinham já experiências internacionalistas e interculturais. Mas uma das coisas que se manteve por alguns anos e que contribuiu para experiências menos agradáveis nestas mudanças de rumo, sendo até causa de alguma revolta, era o ostracismo a que muitos destes colegas eram votados. Desde logo pelos superiores do seminário que não gostavam de os ver por perto não facilitando por vezes a sua reintegração escolar nas escolas oficiais. Aliás o próprio Estado se encarregava de criar dificuldades, não reconhecendo habilitações. Salazar em conluio com Cerejeira! Quase que parecia vigorar a ideia de que quem saísse teria que sofrer um castigo por isso. Há alguns colegas que demoraram anos a ultrapassar alguma revolta interior pela forma como foram tratados quando , por decisão própria ou alheia, tiveram que mudar de rumo. Eu ,felizmente, não tive essa experiência.
Há dias falei-vos do meu mestre de barbearia, o Luis Afonso. Foi ordenado padre. Alguns anos depois e estando em Itália, quis fazer uma experiência fora da congregação. Parece que só encontrou dificuldades pela frente. Acabou por sair e hoje é um bem sucedido empresário turístico em Milão ,se não me engano. A revolta pela forma como foi tratado durou anos e deu origem a um pequeno livro ( Expulso da Liberdade) que colocarei por email à vossa disposição para leitura. Este livro é uma espécie de catarse que o Luis Afonso tenta fazer para se reencontrar com o seu passado. Há muitos anos que não estou com ele. Talvez desde 1963. Imaginam, portanto, qual seria a minha satisfação se ele aparecesse num dos nossos próximos encontros. Eu espero que tal aconteça. Foi ele que me ensinou a poupar as orelhas do saudoso Pe Poda. Revisitaremos com prazer momentos de outra época, que ,apesar de tudo, muito contribuiram para sermos os homens que hoje somos.
O Luis Afonso é o 4º do banco a contar da direita

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

II Forum UASP - Braga

Dou-vos a conhecer a reflexão que apresentei em Braga no II Forum da UASP  sobre a Declaração Conciliar Dignitatis Humanae. Trata-se de um documento elaborado por um grupo da Diocese de Campinas, S. Paulo, Brasil:




A liberdade religiosa na Declaração Digitatis Humanae e a realidade actual

A Declaração Conciliar Dignitatis Humanae (Dignidade Humana) aprovada no dia 7 de dezembro de 1965, refere-se ao direito da pessoa e das comunidades à liberdade social e civil em matéria religiosa, demonstrando grande sensibilidade para com os problemas da liberdade e dos Direitos Humanos, em consonância com a GS.

Ainda hoje, o direito à liberdade religiosa não é corretamente entendido e nem suficientemente respeitado e, de modo particular, no Oriente Médio, na Ásia, na África e na Europa se registram perseguições, discriminações, atos de violência e intolerância baseados na religião. Em algumas regiões não é possível professar e exprimir livremente a própria religião sem pôr em risco a vida e a liberdade pessoal.

Todas as formas de violação da liberdade religiosa, assim como aquelas que incidem sobre os outros direitos fundamentais da pessoa humana, são extremamente prejudiciais. Por isso a preocupação deste documento é destacar que a pessoa humana tem direito à liberdade religiosa: os homens todos devem ser imunes da coação tanto por parte de pessoas particulares quanto de grupos sociais e de qualquer poder humano. De modo que, em assuntos religiosos, cada qual tem o direito de procurar a verdade em matéria religiosa, a fim de chegar por meios adequados a formar prudentemente juízos retos e verdadeiros de consciência. Portanto, que ninguém seja forçado a agir contra a própria consciência, nem impedido de proceder segundo a mesma, em privado ou em público, só ou associado, dentro dos devidos limites; e que a liberdade das pessoas e das associações não seja restringida, no que se refere ao livre exercício da religião na sociedade.

