segunda-feira, 13 de janeiro de 2025

O BAPTISMO DE JESUS INTERROGA-NOS Frei Bento Domingues, O.P. 12 Janeiro 2025

 

O BAPTISMO DE JESUS INTERROGA-NOS

Frei Bento Domingues, O.P.

12 Janeiro 2025

 

1. Para a Igreja Católica, este Novo Ano tem a particularidade de vir a seguir ao Sínodo, isto é, ao novo processo da sua reforma, ao serviço da transformação da sociedade. É preciso não deixar que se percam 3 anos para entender e praticar uma nova forma de viver em Igreja de saída, abrindo todas as portas para entrar toda a gente e abrir as janelas para vermos o que se passa no mundo e o que podemos fazer para acabar com os cenários de miséria e de guerra.

João Paulo II tinha defendido a impossibilidade definitiva da ordenação sacerdotal de mulheres. O Sínodo não foi por esse caminho. Abriu corajosamente um outro. A sua importância fundamental merece especial destaque[1]:

«Em virtude do Baptismo, homens e mulheres gozam de igual dignidade no Povo de Deus. No entanto, as mulheres continuam a encontrar obstáculos para obter um reconhecimento mais pleno dos seus carismas, da sua vocação e do seu lugar nos vários sectores da vida da Igreja, em detrimento do serviço à missão comum. As Escrituras atestam o papel de primeiro plano de muitas mulheres na história da salvação. A uma mulher, Maria de Magdala, foi confiado o primeiro anúncio da Ressurreição; no dia de Pentecostes, Maria, a Mãe de Jesus, estava presente no Cenáculo, juntamente com muitas outras mulheres que tinham seguido o Senhor. É importante que as passagens relevantes da Escritura encontrem lugar apropriado nos leccionários litúrgicos. Alguns momentos cruciais da história da Igreja confirmam o contributo essencial das mulheres movidas pelo Espírito. As mulheres constituem a maioria daqueles que frequentam as igrejas e são frequentemente as primeiras testemunhas da fé nas famílias. São activas na vida das pequenas comunidades cristãs e nas paróquias; dirigem escolas, hospitais e centros de acolhimento; lideram iniciativas de reconciliação e de promoção da dignidade humana e da justiça social. As mulheres contribuem para a investigação teológica e estão presentes em posições de responsabilidade nas instituições ligadas à Igreja, na Cúria diocesana e na Cúria Romana. Há mulheres que exercem cargos de autoridade ou são responsáveis pela comunidade. Esta Assembleia convida a dar plena implementação de todas as oportunidades já previstas no direito vigente relativamente ao papel das mulheres, particularmente nos lugares onde estes continuam por cumprir. Não há razões que impeçam as mulheres de assumir funções de liderança na Igreja: não se pode impedir o que vem do Espírito Santo. A questão do acesso das mulheres ao ministério diaconal também permanece em aberto. É necessário prosseguir o discernimento a este respeito. A Assembleia convida também a prestar maior atenção à linguagem e às imagens utilizadas na pregação, no ensino, na catequese e na redacção dos documentos oficiais da Igreja, dando mais espaço ao contributo de mulheres santas, teólogas e místicas».

Esperemos que isto não fique, apenas, como muitas vezes acontece, num excelente texto.

2. Na organização do calendário litúrgico, este Domingo celebra o Baptismo de Jesus, no rio Jordão. Significava que Jesus, durante algum tempo, foi seduzido pelo caminho de João Baptista, entre os vários grupos diferentes – lembremos, por exemplo, a célebre comunidade de Qumran – que não alinhavam com a religião do templo de Jerusalém. Há razões para julgar que lhe assiste alguma base histórica, apresentada numa interpretação, sobretudo de ruptura com o frequente legalismo do Antigo Testamento.

Não convinha nada que Jesus fosse baptizado por João que tinha discípulos que sobreviveram ao seu assassinato e ao de Jesus. Eles poderiam sempre dizer aos seguidores do Nazareno: foi o nosso mestre que baptizou o vosso e não o contrário. De facto, nos diferentes Evangelhos existe uma vontade de mostrar que Jesus exaltou a figura de João Baptista – entre os nascidos de mulher, não há ninguém maior do que João –, mas ao mesmo tempo, mostrar também que, quem acolhesse a novidade revolucionária do Evangelho, seria maior que ele.

Este baptismo de Jesus significa passar de um ritual e uma prática ascética para uma abertura do céu e da terra a uma nova idade.

A narrativa de S. Lucas é comovente. Por um lado, faz de Jesus um discípulo de João, por outro, mostra a ruptura com o seu antigo mestre[2].

O que terá acontecido? João era o símbolo da necessidade de reformar a religião de Israel, mas ainda na linha austera dos profetas. A sua pregação não se afastava de um rigor moralista carregado de ameaças. Jesus teve uma experiência espiritual que o obrigou a romper com esse mundo. Diz o texto que Jesus baptizado entrou em oração. O resultado exprime a própria personalidade do Nazareno: Ele é a terra aberta ao céu e o céu aberto à terra, aberto a todos os mundos. O Espírito de Deus, ao banhar o seu espírito, declara que Ele é um filho muito amado. Jesus sai dessa experiência com uma missão: mostrar que toda a gente, a começar pela mais desclassificada, sob o ponto de vista religioso, moral e material, é amada por Deus e chamada a viver do mesmo Espírito: Espírito de Deus, Espírito de Cristo, Espírito de renovação da Igreja, Espírito de transformação do mundo, numa imensa pluralidade de carismas e de caminhos. É um Espírito que solicita a nossa inteligência e a nossa vontade, mas que nunca se impõe à nossa liberdade.

