domingo, 27 de janeiro de 2019

Pedreiras de Borba - Laureano


Corações pétreos, mais duros que as pedreiras,

Valores pátrios estão lá bem distantes

Em desfavor dos cidadãos que, confiantes,

Lhes facultaram os assentos nas cadeiras.



O mal redobra quando são cabeças ocas

Cheias de nada como os poços dos dois lados,

O coração nas mãos, nos pés, com mil cuidados,

E com razão, que a condução tem horas loucas.



Foi retirada tanta pedra até ao fundo

Em tal acção de desvario, que descamba

Para a loucura; segue estrada em corda bamba,

Olhar de cima vê crateras de outro mundo.



Mas não há olhos para ver o tão visível?

Não há vontades de evitar antes que tombe?

Cuidados mil não impediram hecatombe,

Carros tombaram no abismo. Foi horrível!



Uma tragédia que ao lugar levou um fado,

Fado corrido que lhe fez parar o cante.

Lugar de Borba, continues doravante

Mais pelo vinho que por pedras afamado.



Entre acontecimentos inimagináveis,

Não fosse caso grave e sério, dava riso

Pensar que a culpa foi do vinho, que o aviso

Não chegou muito claramente aos responsáveis.


No Sudão, deixei pessoas famintas, feridas ou mortas - Pe. Feliz da Costa


Estou em Roma há dois dias. Em Cartum deixei multidões de pessoas atrapalhadas, famintas, cansadas, feridas ou mortas na rua sem poderem ser sepultadas dignamente…
E eu escapei. Sim, não só escapei do meio da multidão mas também do Sudão propriamente dito. Tinha, de facto, o bilhete marcado para quinta-feira, 17 de janeiro, às 3h00 da manhã: Cartum-Roma...

CONTRA OS MUROS Frei Bento Domingues, O.P.


1. A fraternidade de horizonte universalista é de origem cristã. Basta abrir o Novo Testamento. O Evangelho de S. Marcos atribui a loucura de fazer família com quem não era da família, ao próprio Jesus de Nazaré. S. Lucas vê no Espírito do Pentecostes, o começo da autêntica união na diferença. Para S. Paulo, os que foram banhados no Espírito de Cristo devem testemunhar que o mundo de separações e privilégios acabou: não há nem judeu nem grego, escravo ou livre, homem ou mulher. Mais ainda, a humanidade inteira é um só corpo de muitos membros, uma comunidade de muitos carismas. Foi o tema paulino de Domingo passado e é, também, o deste Domingo. As metáforas usadas convergem num ponto: as pessoas precisam todas umas das outras para afirmarem a própria identidade, pois esta é uma identidade de relação e não de isolamento.

Cristo, o Homem Novo, derrubou os muros de separação, estabelecendo a paz e a amizade. Judeus e gentios são concidadãos na família de Deus. Esta afirmação da carta aos Efésios é de alcance universal, para todos os tempos e para todos os povos.

Dir-se-á: são metáforas, artes de falar e não de realizar. De facto, não são receitas, mas não são inócuas. São caminhos, são pontes e devem constituir testemunhos de que outro mundo é possível.

O Papa Francisco ao insistir, com ênfase, na reabilitação da política, toca numa urgência. Quando alguém diz não quero nada com a política, está a tornar-se sua vítima. O melhor talvez seja trabalhar na sua modificação.

No discurso aos participantes do segundo Encontro Mundial dos Movimentos Populares, o Papa observa[1]: queremos uma mudança positiva em benefício de todos os nossos irmãos e irmãs – disto estamos certos! Queremos uma mudança que se enriqueça com o trabalho conjunto entre governos, movimentos populares e outras forças sociais. Também sabemos isto! Mas não é assim tão fácil definir o conteúdo da mudança, ou seja, o programa social que reflicta este projecto de fraternidade e justiça que desejamos; não é fácil de o definir. Neste sentido, não esperem uma receita deste Papa. Nem o Papa nem a Igreja têm o monopólio da interpretação da realidade social e da proposta de soluções para problemas contemporâneos. Atrever-me-ia a dizer que não existe uma receita. A História é construída pelas gerações que se vão sucedendo no horizonte de povos que avançam, fazendo o próprio caminho e respeitando os valores que Deus lhes pôs no coração.

Se não sabe e não recorre à infalibilidade ou ao magistério da Igreja, porque não se cala?

