domingo, 28 de abril de 2019

OS ESQUECIDOS DA PÁSCOA Frei Bento Domingues, O.P.


1. Os profetas bíblicos foram severos com o culto e os seus rituais por causa da injustiça e da hipocrisia que eles encobriam. Jesus de Nazaré nasceu dentro da mesma tradição religiosa e foi o seu crítico mais radical. No célebre diálogo que abriu com uma mulher samaritana, junto ao poço de Jacob – judeus e samaritanos odiavam-se – atreveu-se a dispensar os respectivos lugares sagrados para a relação com Deus: Mulher, chegou o tempo em que os verdadeiros adoradores não vão procurar nem Jerusalém nem Garizim. O que o meu Pai deseja são adoradores em espírito e verdade[1].

Estaria Jesus a negar valor a todos os rituais do culto? Não é Deus que precisa do culto e dos seus rituais, mas os seres humanos. Ele não precisa que o informemos do que se passa connosco e na sociedade. A oração não modifica a sua santa vontade, modifica-nos a nós. Acorda-nos da indiferença perante o sentido mais profundo da vida. Podemos tentar comover a Deus com os nossos pedidos, mas é o próprio Deus que se comove pelo eterno amor que nos tem. Nós é que não podemos deixar de ser quem somos: seres que, para viver na verdade, reconhecem o seu limite e pedem socorro.

As celebrações litúrgicas católicas estão distribuídas em dois ciclos fundamentais: o do Natal e o da Páscoa. Ao resto chamam-lhe Tempo Comum. Estes arranjos dos liturgistas têm bases bíblicas e uma longa história. São uma forma de organizar a oração oficial da Igreja. Seria ridículo pensar que foi Deus que compôs e impôs esta organização ritual. A verdadeira Igreja, a não confundir com a hierarquia eclesiástica, é o voluntariado do Evangelho. Precisa de rezar para não se descuidar de Deus e do mundo. Uma liturgia sem o imperativo do serviço aos mais necessitados, sem a negação do autoritarismo eclesiástico, isto é, sem a simbólica do lava-pés[2], está condenada a ser nada.

Estamos na oitava da Páscoa, mas as celebrações pascais vão até ao Pentecostes.

Somos irremediavelmente fruto de um tempo, de um lugar, de uma memória e de circunstâncias muito furtuitas. Não estamos, porém, condenados a viver apenas dentro dessas coordenadas. O ser humano é, por essência, possibilidade de entrar em contacto com outras geografias humanas e culturais. Os animais aparecem feitos. O ser humano tem a vida inteira para se fazer, nunca está acabado. Não é, vai sendo. Por outro lado, é capaz de autoconsciência, de linguagem e de sentido. Mas a sua linguagem não é só a do quotidiano ou das ciências. É também a voz de uma interioridade que se exprime através da literatura, da música e de todas as artes. A linguagem simbólica, metafórica, mítica, parabólica não explica. É a forma de exprimir o que não cabe em nenhuma explicação. Sugere o indizível e o infigurável.  

Como ser de relação, os delírios nacionalistas não têm em conta o sentido relativo da história e da cultura. Não podemos viver como um povo eleito ou como um povo condenado. Perder o sentido do relativo da nossa história e da nossa cultura – que não se confunde com o relativismo em que tudo se equivale – é cair na tentação de, falsamente, as absolutizar.

2. I. Kant viu muito bem que a pergunta das perguntas, a que é preciso responder, está condensada numa só: o que é o homem, isto é, o que é o ser humano?

Não é possível responder a essa pergunta sem ter em conta a sua dimensão religiosa. Como diria Fernando Pessoa, o grande mistério é o próprio mistério de existir, que não é algo de provisório que se possa vencer pela ciência ou pela técnica.

Recorrer à palavra mistério por tudo e por nada, é uma forma de preguiçosa ignorância. Existem, de facto, muitas realidades que pareciam um mistério e que, hoje, estão ao alcance de explicações científicas e de realizações tecnológicas. As ciências humanas têm de trabalhar – e cada vez mais – pelo que nos é possível conhecer. Outra coisa é a experiência do inabarcável por qualquer conceito. A experiência do insondável da inteligência e do afecto não é a de uma zona ainda por explorar, mas a da consciência de que não há explicação para as coisas mais simples, para as realidades que não têm porquê. Não há explicação para um poema. Todas as explicações ficam aquém desse milagre de juntar palavras que produzem uma sensação do inefável. A vida simbólica não explica, sugere o que não estava previsto nas estrelas.