3. O que se celebra hoje é a ruptura de Jesus com o movimento de João Baptista e o começo do seu movimento a partir de uma nova experiência de Deus. Esta experiência ditou-lhe um novo caminho a percorrer, que detectamos no seu percurso posterior, através das narrativas do Novo Testamento: Deus surge, na sua pessoa, como uma declaração de amor por todos os seres humanos, de todos os povos, culturas e religiões.

Em suma, há dois mil anos, a partir de situações muito concretas, num canto do império romano, no seio do judaísmo, na Galileia das Nações, Jesus de Nazaré questionou e abalou as falsas certezas.

Se a crise financeira e económica de consequências globais não for aproveitada para questionar e alterar a orientação absurda da nossa civilização, se não fizer surgir um novo olhar sobre o mundo e o ser humano, se não levar a um novo caminho, só resta continuar de alienação em alienação, na rota da auto-destruição.

Vivemos numa época marcada pelo aumento das desigualdades, pela crescente desilusão com os modelos tradicionais de governação, pelo desencanto com o funcionamento da democracia, pelo aumento das tendências autocráticas e ditatoriais, pelo predomínio do modelo de mercado sem ter em conta a vulnerabilidade das pessoas e da criação, e pela tentação de resolver os conflitos através da força e não do diálogo. Práticas autênticas de sinodalidade permitem aos cristãos desenvolver uma cultura capaz de profecia crítica face ao pensamento dominante e, assim, oferecer um contributo peculiar na procura de respostas a muitos dos desafios que as sociedades contemporâneas devem enfrentar e na construção do bem comum[3].

 

 



[1] Cf. Documento Final do Sínodo 2021-2024, nº 60

   [2] Lc 3, 15-22

[3] Cf. Documento Final do Sínodo 2021-2024, nº 47

sábado, 4 de janeiro de 2025

NOVO ANO: MUITO QUE MEDITAR, MUITO QUE FAZER Frei Bento Domingues, O.P. 29 Dezembro 2024

 

NOVO ANO: MUITO QUE MEDITAR, MUITO QUE FAZER

Frei Bento Domingues, O.P.

29 Dezembro 2024

 

1. Em 2025, a Igreja Católica celebra o Jubileu (o Ano Santo). Não é um acontecimento inédito. Já o Antigo Testamento fala de um Ano Jubilar de 50 em 50 anos[1], um tempo que devia ser de clemência e de libertação para todo o povo, a fim de restabelecer a justiça de Deus nos diferentes âmbitos da vida: no uso da terra, na posse dos bens, na relação com o próximo, sobretudo os mais pobres e os que tinham caído em desgraça[2]. Seria importante, no entanto, perguntar o que foi feito dessa bela instituição.

O Papa Bonifácio VIII instituiu o chamado Ano Santo, em 1300. O Papa Francisco já estabeleceu um especial programa litúrgico, em Roma, para os peregrinos, dos seus espaços mais emblemáticos, procurando, assim, superar o mero sentido turístico.

É de destacar um gesto original: no dia 26, o Papa foi à prisão Rebibbia, em Roma, como um peregrino de esperança, a mesma esperança à qual o Jubileu 2025 é dedicado, abrindo a Porta nessa prisão, inaugurando nela o Ano Santo.

O texto para o Dia Mundial da Paz 2025 é uma síntese notável, assumindo não só o que escreveram os seus antecessores, remontando à célebre Pacem in Terris (1963), como aponta o verdadeiro conteúdo das práticas do Ano Santo.

Também nos dias de hoje, o Jubileu devia ser um acontecimento que nos impelisse a procurar a justiça libertadora de Deus em toda a terra. Gostaríamos de estar atentos ao desesperado grito de ajuda. Sentimo-nos chamados a unir-nos à voz que denuncia tantas situações de exploração da terra e de opressão do próximo. Estas injustiças assumem, por vezes, o aspecto daquilo a que João Paulo II definiu como estruturas de pecado, porque não se devem apenas à iniquidade de alguns, mas estão, por assim dizer, enraizadas e contam com uma cumplicidade generalizada.

Cada um de nós deve sentir-se, de alguma forma, responsável pela devastação a que a nossa casa comum está sujeita, a começar pelas acções que, mesmo indiretamente, alimentam os conflitos que assolam a humanidade. Assim, fomentam-se e entrelaçam-se os desafios sistémicos, distintos, mas interligados, que afligem o nosso planeta. Refiro-me, em particular, às desigualdades de todos os tipos, ao tratamento desumano dispensado aos migrantes, à degradação ambiental, à confusão gerada intencionalmente pela desinformação, à rejeição a qualquer tipo de diálogo e ao financiamento ostensivo da indústria militar. Todos estes são factores de uma ameaça real à existência de toda a humanidade.