A DH declara que o direito à liberdade religiosa se fundamenta na dignidade da pessoa humana, que cada pessoa tem o direito segundo a sua própria consciência de procurar a verdade e que a verdade não se impõe pela violência, mas pela força da própria verdade. Com efeito, a abertura à verdade, ao bem e a Deus, própria da natureza humana, confere dignidade a cada um dos seres humanos e é garantia do respeito recíproco entre as pessoas. Neste sentido, a religião exerce uma força positiva e propulsora na construção da sociedade civil e política, pois orienta princípios éticos universais aos quais o direito e a liberdade são plenamente reconhecidos e realizados, como se propõem os objetivos da Declaração Universal dos Direitos do Homem de 1948. Obscurecer essa função pública da religião significa gerar uma sociedade injusta; negar ou limitar arbitrariamente esta liberdade significa cultivar uma visão redutiva da pessoa humana e dos direitos universais e naturais que a lei humana não pode jamais negar; e respeitar os elementos essenciais da dignidade do homem, como o direito à vida e o direito à liberdade religiosa, é uma condição da legitimidade moral de toda a norma social e jurídica.

O Concílio Vaticano II ensina que a liberdade religiosa está na origem da liberdade moral que garante respeito recíproco a cada homem ou grupo social no exercício dos seus próprios direitos, tendo em conta os direitos alheios, além de seus próprios deveres para com os outros e o bem comum da sociedade. O documento afirma que o conjunto das condições que possibilitam aos homens alcançar mais plena e facilmente a própria perfeição, consiste na salvaguarda dos direitos e deveres da pessoa humana, pertencendo essencialmente a qualquer autoridade civil tutelar e promovendo os direitos humanos invioláveis. O poder civil deve assegurar eficazmente, por meio de leis justas e outros meios convenientes, a tutela da liberdade religiosa de todos os cidadãos e proporcionar condições favoráveis ao desenvolvimento da vida religiosa, de modo que possam realmente exercitar e cumprir os seus deveres, e a própria sociedade se beneficiar dos bens da justiça e da paz que derivam da fidelidade dos homens a Deus e à Sua Santa Vontade.

Quando a liberdade religiosa é reconhecida, a dignidade da pessoa também é respeitada na sua raiz, reforçando a índole e as instituições dos povos. De entre os direitos fundamentais da pessoa, a liberdade religiosa possui um estatuto especial, reconhecido na organização jurídica e convertido em direito civil. Neste sentido, a liberdade religiosa é também uma aquisição da civilização política e jurídica, patrimônio não só dos crentes, mas da família inteira dos povos da terra. Desse modo, a autoridade civil deve tomar providências para que a igualdade jurídica dos cidadãos nunca seja lesada por motivos religiosos, nem entre eles se faça qualquer discriminação, não sendo lícito ao poder público impor por medo ou qualquer outro meio, a profissão ou a rejeição de determinada religião, ou impedir alguém de entrar numa comunidade religiosa ou dela sair.

Também à família compete o direito de determinar a forma de educação religiosa segundo suas próprias convicções. Esse direito não pode ser violado pela autoridade civil, no caso dos alunos serem obrigados a assistir a aulas que não correspondam à sua convicção religiosa. E, assim, a autoridade civil deve reconhecer aos pais o direito de escolher com verdadeira liberdade as escolas e outros meios de educação sem que, como consequência desta escolha, se lhes imponha injustos encargos, direta ou indiretamente.

O direito civil e social da liberdade religiosa, enquanto atinge a esfera mais íntima do espírito humano, revela-se ponto de referência e medida dos outros direitos fundamentais. Trata-se do respeito à autonomia da pessoa, permitindo-lhe agir segundo sua consciência, quer nas escolhas privadas, quer na vida social, assim, ninguém e nem o Estado pode reivindicar uma competência direta ou indireta quanto às convicções das pessoas.

Em muitas constituições nacionais, a liberdade religiosa já é declarada como direito civil e devidamente reconhecida por documentos internacionais, sinais promissores de nosso tempo. Porém, em vários países existem normas legais e praxes administrativas que limitam ou anulam, com os fatos, os direitos que as Constituições reconhecem formalmente a cada um daqueles que professam qualquer tipo de crença ou fé, e aos grupos religiosos.

