domingo, 12 de outubro de 2025

Curados... mas não salvos! - Pe. Manuel João Pereira Correia, mccj

 Curados... mas não salvos!

Ano C – Tempo Comum – 28º Domingo
Lucas 17,11-19: “Levanta-te e vai; a tua fé te salvou!”

No tempo de Jesus, os leprosos representavam a figura do marginalizado absoluto. Outras doenças de pele também eram frequentemente identificadas de forma genérica como “lepra”. Na Lei mosaica (cf. Levítico 13–14), ela era considerada uma impureza ritual, não apenas uma doença física. O sacerdote tinha a tarefa de confirmar a enfermidade. O leproso era declarado “impuro” e devia viver isolado da comunidade. Esse isolamento não era apenas sanitário, mas também religioso e social: acreditava-se que a lepra era um sinal de pecado ou de castigo divino. Viviam fora das aldeias, muitas vezes em grupos ou cavernas, sobrevivendo graças à caridade ou às esmolas deixadas à distância.

Curados, mas não salvos

Quando o grupo, de longe, grita: “Jesus, Mestre, tem piedade de nós!”, os leprosos não especificam o que desejam dele — talvez esperem apenas uma esmola. Mas quando Jesus os convida a irem apresentar-se aos sacerdotes, eles entendem que sua intenção é curá-los. São os sacerdotes, de fato, que devem atestar oficialmente a cura. Assim, confiando na palavra de Jesus, colocam-se a caminho.

Por que Jesus se lamenta com certa tristeza e decepção — bem visíveis na tríplice pergunta que faz — de que apenas o samaritano volte? Não porque esperasse um agradecimento! Não, Jesus esperava que o milagre fosse reconhecido como um sinal messiânico (cf. Mt 11,5 e Lc 7,22). Ou seja, que houvesse uma “conversão”, como no caso da cura de Naamã, o sírio, na primeira leitura: “Agora sei que não há Deus em toda a terra, senão em Israel” (2Rs 5,15).

No fundo, poderíamos dizer: mas que mal fizeram os outros nove? Obedeciam a Jesus e estavam indo aos sacerdotes. Iriam “louvar a Deus” no Templo, com um sacrifício; fariam festa com a família e, talvez, voltariam depois para agradecer a Jesus. Onde está, então, o erro?

Na realidade, apenas o samaritano — o mais excluído do grupo, considerado herege — é aquele que, como a samaritana no poço, reconhece que “chegou a hora em que nem neste monte nem em Jerusalém adorareis o Pai” (Jo 4,21). Só o samaritano se “converte”. Jesus é o novo Templo, onde se louva a Deus, que não apenas cura o corpo, mas salva a pessoa em toda a sua profundidade. Os outros nove são curados, mas o seu processo de cura se limita ao físico. Permanecem ligados ao antigo Templo e ao seu culto. Apenas um é salvo. Ele chega à fé e reconhece em Jesus o Messias. Por isso Jesus lhe diz: “Levanta-te e vai; a tua fé te salvou!”.

Este episódio é como uma parábola que reflete também a nossa realidade cotidiana. Todos recorremos a Jesus para sermos curados de nossos males, mas poucos seguem o novo caminho que Ele traça. Preferimos os caminhos já conhecidos, aqueles que não nos colocam em questão.

Alguns pensamentos de aprofundamento do Evangelho

1. A vida e a fé em caminho

O trecho do Evangelho de hoje é um texto cheio de movimento: encontramos nele dez verbos de ação. É, de certo modo, uma imagem da existência, vivida como um caminho que vai do nascimento até a partida deste mundo. Talvez nenhuma outra metáfora expresse melhor o percurso da vida e da história.
A vida de fé é também um caminho, que começa no batismo e se dirige — percorrendo trilhas e estradas diversas, muitas vezes imprevisíveis — à meta celeste. Tudo na fé é vivido e experimentado “em caminho”, passo a passo, com esforço e perseverança.
O relato de hoje pode ser lido como uma alegoria da humanidade e da fé cristã. Os leprosos são dez — um número que representa a totalidade. Todos os dez são curados, agraciados, mas apenas um é salvo pela fé. Todos usufruem dos dons de Deus, mas poucos retornam para louvar e partir salvos. Onde não há gratidão, o dom se perde, diz o teólogo Bruno Forte.

2. Um caminho de “graça”

A vida e a fé são, antes de tudo, marcadas pela gratuidade: são dons. O desenvolvimento desses dons exige a contribuição de muitas mãos amorosas. É por isso que “obrigado” é uma das palavras mais frequentes em nosso vocabulário cotidiano. É um movimento espontâneo, embora às vezes possa tornar-se mecânico. Dizer obrigado não é mera questão de etiqueta, mas uma atitude de vida. Significa conceber a existência não como um “tomar”, mas como um “receber”.
Se isso é verdadeiro no cotidiano, é ainda mais na vida de fé. O texto grego diz que o samaritano se lançou aos pés de Jesus “agradecendo”: eucharistōn. Nesse verbo aparece a palavra charis(graça), de onde vem eucharistía. Dizer “obrigado” torna-se ação de graças — “Eucaristia”.
Na Bíblia, o agradecimento acompanha cada passo do crente: o próprio Jesus age continuamente agradecendo ao Pai. Segundo São Paulo, a Igreja é chamada a ser um povo que abunda em agradecimento. Em suas cartas encontramos inúmeros convites para dar graças a Deus continuamente, em tudo e a todo momento: “Dai sempre graças por tudo a Deus” (Ef 5,20).

3. Uma vida sem bênção é sem graça e torna-se desgraçada

Diz a tradição judaica: “Quem usufrui de qualquer bem neste mundo sem antes dizer uma oração de agradecimento ou uma bênção comete uma injustiça.” A ingratidão nos torna insatisfeitos, críticos, resmungões, pessimistas. Da lógica do dom e da acolhida passa-se à lógica da conquista voraz, que reivindica, exige, reclama, desconfia...
Uma vida sem bênção é sem graça, e com o tempo torna-se desgraçada; por fim, transforma-se em um “inferno”: o lugar — ou melhor, a condição — de quem não reconhece a graça, torna-se incapaz de acolher o dom e, portanto, recusa-se a agradecer.

4. “E os outros nove, onde estão?”

É a pergunta que Jesus também dirige a nós. A nós que, por graça, “aqui estamos”, voltamos para fazer “eucaristia”. Penso nas multidões afastadas do Pai de todo dom (Tiago 1,17), nas nossas igrejas vazias, nas famílias perdidas... Acolher essa pergunta significa ter a coragem e o amor de responder a Jesus: “Eis-me aqui, estou também em nome deles para te dizer: obrigado!”

Para cultivar a graça e a bênção

A capacidade de agradecer deve ser cultivada. Eis um exercício para fortalecê-la:
Entrar cada manhã no novo dia não pela porta exterior do fazer, da pressa pelos problemas a enfrentar, das mil preocupações que nos assaltam, mas pela porta interior do coração: a da consciência do dom de um novo dia, do agradecimento e do louvor.
Este primeiro passo dá ritmo ao andamento do dia e determina sua qualidade e sua cor — cinzenta ou luminosa. De fato, há duas maneiras completamente diferentes de retomar, a cada dia, o caminho da vida: entrar no dia abençoados e voltar agradecendo, ou entrar e sair dele sem graça!

Pe. Manuel João Pereira Correia, mccj

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