No início deste ano, Bergoglio incita-nos a escutar este grito da humanidade para nos sentirmos chamados, todos nós, juntos e de modo pessoal, a quebrar as correntes da injustiça para proclamar a justiça de Deus. Alguns actos esporádicos de filantropia não serão suficientes. Em vez disso, são necessárias transformações culturais e estruturais, para que possa haver também uma mudança duradoura.

2. Razão tinha S. Basílio de Cesareia (século IV) que perguntava: mas que coisas são tuas? De onde as tiraste para as incluir na tua vida? […] Não saíste totalmente nu do ventre da tua mãe? Não voltarás, de novo, nu para a terra? De onde vem o que tens agora? Estas interrogações continuam a ser essenciais.

Como diz Francisco, tal como as elites do tempo de Jesus, que se aproveitavam do sofrimento dos mais pobres, também hoje, na aldeia global interligada, o sistema internacional, se não for alimentado por uma lógica de solidariedade e interdependência, gera injustiças que, exacerbadas pela corrupção, aprisionam os países pobres. A lógica da exploração do devedor também descreve sucintamente a actual crise da dívida, que aflige vários países.

Não nos devemos cansar de repetir que a dívida externa se tornou um instrumento de controle, através do qual alguns governos e instituições financeiras privadas dos países mais ricos não hesitam em explorar, indiscriminadamente, os recursos humanos e naturais dos países mais pobres, para satisfazer as necessidades dos seus próprios mercados.

A dívida ecológica e a dívida externa são dois lados da mesma moeda. Este Ano Jubilar convida a comunidade internacional a actuar no sentido de perdoar a dívida externa, reconhecendo a existência de uma dívida ecológica entre o Norte e o Sul do mundo. É um apelo à solidariedade, mas sobretudo à justiça.

3. A dignidade da vida humana tem de ser respeitada e promovida em todas as suas etapas. Cada pessoa tem o direito de olhar o futuro com esperança, procurando o desenvolvimento e a felicidade de toda a família. Um gesto que deve marcar este Ano Jubilar é a eliminação da pena de morte em todas as nações. É, aliás, uma punição tão radical que aniquila toda a esperança humana de perdão e de renovação.

Neste tempo marcado pelas guerras em 22 países, o Papa Francisco propõe que, pelo menos, uma percentagem fixa do dinheiro gasto, em armamento, seja utilizada para a criação de um fundo mundial que elimine, definitivamente, a fome e facilite a realização de atividades educativas, nos países mais pobres. Devemos tentar eliminar qualquer pretexto que possa levar os jovens a imaginar o seu futuro sem esperança, ou como uma expectativa de vingar o sangue derramado por seus entes queridos. O futuro é um dom que permite ultrapassar os erros do passado e construir novos caminhos de paz. A guerra é sempre uma derrota, sempre! É fonte de riqueza para poucos e fonte de morte para povos inteiros.

Aqueles que empreenderem, através dos gestos propostos, o caminho da esperança, poderão ver cada vez mais próxima a tão desejada meta da paz. O Salmista confirma-nos nesta promessa: quando a verdade e o amor se encontrarem, a justiça e a paz abraçam-se (Sal 85, 11). Como dizia João XXIII, a verdadeira paz só pode vir de um coração desarmado da ansiedade e do medo da guerra.

A Mensagem para o Dia da Paz 2025 termina com uma oração. É a oração que nos abre aos dons de Deus:

Perdoa-nos as nossas ofensas, Senhor, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido, e, neste círculo de perdão, concede-nos a tua paz, aquela paz que só Tu podes dar para aqueles que deixam o seu coração desarmado, para aqueles que, com esperança, querem perdoar as dívidas aos seus irmãos, para aqueles que confessam sem medo que são vossos devedores, para aqueles que não ficam surdos ao grito dos mais pobres.

Bom Ano!

 

 



[1] Cf. Levítico 25

[2] Cf. Mensagem para o Dia da Paz 2025 que estrutura toda esta crónica

 Haja Epifania -Estrelas brilhantes, estrelas apagadas e buracos negros - Pe. Manuel João MC

 Haja Epifania!




Estrelas brilhantes, estrelas apagadas e buracos negros

Ano C – T. Natal – Epifania
Mateus 2,1-12: “Onde está aquele que nasceu?”

No dia 6 de janeiro, doze dias após o Natal, a Igreja celebra, desde os primeiros séculos, a solenidade da Epifania. A palavra grega epiphàneia significa “manifestações” (no plural) e era utilizada para designar as ‘manifestações’ das divindades. Na Grécia antiga, referia-se às festas dedicadas a uma divindade específica. Este termo foi adotado pelo cristianismo para indicar a “manifestação” de Jesus aos povos, representados pelos Magos.

A data da Epifania aproxima-se da do Natal das Igrejas orientais, celebrado no dia 7 de janeiro. A diferença de 13 dias deve-se exclusivamente ao calendário adotado: enquanto as Igrejas ocidentais seguem o calendário gregoriano (assim chamado em homenagem ao Papa Gregório XIII, que o introduziu em 1582), as orientais ainda utilizam o antigo calendário juliano (criado por Júlio César em 45 a.C.). Por isso, o dia 25 de dezembro do Natal ortodoxo coincide com o nosso 7 de janeiro, enquanto o seu dia 6 de janeiro, da Epifania, corresponde ao nosso 19 de janeiro.

