segunda-feira, 30 de março de 2020

NASCER DE NOVO Frei Bento Domingues, O.P.


1. Se, como foi noticiado, o cardeal Burke tiver dito, perante as ameaças do covid-19, «que devemos poder orar nas nossa igrejas e capelas, receber os sacramentos e participar em actos de oração pública», espero que alguém o convença a despir-se das pompas cardinalícias, a envolver-se em saco e cinza para pedir perdão, através dos meios de comunicação social, a crentes e não crentes por essa pouca vergonha[1].

 Passemos ao título desta crónica. É a proposta mais séria para não alimentar ilusões para depois do presente pesadelo colectivo. Antes, porém, importa lembrar algumas evidências esquecidas para nos situarmos, com lucidez, neste tempo de agendas suspensas ou alteradas.

O ser humano surgiu na terra como um dos menos equipados e mais desarmados do reino animal. Os seus instintos são rudimentares e parcas as suas defesas.

 Essa situação escondia um tesouro único no seu corpo revelado pela palavra que o singulariza. É o tesouro da inteligência emocional, da razão discursiva, do afecto desinteressado, da liberdade criadora e destruidora, da imaginação, a louca da casa para o bem e para o mal.

 São recursos inesgotáveis. A partir de elementos preexistentes, possibilitam o gosto de estabelecer conexões mentais surpreendentes, de inventar, de inovar, de criar e recriar. Como escreveu Einstein, a criatividade é a inteligência a divertir-se[2].

Desde a revolução paleolítica até à chamada quarta revolução industrial, muito se andou na marcha multimilenária da humanidade. Continuamos a caminho, sem que saibamos bem para onde. Este percurso está semeado de realizações admiráveis e de criminosas destruições.

     Não podemos prever o futuro. Confia-se demasiado no poder da tecnologia, mas ela não é determinista. Pode levar-nos ao melhor e ao pior. Como escreve Y. N. Harari, «a ascensão da Inteligência Artificial e da biotecnologia irá certamente mudar o mundo, o que não significa que haja apenas um único desfecho possível»[3].

  Somos natura e multifacetada cultura científica, técnica, estética, metafísica e ética. A razão instrumental responde ilimitadamente, com eficácia surpreendente, a perguntas limitadas que ocultam as incómodas.  

Existem perguntas que nunca têm resposta adequada, mas que ajudam a manter o espírito em alerta, perante o irredutível mistério de que somos feitos. Brotam talvez das fontes da grande música, da literatura, da filosofia, da religião, da mística, da criatividade inesperada de novas linguagens. Manifestam-se em obras que nos emocionam, provocam e alimentam uma abertura sem fim: o sentimento de infinito, o pressentimento de Deus.

2. Depois, um miserável vírus semeia o pânico global e regressa a estafada questão do mal, da responsabilidade de Deus, dos seus castigos ou da sua não existência[4]. Prefiro, no seu aparento exagero, o que Dostoiewski escreveu em Os irmãos Karamazov: «todos somos culpados de tudo, culpados por todos, diante de todos e eu mais do que os outros».

Talvez seja útil escutar a voz de S. Tomás de Aquino, voz de um outro tempo, em que o mundo voltava a estar em efervescência. Tinha uma ideia muito optimista quanto ao progresso do conhecimento, mas reticente quanto ao progresso humano no seu conjunto. Dizia que na natureza, na maior parte dos casos, tudo corre bem. Com os seres humanos, na maior parte dos casos, acontece precisamente o contrário. Porquê? Porque estes não orientam a sua vida segundo as exigências da humanidade, a humanidade de todos, mas segundo a desagregação dos seus apetites[5].

Perante tantas catástrofes na natureza, isto pode parecer ingenuidade. Diz-nos, no entanto, que a harmonia da natureza do tempo de S. Tomás foi gravemente afectada. A questão mais actual é, precisamente, a desagregação dos apetites nas intervenções sobre a natureza que torna a nossa Casa Comum inabitável. Em vez de cuidar o nosso paraíso terrestre, destruímo-lo pela vontade de dominação e exploração económica, política e religiosa. É o ser humano que, ao desumanizar-se, corrompe a natureza. As dimensões da questão ética são globais.

Nietzsche suprime a questão ética, ao suprimir o ser humano: «o homem é algo que deve ser superado… que é o macaco para o homem? Uma coisa ridícula ou uma vergonha dolorosa. É isso o que deve ser o homem para o super-homem: uma coisa ridícula e uma vergonha dolorosa».

3. A Quaresma cristã não é nietzscheana. É mais modesta e mais radical. Procura vencer as tentações que acompanham a história da humanidade: o espírito diabólico de dominação que sonhou e criou impérios. Nenhum se aguentou. As novas tentativas estão possessas do mesmo espírito. Será possível enfrentá-lo?