Não só não se cala, como ousa dizer coisas atrevidas. Os seres humanos e a Natureza não devem estar ao serviço do dinheiro. Digamos NÃO a uma economia de exclusão e de desigualdade, em que o dinheiro reina em vez de servir. Esta economia mata! Esta economia exclui. Esta economia destrói a mãe Terra.

A economia, continuou o Papa, não deveria ser um mecanismo de acumulação, mas a condigna administração da casa comum. Isto implica cuidar zelosamente da casa e distribuir, de forma adequada, os bens de todos. A sua finalidade não é apenas garantir alimento ou um decoroso sustento. Não é sequer, embora fosse já um grande passo, garantir o acesso aos 3T pelos quais combateis. Uma economia verdadeiramente comunitária – poder-se-ia dizer, uma economia de inspiração cristã – deve garantir aos povos dignidade, prosperidade e civilização nos seus múltiplos aspectos. Implica acesso à educação, à saúde, à inovação, às manifestações artísticas e culturais, à comunicação, ao desporto e à recriação.

2. É uma posição que se prende com a crença no destino universal dos bens. Que o ser humano não tem preço, mas valor, já Kant o disse. Por outro lado, uma sabedoria ética muito antiga propunha: não faças aos outros o que não gostarias que te fizessem a ti, ou até, em sentido positivo, faz aos outros o que gostarias que te fizessem a ti, em idênticas circunstâncias.

Há muita queixa contra Deus por ter o mundo nesta situação. Não poderia Ele com um golpe de vontade resolver todos os problemas e mandar-nos a todos para férias? Não me cabe a mim defender Deus. Parece que não está disposto a substituir os seres humanos.

Acontece que na Bíblia há passagens nas quais é Deus que interroga. No Genesis é Ele que pergunta a Caim: o que fizeste do teu irmão? Na simbólica do juízo final, o senhor da história julga os seres humanos não pelo que fizeram a Deus, mas pelo que fizeram, ou não fizeram, aos outros em situações de precaridade. Deus identifica-se com estes. Tomás de Aquino dirá: ninguém ofende Deus directamente, mas os seus filhos, os nossos irmãos.

A ética cristã é de marca samaritana, não sacerdotal. O sacerdote e o levita não podiam socorrer o próximo para não estarem impuros no divino culto do templo!

3. Em nome da identidade nacional, está a desenvolver-se um espírito de exclusão do outro, como uma ameaça à nossa segurança e bem-estar. Perdeu-se a fraternidade que se começou a ganhar no início do cristianismo, o esforço para não contrapor unidade e diversidade. Tanto a unidade como a diversidade são uma realidade de irmãos, o que não significa que se vão dar sempre como Deus e os Anjos. Mas não há alternativa feliz à união na diferença. Fora desta, só podem existir dominadores e dominados. É a alternativa perversa. Para o aparente bem-estar de uns tem de se fazer a desgraça dos outros.

A proposta cristã de fraternidade exige a conversão do cristianismo. As cruzadas e a inquisição, em nome de Cristo, revelam que o melhor se pode transformar no pior. A conversão das religiões que vivem o mesmo vício: o êxito de uma é a desgraça das outras. A fraternidade exige também a conversão da política, dos seus objectivos e dos seus métodos.

Se a proposta de um mundo fraterno, como já referimos, é de origem cristã, significa que não é propriedade de ninguém, mas um apelo universal. Muitas vezes as “fraternidades”, religiosas ou não, comportam-se como tribos de exclusão: quem é e quem não é da nossa fraternidade.

Na trilogia da revolução francesa Liberdade, Igualdade e Fraternidade, a última parece também a irmã mais esquecida. A Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948) afirma que os seres humanos devem agir uns em relação com os outros, num espírito de fraternidade. Só esta os pode salvar.

A febre de construção de muros é um atentado contra a civilização. 