OS MAGOS, buscadores de Deus

O episódio pitoresco dos Magos, narrado de forma sóbria por São Mateus, é um dos que mais atraíram a curiosidade e atenção desde a época dos Padres da Igreja e dos escritos apócrifos cristãos. Em torno do relato evangélico floresceu uma rica e criativa fantasia:

  • os Magos tornam-se três, como os três dons: ouro, incenso e mirra; 
  • são considerados reis, talvez porque o rei é o máximo representante de um povo, e também pela influência de alguns textos bíblicos, como Isaías 60 (ver primeira leitura) e o Salmo 71: “Os reis de Társis e das ilhas ofereçam tributos, os reis de Sabá e de Seba tragam presentes” (salmo responsorial); 
  • são-lhes atribuídos nomes: Gaspar, Melchior e Baltazar; 
  • vêm de três continentes diferentes: África, Ásia e Europa; 
  • um é de pele escura, outro clara e o terceiro amarela; 
  • um é jovem, outro maduro e o terceiro idoso. 

Claramente, a tradição desenvolveu-se para que os três Magos representassem toda a humanidade que veio prestar homenagem a Cristo. Eles representam também cada um de nós.
Na segunda leitura, São Paulo afirma que a Epifania é a revelação de um “mistério” até então escondido: “Os povos são chamados, em Cristo Jesus, a partilhar a mesma herança, a formar o mesmo corpo e a participar da mesma promessa através do Evangelho” (Efésios 3,6).
Até então, a história da salvação era interpretada sob uma ótica nacionalista: as promessas de Deus eram reservadas apenas ao povo de Israel. Esta festa, portanto, assume um significado universal e missionário. É a antítese da Torre de Babel e o prenúncio de Pentecostes!

Os Magos são um símbolo eloquente dos buscadores de Deus que se colocam a caminho. A fé é “inquieta”: não nos deixa satisfeitos com as respostas encontradas e os objetivos atingidos. Uma fé que não nos torna peregrinos é como a dos escribas de Jerusalém, interrogados por Herodes. Eles sabem onde deve nascer o Messias, mas não se movem para procurá-lo.
Todo crente é como Abraão que “partiu sem saber para onde iria” (Hebreus 11,8). A jornada dos Magos é um emblema da vida cristã e de toda existência humana: colocar-se a caminho, juntos, à procura de sentido, olhando para o céu, prontos para enfrentar o desconhecido, capazes de discernir a presença de Deus na pequenez...

A ESTRELA e as estrelas

Os Magos eram “astrólogos” que observavam as estrelas. A sua proveniência do Oriente sugere a Pérsia. Muitos astrônomos tentaram identificar qual estrela ou cometa eles observaram. No entanto, a explicação não deve ser buscada tanto na ciência, mas no contexto bíblico. São Mateus, de fato, provavelmente referia-se ao oráculo do ‘profeta’ Balaão: “Eu o vejo, mas não agora; eu o contemplo, mas não de perto: uma estrela surge de Jacó, e um cetro se eleva de Israel” (Números 24,17). Esta estrela é interpretada como uma referência ao Messias.
Na antiguidade, acreditava-se comumente que cada pessoa tinha a sua própria estrela, que surgia com o seu nascimento e desaparecia com a sua morte. Quanto mais brilhante a estrela, mais importante se considerava a pessoa.

Há muitas estrelas que brilham no nosso firmamento, mas nem todas conduzem a Cristo. Algumas fazem-nos perder-nos ao longo do caminho da vida. Qual “estrela” é a bússola da minha existência?
O que representa a Estrela? Ela evoca, antes de tudo, Jesus, “a estrela radiosa da manhã” (Apocalipse 22,16). Ele é a Estrela que orienta a vida do cristão. Contudo, também nós somos chamados a “brilhar como astros no mundo” (Filipenses 2,15). Cada cristão é convidado a tornar-se uma estrela que guia os outros para Cristo.

“Com a Epifania acabam-se as festas”, diz um conhecido provérbio popular. Que a Estrela, porém, permaneça viva no nosso coração! Como poderíamos, de outra forma, iluminar, nós que somos chamados a ser “luz do mundo”? Seríamos estrelas apagadas, ou pior, “buracos negros” que absorvem e anulam toda luz que encontram na sua órbita.

OS PRESENTES: ouro, incenso e mirra

O que representam os três presentes? Tradicionalmente diz-se que: o ouro simboliza a realeza messiânica de Cristo; o incenso, a sua divindade; e a mirra, a sua humanidade. Contudo, não faltam interpretações diferentes. São Bernardo, por exemplo, sugeria que o ouro servia para mitigar a pobreza da Virgem Maria, o incenso para purificar o ar da estrebaria, e a mirra como vermífugo!
Mas o que estes presentes podem representar para nós, hoje? E, sobretudo, o que podemos oferecer a Jesus? Olhemos para o tesouro do nosso coração: que riquezas guardamos? Que presentes podemos oferecer como sinal da nossa adoração, da nossa gratidão e do nosso amor?