No século XX e nos começos do século XXI, depois das catástrofes, os poderosos têm-se reunido muitas vezes e ainda não mostraram grande vontade de mudar de rumo. Reafirmam, sobretudo, as metamorfoses dos seus velhos apetites e desígnios. A espantosa construção da União Europeia está ameaçada porque não é o espírito de cooperação que a orienta, mas um regateio de perdas e de vantagens. Os cristãos tiveram um grande papel no sonho europeu. E agora?

O Evangelho de S. João conta uma história que intrigou uma destacada figura do Sinédrio da antiga Jerusalém, Nicodemos, e que não deixa margens a subterfúgios[6]. Foi, de noite, ter com Jesus e começou com muito boa retórica religiosa: Rabi, sabemos que vieste da parte de Deus como Mestre, pois ninguém pode realizar os sinais que tu realizas se Deus não estiver com ele. Jesus não cede a lisonjas: só quem nascer do alto pode ver o Reino de Deus. Nicodemos quer fugir a essa proposta radical: como pode um homem velho nascer de novo? Poderá ele entrar no ventre da sua mãe segunda vez e nascer?

Jesus convida-o a não mudar de conversa: aquele que nasce da carne é carne e aquele que nasce do espírito é espírito. Não te admires por eu ter dito que é preciso nascer do alto. O sopro sopra onde quer e ouves a sua voz, mas não sabes nem de onde vem nem para onde vai. Assim é aquele que nasceu do espírito.

Nicodemos não contradiz o Nazareno, mas procura não se enfrentar com a proposta de ter de nascer de novo, fazendo perguntas sobre o que já sabe. Jesus não aceita fugas ao confronto essencial.

Nicodemos é o nosso retrato.





29. Março. 2020



[1] Cf. 7Margens: 23. 03.2020. Bolsonaro e Tramp são bons acólitos do cardeal Burke.
[2] Cf. Alexandre Castro Caldas, Criatividade: a função cerebral improvável, UCP, 2017
[3] Yuval Noah Harari, Homo Deus. História Breve do Amanhã, Elsinore, 2017, 442-443
[4] Cf. Adolphe Gesché, O Mal, Rei dos Livros, 1996
[5] Suma Teológica, I, q. 91, a. 3 ad 2; q. 49, a. 3 ad 5
[6] Jo 3

domingo, 22 de março de 2020

ENCONTRO ANUAL DE VISEU - VISEU 2020 suspenso

Caros Colegas e Amigos

Tenho a comunicar-vos uma desagradável notícia. O evento mais aguardado do ano vai ter que ser cancelado e adiado sine die. Pelo andar da carruagem o melhor é começarmos a pensar no encontro de VISEU - 2021.

A gripe asiática de 1958 ( e as outras que entretanto lhe foram sucedendo) foi uma brincadeira ao pé desta CORONAPESTE. Lembram-se, os mais velhos claro, da enfermaria de Viseu superlotada? Do enf chefe, Pe Mário, na altura um estudante de teolodgia, creio eu? Da desinfecção das camaratas e outros espaços com fervura de folhas de eucalipto? etc, etc. O Pe. António Ino deve lembrar-se bem daqueles tempos! Só que naquela altura, alguns de nós, éramos "meninos e moços". Outros aguardavam a sua vez para crescer ou nascer...

Para além das decisões administrativas governamentais que temos de acatar, da atitude cívica que nos impõe a protecção dos outros e a nossa, os "superiores" combonianos resolveram também, e bem, suspender por tempo indeterminado encontros no seminário.

Nada de desânimos. O próximo encontro, seja ele quando for , será ainda mais participado e animado.

Um grande abraço para todos e...mantenham-se longe do CORONA.

A Direcção da AAA Combonianos

ÉTICA SAMARITANA Frei Bento Domingues, O.P.


1. Há quem se aventure a calcular as consequências previsíveis e imprevisíveis da guerra imposta pelo Covid-19 a curto, a médio e a longo prazo, em vidas humanas e na reinvenção de novos estilos de vida colectiva, a nível local e global. Não disponho nem dessa ciência nem desses poderes de adivinhação. Todos devemos ir aprendendo com quem sabe e a obedecer a quem legitimamente manda. Ninguém está dispensado de procurar aprender a descobrir novos modos de responder à pergunta fundamental da condição humana: em que posso e como posso ajudar?

 Na comunicação que o Primeiro-Ministro fez ao país, além das medidas que tomou, em consonância com todos os partidos, tocou no essencial: «O primeiro dever de cada uma e de cada um de nós é cuidar do próximo. É o de evitar que, por negligência, por desconhecimento, ponhamos em risco a saúde do outro. Cada um de nós julga estar numa situação saudável, mas a verdade é que nenhum de nós sabe se não é portador de um vírus que, involuntariamente, está a passar a outro».

Na situação presente, em muitos casos, a boa proximidade é a de encontrar modos e meios de proximidade sem o contacto físico. É um desafio à imaginação solidária que já teve e tem manifestações admiráveis. Os caprichos individuais, ou de grupo, que não têm em conta os avisos e as normas das autoridades legítimas são criminosos.