Têm surgido, nos últimos anos, várias Organizações públicas e privadas, nacionais e internacionais (Comité Internacional da Cruz Vermelha, UNESCO, Movimento Nacional de Direitos Humanos entre outras) para a defesa daqueles que, em muitas partes do mundo são vítimas, em razão das suas convicções religiosas, de situações ilegítimas e humilhantes para a humanidade inteira. Para este fim, a Santa Sé, através do Vaticano II e de suas exortações sobre o desenvolvimento, o direito dos povos, o diálogo ecumênico e interreligioso, a dignidade humana e a paz mundial, têm procurado dar a sua contribuição específica nas reuniões internacionais em que são debatidas a salvaguarda dos direitos humanos e da paz. Tendo em vista que a liberdade religiosa tem suas raízes na Revelação divina, mais ela deve ser respeitada, principalmente pelos cristãos, pois manifesta em sua amplitude toda a dignidade da pessoa humana, mostra o respeito de Cristo pela liberdade do homem no cumprimento do dever de crer na palavra de Deus, e ensina qual o espírito que os discípulos de um Mestre devem admitir e seguir em tudo.

Considerado como um dos principais ensinamentos da doutrina católica, o homem deve responder voluntariamente a Deus com a fé, e isso não deve acontecer contra a sua vontade. Por isso, a Igreja, fiel à verdade evangélica, segue o caminho de Cristo e dos Apóstolos quando reconhece e fomenta a liberdade religiosa em conformidade com a dignidade humana e a Revelação divina. Foi Cristo quem dotou a Igreja com uma liberdade sagrada, adquirida com o seu próprio sangue.

A liberdade da Igreja é um princípio fundamental nas suas relações com os poderes públicos e toda a ordem civil, e é exatamente por essa liberdade que Ela e os cristãos são vocacionados a difundir a mensagem de Cristo, mestre em humanidade que anunciou a paz aos que estavam perto e aos que estavam longe (Ef 2,14-17) dizendo: "Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; não vo-la dou como o mundo dá" (Jo 14,27). Que os homens e as mulheres, as sociedades de toda a terra, se deixem iluminar por essa paz de Cristo, na preservação do direito e da integridade de todos e todas. Disto nos lembrou o Papa Bento em sua mensagem para Celebração do 44º Dia Mundial da Paz, de 01 de janeiro de 2011:
Liberdade Religiosa, Caminho para a Paz.
( Grupo de trabalho da Diocese de Campinas, S. Paulo, Brasil)



A realçar a importância do tema nos dias de hoje, está:

1.      O relatório da Comissão sobre a Liberdade Religiosa Internacional dos Estados Unidos (USCIFR) que, conforme refere a Voz Portucalense de 14/05/2014, afirma estarem documentadas violações em 232 países…

2.      O Pe Tolentino de Mendonça declara num seu artigo publicado na revista do jornal Expresso de 2 de Agosto último “ que ,hoje, um dos mais frequentes atentados à liberdade tem a forma da perseguição religiosa...no Egipto só no último ano, quatro dezenas de igrejas cristãs foram saqueadas e incendiadas; mais de duas dezenas foram atacadas à pedrada ou alvo de tiroteio; seis escolas e conventos foram arrasados; uma frota de autocarros, pertencente aos cristãos coptas, foi violentamente desativada…”.

3.      O Papa Francisco, entrevistado pelos jornalistas no avião aquando da viagem à Terra Santa, referiu que a falta de liberdade religiosa não é só em alguns países asiáticos e, afirmando que há mesmo perseguição, concretamente aos cristãos, disse: “ Hoje, se não me equivoco, há mais mártires do que nos primeiros tempos da Igreja”.