3. A morte é o que há de mais fácil de explicar para as ciências da saúde. A palavra defunto é de um miserável latim: “deixou de funcionar”! É uma concepção absolutamente mecanicista do ser humano. As pessoas que fizeram a experiência da morte daqueles que amam não se consolam com uma ausência indesejada. Querer abolir a megalomania do desejo matando o desejo de viver é uma desistência muito pouco humana.

As religiões, quando não enlouquecem – como        aconteceu no massacre desta Páscoa – são uma saudável reacção contra o fatalismo e o niilismo, mas a cedência ao ritualismo deixa a alma inconsolável.

S. Paulo não argumenta a Ressurreição de Cristo como privilégio de Jesus de Nazaré[3]. Pelo contrário, argumentou a partir da ressurreição geral. Para Paulo, não pode haver os esquecidos da ressurreição.

A questão da vida depois da morte é comum a muitas religiões. A expressão “ressurreição” não é a descrição de um fenómeno. É a verificação de um facto. Jesus foi morto e umas mulheres testemunham que ele está vivo e que ele continua connosco.

O iaveísmo sapiencial, ao contrário do nacionalista, é universal: Deus é criador de tudo e de todos, não é apenas o Deus de um povo. Para os que acreditam que a vida humana não acaba com a morte, não pode ser o privilégio de um grupo, de alguns santos, de algumas pessoas excepcionais. Deus não pode abandonar na morte aqueles que ama.

É esta a originalidade da revelação de Jesus de Nazaré, personalidade situada nos limites de um tempo e de um lugar. Não está centrada em si mesma, está polarizada por um Deus que não é propriedade de nenhum povo nem de nenhuma religião. É o Deus que tem, no seu coração, todos os seres humanos e para sempre. Foi esta revelação que comoveu o próprio Jesus e que ele classificou como fonte da nossa verdadeira alegria[4].

Quando fazemos da ressurreição de Cristo um privilégio, esquecemos que ele é o irmão universal. Onde estão os que morreram, aqueles de quem ninguém se lembra? Não estão esquecidos. Confessamos, contra toda a evidência empírica, mas com a mais pura fé e confiança, com a maior fidelidade à vida, que vivem no coração de Deus. Um Deus que se esquecesse das suas criaturas não merecia um minuto de atenção[5].



28. Abril. 2019



[1] Cf Jo 4, 21-24
[2] Jo 13, 2-20
[3] I Cor 15,13
[4] Lc 10, 17-22
[5] Sobre a questão da morte e da ressurreição ver o magnífico texto de Anselmo Borges, no DN de 20.04.2019.