27. 01. 2019



[1] Papa Francisco, Terra Casa Trabalho, Temas e Debates, 2018, pp 50-53

terça-feira, 22 de janeiro de 2019

A missão da Igreja - D Minho

A «renovação inadiável
» depara-se agora
com a importância
em clarificar a
missão da Igreja, a missão
da comunidade paroquial.
É uma questão
de identidade. Tal como
«todo o homem e mulher
é uma missão, e esta
é a razão pela qual se
encontra a viver na terra
», também a comunidade
precisa de assumir
que «é uma missão». Todos
são convidados «a refletir
sobre esta realidade:
‘Eu sou uma missão nesta
terra, e para isso estou
neste mundo’ (EG 273)».
O discernimento sobre
a missão pode apoiar-se
em dois dinamismos: ser
atraídos e ser enviados
(cf. Mensagem do Papa
Francisco para o Dia Mundial
das Missões de 2018).
Fermento de Deus
na humanidade
A partir do número 114 da
Exortação Apostólica sobre
o anúncio do Evangelho
no mundo atual, o
programa pastoral explicita
a missão da Igreja que
está em Braga: «ser o fermento
de Deus no meio
da humanidade; quer dizer
anunciar e levar a salvação
de Deus a este nosso
mundo»; «ser o lugar
da misericórdia gratuita,
onde todos possam sentir-
se acolhidos, amados,
perdoados e animados a
viverem segundo a vida
boa do Evangelho». Trata-
-se de uma proposta que
privilegia a tónica «em
saída» que Deus provoca
naqueles que verdadeiramente
se assumem como
discípulos missionários
de Jesus Cristo.
Fazer discípulos
«Ide, pois, fazei discípulos
de todos os povos, batizando-
os em nome do
Pai, do Filho e do Espírito
Santo, ensinando-os a
cumprir tudo quanto vos
tenho mandado» (evangelho
segundo Mateus, capítulo
28, versículos 19 e
20). Nesta missão confiada
por Jesus Cristo aos seus
primeiros discípulos estão
presentes quatro verbos:
ir, fazer, batizar, ensinar.
Segundo o padre
James Mallon, presbítero
canadiano que fundou
a «renovação divina», fazer
discípulos é o centro
da missão. Confrontados
com a realidade, constatamos
que sabemos ensinar,
sabemos batizar (e
celebrar os demais sacramentos).
Contudo, a nossa
maior fraqueza pastoral é
a que nos une ao coração
daquele mandato missionário:
fazer discípulos.
Ao longo da vida
A palavra «discípulo» está
relacionada com o ato
de aprender, ser aluno.
«Ser um discípulo de Jesus
é estar envolvido num
processo de aprendizagem
ao longo de toda a
vida, o qual tem por objeto
aprender de Jesus,
o professor, e dos lábios
de Jesus, o mestre» ( James
Mallon). Fazer-se discípulo
de Jesus Cristo é
comprometer-se com esse
processo de aprendizagem.
Coloca-se a questão:
Quantos paroquianos é
que são realmente discípulos?
Ou então: Quantos
paroquianos é que estão
realmente dispostos a
fazer-se discípulos? «Os
membros da nossa paróquia
são chamados a fazer
discípulos, mas muitos
ainda nem sequer eles
mesmos se fizeram discípulos.
[...] Ser um adulto
que aprofunda a fé continua
a ser entendido como
algo totalmente opcional
e não essencial. Valorizamos
o ensino das crianças
e dos adolescentes,
mas, por qualquer razão,
pensamos que os adultos
não precisam de aprender,
crescer ou amadurecer
». É proibido lamentar-
-se! Para James Mallon, «a
única solução é voltar ao
que Jesus nos pediu há
dois mil anos: que não
façamos simplesmente
crentes ou ‘católicos praticantes’,
mas que façamos
discípulos. É disso que se
trata: fazer discípulos»!
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segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

QUANDO PERDER É GANHAR Frei Bento Domingues, O.P.


1. O Sábado é uma instituição da religião bíblica e um grande marco civilizacional. O ser humano não pode viver só para trabalhar. Precisa de ócio, de expressões culturais, lúdicas e cultuais para que o próprio trabalho possa ter sentido criador e não ser apenas uma resignação alienante. A polémica constante de Jesus com as observâncias sabáticas, referida pelos quatro Evangelhos, não era contra essa admirável instituição, mas por ter sido atraiçoado o seu espírito. A instituição da liberdade transformada numa prisão. Daí o protesto de Jesus: o Sábado é para o ser humano e não o ser humano para o Sábado. Enunciou assim um princípio universal acerca da finalidade de todas as instituições, o qual deve vigiar sempre o seu uso e as suas reformas.