Pe. Manuel João Pereira Correia, mccj

p.mjoao@gmail.com
https://comboni2000.org

 

 

Perguntas sobre o Natal. 1 Anselmo Borges Padre e professor de Filosofia 03 Janeiro 2025

 Perguntas sobre o Natal. 1

Anselmo Borges
Padre e professor de Filosofia

03 Janeiro 2025

Já estamos no ano de 2025 em todas as partes do mundo - desejo a todos um 2025
com saúde, paz, boas realizações... -, mas quantos tomaram consciência de que a data
se refere ao nascimento de Jesus?

Precisamente por causa do Natal, muitas pessoas vêm ao meu encontro com
perguntas, e nesta e na próxima crónica tentarei dar respostas ainda que breves, por
vezes até com algumas repetições.

Para entender as respostas, é essencial perceber que a festa do Natal não é a festa
principal do cristianismo, mesmo que seja a mais popular e entendamos o entusiasmo
que suscita em toda a parte, compreendendo perfeitamente a luz, o calor humano, as
deslocações para juntar as famílias e os amigos, a evocação da ternura do nascimento
de uma criança...

A festa central da fé cristã é a Páscoa, que celebra a vida, o anúncio da Boa Nova do
Reino de Deus, a paixão e morte de Jesus e a sua ressurreição: na morte, Jesus não
morreu para o nada, na morte encontrou a plenitude da vida em Deus, que é Pai/Mãe.
Este é o núcleo da mensagem cristã, como proclamou São Paulo: “Se Cristo não
ressuscitou, é vã a nossa fé.”

E assim é à luz da Páscoa que se compreendem as narrativas do Natal. De facto, no
início, os cristãos não se interessaram pelo nascimento de Jesus, pois o essencial era a
vida, a morte e a ressurreição.

Então, como apareceu a festa do Natal? Hoje, nenhum historiador sério nega que Jesus
existiu realmente. Quando, nos séculos III-IV já havia comunidades cristãs espalhadas
pelo Império Romano, houve a ideia de transformar a festa pagã do Dies Natalis Solis
Invicti (Natal do Sol Invicto), associada ao Solstício do Inverno, quando os dias
começam a crescer e com eles a luz solar, na festa do nascimento do sol dos cristãos,
d’Aquele que é o verdadeiro Sol invencível, a Luz verdadeira. A Missa do galo está
associada a esta luz; o galo canta, anunciando a aurora.

E voltamos à questão da data e de nos encontrarmos no ano de 2025. Quando nasceu
Jesus? Realmente, estamos enganados quando dizemos que entrámos no ano 2025
depois de Cristo. De facto, no século VI, quando o cristianismo já se tinha vastamente
difundido e Jesus surgia como figura determinante da História, de tal modo que agora
o calendário se deveria orientar pela data do seu nascimento: a. C., d. C. (antes de
Cristo, depois de Cristo), o monge encarregado de determinar essa data, Dionísio, o
Exíguo, enganou-se em quatro ou mesmo seis anos. Portanto, Jesus, paradoxalmente,
terá nascido em 4-6 a.C.

Nasceu em Belém? Voltamos ao início. O essencial da fé cristã encontra-se na Páscoa.
Foi a partir dessa fé que os discípulos leram a vida histórica de Jesus, real, situada num
tempo concreto, uma história real, mas lida e interpretada com o olhar da fé. Esta
leitura é particularmente visível nos relatos da infância, que só aparecem
nos Evangelhos de São Mateus e de São Lucas, utilizando um género literário próprio,
que projecta e vê no princípio o que só sabem no fim: em Jesus cumpriram-se as
promessas, Ele é o Messias, o Filho de Deus, o Salvador por todos esperado.

Na realidade, Jesus terá nascido em Nazaré: é conhecido por Jesus de Nazaré ou o
Nazareno. Mas puseram-no a nascer em Belém: trata-se de mostrar que ele é o
verdadeiro Messias e rei, da descendência de David, que era de Belém.

E a mensagem do Natal? Jesus proclamou o Reino de Deus. Deus é Pai/Mãe. Somos
todos filhos e filhas e, portanto, irmãos. No Reino de Deus, não há súbditos.

Continua.
Escreve de acordo com a antiga ortografia.

quarta-feira, 1 de janeiro de 2025

NOVO ANO: MUITO QUE MEDITAR, MUITO QUE FAZER Frei Bento Domingues, O.P. 29 Dezembro 2024

 

NOVO ANO: MUITO QUE MEDITAR, MUITO QUE FAZER

Frei Bento Domingues, O.P.

29 Dezembro 2024

 

1. Em 2025, a Igreja Católica celebra o Jubileu (o Ano Santo). Não é um acontecimento inédito. Já o Antigo Testamento fala de um Ano Jubilar de 50 em 50 anos[1], um tempo que devia ser de clemência e de libertação para todo o povo, a fim de restabelecer a justiça de Deus nos diferentes âmbitos da vida: no uso da terra, na posse dos bens, na relação com o próximo, sobretudo os mais pobres e os que tinham caído em desgraça[2]. Seria importante, no entanto, perguntar o que foi feito dessa bela instituição.

O Papa Bonifácio VIII instituiu o chamado Ano Santo, em 1300. O Papa Francisco já estabeleceu um especial programa litúrgico, em Roma, para os peregrinos, dos seus espaços mais emblemáticos, procurando, assim, superar o mero sentido turístico.

