sábado, 30 de janeiro de 2016
Redobrar os esforços para a paz entre os sudaneses 27 de Janeiro de 2016
Os bispos estão preocupados que o processo de paz possa falir, o que levaria o Sudão do Sul a mergulhar na categoria dos “Estados falidos” ou seja, Estados sem governo e com instituições que não funcionam, que se tornam alvos de gangues armadas e grupos guerrilheiros.
terça-feira, 19 de janeiro de 2016
Sudão do Sul: Rezem por nós 18 de Janeiro de 2016
No país mais jovem do mundo, depois da festa da independência impera agora o caos absoluto. A Igreja denuncia a crise na região.
"O Padre David Samy telefonou angustiado: «Enquanto estamos a falar, estão a morrer pessoas… Rezem por nós!»"
"O Padre David Samy telefonou angustiado: «Enquanto estamos a falar, estão a morrer pessoas… Rezem por nós!»"
domingo, 10 de janeiro de 2016
COM QUEM COMEÇAR O NOVO ANO? (II) Frei Bento Domingues, O.P.
1. Para mim, Jesus Cristo foi desde sempre, é e será o ser
sublime, supremo e ideal que a humanidade produziu. Enquanto Judeu, é o único
orgulho que sinto de ser da sua raça. A sua existência, as suas palavras, o seu
sacrifício e a sua fé deram ao mundo o mais nobre presente jamais recebido: o
do amor, do amor do próximo, do amor do pobre, a compaixão, a humildade, enfim
todos os sentimentos que enobrecem o ser humano… é o Homem supremo. Estas são
palavras do famoso músico Arthur Rubinstein (1887-1982).
Santa
Tereza de Avila[1]
(1515-1582), com ascendência judaica, escreveu um dos mais belos sonetos da
literatura espanhola, nascidos da sua paixão por Jesus: (…) Muéveme, enfin, tu amor de tal
manera/ que aunque no hubiera cielo, yo te amara,/ y aunque no hubiera
infierno, te temiera (…).
O Papa Francisco, no prefácio a uma Bíblia para jovens de
língua alemã, escreveu: “Gostaria de vos dizer uma coisa: hoje - ainda mais do
que no início da Igreja - os cristãos são perseguidos; qual é a razão? São
perseguidos porque carregam uma cruz e dão testemunho de Cristo; são condenados
porque possuem uma Bíblia. Com toda a evidência, a Bíblia é um livro
extremamente perigoso, tanto que nalguns países quem possui uma Bíblia é
tratado como se escondesse bombas no armário!”
Bergoglio recordou que Mahatma Gandhi, que não era cristão, tinha
afirmado: “Aos cristãos foi confiado um texto com a quantidade de dinamite
suficiente para fazer explodir em mil pedaços a civilização inteira, para virar
o mundo de cabeça para baixo e trazer a paz a um planeta devastado pela guerra,
mas tratam-no como se fosse uma simples obra literária, nada mais”.
O Papa acrescenta aos jovens. Tendes nas mãos algo divino:
um livro de fogo, um livro no qual Deus fala. Por isso recordai-vos: a Bíblia não é feita para ser posta na
estante.
Seria uma estupidez fundamentalista pensar que basta abrir a
Bíblia, para entrar naquele universo cultural, que não é um ditado divino. É a
biblioteca de um povo, de épocas diferentes, muito diferentes, com grande
diversidade de géneros literários. É indissociável do estudo e dos métodos de
interpretação[2]
Conta-se nos Actos
dos Apóstolos[3]
que um etíope, funcionário real, regressando de Jerusalém, sentado no seu coche,
lia o profeta Isaías. Filipe, discípulo de Cristo, perguntou-lhe: “compreendes
o que lês?” Como poderia, se não há quem mo explique?
2. O Novo
Testamento exprime-se em 27 livros, reconhecidos como canónicos. A grande
maioria foi escrita em grego, entre os anos 50 e 90 d.C. Cobre vários espaços
geográficos e culturais, estilos de vida e de pensamento espantosamente ricos e
diversos. As diferenças entre eles reflectem um impressionante pluralismo
teológico nas primeiras comunidades cristãs, a ponto de se ter dito que, nos
escritos da época apostólica, se pode reconhecer um “catolicismo primitivo”,
“um protestantismo primitivo” e uma “ortodoxia (oriental) primitiva”.