A religião bem entendida é aquela que sabe que o verdadeiro culto só se pode realizar em espírito e verdade. Como vimos na crónica do Domingo passado, não tem que estar sempre dependente de cerimónias litúrgicas. Segundo o Novo Testamento, o que há de mais sagrado para Deus é o ser humano.

No âmbito religioso, a imaginação não pode ficar paralisada pela restrição imposta às grandes manifestações. Foi Jesus que disse: quando orardes, não sejais como os hipócritas, que gostam de rezar de pé nas sinagogas e nas esquinas das ruas, para serem vistos pelos homens. Em verdade vos digo, já receberam a sua recompensa. Tu, porém, quando orares, entra no teu quarto e, fechando a porta, reza em segredo ao teu Pai, pois Ele, que vê o oculto, há-de recompensar-te. Nas vossas orações, não sejais como os gentios, que usam de vãs repetições, porque pensam que, por muito falarem, serão atendidos.  Não façais como eles, porque o vosso Pai celeste sabe do que necessitais antes do vosso pedido[1].

Quando S. Lucas conta uma parábola magnífica sobre a necessidade da insistência na oração, também não é para convencer a Deus, mas por causa da necessidade que nós temos de nos abrirmos ao seu desejo[2].

Hoje, os diferentes meios de comunicação proporcionam possibilidades várias de acesso às expressões da fé cristã. Se em condições normais, nada pode substituir a celebração comunitária da fé, esta também pressupõe outros modos de rezar.

2. Este período de quarentena – a quaresma inesperada – não pode servir para criar em nós uma religião intimista, uma mística de olhos fechados para as carências múltiplas das pessoas, sobretudo das mais sofredoras e isoladas. É bom não esquecer o aviso de S. Tiago: Se alguém se considera uma pessoa piedosa, mas não refreia a sua língua, enganando assim o seu coração, a sua religião é vã. A religião pura e sem mácula diante de Deus, nosso Pai, consiste nisto: assistir os órfãos e as viúvas nas suas tribulações e evitar a corrupção. A seguir, o mesmo Tiago torna-se ainda mais incisivo: Falai e procedei como pessoas que hão-de ser julgadas segundo a lei da liberdade. Porque quem não pratica a misericórdia será julgado sem misericórdia. Mas a misericórdia não teme o julgamento. De que aproveita, irmãos, que alguém diga que tem fé, se não tiver obras da fé? Acaso essa fé poderá salvá-lo? Se um irmão ou uma irmã estiverem nus e precisarem de alimento quotidiano, e um de vós lhes disser: Ide em paz, tratai de vos aquecer e de matar a fome, mas não lhes dais o que é necessário ao corpo, de que lhes aproveitará? Assim também a fé: se ela não tiver obras, está completamente morta[3].

A modernidade é, antes de mais, a recusa de fazer intervir, nos nossos modos de compreensão da realidade e de acção, forças extra-humanas. Considera a religião alienante e de soluções ilusórias. É preciso alguma má vontade para chamar alienante ao citado texto de S. Tiago.

O filósofo agnóstico, J. Habermas, refere o último encontro com o filósofo ateu, H. Marcuse: ele estava na sala de cuidados intensivos num hospital de Frankfurt, rodeado de aparelhos dos dois lados da cama. Em conexão com a discussão de dois anos atrás, Marcuse disse-me: «Sabes? Agora sei em que é que se fundamentam os nossos juízos de valor mais elementares: na compaixão, no nosso sentimento pela dor dos outros»[4].

3. O título desta crónica é imposto por uma narrativa do Evangelho de S. Lucas[5]. Jesus enviou em missão 72 discípulos. Regressaram entusiasmadíssimos com o espectáculo sobrenatural de que se sentiram actores. Jesus testemunha que, do ponto de vista deles, foi um grande êxito, mas não tinham descoberto o principal. Proclamaram o Reino de Deus com sinais e prodígios sem se darem conta do que há de essencial neste anúncio: estamos inscritos no coração de Deus. Só falta inscrever o próximo no nosso coração.

Um doutor da Lei, para se fazer interessante, perguntou a Jesus: mas quem é o meu próximo? A resposta foi dada com uma parábola que deixa muito mal a religião do templo de Jerusalém e muito bem a atitude de um herético samaritano:

Certo homem descia de Jerusalém para Jericó e caiu nas mãos dos salteadores que, depois de o despojarem e encherem de pancada, o abandonaram, deixando-o meio morto. Por coincidência, descia por aquele caminho um sacerdote que, ao vê-lo, passou ao largo. Do mesmo modo, também um levita passou por aquele lugar e, ao vê-lo, passou adiante. Mas um samaritano, que ia de viagem, chegou ao pé dele e, vendo-o, encheu-se de compaixão. Aproximou-se, ligou-lhe as feridas, deitando nelas azeite e vinho, colocou-o sobre a sua própria montada, levou-o para uma estalagem e cuidou dele. No dia seguinte, tirando dois denários, deu-os ao estalajadeiro, dizendo: trata bem dele e o que gastares a mais pagar-te-ei quando voltar. Qual destes três te parece ter sido o próximo daquele homem que caiu nas mãos dos salteadores? Ele respondeu: o que usou de misericórdia para com ele. Disse-lhe Jesus: Vai e faz tu também o mesmo.