Hoje, a quarta revolução industrial, as novas tecnologias, as consequências de algumas formas de globalização e a incerteza de tudo obrigam a alterar o debate sobre o trabalho.    

No calendário cristão, o Domingo não pertence ao fim da semana, mas ao seu começo, celebrando a renovação da esperança, a virtude da não desistência. Como o nome indica, nasceu da vitória de Jesus sobre a morte, proclamado por Deus, Senhor da vida. É o dia em que a Igreja de todos os tempos e lugares, povos e culturas, convoca os cristãos para a festa da alegria.

Já foram adiantadas muitas explicações para a grande baixa na frequência da celebração semanal da Eucaristia, sobretudo na Europa. Para além daquilo que as ciências humanas podem estudar, parece-me que as lideranças católicas esqueceram que, no momento em que os chamados “mandamentos da Igreja” perderam a força de uma convicção interior assumida, era necessária uma pastoral baseada no princípio do próprio Jesus: será que as regras e as formas destas instituições estavam aptas a servir a via cristã num contexto cultural inteiramente novo?

 Sem a cultura da criatividade das comunidades, a não confundir com o culto da banalidade, será sempre curta qualquer reforma litúrgica. Ainda há muito pouco tempo, alguém me observou que não se pode continuar a dizer solenemente: meus irmãos, estamos aqui para celebrar a grande festa da nossa fé e, depois, inaugurar apenas uma grande seca. Textos, muitas vezes belos, que morrem ao ser mal lidos, cânticos sem alcance musical envolvente, pessoas sem corpo, estacas que se movimentam apenas para estender a mão em sinal de paz e para receberem a hóstia santa. Entram na Igreja sem se conhecerem e saem só com as relações que já tinham! Qual o caminho, para se perceber que a celebração é um acontecimento de revisão cristã da semana anterior e de relançamento da esperança activa, para uma nova semana mais criativa?

2. A selecção de textos bíblicos para celebrar este Domingo são muito belos, mas encerram vários programas de acção. Isaías não suporta que Jerusalém não seja a festa da paz, baseada na justiça[1]. S. Paulo[2] obriga-nos, como Igreja que somos, a fazer uma pergunta: como dar, hoje, voz e vez aos que frequentam os seus espaços de culto e de cultura para que possam dar o contributo do seu tempo e das suas competências, não só para reconfigurar as comunidades cristãs como formas de acolhimento, mas também como provocação a saírem para reconfigurar a sociedade?

S. Paulo tem uma concepção da diversidade de dons espirituais na qual nem a diversidade atropela a unidade, nem a unidade suprime a diversidade. Ao dizer isto não está a enunciar um teorema abstracto. Está confrontado com um mundo de conflitos, mas prefere essa agitação a uma paz podre. Não tem o culto do conflito pelo conflito, mas o de transformar a pujança espiritual das comunidades, canalizando-a para todas as formas de serviços e neutralizar as tentações de dominação. Não há carisma do Espírito Santo para abafar os outros. Essa forma de ser Igreja é o contrário de uma administração central com funcionários que dão contas a um patrão. O espírito de Cristo tem outro regime: quem desejar ser o primeiro, seja o primeiro a servir.

Este Domingo é conhecido como o das Bodas de Caná da Galileia. Apresenta uma mulher aflita com a aflição de todos. É uma cena exclusiva do Evangelho de S. João[3], que tem dado lugar a muitas interpretações e conjecturas. Não me preocupa muito saber se foi um acontecimento histórico tal como vem narrado ou se é um conto exemplar, voz de uma realidade ainda mais bela, profunda e complexa.

Parece ser uma parábola a falar de outra a propósito de um casamento. À primeira vista, a mãe de Jesus foi convidada e Jesus levou com ele os discípulos. A Mãe de Jesus dá-se conta de uma vergonha que se avizinha para o casal. O vinho esgotou-se antes de a festa acabar. Ela não suporta que o casal possa passar por essa situação humilhante e avisa o filho que a sacode de forma bem ríspida. Ela conhece-o e limita-se a recomendar aos serventes que façam de conta que é ele o responsável pela festa.

É conhecido o resultado da intervenção de Jesus. Para espanto de todos, a água foi transformada em abundante vinho e do melhor.

Recomento a leitura do próprio texto na íntegra. A sua beleza enigmática o exige.

Esta história devia acabar aqui, mas o Evangelho diz que foi apenas o começo dos sinais de transformação em que Jesus se iniciou.