É de destacar um gesto original: no dia 26, o Papa foi à prisão Rebibbia, em Roma, como um peregrino de esperança, a mesma esperança à qual o Jubileu 2025 é dedicado, abrindo a Porta nessa prisão, inaugurando nela o Ano Santo.

O texto para o Dia Mundial da Paz 2025 é uma síntese notável, assumindo não só o que escreveram os seus antecessores, remontando à célebre Pacem in Terris (1963), como aponta o verdadeiro conteúdo das práticas do Ano Santo.

Também nos dias de hoje, o Jubileu devia ser um acontecimento que nos impelisse a procurar a justiça libertadora de Deus em toda a terra. Gostaríamos de estar atentos ao desesperado grito de ajuda. Sentimo-nos chamados a unir-nos à voz que denuncia tantas situações de exploração da terra e de opressão do próximo. Estas injustiças assumem, por vezes, o aspecto daquilo a que João Paulo II definiu como estruturas de pecado, porque não se devem apenas à iniquidade de alguns, mas estão, por assim dizer, enraizadas e contam com uma cumplicidade generalizada.

Cada um de nós deve sentir-se, de alguma forma, responsável pela devastação a que a nossa casa comum está sujeita, a começar pelas acções que, mesmo indiretamente, alimentam os conflitos que assolam a humanidade. Assim, fomentam-se e entrelaçam-se os desafios sistémicos, distintos, mas interligados, que afligem o nosso planeta. Refiro-me, em particular, às desigualdades de todos os tipos, ao tratamento desumano dispensado aos migrantes, à degradação ambiental, à confusão gerada intencionalmente pela desinformação, à rejeição a qualquer tipo de diálogo e ao financiamento ostensivo da indústria militar. Todos estes são factores de uma ameaça real à existência de toda a humanidade.

No início deste ano, Bergoglio incita-nos a escutar este grito da humanidade para nos sentirmos chamados, todos nós, juntos e de modo pessoal, a quebrar as correntes da injustiça para proclamar a justiça de Deus. Alguns actos esporádicos de filantropia não serão suficientes. Em vez disso, são necessárias transformações culturais e estruturais, para que possa haver também uma mudança duradoura.

2. Razão tinha S. Basílio de Cesareia (século IV) que perguntava: mas que coisas são tuas? De onde as tiraste para as incluir na tua vida? […] Não saíste totalmente nu do ventre da tua mãe? Não voltarás, de novo, nu para a terra? De onde vem o que tens agora? Estas interrogações continuam a ser essenciais.

Como diz Francisco, tal como as elites do tempo de Jesus, que se aproveitavam do sofrimento dos mais pobres, também hoje, na aldeia global interligada, o sistema internacional, se não for alimentado por uma lógica de solidariedade e interdependência, gera injustiças que, exacerbadas pela corrupção, aprisionam os países pobres. A lógica da exploração do devedor também descreve sucintamente a actual crise da dívida, que aflige vários países.

Não nos devemos cansar de repetir que a dívida externa se tornou um instrumento de controle, através do qual alguns governos e instituições financeiras privadas dos países mais ricos não hesitam em explorar, indiscriminadamente, os recursos humanos e naturais dos países mais pobres, para satisfazer as necessidades dos seus próprios mercados.

A dívida ecológica e a dívida externa são dois lados da mesma moeda. Este Ano Jubilar convida a comunidade internacional a actuar no sentido de perdoar a dívida externa, reconhecendo a existência de uma dívida ecológica entre o Norte e o Sul do mundo. É um apelo à solidariedade, mas sobretudo à justiça.

3. A dignidade da vida humana tem de ser respeitada e promovida em todas as suas etapas. Cada pessoa tem o direito de olhar o futuro com esperança, procurando o desenvolvimento e a felicidade de toda a família. Um gesto que deve marcar este Ano Jubilar é a eliminação da pena de morte em todas as nações. É, aliás, uma punição tão radical que aniquila toda a esperança humana de perdão e de renovação.

Neste tempo marcado pelas guerras em 22 países, o Papa Francisco propõe que, pelo menos, uma percentagem fixa do dinheiro gasto, em armamento, seja utilizada para a criação de um fundo mundial que elimine, definitivamente, a fome e facilite a realização de atividades educativas, nos países mais pobres. Devemos tentar eliminar qualquer pretexto que possa levar os jovens a imaginar o seu futuro sem esperança, ou como uma expectativa de vingar o sangue derramado por seus entes queridos. O futuro é um dom que permite ultrapassar os erros do passado e construir novos caminhos de paz. A guerra é sempre uma derrota, sempre! É fonte de riqueza para poucos e fonte de morte para povos inteiros.

Aqueles que empreenderem, através dos gestos propostos, o caminho da esperança, poderão ver cada vez mais próxima a tão desejada meta da paz. O Salmista confirma-nos nesta promessa: quando a verdade e o amor se encontrarem, a justiça e a paz abraçam-se (Sal 85, 11). Como dizia João XXIII, a verdadeira paz só pode vir de um coração desarmado da ansiedade e do medo da guerra.

A Mensagem para o Dia da Paz 2025 termina com uma oração. É a oração que nos abre aos dons de Deus:

Perdoa-nos as nossas ofensas, Senhor, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido, e, neste círculo de perdão, concede-nos a tua paz, aquela paz que só Tu podes dar para aqueles que deixam o seu coração desarmado, para aqueles que, com esperança, querem perdoar as dívidas aos seus irmãos, para aqueles que confessam sem medo que são vossos devedores, para aqueles que não ficam surdos ao grito dos mais pobres.