Braga, 13 de Setembro de 2014



segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Mudanças de Rumo 1

Tal como diz o Evangelho, muitos eram os chamados e poucos os " escolhidos"... Com tamanho arrebanhamento de jovens em início de adolescência (entravam 3 a 4 dezenas por ano), era natural que a "peneira" fosse funcionando ao longo dos anos. A iniciativa , os critérios , a forma e o tempo em que a "peneira" funcionava é que causava ,por vezes, estranheza. Muitas vezes ao próprio que era apanhado de surpresa...pelo menos assim o fazia crer por palavras e por actos. Ao longo da minha longa vivência no seminário pude constatar situações um tanto ou quanto surpreendentes. Uma vez, havíamos passado uma daquelas tardes esplendorosas num dos montes das cercanias do seminário onde nos tínhamos entregado a um daqueles jogos de guerra que nos empolgavam. Duas equipas em que cada elemento tinha um número na testa, procuravam aniquilar-se uma à outra lendo em alta voz o número do adversário que encontrava pela frente. "Morria" quem permitisse, pela sua exposição, que o seu número fosse corretamente lido. Ganhava a equipa que "matasse" todos os seus adversários. Era um dos jogos de que mais gostava. Permitia que corrêssemos à brava pelo meio dos pinheiros e giestas; algum convívio de grupo enquanto, depois de "mortos", esperávamos o desfecho da batalha. Chegávamos a casa arranhados e cansados, mas...satisfeitos.
No dia seguinte notámos com surpresa que faltavam alguns dos nossos colegas, uns dois ou três. Viemos a saber que tinham sido "peneirados". Alguem terá "relatado" uma conversa menos "própria" que houvera no grupo dos "mortos". Coisas inocentes...mas que naquela altura foram tidas como muito graves. Zás...desapareceram logo. Tolerância zero para qualquer coisa ligada com o sexo.
De um modo geral, a peneira funcionava no final dos períodos e, mais frequentemente, no final do ano lectivo. Aí pesavam os resultados académicos, as opções individuais e , sobretudo, a avaliação geral feita pelos formadores.

sábado, 20 de setembro de 2014

II Forum da UASP - Conclusões e Fotos

Cumprindo-se o que a UASP (União das Associações dos Antigos Alunos dos Seminários Portugueses) oportunamente se propôs, realizou-se no passado fim-de-semana, no auditório do Seminário Nossa Senhora da Conceição (antigo seminário menor), em Braga, o seu II FORUM que lançou OLHARES SOBRE O II CONCÍLIO DO VATICANO. (Continua)

Para ler o artigo na integra clique AQUI


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sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Seminário Maior do Porto - 150 anos de actividade


  
A alegria do reencontro
A propósito da celebração dos 150 anos do Seminário Maior do Porto li um pequeno apontamento na Voz Portucalense escrito por João Alves Dias. Começa o autor por transcrever uma afirmação de um tal Dr Barroso da Fonte que ao enumerar uma série de vultos da sociedade transmontana ( de que é perito) , concluia assim: " não fora a Igreja, e esses  talentos ter-se-iam perdido nas courelas dos seus pais ou engrossando a vaga emigrante, como teria acontecido comigo, perdido numa aldeia dos confins do Barroso".
 Continua o autor...." este apenas é um exemplo entre muitos. Só no Porto conheço vários. Honra lhes seja dada......Não foram apenas Miguel Torga ( Seminário de Lamego ), Aquilino Ribeiro ( Seminário de Beja), Vergílio Ferreira ( Seminário do Fundão)....Apesar das "manhãs submersas", o que seria destes e outros se, em criança, não tivessem frequentado o seminário? Os seminários sempre foram alfobres de cultura e importantes factores de mobilidade social."

Se isto é verdade para os seminários diocesanos, muito mais o será para os seminários religiosos cujo âmbito territoral e social de recrutamento  se estendia às remotas aldeias perdidas por essse interior fora. Confrange-me, portanto, que muitos de nós se acobardem às vezes de referir a sua passagem,mais longa ou mais curta,  pelo seminário. Mesmo que eventuais desvios de pedofilia ou até outros crimes graves possam eventualmente ter ocorrido, isso não enegrece o ambiente geralmente saudável dos seminários e o meritório trabalho de disseminação da cultura e de elevador social por eles realizado.
Orgulhemo-nos deles e sejamos gratos.

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

"Escolásticos" em actividade...


Maia-1964 : O P.e Neres e o António Joaquim lavando o carro da casa...
Pois...A vida no seminário não era só estudo e..."rezas". Havia muito entretimento, muita futebolada, muito hóquei em campo com sticks feitos de toros de couve galega, algum teatro ( O P.e Martins era um artista...), algum cinema ( quem se não lembra do "Búfalo Bill" visto até à exaustão, do "Kiri Kiri" e outros ?... ), passeatas ao domingo à tarde até à Quinta do Fontelo ou pelos montes em redor, ou, ainda, a apanha de míscaros por esta altura com as primeiras chuvas etc, etc e etc. Vida saudável ainda que muito disciplinada!
Depois havia algumas artes e ofícios. Não sei porquê, mas um dia lembraram-se de mim para aprendiz de barbeiro... Foi meu mestre de barbeiro o Luis Afonso, um rapaz muito dedicado, muito piedoso e muito compenetrado do seu papel. Aprendi a arte. Obrigado Luis Afonso. Ainda conservo os seus conhecimentos. Não sei se ainda me serão necessários.... Uma experiência de que me recordo era o corte do cabelo ao P.e Poda, de saudosa memória. Professor de filosofia, dedicou toda a sua vida ao ensino. Foi meu professor de filosofia durante 4 anos: 2 na Maia e 2 em Sunningdale. Em Viseu ensinava já não sei bem o quê. Pois cortei muitas vezes o cabelo ao P.e Poda, em Viseu sob supervisão atenta do Luis Afonso, na Maia e em sunningdale já como barbeiro encartado. E sempre que se sentava na cadeira me fazia a mesma recomendação: cuidado,  não me corte as orelhas. Penso que terá morrido com as duas orelhas...