  3. Muitos leitores desta narrativa podem não se aperceber de um outro milagre ou sinal, como lhe chama o evangelista, dentro do já referido: a alteração das relações entre mãe e filho. Até por uma razão simples. O texto lido na missa acaba antes de terminar. Se no começo desta história o protagonismo pertence à Mãe de Jesus, depois ela passa a segundo plano e desaparece: Depois disso, desceu a Cafarnaum, Ele, a sua Mãe, os seus irmãos e os seus discípulos e ali ficaram apenas alguns dias[4].

É espantoso! O 4º Evangelho nunca mais fala da Mãe de Jesus. Só reaparece quase no fim: perto da cruz de Jesus permaneciam de pé a sua Mãe, a irmã da sua Mãe, Maria, mulher de Clopas e Maria Madalena. Jesus, vendo a sua Mãe e, perto dela, o discípulo a quem amava, disse à sua Mãe: Mulher, eis aí o teu filho! Depois disse ao discípulo: eis a tua mãe! E a partir dessa hora, o discípulo recebeu-a na sua casa[5].

Quem perde ganha. Consta que é uma lei do Novo Testamento. A Mãe de Jesus teve de O deixar ir fazer família com quem não era da família. Acabou por ser ela a Mãe da nova família de Jesus.

20. 01. 2019



[1] Is 62, 1-5
[2] 1Cor 12, 4-11
[3] Jo 2, 1-11
[4] Jo 2, 17
[5] Jo 19, 25-27

quarta-feira, 16 de janeiro de 2019

UASP em Missão!


Partiu hoje (14 de Janeiro) para Angola um primeiro grupo de “missionários”, composto por antigos alunos e outras pessoas interessadas, que tem como objectivo principal visitar a Missão que a diocese de Leiria-Fátima anima nas montanhas do Gungo, diocese do Sumbe.

Em ano especialmente dedicado à sensibilização e aprofundamento da consciência missionária da Igreja – pelo Baptismo, todos somos enviados em missão – a UASP visitará, em dois grupos (Janeiro e Julho), de doze pessoas cada, aquela Missão da diocese de Leiria-Fátima.

Fruto de uma geminação entre as duas Dioceses, neste momento, a Missão do Gungo tem ao seu serviço um padre da diocese de Leiria-Fátima (P. David Nogueira) e vários leigos.

Como aconteceu nas anteriores, também nesta etapa (é já a quinta do projecto “Por mares dantes navegados”) os participantes irão contactar com as comunidades locais, integrar-se nas dinâmicas propostas pela Missão, celebrar e partilhar a fé que nos une e reúne, tomar conhecimento das tradições culturais e espirituais locais e visitar os locais e espaços de maior interesse histórico e ambiental.

P. Armindo Janeiro

quinta-feira, 10 de janeiro de 2019

Comunidade comboniana atacada e roubada na RCA


...No dia 5 de janeiro, três irmãs da comunidade Foyer, das Irmãs Missionárias Combonianas, terminavam suas orações no final da tarde quando foram dominadas, ameaçadas e feitas reféns por cerca de três horas….

Envio do P.e Claudino Gomes 09 de Janeiro de 2019


O P.e Claudino Gomes parte nos inícios de fevereiro para o Congo, após sete anos na comunidade comboniana de Lisboa….
“Que, pela vossa oração, as bênçãos de Deus, por meio dos corações de Jesus e de Maria, sejam a nossa força.”

quarta-feira, 9 de janeiro de 2019

Deus esconde-Se de nós? Ou não seremos nós que nos escondemos de Deus?