Esta ética samaritana, sem qualquer invocação religiosa, obriga-nos a todos, ontem e hoje.



22. Março. 2020



[1] Mt 6, 5-8
[2] Lc 11, 1-13
[3] Tg 1, 26-27; 2, 12-17
[4] Anselmo Borges, Deus Religiões (In)Felicidade, Gradiva,  2016, 30-31
[5] Lc 10, 17-37

domingo, 15 de março de 2020

A MAIOR REVOLUÇÃO RELIGIOSA Frei Bento Domingues, O.P.


1. É muito complexa a história do povo samaritano. Segundo a investigação de 2019, existiam apenas 820 samaritanos. Parece que num passado remoto ultrapassaram o milhão[1]. Apesar da sua reduzida expressão numérica actual, a liturgia cristã não os pode esquecer. Ao longo do ano litúrgico, são muitas as referências, extremamente simpáticas, dedicadas a esse povo semita que era detestado pelos judeus por ter conservado, da herança comum, apenas o Pentateuco e ter levantado um lugar de culto rival do templo de Jerusalém. Mas porque será que os textos do Novo Testamento construíram, por contraste, figuras samaritanas que apresentam como exemplares para todos os tempos e lugares?

Esses textos não são as actas factuais do comportamento de Jesus de Nazaré. São interpretações contextuais dos seus atrevimentos, mas não há dúvida que este galileu insólito não suportava aquele ódio fraticida nem a justiça do olho por olho, dente por dente[2]. Esses textos de inapagável beleza atribuem a um judeu a apresentação de figuras samaritanas – figuras de um povo rival – como exemplo do que deve ser um discípulo da Lei Nova do Evangelho. O Nazareno não fazia acepção de pessoas. Tanto curava judeus como samaritanos ou gentios. Eram doentes, e só por isso, deviam ser socorridos sem mais considerações. Mesmo assim, destaca que entre os 10 leprosos curados só um samaritano veio agradecer.

Segundo o Evangelho de S. Mateus, quem mais precisava de conversão era Israel e, por isso, é em primeiro lugar às ovelhas perdidas deste povo que se dirige a intervenção de Jesus[3]. Paulo também começou a sua pregação pelas sinagogas, pelos judeus. Mas depressa descobriu que, em Jesus, não há judeu nem grego, não há escravo nem livre, não há homem nem mulher, não há circunciso e incircunciso, bárbaro, cita, escravo ou livre. O que importa é que a vida e a mensagem de Cristo sejam tudo em todos[4]. Existem, no entanto, narrativas de ruptura, de natureza altamente simbólica, que são dedicadas a exaltar figuras samaritanas. Comecemos por uma que é proclamada, hoje, na Eucaristia e constitui uma radical revolução religiosa. Pertence ao capítulo 4º do Evangelho de S. João e está disponível online.

2. Jesus estava de viagem e parou, em Sicar, cidade da Samaria, enquanto os discípulos foram procurar alimentos. Estava cansado, sozinho, com muita sede e sentou-se junto do famoso poço de Jacob de profundidade excepcional (32 metros!), com água sempre fresca mesmo sob o sol escaldante do meio-dia.

Entretanto, veio uma mulher da Samaria para tirar água. Disse-lhe Jesus: Dá-me de beber. A samaritana espantou-se: Como é         sendo judeu, me pedes de beber, a mim, que sou samaritana? Jesus muda de registo. Se conhecesses o dom que Deus tem para dar e quem te pede: dá-me de beber, tu é que lhe pedirias, e Ele dar-te-ia água viva! A mulher goza com esse despropósito: Senhor, não tens sequer um balde e o poço é fundo... Onde consegues, então, a água viva? Porventura és mais do que o nosso patriarca Jacob, que nos deu este poço donde beberam ele, os seus filhos e os seus rebanhos?

Jesus retoma a iniciativa: Todo aquele que bebe desta água voltará a ter sede; mas, quem beber da água que Eu lhe der, nunca mais terá sede: a água que Eu lhe der há-de tornar-se nele em fonte de água que dá a vida eterna. A mulher aproveita a deixa: Senhor, dá-me dessa água, para eu não ter sede, nem ter de vir cá tirá-la.

Como não era bem visto falar com uma mulher em público sem o marido, Jesus diz-lhe: Vai, chama o teu marido e volta cá. A mulher retorquiu-lhe: Não tenho marido. Jesus revela a situação real desta samaritana extraordinária: Disseste bem: não tenho marido, pois tiveste cinco e o que tens agora não é teu marido. Nisto falaste verdade. A mulher não se deu por achada: Vejo que és um profeta! Então explica-me: Os nossos antepassados adoraram a Deus neste monte, e vós dizeis que o lugar onde se deve adorar está em Jerusalém.