terça-feira, 16 de setembro de 2014

Combonianos no túmulo de S. Pedro

Tal como há 150 anos " Comboni" reza junto ao túmulo de S. Pedro e tal como então...sai de lá inspirado.
Eis o relato do acontecimento:



UMA MANHÃ HISTÓRICA…de emoção e celebração da fé e Missão!

Esta manhã, a15 de Setembro 2014, levantámo-nos cedinho e depressa estávamos no autocarro que nos levou à Basílica de S. Pedro. Antes das 7 hrs já esperávamos ansiosamente que alguém abrisse a porta da Basílica. As 7 hrs bateram, a porta abriu-se e todos entrámos, passo apressado, uns a seguir aos outros. Dirigimo-nos à sacristia e ainda mais depressa para a cripta, em frente ao túmulo de S. Pedro onde íamos celebrar a Eucaristia.
Ali tinha estado Comboni, 150 anos atrás, neste mesmo dia de Setembro, e ali recebeu a inspiração de escrever o Plano para a Regeneração da Africa.
Ali estávamos, 40 Combonianos/as representando a Família Comboniana hoje.
Presidiu à missa o P. Geral, P. Henrique Sanchez, coadjuvado pelo bispo J. Franzelli e pelo superior da província do Sudão, P. S. Pacífico.
“HOJE celebramos a alegria de estar neste mesmo lugar onde Comboni recebeu a inspiração do PLANO. Aqui representamos toda a Família Comboniana”, começou por dizer o presidente.
Todos estávamos bem conscientes que há 150 , a 15 de Setembro 1864, Comboni estava neste mesmo lugar quando recebeu a inspiração para escrever o Plano da Regeneração da Africa. Uma data memorável e histórica para a Missão e para a fundação dos nossos Institutos missionários.
Na homilia, o presidente da celebração, convidou-nos a imitar o “novo caminho de missão” seguido pelo Apóstolo da Africa Central. Ele, inspirado na oração e contemplação, reconheceu a vontade de Deus e viu as necessidades da Africa no seu tempo. Nós, hoje, damos graças a Deus pelo dom do PLANO que Comboni e seus Institutos têm procurado pôr em prática abertos ao Espírito. Damos graças a Deus que é bom para connosco e desejamos continuar a viver para a “Nigricia” na realidade presente, continuou.
Fazendo memória hoje, pedimos a graça da missão em favor da humanidade que sofre hoje e a quem queremos levar Jesus que deu a vida por todos, ontem, hoje e sempre.
Junto ao túmulo de S. Pedro prometemos viver esta a missão que nos é dada pela Igreja, pelo Papa Francisco hoje. “Deus tem muito a fazer através de nós, até realizarmos o sonho de Comboni”, concluiu antes de invocar Maria a quem confiámos a nossa missão, rezando a Ave Maria.

Foi o primeiro momento – histórico, emocionante, vital – de celebração e introdução ao Workshop sobre o 150º aniversário do Plano de Comboni para a Regeneração da Africa que se realiza esta semana em Roma.
O P. Geral abriu o Workshop dizendo que a celebração da manhã tinha sido a melhor introdução  aos trabalhos da semana. Desejou então que o Workshop seja uma experiência espiritual na linha do que foi a experiência do Plano para Comboni! Augurou por fim, que o Workshop possa ser um contributo válido para o Capítulo do próximo ano!

P. Carlos Alberto Nunes, mccj
A Família Comboniana no Túmulo de S. Pedro