sexta-feira, 26 de abril de 2019

Façam favor de tolerar - Artur Soares - DM

1– Acredito que a inveja é um dos grandes pecados
do Homem. Nunca como nos tempos
actuais se lê, se ouve e se conhece em qualquer
parte, os resultados da inveja. Em todos
os sectores, a inveja sente-se e são conhecidos
actos que só ao Diabo agradam. Portugal, naturalmente,
também tem comportamentos de inveja.
Enquanto que a Doutrina Social da Igreja apresenta
normas com mais de um século de existência,
a defender a dignidade do Homem, como justos
salários, horários de trabalho justos e que nada
prejudique as Famílias, seus convívios, etc., verificamos
que nestes últimos 50 anos da vida dos portugueses,
tudo se tem alterado, tudo se tem tornado
em vida selvagem.
Não há horários de trabalho decentes: trabalham-
-se 24 horas por dia; não há feriados, dias santos ou
domingos, não há justos salários – pois uns recebem
500 euros mensais e outros recebem milhares
de euros na mesma empresa pública ou privada
– não há respeito, promoções profissionais e muito
mais se podia afirmar.
Todavia, temos de ser claros: o Partido Socialista,
defensor da democracia democrática, dos trabalhadores,
das côdeas rapaceadas de milhares de pensionistas,
conseguiu, no que respeita à defesa das Famílias
– não todas as Famílias, para já – ultrapassar os
ensinamentos da Doutrina Social da Igreja: enquanto
Esta se limita a afirmar que não se pode prejudicar
o amor e o convívio entre as Famílias com horários
de trabalho e vencimentos raquíticos, o Partido
Socialista coloca Famílias ao serviço da Nação, com
ordenados justíssimos, para que o convívio e o amor
se não percam entre eles! O maior feito das Famílias
ao serviço da Pátria-Querida, pelo Partido Socialista,
é o caso de Carlos César, que é ele no Governo e
mais quatro familiares!
Mas o Povo é ingrato, inculto e tantos intelectuais,
filósofos e jornalistas, o que têm é inveja. São salafrários
ou rapaces das competências e daqueles que defendem
o amor e a convivência familiar. É evidente
que outros Partidos também nomearam familiares,
mas os Socialistas, mais sensíveis, mais progressistas
que os ensinamentos da Santa Madre Igreja, metem-
-Na no bolso: já que os familiares não se amam em
casa, amam-se no Governo, nos corredores ministeriais
e nas Autarquias Locais. Assim, caros eleitores,
compreendam o assunto e façam favor de tolerar!
2 – Sua Excelência o Primeiro Ministro de Portugal,
António Costa, teve há dias uma afirmação de
político verdadeiramente adivinho, subtil, em que
colocou toda a sua experiência e saber político, quando
disse ao Povo português: “cuidado, povo do meu
País: o PSD quer usar as europeias para tomar de assalto
o poder”! Claro está, que António Costa prevê,
bem previsto, que o Partido rival, é muito capaz de
ganhar as europeias. É que só anjolas ou incultos não
sabem que o País não está como António Costa e o
ministro das finanças o pintam. Estamos na crise, nadamos
na crise e respiramos crise. Com tanta vilanagem,
incertezas e medos sentidos, o PSD poderá tornar-
se coveiro da política socialista/ageringonçada.
“Assalto ao poder”, pretende o PSD, diz Costa. Mas,
Excelência, Rui Rio não destronou companheiros
seus em eleições primárias, como o fez com António
José Seguro. Nenhum político, em Portugal, que tenha
ganho as eleições legislativas, destronou o vencedor,
como Sua Excelência o fez, destronando Passos
Coelho, que ganhou as eleições em 2015. Assalto
ao poder pelo PSD? Não. Esta Excelência Costa, quer
dentro do seu Partido, quer no resultado das eleições
de 2015, fez rigorosamente o “assalto ao poder”
com a ajuda de leninistas e trotskistas. Assim, caros
eleitores, façam favor de tolerar!
3 – O ex-ministro socialista, Alberto Martins, foi
em 1969, um dos líderes da “crise académica de Coimbra”.
Nesse tempo de lutas pró-democracia, o presidente
da República Américo Tomaz, em Coimbra,
ao iniciar um discurso, foi de imediato interrompido
por indivíduos, com Alberto Martins à cabeça,
pois queriam discursar. De imediato foram presos,
embora no dia seguinte soltos. Há dias, Alberto
Martins foi homenageado no jantar do 46.º aniversário
do PS e, no momento do discurso de António
Costa, este, foi interrompido por dois elementos estranhos
ao aniversário, porque pretendiam discursar.
Os seguranças garrotearam-nos, enxotaram-nos
e diz-se que levaram umas lambadas. Alberto Martins,
que conta no seu livro – Peço a Palavra-Coimbra
– conta a sua história com Américo Tomaz, de
ter querido discursar e ter sido garroteado. Que pensará
Martins, desta cena discursiva de António Costa
e da de Américo Tomaz? Cena de agora, igual há
de 50 anos! Uma, em plena ditadura/fascista, a outra,
em democracia democrática socialista. Repito
caros eleitores: façam favor de tolerar!