3. Começa a revolução: Jesus declarou-lhe: Mulher, acredita em mim: chegou a hora em que, nem neste monte nem em Jerusalém, haveis de adorar o Pai.

Ainda tentou afirmar a superioridade judaica, mas deu-se conta de que isso já não fazia sentido. Chegou a hora em que os verdadeiros adoradores hão-de adorar o Pai em espírito e verdade, pois são assim os adoradores que o Pai pretende. Deus é espírito; por isso, os que o adoram devem adorá-lo em espírito e verdade.

Ainda hoje, 2020, se procura vencer a violência louca em nome de Deus por meio do diálogo inter-religioso. É a única alternativa defensável. Acontece, porém, que, em muitos desses diálogos, cada um dos intervenientes não vai além de manifestar aquilo em que está de acordo e o que julga inaceitável. Raros são os que fazem a auto crítica das instituições a que pertencem. Os diálogos repetem-se, mas não fazem avançar para uma nova plataforma que os transfigure e transfigure as suas problemáticas religiosas.

O insólito encontro da samaritana com Jesus venceu os preconceitos de que ambos partiram. A mulher pressente em Jesus o Messias esperado e ele confirma-a. O espantoso é que ela abandona o cântaro. Tinha encontrado outra água e vai a correr à cidade levar a boa nova que descobriu. Não pede que acreditem nela. Vai apenas dar o seu testemunho, levantar uma séria interrogação messiânica e propor aos seus conterrâneos que sejam eles a verificar. Foram e pediram a Jesus que ficasse com eles. «Então, muitos mais acreditaram nele por causa da sua pregação e diziam à mulher: Já não é pelas tuas palavras que acreditamos; nós próprios ouvimos e sabemos que Ele é verdadeiramente o Salvador do mundo». É a única vez que esta confissão pública e solene aparece no Evangelho de João.

A conversa sobre o papel das mulheres na Igreja não avança porque não se liga nada à importância que Jesus lhes atribuiu.



PS: O Evangelho de João é o mais sacramental. É também o da maior revolução religiosa, como vimos. Dadas as circunstâncias do covid-19, não seria de estranhar que a Conferência Episcopal Portuguesa cancelasse as celebrações da Quaresma e da Páscoa que manifestem riscos de contágio. O culto em espírito e verdade não depende das celebrações litúrgicas. Em Lucas, também há um contraste ético entre os zeladores do templo que viram e não ligaram e o herético samaritano que viu e socorreu (Lc 10, 29-37).





15. Março. 2020



[1] Para quem desejar conhecer a história do povo samaritano, a Wikipédia é muito abundante na informação, referindo as fontes em que se baseia.
[2] Lc 9, 52-56
[3] Mt 10, 5-6; Act 8, 5; 13, 44-47.
[4] Gal 3, 27-28; Cl 3, 11

ANIVERSÁRIO DE COMBONI - 15 março 1831


Parabéns a toda a FAMÍLIA COMBONIANA da  Associação de Antigos Alunos Combonianoa.

segunda-feira, 9 de março de 2020

O ESSENCIAL E O SECUNDÁRIO Frei Bento Domingues, O.P.


1. Algumas Igrejas cristãs – católica, ortodoxa, anglicanas, luterana – fazem preceder a Páscoa de um grande retiro, a Quaresma, para vincar que as «cerimónias litúrgicas», sem a transformação da vida, são uma mentira.

Os rituais e tradições da Quaresma podem ser muito diferentes de continente para continente, de país para país e mesmo dentro de cada país, as expressões, sobretudo as da Semana Santa, podem revestir aspectos que uns consideram fidelidade à religião popular e outros apreciam-nas como folclore bizarro para turistas do insólito. Também não falta quem as denuncie como traições à pureza da fé cristã.

Certas tradições foram esquecidas, outras alteradas e são, agora, em muitos casos, objecto de investigação histórica e até de reconstrução etnográfica. Não convém esquecer que foram, por vezes, modos muito criativos de inculturação popular da fé cristã, mais ou menos ortodoxa. O mundo rural em que nasceram e se desenvolveram ou já não existe ou existe de forma tão precária, que as reconstituições parecem sobretudo trabalho de arqueologia da memória. Em algumas zonas do país, onde o clero não impôs a sua ortodoxia oficial, ainda hoje são fiéis às expressões da fé que os alimentaram durante séculos[1].

A reflexão sobre a inculturação do cristianismo tem sido, nos últimos anos, mais pensada do que realizada. Ainda recentemente se falou muito de um novo rito católico para a Amazónia, mas continua por concretizar.

A reforma litúrgica do Vaticano II teve e tem muitos méritos e virtualidades, mas talvez tenha sido demasiado “higiénica”. Preocupou-se, e bem, com a participação dos fiéis que não pode reduzir-se à tradução dos textos litúrgicos e dos regulamentos rituais. Não teve em conta que esta exige um processo de inculturação responsável e criativa que não pode realizar-se nas costas das comunidades cristãs.