1.A vida é tingida pelo
enigma e nimbada pelo
mistério.
Quem tem fé espera
– legitimamente, aliás
– não sofrer ou vencer o
sofrimento.
2. Nem sempre isso acontece,
porém. Como explica
Michael Paul Gallagher, «a
fé não tira a dor, carrega-a».
Na fé, não deixamos de
sofrer; sofremos de maneira
diferente. A felicidade não
está longe da dor e a dor não
está necessariamente longe
da felicidade.
3. Eternos insatisfeitos, ficamos
pensativos com certas
palavras e intrigados com
muitos silêncios.
Sucede que Deus é perito
na Palavra e imensamente
subtil no silêncio.
4. Como notou Michael
Paul Gallagher, «Cristo é uma
Palavra entre dois grandes
silêncios».
Antes e depois da Palavra,
é o silêncio. Não subestimemos,
pois, o silêncio e aprenderemos
a dar mais valor às
palavras.
5. Quando falamos da realidade
de Deus, acabamos
por pensar na nossa realidade
acerca de Deus.
Era bom, por isso, que
nos deixássemos surpreender
pela aparente «irrealidade
de Deus».
6. É o que propõe Michael
Paul Gallagher. É quando parece
mais irreal que Deus Se
torna mais real.
A suposta irrealidade de
Deus significa que Ele não
Se acomoda à realidade que
acerca d’Ele construímos. É
imperioso passar da nossa
realidade «acerca de» Deus
ao acolhimento da genuína
realidade «de» Deus.
7. No fundo, a tão invocada
«abscondidade de Deus»
(François Varone) acaba por
ser uma projecção da «abscondidade
do homem» em
relação a Deus.
Quando achamos que Se
esconde de nós, ponderemos
se não somos nós que estamos
a esconder-nos de Deus.
8. Os nossos arquétipos,
os nossos pré-conceitos e o
nosso agitado imediatismo
«escondem-nos» de Deus.
Não nos abrem a Deus que
até está presente onde parece
estar mais ausente.
É que Deus, quanto mais
Se esconde, mais Se revela.
Enfim, deixemos que Deus
seja Deus.
9. O problema de Tomé
não foi a dúvida; foi a certeza:
foi a certeza de considerar
impossível a Ressurreição.
É por isso que o teólogo
Michael Paul Gallagher alerta:
«O oposto da fé não é a
dúvida; é a certeza errada».
10. A dúvida é um estádio
da procura. O problema são
as nossas certezas – e seguranças
– equivocadas.
A fé leva-nos a viver a partir
de Deus. São muitas das
nossas certezas que nos aprisionam
em nós. Libertemo-
-nos da tirania do eu. Tomé
também se libertou
João Teixeira - DMinho

terça-feira, 8 de janeiro de 2019

Dia Mundial do Doente: Recebestes de graça, dai de graça 08 de Janeiro de 2019


«Recebestes de graça, dai de graça» (Mt 10, 8) é o título da mensagem do Papa Francisco para o «Dia Mundial do Doente 2019». Estas são palavras pronunciadas por Jesus, quando enviou os apóstolos a espalhar o Evangelho, para que, através de gestos de amor gratuito, se propagasse o seu Reino.

sábado, 5 de janeiro de 2019

MAIA - Encontro de antigos alunos


Como de costume o Coelho (Barcelos) voltou a reunir um bom grupo ( mais de 30) de antigos alunos combonianos que frequentaram a casa da Maia. Hoje dia 5 de janeiro houve celebração da amizade e companheirismo de outros tempos em ambiente Comboniano. O P.e Dário encantou a todos com a canção : "quem é feliz levanta os braços…" Foi um retorno à simplicidade da adolescência revivida agora  por adultos, homens feitos e de barba rija. A simplicidade de quem se alimentou do Espírito de Comboni e dele sente nostalgia. A celebração foi presidida pelo Pe. Aparício em vésperas de partir para Paris para um período de formação e presença missionária entre os coletes amarelos. Durante o almoço que se seguiu o Pe. Claudino informou da sua próxima partida para o Congo, terra que ele já bem conhece. Foram também lembrados os ausentes que por razões várias não poderem estar presentes. Grupo muito animado e muito jovem. Parabéns Coelho!

terça-feira, 1 de janeiro de 2019

A ponta do iceberg -Luis Conraria OBS

A ponta do iceberg /premium

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Não há fatalidade na corrupção e sabemos que os regimes mais limpos são os mais democráticos. Mas enquanto formos tão dóceis não se conseguirá impor a limpeza que o sistema político-económico precisa.