VINHO OU LIMONADA? - Isabel V Costa - DM

Quem já foi à Terra Santa em tempo quente
agradeceu certamente as limonadas que o
esperavam à chegada aos hotéis e lojas. É
provável que o calor também apertasse no
tempo de Jesus e que os limões também por
lá existissem, assim como o mel. Faltavam
os frigoríficos, mas não as limonadas, imaginamos nós.
Chamou-nos a atenção o facto de Jesus, nas bodas
de Caná, ter convertido a água em vinho e não em limonada,
ou qualquer outra bebida refrescante, tanto
mais que o vinho causa alegria, sim, mas também pode
levar a muitos dissabores, se bebido em grandes quantidades.
Qual a razão, ou razões, para Jesus ter optado
pelo vinho, e de grande qualidade?
A primeira razão que nos vem à mente é: o que fazia
falta era o vinho, não limonada. A segunda é bem
mais profunda: na vida de qualquer homem a dor e
a alegria, o mal e o bem, estão sempre presentes embora
não se note; no matrimónio também isso acontece.
A enorme alegria de gerar um filho vem acompanhada
da dor do parto. Vinho e sangue.
Sim, é vinho que Cristo nos oferece na Última Ceia,
mas converte-o no Seu sangue, para que o bebamos e
possamos assim chegar à plena alegria, a de alcançar o
Céu. “Tomai; isto é o Meu corpo que vai ser dado por
vós; fazei isto em Minha memória… fez o mesmo com
o cálice, dizendo: Este cálice é a nova Aliança no Meu
sangue, que por vós se vai derramar.” (Lc. 22, 19-20).
Em pleno tempo pascal, pouco após a leitura do
“Diagnóstico do Papa Bento XVI Sobre a Crise da Igreja
e dos Abusos Sexuais”, é flagrante, sobretudo na terceira
parte do documento, a ligação entre os dois sacramentos:
Matrimónio e Eucaristia. Com a Eucaristia, e
a comunhão sacramental recebida em estado de graça1
é possível a santidade no matrimónio. O sofrimento
– sangue e suor – que acompanha a vida humana
torna-se em gozo e alegria, nesta vida e na vida eterna.
Recordemos que em cada Missa se renova a Paixão
e Morte de Cristo, momento em que o Filho se entrega
ao Pai para salvar todos os homens, até mesmo os
que o estavam a crucificar: “Perdoa-lhes, ó Pai, porque
não sabem o que fazem!” (Lc. 23, 34). Mas também se
vive a memória da sua Ressurreição. A vitória de Jesus
sobre a morte, manifesta a vitória de Deus sobre
o demónio; isto é, a vitória da graça sobre o pecado; a
vitória do amor sobre o ódio.
Por isso, o sacramento do matrimónio, também nascido
do lado aberto de Cristo, concede aos cônjuges a
graça de se amarem ao ponto de darem a vida um pelo
outro e ambos pelos filhos. O vinho da entrega e da
alegria, não a limonada, não deve faltar em cada boda.
1 Estado de graça significa que não se cometeu nenhum
pecado mortal desde a última confissão, não olvidando
que é aconselhável confessar-se e comungar
com regularidade, no mínimo uma vez por ano, pela
Páscoa. Menos que isto é uma manifestação de desprezo
pelos sacramentos que Jesus nos deixou e, por
isso, pecado grave. Estando em estado de graça, não
é necessário confessar-se antes de cada comunhão.

terça-feira, 16 de abril de 2019

PE MANUEL PINHEIRO - Zâmbia


“Encontro-me em Chipata onde vim celebrar as festas Pascais (encontro de formação, retiro e celebração da missa Crismal) com todo o clero da diocese. Por isso aproveito imediatamente para agradecer-te a ti e a toda a província portuguesa pela vossa generosidade. Podes imaginar o nosso ecónomo provincial a esfregar as mãos de contente por tanta abundância. Obrigado seja pela oferta seja pelas intenções de missas.

Esta manhã, na celebração da missa Crismal recordar-vos-ei a vós e a todas as pessoas que contribuem para que a nossa missão seja possível. Por aqui as chuvas estão a acabar. Este ano foi um ano duro para a nossa gente, mas há boas perspetivas.

Obrigado também pelas notícias que vais mandando.

Recebe um abração com votos duma Santa Páscoa.

Unidos em oração e na missão.