Esta lista canónica, ao reconhecer a validade da diversidade
de expressão teológica, demarca, ao mesmo tempo, os limites da diversidade
aceitável dentro da Igreja[4].
3. O assunto de
todos os escritos do Novo Testamento é, no entanto, Jesus de Nazaré,
reconhecido como Cristo pelas comunidades que, em seu nome, se foram formando,
não sem muitos conflitos de interpretação.
Ponto assente: Ele
não escreveu nada, nada mandou escrever nem deu o seu imprimatur a nenhum dos livros ou cartas que, sobre ele, foram
escritos. Não existe nenhuma biografia
encomendada por ele ou por ele autorizada. O cristianismo nasce no reino da
liberdade criadora!
Daqui nasceu a convicção de que acerca de Jesus de Nazaré
nada ou quase nada se pode saber de historicamente documentado. Apesar disso, surgiram,
sobretudo a partir do séc. XIX, crentes e agnósticos interessados na descoberta
do “Jesus histórico”.
Xavier Pikaza[5] tentou apresentar o
percurso sinuoso das diversas tentativas que, desde Albert Schweitzer até Senén
Vidal - passando por J.D. Crossan, Sanders , G. Theissen e J. P. Meier – procuraram
desenhar um perfil histórico de Jesus de Nazaré. Foi um esforço que ocupou
muitos especialistas do séc. XX e começos deste século. No meu entender, o pouco que foi
conseguido já é muito.
A cristologia, sem fundamento histórico, é vazia. Apesar do
enraizamento de Jesus na cultura judaica, muito plural, isso não impediu um
itinerário independente e original. Para os próprios judeus que o seguiram,
Jesus era algo de muito novo.
Foi morto, de forma planeada, pelos Sumos Sacerdotes do
Templo e pelas autoridades locais do império Romano, sob Pôncio Pilatos. Que terá havido no comportamento de Jesus para
que um derrotado seja a base e o impulso de uma esperança invencível?
10.01.2016
[4]
Julio Trebolle Barrera- A Bíblia Judaica e a Bíblia Cristã,
Vozes, Petropolis, 1999, 2ª ed. p 299
segunda-feira, 4 de janeiro de 2016
COM QUEM COMEÇAR O NOVO ANO? (I) Frei Bento Domingues, O.P.
1. Um católico fervoroso tentou convencer-me de que a
preocupação com a Bíblia e mesmo com os textos do Novo Testamento era
prejudicial à sua fé, pois suscitavam-lhe muitas dúvidas e, para viver, as
certezas é que são precisas. Tinha ficado muito satisfeito, no entanto, ao
ouvir dizer que, “ao contrário do Judaísmo e do Islão, o Cristianismo não era
uma religião do Livro. Era uma ligação espiritual a Jesus Cristo que, aliás,
não tinha deixado nada escrito. Nenhuma doutrina ou prática moral se poderia
reclamar dele”.
Perante semelhante desistência intelectual, não entrei na
conversa. Por outro lado, também não disponho de respostas rápidas para
questões complexas, como tantas vezes me foi pedido nesta quadra natalícia.
Uma, repetida por vários leitores, regressou como se fosse a primeira vez:
afinal, quem é o fundador do Cristianismo?
Um famoso historiador das origens cristãs, Antonio Piñero,
em várias das suas obras e intervenções, sustenta que nenhuma das ideias do
Novo Testamento, isoladamente consideradas, é original. A teologia deste
conjunto de escritos não é um meteorito descido do céu. É um produto da
história teológica, social e literária anterior que importa conhecer para
compreender o nosso passado religioso e de certo modo, o próprio Ocidente.
Para ele, o Ano I[1],
aquele em que Jesus nasceu, não pode ser passado nem por alto nem ao lado.