A Quaresma deve ensaiar o encontro com o essencial da fé cristã e com as suas diversas expressões simbólicas e éticas de recriação da existência humana. O esquecimento da distinção prática entre o essencial e o secundário, na vida e nas expressões da fé cristã, conduz a impasses na prática pastoral, como se acaba de verificar com o sínodo da Amazónia realizado no Vaticano.

2. A essa distinção já me referi nas últimas crónicas, embora com propósitos diferentes. Neste sentido, convém ter em conta o exemplo de S. Tomás de Aquino. Este filósofo, teólogo e poeta elaborou um guião para os que iniciavam os estudos teológicos que dá pelo nome de Suma de Teologia, uma obra imensa que não pôde concluir. O ambiente universitário vivia sobretudo das chamadas questões disputadas, mas a floresta dessas questões era tão vasta que os principiantes perdiam-se nos seus labirintos. Ao professor competia ensinar a ler e interpretar os textos sagrados e os textos da cultura filosófica e científica da época. A discussão académica não se podia contentar em repetir o credo cristão. Uma teologia da repetição não respondia à questão essencial: como é que é verdade aquilo que confessamos no credo? Sem isto, os fiéis que repetem o credo estão na verdadeira fé, mas de cabeça vazia. O pregador – e Tomás de Aquino tinha entrado na Ordem dos Pregadores – também não pode ser fiel à proposta que faz do Evangelho, contentando-se com divulgar catecismos, devoções ou receitas prontas a servir. Deve preparar-se, como o professor, a saber ler e interpretar os textos sagrados no coração da cultura literária, artística, filosófica e científica dos seus destinatários, que podem ser mais ou menos eruditos. Hoje, diríamos, na linha de um grande discípulo de S. Tomás, o P. Dominique Chenu, devemo-nos inscrever em todos os saberes, de todos os movimentos sociais e culturais, para ler e interpretar os sinais dos tempos.

Na Suma de Teologia, Tomás de Aquino, ao abrir muitas clareiras na floresta, também ele corria o perigo, no meio de tantas questões e distinções, de se perder do essencial. Não aconteceu. Em três breves questões foi directo ao coração da fé cristã e justificou a sua intuição evangélica: Aquilo que há de mais poderoso na lei do Novo Testamento e em que consiste toda a sua energia é a graça do Espírito Santo que é dada pela fé em Cristo. Daí que a Lei Nova seja, principalmente, a própria graça do Espírito Santo que é dada aos fiéis. Tudo o resto vem em segundo lugar, pertence ao reino das mediações para nos dispor ao acolhimento, à expressão e à fidelidade, na vida concreta, a essa graça[2]. Daí resulta uma nova inteligência da fé, uma nova ética e novos sacramentos.

3. Na Suma de Teologia, Tomás de Aquino situou a questão dos sacramentos depois de apresentar Cristo como sacramento. Estes são actos de Cristo que, a partir de um momento histórico, atingem por virtude divina todos os tempos e lugares. Antes desta obra, tinha-se referido à actividade sacramental como causa da graça divina. Os sacramentos entravam, deste modo, no mundo da causalidade eficiente. Na Suma, mudou completamente de perspectiva. Os sacramentos pertencem ao mundo simbólico. Não são uma mecânica divina e humana de produção da graça. Não são coisas, são gestos e palavras significantes que têm a propriedade de realizar aquilo que significam. São uma linguagem performativa. Esta viragem deve modificar completamente a pastoral litúrgica, pois, não actuam automaticamente. Têm de falar do e ao ser humano em todas as suas dimensões: ao seu imaginário, à sua inteligência, aos seus afectos, às suas exigências de beleza, de sentido e de transformação do mundo. Os sacramentos realizam-se numa festa da fé, numa festa do Evangelho. Não favorecem a depressão.

Como escreveu Frei José Augusto Mourão, o pensamento depressivo está naqueles que só falam da transfiguração do mundo, mas são incapazes de transfigurarem a sua própria linguagem. Ora, a linguagem de Jesus é uma linguagem de transfiguração.

Para que as celebrações da Quaresma e da Semana Santa não se percam no ritualismo fundamentalista, importa não se deixar dominar pelo que está mandado ou proibido. Uma festa precisa de um ritual, mas não há nenhum ritual que faça a festa de uma comunidade ou de um povo.

O principal é a transformação da vida pessoal e comunitária, mas esta precisa de ser secundada pela transfiguração da linguagem da fé. Sem esse trabalho, a liturgia torna-se aborrecida, depressiva. Ninguém está obrigado a participar num aborrecimento colectivo.



08. Março. 2020



[1] Cf. Mistérios da Páscoa em Idanha 2019, Câmara Municipal da Idanha-a-Nova, VI Curso Livre sobre Religiosidade Popular. Ruralidade e piedade popular no nosso tempo.
[2] I-II, q. 106-108

segunda-feira, 2 de março de 2020

NÃO BASTAM PALAVRAS Frei Bento Domingues, O.P.