O amigo de sempre

Neca Pinheiro.”
( Carta ao Provincial de Portugal)

segunda-feira, 15 de abril de 2019

SEMANA SANTA? QUE TENHO EU A VER COM ISSO? Frei Bento Domingues, O.P.


1. Creio que toda a gente tem muito a ver com a Semana Santa. Explico: os católicos fervorosos podem lamentar que, num país onde a maioria da população se exprime como católica (cerca de 80%), aproveite o Natal, a Páscoa, os Domingos e festas de santos para descanso, desporto, viagens, segundo as possibilidades económicas de cada um, e muito pouco para celebrar e aprofundar o conhecimento da sua própria fé.

Esses católicos só têm razão até certo ponto. Não esqueçamos que o Novo Testamento estabeleceu uma grande polémica em torno da prática judaica sacralizada do sábado. Uma das narrativas míticas da criação está organizada para que, no sétimo dia, até Deus descanse[1]. Não podia haver táctica melhor do que esta: colocar o seu Deus como exemplo do que todos os crentes deviam cumprir. Se os textos do Novo Testamento são tão duros com essa sacralização, não era por causa de serem dias de descanso e oração. O que levou o judeu, Jesus de Nazaré, a provocar os seus concidadãos, fazendo o que estava proibido ao sábado, não era por desprezo do dia consagrado ao descanso, mas por terem transformado, numa prisão, um marco civilizacional da liberdade.

O ser humano não pode ser um escravo do trabalho. Há muitas outras dimensões da vida que é preciso atender e às quais é preciso dar oportunidades. Não esqueçamos que o projecto de Jesus surge como projecto de libertação, sobretudo dos doentes, dos pobres e das mulheres que não contavam para nada na sociedade do seu tempo.

Essa actividade de Jesus tinha, também, uma motivação teológica: o sábado não podia ser o dia de tolher a vida humana e as expressões da sua liberdade. Se era o dia de Deus, tinha de ser o melhor dia do ser humano, a festa da humanidade. Deus não podia tolerar que, em seu nome, se impedisse a alegria.

Se Jesus escolhia, sobretudo, esse dia e a Sinagoga para as curas, não era para aborrecer os judeus mais ortodoxos e ritualistas. Era para que esse dia, ao fazer bem aos seres humanos, revelasse o que era a verdadeira glória de Deus, o seu autêntico louvor.

Os fariseus insistiam em dizer que Jesus não podia ser um homem de Deus, pois não observava o sábado. O Quarto Evangelho, dito de S. João, vai ao ponto de colocar na boca do Nazareno algo de terrível, de blasfemo: o meu Pai trabalha sempre e eu também[2]. O texto acrescenta: por isto os judeus ainda mais o procuravam matar porque não só anulava o sábado, mas até se atrevia a chamar a Deus seu próprio pai, fazendo-se, assim, igual a Deus. Em S. Marcos, declara o sentido antropológico desta instituição religiosa: o sábado foi feito para o ser humano e não o ser humano para o sábado[3]. Deus é glorificado na alegria das suas criaturas.

A chamada Semana Santa é a transformação de uma semana criminosa, assassina, no testemunho maior da existência humana: Pai, perdoai-lhes porque não sabem o que fazem. Jesus, ao pedir vida para os que lhe davam a morte, ressuscitou-os na sua própria alma.

2. António Marujo[4] fez uma magnífica reportagem sobre alguns assuntos debatidos no Terra Justa – Encontro Internacional de Causas e Valores da Humanidade –, em Fafe (3-6 de Abril.2019), destacando a campanha pelo domingo livre de trabalho e pela saúde como direito humano.

A presidente do Movimento Mundial de Trabalhadores Cristãos (MMTC), Fátima Almeida, defendeu que é preciso voltar a fazer campanha pelo domingo livre, para trabalhos e serviços que não são necessários nesse dia. Não se trata de fazer isso por causa da missa, mas “pelo encontro, pela família e os amigos, para dedicar tempo à cultura, à vida para além do trabalho, como diz o Papa”.

Ao dizer isto, não é contra a missa, mas para destacar o valor humano de uma festa religiosa para religiosos e não religiosos. A verdadeira religião não abafa, pelo contrário, expande a vida e os verdadeiros valores de todos. Na interpretação cristã, é desta forma que se dá glória a Deus.