Bom Ano!

 

 



[1] Cf. Levítico 25

[2] Cf. Mensagem para o Dia da Paz 2025 que estrutura toda esta crónica

No ano novo de 2025, o quê? Anselmo Borges Padre e professor de Filosofia

 No ano novo de 2025, o quê?

Anselmo Borges

Padre e professor de Filosofia

30 Dezembro 2024

Há regiões em que na noite de passagem de ano tudo o que é velho - roupas, pratos,

mobília... - vai pela janela fora para a rua. E também é sabido que na noite de

passagem de ano há licenças ao nível do álcool e até com a sexualidade que

normalmente não são permitidas. É um pouco como se, retomando agora de modo

secularizado os mitos cosmogónicos, se instalasse o caos primitivo, para, em seguida,

como fizeram os deuses in illo tempore, ser reposta a ordem do cosmos.

Perante um ano novo que está aí à nossa frente, os sentimentos misturam-se:

perplexidade, entusiasmo, dúvida, expectativa, temor, esperança... Que é que nos

reserva o novo ano: para mim, para a minha família, para os meus amigos, para o país,

para a Europa, para o mundo? Será melhor, será pior que o ano que passou? É preciso

pensar, pois a perplexidade é gigantesca — pense-se nas guerras em curso e a ameaça

nuclear, pense-se na situação periclitante da Europa no contexto da nova geoestratégia

global, pense-se na crise climática mortal, pense-se, sem excluir as suas vantagens, nos

perigos da inteligência artificial, do trans- e pós-humanismo...

Por vezes, somos tentados a pensar que é tudo igual, que tudo se repete: morre um

ano, surge outro ano, na roda eterna do mesmo... Mas não é assim. Nunca houve na

história de cada um de nós, na história do país, na história da Europa, na história da

humanidade, na história do mundo, com cerca de quinze mil milhões de anos, um ano

como esse que está a chegar. Ele aí vem, novo, pela primeira vez, como criança

acabada de nascer. E exactamente como a criança vem aí com confiança. Todos nós,

individual e colectivamente, enfrentamos, apesar de tudo, o novo ano essencialmente

com confiança: se reflectirmos bem, esperamos, evidentemente com realismo,

também com temor, mas essencialmente esperamos confiadamente. Porque o ser

humano é um ser constitutivamente esperante, apesar da dureza toda com que a vida

nos vai confrontando.

Porque é que os homens e as mulheres, apesar de todos os fracassos, horrores,

sofrimentos e cinismos, ainda não desistiram de lutar e de esperar? Porque é que

continuamos a ter filhos? Porque é que depois de guerras destruidoras e terramotos

devoradores, recomeçamos sempre de novo? Perguntava, com razão, o célebre teólogo

Johann Baptist Metz: "Porque é que recomeçamos sempre de novo, apesar de todas as

lembranças que temos do fracasso e das seduções enganadoras das nossas

esperanças? Porque é que sonhamos sempre de novo com uma felicidade futura da

liberdade", embora saibamos que os mortos não participarão nela? Porque é que não

renunciamos à luta pelo homem novo? Porque é que o ser humano se levanta sempre

de novo, "numa rebelião impotente", contra o sofrimento que não pode ser sanado?

"Porque é que o ser humano institui sempre de novo novas medidas de justiça

universal, apesar de saber que a morte as desautoriza outra vez" e que já na geração

seguinte de novo a maioria não participará nelas? Donde é que vem ao ser humano "o

seu poder de resistência contra a apatia e o desespero? Porque é que ele se recusa a

pactuar com o absurdo, presente na experiência de todo o sofrimento não reparado?

Donde é que vem a força da revolta, da rebelião?"

Neste movimento incontível, ilimitado, do combate da esperança, pode ver-se um

aceno do Infinito, um sinal de Deus.

E um propósito: em cada dia de 2025 dedicar alguns minutos de silêncio à meditação

sobre o essencial.

*Padre e professor de Filosofi

terça-feira, 31 de dezembro de 2024

Os Pilares do Ano Novo - Pe.Manuel João - MC

 Os Pilares do Ano Novo

Maria Santíssima Mãe de Deus
Lucas 2,16-21: "E foi-lhe dado o nome de Jesus"

No primeiro dia do ano civil, a Igreja celebra a solenidade de Maria Santíssima, Mãe de Deus. É também o último dia da Oitava de Natal, que recorda o rito da circuncisão de Jesus. Além disso, desde 1968, por vontade do Papa Paulo VI, este dia é dedicado à oração pela paz.
A liturgia oferece-nos "a primeira Palavra do ano", portadora de graça e bênção. Meditemo-la, refletindo sobre três realidades: Maria, o nome de Jesus e a Bênção da Paz. Estes são os pilares sobre os quais devemos construir o edifício da nossa vida no novo ano. São-nos dados 365 tijolos para o fazer, e a Palavra oferece-nos o plano, o projeto.

MARIA e o escândalo da manjedoura!

"Todos os que ouviam se admiravam das coisas que lhes contavam os pastores. Maria, porém, guardava todas estas coisas, meditando-as no seu coração."