1. As concepções de Igreja que deformaram o Evangelho de Cristo, durante séculos, foram muito alteradas no Vaticano II (1962-1965), mas não foram apagadas. Tiveram muitas reaparições depois, como aliás já comecei a referir no Domingo passado. Por exemplo: o Cardeal Jan Pieter Schotte (1928-2005) foi, no pontificado de João Paulo II, o Secretário Geral do Sínodo dos Bispos de 1985 até 2004. Ao falar do Direito Canónico já revisto, declarou: «Não vos enganeis, na Igreja católica, um pároco não tem de prestar contas a ninguém salvo ao seu bispo; um bispo não tem de prestar contas a ninguém salvo ao Papa; o Papa não tem de prestar contas senão a Deus». Uma declaração destas justifica a observação de Bergoglio, segundo a qual, «o clericalismo engendra uma divisão no corpo eclesial».

O citado Cardeal continuou, mesmo depois do vaticano II, dependente da ideologia do Papa Pio X que, em 1906, descreveu a Igreja como uma «sociedade de essência desigual que compreende duas categorias de pessoas: os pastores e o rebanho. (…) Essas categorias são tão claramente distintas entre si que só no corpo pastoral residem o direito e a autoridade necessários para promover e dirigir todos os membros rumo às finalidades sociais; e que a multidão não tem outro dever senão o de se deixar guiar e de seguir, como um dócil rebanho, os seus Pastores».

Hervé Legrand procurou explorar os fundamentos ideológicos de Pio X e do Cardeal Schotte. Começou pela declaração do Papa Francisco: o clericalismo é favorecido pelos próprios padres ou pelos leigos, dependendo do modo de conceber a autoridade na Igreja.

Bergoglio não quer dizer que essa é a atitude de todos os padres nem de todos os leigos. Refere-se ao mecanismo das suas relações. Em termos sociais, este mecanismo é desencadeado quando os clérigos inculcam nos leigos a ideia do seu não-poder e do seu não-saber, destacando a sua própria superioridade pelo facto de só eles terem recebido a chamada graça da ordenação. O clericalismo não só anula a personalidade dos leigos cristãos, mas também tem a tendência a desvalorizar o essencial da fé: a graça baptismal fruto do Espírito Santo no coração dos fiéis.

De facto, em termos sacramentais, o baptismo é a fonte de toda a vida cristã. A nossa primeira e fundamental consagração tem as suas raízes no baptismo. Isto é tão verdade, na concepção católica da Igreja, que sem baptismo não pode haver nem padres nem bispos.

No entanto, é preciso nunca perder de vista o que dizia S. Tomás: Deus e a sua graça não estão limitados nem condicionados pelos sacramentos. Deus não é comandado pelas ideias que fazemos Dele. Santo Agostinho teve a lucidez de não se deixar enganar pelos rótulos de pertença: muitos dos que estão dentro da Igreja estão fora e muitos dos que estão fora estão dentro.

Por outro lado, é normal que uma fé incarnacionista, como é o cristianismo, disponha de celebrações sacramentais da vida cristã que percorrem todas as etapas da existência humana, nas suas diversas manifestações pessoais e comunitárias. Os cristãos, homens ou mulheres, podem ser chamados a exercer uma função na comunidade por causa da vida da própria comunidade. Esta função não os coloca acima dos outros cristãos. O bispo não é um cristão superior. Tem uma função de serviço na comunidade baptismal, na qual todos são sacerdotes e é só por isso que, indirectamente, lhe chamam sacerdócio ministerial, mas o primado pertence à condição de cristão.

Enquanto isto não for entendido, anda tudo trocado: chama-se Igreja a um edifício, quando este existe para reunir a Igreja, os cristãos; pensa-se que aqueles ou aquelas que usam cabeção, mitra ou chapeu cardinalício, ficam numa situação superior aos outros, subiram de categoria, subiram na carreira. Foi isso que Cristo sempre recusou no relacionamento com os discípulos. De facto, tudo isso não passa de adereços que a história fabricou. Jesus nunca usou cabeção, mitra ou chapeu cardinalício.

2. O Papa Francisco enviou ao povo de Deus e a todas as pessoas de boa vontade a Exortação Apostólica Pós-Sinodal, Querida Amazónia.

Insiste que a Igreja é chamada a caminhar com os povos da Amazónia. Lembra que, na América Latina, esta caminhada teve expressões privilegiadas, como a Conferência dos Bispos em Medellín e a sua aplicação à Amazónia em Santarém; em Puebla, em Santo Domingo e na Aparecida. O caminho continua e o trabalho missionário, se quiser desenvolver uma Igreja com rosto amazónico, precisa de crescer numa cultura do encontro rumo a uma «harmonia pluriforme. Mas, para tornar possível esta encarnação da Igreja e do Evangelho, deve ressoar incessantemente o grande anúncio missionário.