Percebo bem que dirigentes do PS queiram circunscrever os escândalos dos alegados pagamentos a Manuel Pinho e José Sócrates a casos isolados, como se eles actuassem sozinhos. E também percebo que apoiantes do anterior governo queiram circunscrever ao Partido Socialista a crise ética em que vivemos. Mas, infelizmente, não dá. A crise é mesmo do nosso regime. Gostava muito de dizer que o problema é o Sócrates e o Pinho. Ou até que o problema é o Partido Socialista. Mas, infelizmente, todos sabemos que não é verdade.
Desde o Estado Novo que o capitalismo português é uma rede de interesses, em que política e negócios se misturam da pior maneira, e isso não mudou com a democracia. Basta lembrar como nasceu o actual regime económico-financeiro: com privatizações em que os amigos foram sendo protegidos, e as empresas foram sendo entregues não a quem pagasse mais por elas, mas a quem os políticos queriam. Foi Mário Soares que garantiu a Ricardo Salgado o financiamento de que este necessitava para ficar com o BES. Nas palavras de Mário Soares, tratou de “arranjar dinheiro a um tipo que o não tem, mas poderá vir a ter”. Mas este é apenas um exemplo. É fácil dar outros. Foi o governo de Cavaco Silva que encontrou formas de financiar Champalimaud para que este ficasse com a Mundial Confiança, que serviu de plataforma para depois comprar o Banco Pinto & Sotto Mayor. É este o capitalismo português: uma teia de favores e de pagamento de favores entre o poder político e o económico.
Insisto, sei que é muito cómodo ver apenas o Partido Socialista envolvido nestes esquemas. E é tão pena que não seja assim. Basta lembrar três nomes: José Oliveira e Costa, Secretário de Estado dos Assuntos Fiscais de Cavaco Silva, Duarte Lima, líder parlamentar do PSD de Cavaco Silva, e Dias Loureiro, um dos ministros mais poderosos de Cavaco Silva. Os primeiros dois já foram condenados a severas penas de prisão; o segundo até de homicídio foi acusado! E Dias Loureiro viu as acusações contra si retiradas num despacho de arquivamento que garantia que «subsistem as suspeitas, à luz das regras da experiência comum», que indicam que andou metido em negócios cujo objectivo «foi tão só o enriquecimento ilegítimo de terceiros à custa do prejuízo do BPN, nomeadamente de si e do Dr. Oliveira e Costa». É difícil alguém ser ilibado de forma tão condenatória como Dias Loureiro o foi. Os governos do PS podem ter Manuel Pinho e Armando Vara, mas, reconheça-se, o PSD tem cromos suficientes para a troca. Não falo de Sócrates porque, realmente, nada se lhe compara.
E, como lembrou Nuno Garoupa, nas Conversas Cruzadas da semana passada, na Rádio Renascença, até hoje não se ouviu o CDS pronunciar-se «sobre os submarinos e o facto de haver pessoas na Alemanha a cumprir penas de prisão por corromper e em Portugal os processos estarem arquivados». E, como se vai percebendo graças aos Panama Papers, há mesmo pagamentos feitos sobre este assunto. Só falta saber a quem.
Não consigo deixar de concordar com a eurodeputada do Partido Socialista Ana Gomes quando diz que é «absolutamente escandaloso que os procuradores até hoje não tenham ido investigar os interventores políticos neste processo. Paulo Portas, Mário David, que era conselheiro político de Durão Barroso, e o próprio Durão Barroso. O processo documenta a ligação direta entre Paulo Portas e Ricardo Salgado. Quem impôs o BES aos alemães no esquema de engenharia financeira para financiar a compra dos submarinos foi Portas, quando eles queriam a Caixa Geral de Depósitos. Isso está no processo. E a decisão política de entregar o negócio aos alemães é de Durão Barroso. Isso também está no processo. Com tudo o que se sabe agora sobre o Grupo Espírito Santo, Ricardo Salgado, Hélder Bataglia e o esquema da ‘Operação Marquês’, por que razão não atuariam também assim noutras vezes anteriores?» Bem sei que muitos a consideram uma desbocada, mas a verdade é que Ana Gomes começa a tornar-se a consciência do regime democrático português.