Entramos no novo ano sob a égide de Maria, a Mãe de Deus. Durante este tempo natalício, a nossa atenção está naturalmente voltada para o Menino. No entanto, hoje a Igreja convida-nos a elevar o olhar para a Mãe. Dela aprendemos como contemplar, acolher e aprofundar o Mistério do nascimento de Jesus.

Os pastores encontram o Menino "deitado na manjedoura", um facto que os enche de alegria, pois confirma a palavra do anjo e porque o Salvador nasceu no seu ambiente: é um deles. Para todos, o testemunho dos pastores é motivo de maravilha. Mas para Maria?
"Para Maria, a Santa Mãe de Deus, não foi assim. Ela teve de enfrentar 'o escândalo da manjedoura'" (Papa Francisco, 1 de janeiro de 2022).

Tiremos tempo, nestes dias, para nos demorarmos diante de um ícone de Maria ou, ainda melhor, para lhe fazermos uma visita numa das suas numerosas "moradas", os santuários a ela dedicados, para pedir a sua capacidade de meditar sobre os acontecimentos. Nem todos os 365 tijolos do novo ano serão bonitos, lisos, bem cortados e fáceis de encaixar no edifício da nossa vida. Quem nos dera que fosse assim! Alguns serão deformados e difíceis de integrar. Certamente não faltarão dias problemáticos e difíceis. São os "tijolos" do desânimo, da tristeza ou, até, do escândalo diante de certos acontecimentos da vida. Seremos tentados a descartá-los como inúteis.
O olhar de Maria, que "guardava todas estas coisas, meditando-as no seu coração", pode ajudar-nos. Apenas a sua "paciência meditativa" nos permitirá integrar certos tijolos no puzzle da nossa vida. O que não compreendemos e que somos tentados a rejeitar deve ser guardado com maior atenção.

Entremos, pois, no novo ano com o olhar de Maria: através da Porta do seu coração ou da Janela dos seus olhos, aprendamos a guardar e a meditar os acontecimentos, para encontrar sentido até naquilo que inicialmente nos escapa.

JESUS, o Nome e os nomes!

"Quando se completaram os oito dias para a circuncisão, foi-lhe dado o nome de Jesus, como o anjo o tinha chamado antes de ser concebido no ventre."

Hoje, no oitavo dia do seu nascimento, o Menino é circuncidado e recebe um nome: Jesus, que significa "o Senhor salva". Este nome, designado pelo Céu através do anjo, é a forma portuguesa do latim Jesus, que por sua vez deriva do grego Iesoûs. O original aramaico era Yeshua, uma forma abreviada do hebraico Yehoshua. Também Josué, o sucessor de Moisés, tinha este nome. Era um nome muito comum na época.
Nos Evangelhos, o nome de Jesus aparece 566 vezes. Já não é um simples nome, mas revela a sua identidade como Salvador. Pronunciá-lo equivale a uma profissão de fé para aqueles que o invocam. Como afirma São Pedro: "Não há, debaixo do céu, outro nome dado entre os homens, pelo qual devamos ser salvos" (Atos dos Apóstolos 4,12).

Agora Deus tem um nome: Jesus, "O Senhor salva". Podemos chamá-lo e estabelecer uma relação pessoal com Ele. Que belo seria se, durante este novo ano, o nome de Jesus fosse o mais frequente nos nossos lábios e o mais vivo no nosso coração! Isto convida-nos a praticar um exercício espiritual: a chamada "Oração do Coração". Consiste em repetir continuamente o nome de Jesus, ao ritmo da nossa respiração, como se repete o nome de uma pessoa amada. Uma forma muito simples de oração, capaz de criar uma profunda comunhão com Ele e com todos os que invocam o Seu nome.

BENÇÃO: abençoados, abençoemos!

"O Senhor te abençoe e te guarde. O Senhor faça brilhar o seu rosto sobre ti e te conceda a graça. O Senhor volte para ti o seu rosto e te dê a paz." (Números 6, 22-27, primeira leitura)

É particularmente reconfortante e encorajador tomar consciência de que este novo ano começa sob o signo da bênção. A paz é tanto a fonte quanto o fruto da bênção. Entramos em 2025 abençoados, mas é fundamental permanecermos na Bênção! Para isso, é necessário: bem-dizer Aquele que é o Bendito, fonte de toda a bênção; bem-dizer a vida; bem-dizer a nossa história. Sobretudo, devemos abençoar as pessoas que encontramos ao longo do dia.
"Abençoai e não amaldiçoeis!" (Romanos 12,14). Devemos reconhecer que, muitas vezes, nos é mais espontâneo amaldiçoar: amaldiçoar a vida, os políticos, os padres (infelizmente, às vezes com razão!), o chefe, os colegas, o autocarro atrasado, o trânsito, ou o vizinho barulhento... E assim corremos o risco de viver uma vida "amaldiçoada"!

Aqui está um terceiro exercício para o novo ano: sair de casa todos os dias com a consciência de ser abençoado e espalhar bênçãos por todo o lado, à direita e à esquerda! A paz seguir-nos-á.

Feliz Ano Novo! Shalom!


P. Manuel João Pereira Correia, mccj
p.mjoao@gmail.com
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