Teve sonhos admiráveis de olhos muito abertos: um sonho social, um sonho cultural, um sonho ecológico e um sonho eclesial. Todos esses sonhos precisam de ser concretizados, inculturados. É um documento notável e que todas as pessoas de boa vontade e de amor à casa comum deviam ler, reler e tirar conclusões para a sua vida, para a sua prática.

3. Não é por acaso que, de todos os sonhos do Papa Francisco, só foi travado o sonho eclesial nas suas diversas inculturações.

Afirma, com toda a verdade, que não podem existir comunidades cristãs sem Eucaristia. Diz, também, que a sua presidência supõe o ministério ordenado dos padres e dos bispos que assumam a cultura e a vida cristã das comunidades, constituídas por homens e mulheres com uma grande diversidade de carismas. Mostrou que na querida Amazónia existem comunidades católicas fervorosas.

É impossível que não existam candidatos à ordenação. O que falta é clarividência e vontade dos bispos para discernir quem, casado ou solteiro, homem ou mulher, esteja em condições de poder assumir o ministério da presidência da Eucaristia.

Os grandes teólogos do Vaticano II, Edward Schillebeeckx e Yves Congar, já o escreveram há muitos anos. O primeiro diz textualmente: «constatando que esta penúria de ministros é uma situação eclesialmente insustentável, que não tem razão de ser, eu peço que se imponham as mãos aos membros crentes comprometidos no serviço das Igrejas, durante uma epiclese adequadamente formulada, criando assim uma nova diferença dos ministérios qualificados. Há numerosos candidatos. O obstáculo está então noutro lugar». Y. Congar diz que «estas linhas… eu posso subscrever»[1].

O documento do Papa é longo e magnífico em quase tudo. Para não ficar só em palavras, precisava de uma decisão urgente que não aconteceu.



01. Março. 2020



[1] Para estas referências e para todo este debate ver: José Nunes, O.P., Pequenas comunidades cristãs. O Ondjango e a inculturação em África / Angola, UCP, Porto 1991, 294-300.

A caminho da páscoa...Pe Armindo Janeiro

Diz-nos o calendário, está na hora! Comecemos a preparar a Páscoa do Senhor!
É um convite para a Festa: Deus não desiste de nós! Ainda que nós cheguemos a fazê-lo, desistindo d’Ele, uns dos outros e até de nós mesmos, Ele nunca o fez nem nunca o fará (Sl 27,10)! A história de Deus com o seu Povo assim no-lo recorda e a Páscoa do Senhor o atesta de um modo único e definitivo!
Podemos não nos sentir preparados e até incapazes, pelo cansaço, desilusões, frustrações e tantas outras razões, mas Ele do alto da cruz atrai o nosso olhar (Jo 12,32) e reinventa-nos todas as perguntas que a rotina, a indiferença e as contradições da vida, tanto pessoais como institucionais, tanto sociais como culturais já tinham ou vão soterrando…
Porque te deixaste conduzir assim, por entre ódios e invejas, desejos de vingança e vontade de poder, desesperos e mentiras, aceitando tudo o que te quiseram fazer na tua própria carne, que é a nossa? Porque te remeteste ao silêncio, sem procurares defesa, nem da terra nem do Céu (Mt 26,53)?
Há tantos exemplos de crueldade na história da Humanidade que não precisávamos de a ver repetida em Ti! Porque quiseste fazer este percurso trágico da história dos Povos? Porque deixaste que sobre Ti se abatessem todos os abismos do mal, do pecado e da morte?
Só me ocorre uma resposta: porque para Ti somos importantes (Jo 15,13), somos mais preciosos que todos os sofrimentos que padeceste! Assim te fizeste próximo de todas as vítimas, de qualquer tempo e lugar; assim nos acompanhas, como luz e guia, no meio das nossas alegrias e esperanças, dores e tristezas, dando-nos o exemplo para que nos ajudemos, solidariamente, a levar a cruz de todos os dias, ensinando-nos a confiar sempre em Deus!
Mas, que Amor é este que ultrapassa todas as barreiras, todas as fronteiras sem se recusar a nada para que os Amados vejam, sintam, compreendam e gravem no fundo do seu coração o quanto lhes queres bem e deles cuidas? Mais, se este é o projecto  radical do Amante – Deus – que não tira a vida, mas a quer dar em abundância (Jo 10,10) aos Amados – todos nós –, quem será capaz de intuir, vislumbrar apenas, o quão belo e sublime será para nós o cumprir-se do desígnio amoroso de Deus, no tempo e para a eternidade?!
Se a força deste Amor é capaz de abraçar o escândalo do sofrimento, do pecado e da morte, abrindo caminho para a Ressurreição de Jesus, seu Filho muito amado (Mt 17,5), fonte de vida nova para todos os que n’Ele acreditam, então preparemo-nos para a Festa do Amor e da Vida, com gestos novos e/ou renovados de serviço aos irmãos, porque jamais passou pela mente e pelo coração do homem o que Deus preparou para aqueles que O amam (1Cor 2,9). A todos desejo uma santa caminhada quaresmal.
P. Armindo Janeiro
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