E não vale a pena pensar que os casos que referi são apenas casos de polícia. Há muitos casos que o não são e que ilustram bem naquilo que se tornou o capitalismo português. Basta ver como Joaquim Ferreira do Amaral foi trabalhar para a Lusoponte, depois de enquanto Ministro das Obras Públicas lhes ter garantido rendas fabulosas, ou de como a construtora Mota Engil não deixou que o ex-Ministro das Obras Públicas do PS Jorge Coelho ficasse desempregado muito tempo. Casos destes são às dezenas ou centenas. Muito mais exemplos poderiam ser dados. Não foi Miguel Frasquilho, que hoje está na administração da TAP, que também recebeu umas transferências muito mal explicadas do BES? E se acrescentarmos a porta giratória entre grandes empresas e reguladores sectoriais percebemos por que motivo vivemos no paraíso das rendas. E, na verdade, há muitos deputados que fazem aquilo de que Manuel Pinho é acusado: receber um ordenado enquanto estão em funções.
Mas somos tão dóceis. Isso diz tanto sobre nós. É quase comovedora a forma como somos apanhados de surpresa com estas notícias sobre Pinho. Tivemos cá a troika que no seu programa para a regeneração da economia portuguesa tinha como ponto essencial o combate às rendas. Mas a EDP soube precaver-se e contratou Eduardo Catroga logo depois de este ter negociado o memorando com a troika pelo lado do PSD. E, à medida que o tempo passava e as rendas se mantinham, nem um sobrolho levantávamos. Henrique Gomes, secretário de Estado da Energia na altura, bem clamou contra os privilégios da EDP. Mas era como se lutasse contra moinhos de vento. Foi corrido em 9 meses. Tivemos um ministro da Economia decente, o Álvaro Santos Pereira, que quase explicitamente pediu à opinião pública que o apoiasse nessa luta dizendo-nos que com a demissão de Henrique Gomes se tinham aberto garrafas de champanhe no escritório de António Mexia. António Mexia que era (e é) Presidente do Conselho de Administração da EDP e que foi agraciado por Cavaco Silva com a Grã-Cruz da Ordem do Mérito Empresarial. Tudo isto se passou à nossa frente, ao mesmo tempo que a nossa preocupação era com o facto de termos um ministro que era tão pacóvio que queria ser tratado por Álvaro. Que alívio que foi quando o Álvaro foi substituído por um ministro a sério, com peso político: o António Pires de Lima.
Tal como foi à nossa frente que a EDP, de António Mexia, entregou mais de um milhão de euros à Columbia University, onde Manuel Pinho estacionou como professor visitante. Posso estar a lembrar-me mal, mas não me lembro de qualquer comoção nacional contra este “patrocínio”. E a docilidade continua. António Mexia foi constituído arguido por causa das rendas que o Estado paga à EDP, por despacho de Manuel Pinho, a qualquer momento, pode ver deduzida uma acusação, mas nem assim é seriamente confrontado pelos jornalistas que o entrevistaram aquando da sua recondução como presidente da EDP.
Este meu artigo não é muito mais do que um desabafo, pelo qual peço desculpa. Mas, na verdade, se não podemos esperar que sejam os actuais políticos, por sua iniciativa, a regenerar o regime democrático e se não podemos contar com a sindicância dos jornalistas nem para incomodarem os compagnons de route de Sócrates ou de Manuel Pinho nem para questionarem os novos Ricardos Salgados, terão de ser os portugueses a mobilizarem-se com esse fim. Não há qualquer fatalidade na corrupção. Os dados internacionais dizem-nos que os regimes mais limpos são os mais democráticos. Mas enquanto continuarmos tão dóceis, tão compreensivos, a gostar muito de mandar bocas pouco consequentes, mas sem uma verdadeira sindicância no combate a conflitos de interesses, não haverá forma de impor a limpeza que o nosso sistema político-económico necessita. Quando muito, vai-se queimando aqui e ali um bode expiatório, de que Manuel Pinho é apenas o último exemplo.

Agora que entramos em 2019...

...é bom ter presente o importante que este ano pode ser. E quando vivemos tempos novos e confusos sentimos mais a importância de uma informação que marca a diferença – uma diferença que o Observador tem vindo a fazer há quase cinco anos. Maio de 2014 foi ainda ontem, mas já parece imenso tempo, como todos os dias nos fazem sentir todos os que já são parte da nossa imensa comunidade de leitores. Não fazemos jornalismo para sermos apenas mais um órgão de informação. Não valeria a pena. Fazemos para informar com sentido crítico, relatar mas também explicar, ser útil mas também ser incómodo, ser os primeiros a noticiar mas sobretudo ser os mais exigentes a escrutinar todos os poderes, sem excepção e sem medo. Este jornalismo só é sustentável se contarmos com o apoio dos nossos leitores, pois tem um preço, que é também o preço da liberdade – a sua liberdade de se informar de forma plural e de poder pensar pela sua cabeça.
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