sábado, 18 de janeiro de 2025

A mulher na Igreja. O nó do problema. 1 Anselmo Borges 17 Jan 2025

 A mulher na Igreja. O nó do problema. 1

Anselmo Borges

17 Jan 2025

1 É sabido quanto o Papa Francisco se tem empenhado na renovação da Igreja,

também no sentido de colocar mulheres em altos cargos de governo na Cúria. Mesmo

assim, constituiu uma autêntica revolução o anúncio feito pelo Boletim da Santa Sé no

passado dia 6, dia da Epifania: pela primeira vez na História do Vaticano uma mulher foi

nomeada prefeita (ministra) do Dicastério (Ministério) para os Institutos de Vida

Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica. Trata-se da irmã Simona Brambilla, das

Missionárias da Consolata, licenciada e doutorada em Psicologia pela Universidade

Gregoriana.

2 No Documento Final do Sínodo sobre a sinodalidade, aprovado pelo Papa Francisco

em Outubro de 2024, pode ler-se um belo texto sobre o lugar das mulheres na Igreja,

Povo de Deus. Reza assim no número 60:

“Em virtude do Baptismo, homens e mulheres gozam de igual dignidade no Povo de

Deus. No entanto, as mulheres continuam a encontrar obstáculos para obter um

reconhecimento mais pleno dos seus carismas, da sua vocação e do seu lugar nos

vários sectores da vida da Igreja, em detrimento do serviço à missão comum.

As Escrituras atestam o papel de primeiro plano de muitas mulheres na história da

salvação. A uma mulher, Maria de Magdala, foi confiado o primeiro anúncio da

Ressurreição; no dia de Pentecostes, Maria, a Mãe de Jesus, estava presente no

Cenáculo, juntamente com muitas outras mulheres que tinham seguido o Senhor. É

importante que as passagens relevantes da Escritura encontrem lugar apropriado nos

leccionários litúrgicos. Alguns momentos cruciais da História da Igreja confirmam o

contributo essencial das mulheres movidas pelo Espírito. As mulheres constituem a

maioria daqueles que frequentam as igrejas e são frequentemente as primeiras

testemunhas da fé nas famílias. São activas na vida das pequenas comunidades cristãs

e nas paróquias; dirigem escolas, hospitais e centros de acolhimento; lideram

iniciativas de reconciliação e de promoção da dignidade humana e da Justiça Social. As

mulheres contribuem para a investigação teológica e estão presentes em posições de

responsabilidade nas instituições ligadas à Igreja, na Cúria diocesana e na Cúria

Romana. Há mulheres que exercem cargos de autoridade ou são responsáveis pela

comunidade. Esta Assembleia convida a dar plena implementação de todas as

oportunidades já previstas no direito vigente relativamente ao papel das mulheres,

particularmente nos lugares onde estas continuam por cumprir. Não há razões que

impeçam as mulheres de assumir funções de liderança na Igreja: não se pode impedir o

que vem do Espírito Santo. A questão do acesso das mulheres ao ministério diaconal

também permanece em aberto. É necessário prosseguir o discernimento a este

respeito. A Assembleia convida também a prestar maior atenção à linguagem e às

imagens utilizadas na pregação, no ensino, na catequese e na redacção dos

documentos oficiais da Igreja, dando mais espaço ao contributo de mulheres santas,

teólogas e místicas.”

3 Aqui chegados, permanece a pergunta de sempre: por que é que a questão do acesso

das mulheres ao ministério do diaconado fica apenas em aberto? Mas sobretudo: por

que é que a questão do acesso das mulheres ao chamado ministério sacerdotal não

teve, sequer, possibilidade de ser colocada?

Esta questão constitui um problema central dentro da Igreja. Tentarei na próxima

crónica explicar como ela é inclusivamente uma questão decisiva.

Padre e professor de Filosofia.

Escreve de acordo com a antiga ortografia

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