Nesse momento, o judaísmo - e o
cristianismo que dele nasceu - encontram-se a cavalo entre dois mundos: o
greco-romano e a herança judaica muito plural. Esse é o ano preparado para o
nascimento do cristianismo e para a sua ideia messiânica de salvação, que brota
tanto de Israel como do mundo greco-romano que o rodeia.
A prova contundente dessa afirmação encontra-a A. Piñero, na
IV Égloga de Virgílio. Este poeta tão
profundamente romano e, aparentemente, tão afastado do mundo judaico, compôs um
famoso canto a um misterioso divino infante, cujo nascimento inaugura uma nova
idade de oiro do mundo. Um poema, aqui adaptado, que até parece um apocalipse
messiânico judaico: Aí vem a idade última
anunciada nos oráculos de Sibila. Com um menino que vai nascer será finalmente
concluída a idade de ferro e por todo o mundo irá surgir uma idade doirada…
Olha como se agitam o mundo sobre o seu pesado eixo, a terra e o espaçoso mar
com o profundo céu. Olha como tudo se regozija com o novo século que há-de
chegar.
Esperava-se, nesse momento, tanto entre judeus como entre
gentios, que o universo mudasse de signo para uma nova salvação.
Ao dar à luz Jesus de Nazaré, personagem transcendental no
desenvolvimento do Ocidente, o Ano I é
para Piñero, um dos mais importantes para
a História universal.
2. Não se trata
de uma afirmação gratuita. O autor explica, ao longo da sua obra, de forma
rigorosa e pedagógica, a situação política,
económica, social e, sobretudo, religiosa do Império Romano e a repercussão que
tinha no âmbito de Israel. Trabalha à base das perguntas que faz para
compreender em que mundo nasceu e se desenvolveu o cristianismo, vencendo os
lugares comuns da ignorância.
Como afectava a dominação romana a vida quotidiana de
Israel? Que impacto teve o principado de Augusto e o fim da República? Como
estava organizado o judaísmo? Que influências tiveram as religiões que o
rodeavam? Qual era a situação da mulher, dos diversos grupos religiosos
judaicos, as ânsias de salvação que se viviam em todo o Mediterrâneo oriental,
as relações entre judeus e pagãos? Etc..
Sem ter isto em
conta, os textos do Novo Testamento são ilegíveis. Nenhum tem a assinatura de
Jesus de Nazaré. Não é como escritor que Jesus se tornou conhecido e
imprescindível. Não é o único caso entre as grandes personalidades da História.
Também não foi o único caso de reformadores fracassados.
3. Jesus de Nazaré
viveu e trabalhou na Palestina do primeiro século. Acerca disto não há dúvidas.
Mas ficar só com aquilo que, pelo método histórico, se pode saber é ficar com
quase nada. Sabemos que viveu no quadro de um judaísmo plural e, dentro dele,
fez o seu caminho. Teve discípulos, foi seguido por multidões, suscitou muitas
controvérsias e acabou cruxificado. Mas porque não desapareceu a sua memória,
como a de muitos rebeldes e muitos milhares de cruxificados?
Sob o ponto de vista religioso um cruxificado, um blasfemo,
um possesso do demónio não era propriamente um protegido de Deus. Contra todas
as evidências passa a correr a ideia que Deus o ressuscitou. Por outro lado,
não se estava no fim do mundo, na ressurreição universal.
Havia o sinal de uma nova convocatória. O estranho é que os
discípulos acabaram por dar crédito às mulheres, cuja opinião não contava.
Os seus discípulos, como bons judeus, até podiam saber a
Bíblia de cor. Entregaram-se apaixonadamente a reler, a reinterpretar, a
reescrever tudo o que a Jesus dizia respeito, para mostrarem que ele era
verdadeiramente o Messias, o Cristo esperado. Leem e reinterpretam tudo, mas da
frente para trás. Ao ficar tudo tão bem acertado, até parece que estava tudo
mais que previsto.
Veremos qual era o método prodigioso fixado por Mateus,
Marcos, Lucas e João, sem falar de Paulo.
03.01.2016
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