Porque tarda o “efeito Francisco” a chegar até nós?
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Nos institutos missionários, o efeito Francisco tarda em notar-se, se olharmos para as iniciativas e, sobretudo, para a movimentação juvenil e vocacional. Nos institutos missionários, também entre nós combonianos, houve reacção aos documentos deste papa, no sentido de os ler e os citar, com maior ou menor fidelidade e oportunidade. Mas a nível das iniciativas e do poder de convocação de adultos e de jovens, nada de especial se verificou: nem se renovaram as iniciativas nem aumentaram os jovens em caminho de discernimento vocacional, “em saída,” na perspectiva de uma opção missionária como ela tem sido vivida nos institutos missionários.
Diríamos que o Papa Francisco move as águas, mas estas aparentemente vão mover outros moinhos. Porquê e como, se obviamente os institutos missionários deveriam ser os primeiros beneficiários deste “mover de águas” que significou esta primeira fase do pontificado deste papa?! Não seriam eles os melhores colocados para colherem os frutos desta lufada de ar fresco e desta renovada proposta missionária que está a ser o pontificado do papa Francisco?! Se isto não está a acontecer (seria interessante que as províncias combonianas da Europa reflectissem sobre isso e que essas reflexões fossem partilhadas e dadas a conhecer), então faz sentido, perguntar-se porquê.
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Digamos, então para resumir, que não basta repetir e papaguear as palavras bonitas do papa: é preciso, para os institutos missionários, concretizá-las em novas iniciativas (a nível de animação missionária, promoção vocacional e formação, evangelização); é preciso “inovar” carismaticamente (que significa mostrar a novidade e actualidade do próprio carisma em acção), para polarizar os dinamismos eclesiais que o papa Francisco está a provocar....
O papa Francisco faz apelo a uma religiosidade (popular), a uma atitude de abertura (acento sobre a compreensão e compaixão), a uma espiritualidade pessoal integrada (com acento na vida sacramental e na oração pessoal) ... a coisas que muitos, nos institutos missionários, deram há muito por superadas e com as quais dificilmente estarão agora em sintonia. Não me alongo mais nisto, mas é evidente que entre nós Eucaristia diária, adoração eucarística, terço, meditação pessoal, leitura espiritual... como dimensões cardeais de uma espiritualidade missionária foram há muito postas em causa, deixando-nos numa situação longínqua da proposta pelo papa na AE.
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Na mística e visão missionária comboniana tradicional demos ênfase ao sofrimento dos povos e às dificuldades da vida missionária, sempre a rondar e exigir heroísmo. O “efeito Francisco” desperta-nos para uma mística e uma praxis missionária que integrem e testemunhem a alegria e a beleza de uma vida transformada por Cristo e, por isso, transformante das situações sociais que encontramos e vivemos na vida missionária: uma alegria que será humilde, como já a chamava Bento XVI e que brotará certamente aos pés da Cruz, como nos lembrará S. Daniel Comboni hoje na sua festa; uma beleza descoberta no rosto de todos os homens e mulheres, dos excluídos em especial, como nos recordará ainda S. Daniel Comboni, e que Deus quer fazer resplandecer na face da Igreja e no rosto do instituto comboniano do nosso tempo.
P. Manuel Augusto Lopes Ferreira
10 de Outubro de 2014
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