Como já dissemos, o projecto de Jesus implicava a libertação da doença, o dom da saúde para todos. Ora, neste encontro, o dia 5, tinha sido dedicado à homenagem ao Serviço Nacional de Saúde (SNS), através de dois dos seus rostos mais importantes: António Arnaut, que o criou há 40 anos e morreu em 2018, e Francisco George que, enquanto director-geral de Saúde, foi um dos seus principais responsáveis nestes 40 anos. Hoje, tudo mudou e as estatísticas colocaram Portugal entre os 12 melhores do mundo nos cuidados de saúde, mas o sistema sofre as dores do crescimento. Numa das Conversas, Francisco George destacou: “É preciso reduzir desigualdades, mas a principal desigualdade e o risco mais importante no acesso à saúde é a pobreza. Estamos muito melhor do que em 1974, mas é preciso distribuir melhor”.

3. Com a exaltação do valor humano da religião autêntica e do alcance divino dos valores verdadeiramente humanos não se está a desvalorizar as expressões simbólicas e rituais das religiões. O que se pretende é que estas não estraguem o que pretendem e devem defender. As instituições religiosas não são por causa da religião, mas por causa de certas dimensões da vida humana que o quotidiano tende a esquecer. Voltamos à sentença de Cristo: o sábado foi feito para o ser humano e não o ser humano para o sábado.

Uma das grandes tarefas das lideranças da Igreja – bispos, párocos e congregações religiosas – consiste em ajudar as pessoas a perceber o que perdem se não aprofundarem o sentido das celebrações da fé e o que ganham quando são fiéis ao seu espírito e finalidade.

Não adianta muito insistir no que está mandado ou proibido, quanto a práticas religiosas. Importa que se tornem apetecíveis pela sua beleza e sobriedade. Que falem à sensibilidade, ao coração e à inteligência. Que nos comovam.

Quanto à Semana Santa, existem vários tipos de recuperação das tradições e da qualidade das celebrações marcadas pelas exigências do Vaticano II. O turismo religioso explora tradições. A liturgia viva procura uma linguagem de beleza que mostre a urgência de nascer de novo[5]. Só podemos saber se celebramos a Páscoa, se crescer em nós a vontade de servir aqueles que precisam da nossa dedicação: sabemos que passamos da morte para a vida porque amamos os irmãos[6].



14. Abril. 2019



[1] Gn 2, 1-3
[2] Jo 5, 1-17
[3] Mc 2, 27-28
[4] 7Margens (jornal online), 07.Abril.2019
[5] Jo 3
[6] 1Jo 3, 14

quinta-feira, 11 de abril de 2019

MOÇAMBIQUE - Combonianos ajudam afectados pelo ciclone


A comunidade dos Missionários Combonianos da Beira ajudam os afectados pelo ciclone Idai.
Todos somos instados a partilhar contribuindo: PT50 0007 0059 0000 0030 0070 9.

Pe. CLAUDINO NA MISSÃO DE BUTEMBO - RDCONGO

RD Congo: Quaresma na missão de Butembo
10 de Abril de 2019
 Votos de uma Santa Páscoa da AAACombonianos.

segunda-feira, 8 de abril de 2019

FERNANDO PAULO BAPTISTA - Académico Honorário

LAURO PORTUGAL presta homenagem ao antigo aluno comboniano , Fernando Paulo Baptista, com um poema pela sua nomeação como Membro Honorário da Academia Portuguesa de História:

Fernando Paulo Baptista,
Ora insigne cientista,
De Sócrates a sofia,
Ou Parménides, Platão,
Que fez luz da escuridão,
Transformou a noite em dia,
Ou de Rousseau, Unamuno,
Dos nossos Lourenço ou Gil
O divisível e uno
Som audível e subtil,
Ou de Camões, Aquilino
O sopro humano e divino
Que pelas veias te corre
É verbo que nunca morre,
Verbo que em ti é endémico,
Oh, eminente académico!

Associo-me a esta homenagem, merecida e justa, a um antigo aluno que bebeu no seminário das missões de Viseu o gosto pelas letras que dele fizeram um grande profissional e académico.

Associação dos Antigos Alunos Combonianos