sábado, 22 de março de 2025

Antes que seja tarde demais! - P. Manuel João Pereira Correia, mccj

 

Antes que seja tarde demais!

Ano C – Quaresma – 3º Domingo
Lucas 13,1-9: “Se não vos converterdes, perecereis todos da mesma forma.”

Depois dos dois primeiros domingos da Quaresma, nos quais fazemos memória das tentações de Jesus no deserto e da sua transfiguração no monte, o calendário litúrgico propõe-nos uma temática quaresmal diferente para cada ciclo litúrgico. Neste ano, no ciclo C, em que lemos o Evangelho de Lucas, o tema dominante é a conversão e a misericórdia.

O trecho do Evangelho de hoje pertence a Lucas. A primeira parte contém um forte apelo de Jesus à conversão, tomando como ponto de partida dois episódios de atualidade. A segunda parte é a breve parábola da figueira estéril, que sublinha tanto a urgência da conversão como a paciência misericordiosa de Deus.

Três tipos de morte

"Naquele tempo, vieram algumas pessoas contar a Jesus o caso daqueles galileus, cujo sangue Pilatos misturara com o dos seus sacrifícios." Essas pessoas querem levar Jesus a pronunciar-se sobre o acontecimento: ou politicamente, condenando a repressão sangrenta de Pilatos, ou religiosamente, justificando o ocorrido como consequência da culpa dos galileus. Com efeito, apesar da reflexão contrária do livro de Job, havia a forte convicção de que toda desgraça estava ligada a uma culpa (cf. João 9,1-2). Aliás, essa ligação entre culpa e castigo ainda está presente na mentalidade religiosa de muitos.

"Tomando a palavra, Jesus disse-lhes: 'Julgais que esses galileus eram mais pecadores do que todos os outros galileus, por terem sofrido tal sorte? Não, digo-vos; mas, se não vos converterdes, perecereis todos do mesmo modo'." E, a este fato trágico, Jesus acrescenta outro, ligado a uma catástrofe: "Ou aquelas dezoito pessoas, sobre as quais caiu a torre de Siloé e as matou, julgais que eram mais culpadas do que todos os habitantes de Jerusalém? Não, digo-vos; mas, se não vos converterdes, perecereis todos do mesmo modo."

À primeira vista, parece que Jesus evita a questão. Mas não é assim. Jesus reage como profeta, levando os seus ouvintes a aprofundarem a interpretação dos acontecimentos. Sem essa releitura da vida, os fatos permanecem mera crónica e não se tornam história de salvação.

Os galileus mortos por Pilatos ou os homens esmagados pela torre poderiam ser qualquer um de nós, diz Jesus. Trata-se de um evento casual. Mas, como profeta, Jesus alerta para uma ameaça bem mais grave que paira sobre todos: "Digo-vos, se não vos converterdes, perecereis todos do mesmo modo." E repete esta afirmação duas vezes!

Portanto, há três tipos de morte: a primeira, causada pela injustiça (os galileus mortos por Pilatos); a segunda, devida a eventos naturais ou à negligência (os dezoito esmagados pela torre); e, finalmente, a terceira, a morte escatológica por falta de conversão, que é sem dúvida a mais temível! As duas primeiras dependem da nossa precariedade; a terceira, da nossa responsabilidade!

Mas o que é a conversão?

Todos temos uma ideia do que é e do que implica a conversão, mas a etimologia da palavra pode ajudar-nos a aprofundá-la.

Em latim, converter-se/conversão (se convertere / conversio) significa mudar de direção, de caminho, de rota. Sublinha a dimensão espacial, a mudança de direção de um corpo: fazer uma inversão de marcha depois de errar o caminho. Se decidi converter-me, pergunto-me: para onde está a ir o meu caminho? Estou a caminhar na direção certa?

Em hebraico, converter-se/conversão (shuv / teshuvá) significa voltar-se, regressar, retornar. É um dos verbos mais usados na Bíblia hebraica (1060 vezes). Converter-se é mudar de rota, sim, mas para voltar para Deus, fonte de vida, de renascimento e de alegria. Converter-se é regressar à casa do Pai e deixar-se abraçar por Ele.

Em grego (metanoein / metánoia), significa mudar de ideia ou mudar a maneira de pensar. Para se converter, é necessário mudar a mentalidade, como afirma São Paulo: "Não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos, renovando a vossa maneira de pensar, para poderdes discernir a vontade de Deus, o que é bom, agradável e perfeito" (Romanos 12,2).

A conversão toca todas as dimensões da vida e implica a mudança de toda a pessoa: modo de agir (conversio), coração (teshuvá) e mente (metánoia).

A urgência da conversão

Jesus acrescenta a parábola da figueira para sublinhar a urgência da conversão e a paciência misericordiosa de Deus.

"Dizia também esta parábola: 'Certo homem tinha uma figueira plantada na sua vinha e foi procurar frutos nela, mas não encontrou nenhum'." A figueira, assim como a vinha, é símbolo do povo de Israel (cf. Oseias 9,10; Jeremias 8,4-13; 24,1-10), mas também da Igreja e de cada um de nós. O que nos torna estéreis? O mal que há dentro de nós!

"Então disse ao vinhateiro: 'Há três anos que venho procurar frutos nesta figueira e não encontro nenhum. Corta-a! Para que há de ocupar inutilmente o terreno?'" Os três anos podem ser uma alusão aos três anos do ministério de Jesus. João tinha anunciado que o Messias viria com o machado na mão: "Toda árvore que não dá bom fruto é cortada e lançada ao fogo" (Lucas 3,9). No entanto, Jesus adia o julgamento para o fim dos tempos!

"Mas ele respondeu-lhe: 'Senhor, deixa-a ainda este ano; eu cavarei em volta dela e deitarei adubo. Talvez venha a dar fruto no futuro; se não, então cortá-la-ás'." Segundo a legislação do Levítico, os frutos só deveriam ser colhidos a partir do quarto ano (Levítico 19,23-25). Assim, somando os anos, temos 3+3+1, o que perfaz 7 anos: o número perfeito da plenitude da paciência misericordiosa de Deus!

O vinhateiro é Jesus, que intercede por nós e nos "aduba" com o seu sangue e a sua palavra! Também nós somos chamados a ser vinhateiros, não para condenar (cortar), mas para implorar a misericórdia de Deus e "adubar" o mundo com a oração. E, no final, deixar a Deus a última palavra: "Talvez venha a dar fruto no futuro; se não, então cortá-la-ás"… Tu, Senhor, não eu!

Caros amigos, nesta Quaresma, Deus concede-nos ainda um tempo suplementar, o ano da graça que Jesus anunciou na sinagoga de Nazaré (Lucas 4,19). As oportunidades na vida e na graça não se repetem: é preciso aproveitá-las! Antes que seja tarde demais!

P. Manuel João Pereira Correia, mccj



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