sábado, 30 de março de 2024

Páscoa, o Dia sem ocaso - Pe.Manuel João - MC

 Páscoa, o Dia sem ocaso

Vigília Pascal - Marcos 16,1-7: “Procurais a Jesus de Nazaré, o Crucificado? Ressuscitou: não está aqui.”
Domingo de Páscoa - João 20,1-9: “Entrou também o outro discípulo: viu e acreditou.”
Missa vespertina - Lucas 24,13-35: “Ficai connosco, porque o dia está a terminar e vem caindo a noite.”

“Este é o dia que o Senhor fez: exultemos e cantemos de alegria”, diz o salmo do dia de Páscoa (Salmo 117). Este dia foi desejado, esperado, preparado, mas não fomos nós que o fizemos! É o dia que o Senhor fez! Há coisas, as coisas que realmente importam, que a nossa mão não pode fazer. Este dia é a obra de Deus, a sua obra-prima. Na primeira “semana santa”, a semana da criação, Deus tinha posto ordem no caos, criando o tempo e o espaço, “e eis que era uma coisa muito boa” (Génesis 1,31). Nesta nova semana, a Semana Santa, Deus libertou a sua criação da corrupção da morte, trazendo a eternidade para o tempo. “Tudo isto veio do Senhor: é admirável aos nossos olhos”, continua o salmista. Sim, uma maravilha com que nunca sonhámos. Cristo, “a Porta”, pôs a terra em comunicação com o céu. A morte já não é a “porta de não retorno”, mas a porta de entrada para o Dia sem ocaso. 

Finalmente, uma coisa nova debaixo do céu!

O que foi será
e o que foi feito será feito de novo;
não há nada de novo debaixo do sol.
Talvez haja algo a dizer:
"Eis que isto é novo"? 
Isso mesmo já aconteceu
nos séculos que nos precederam”. 
(Qoèlet 1,9-10)

Eis, Qoèlet, uma verdadeira NOVIDADE! Um homem, Jesus de Nazaré, que a morte tinha engolido e o túmulo tinha encerrado, saiu vivo, vencedor da morte. Foi no dia 9 de abril do ano 30. Questiona os tempos passados. Nunca tinha acontecido nada assim! O inacreditável aconteceu! E nós somos testemunhas disso! Corremos, pois, com o coração a rebentar no peito, com lágrimas de alegria, depois de lágrimas de desespero, desejosos de dizer a toda a gente: Cristo ressuscitou!

A partir de agora tudo muda. Nada será como dantes! Qoèlet, não odeies mais a vida (2,17)! Não digas mais “Felizes os mortos, que já partiram, mais do que os vivos que ainda vivem” (4,2)! Porque...

A morte e a vida
travaram um admirável combate:
Depois de morto,
vive e reina o Autor da vida...
Sabemos e acreditamos:
Cristo ressuscitou dos mortos!”

(Sequência Pascal)

A partir desse 9 de abril, começou a corrida missionária. “Ide, dizei a seus discípulos e a Pedro que ele irá à vossa frente, na Galileia. Lá vós o vereis, como ele mesmo tinha dito” (Marcos 16,1-7, evangelho da Vigília). E os seguidores do “Caminho” (Actos dos Apóstolos 9,2, etc.), incansáveis - porque o coração feliz nunca se cansa! - continuam a percorrer os caminhos e estradas das “Galileias”, das periferias do mundo, desejosos de comunicar a todos esta Boa Nova: Cristo ressuscitou! 

O Ressuscitado deve ser procurado onde há vida! 

“Procurais a Jesus de Nazaré, o Crucificado? Ressuscitou: não está aqui”. Se “não está aqui”, onde é que o devemos procurar? Onde a vida fervilha! Onde se respira ar novo! Não onde a vida apodrece!...

É de perguntar se o ar novo e primaveril do Ressuscitado é respirado nas nossas igrejas e assembleias. Infelizmente, há que reconhecer que, por vezes, respiramos mal, há um ar viciado nos nossos ambientes eclesiais. Tornámo-nos alérgicos à novidade, não queremos ser desafiados pelo novo, por aquilo que não se enquadra nos nossos velhos padrões de vida e de pensamento. Por vezes, temos a impressão de que as portas e janelas abertas pelo Concílio Vaticano II se fecharam de novo. Não admira, pois, que pessoas inquietas, insatisfeitas com a sociedade atual e à procura de um mundo diferente, vão para outros lugares onde a vida fermenta.

Dizemos que amamos a novidade, mas à nossa maneira. Na realidade, tememos a novidade, porque ela nos inquieta e perturba os nossos ritmos habituais. Preferimos os verbos de repetição: tornar novo o velho. Foi por isso que os dois discípulos de Emaús ficaram desiludidos: “Nós esperávamos que fosse ele quem havia de libertar Israel” (Lucas 24,13-35, evangelho da missa vespertina de Páscoa): Os apóstolos esperavam o mesmo antes da ascensão: “Senhor, será este o tempo em que restaurarás o reino para Israel?” (Actos dos Apóstolos 1,6). O Senhor, porém, não é um “restaurador”, mas um inovador: “Não vos lembreis mais das coisas passadas, não penseis mais nas coisas antigas! Eis que estou a fazer uma coisa nova, que já está a brotar, não a vedes?” (Isaías 43,18-19). 

Oração e votos de Boa Páscoa

“Que a Páscoa vença o nosso pecado, desfaça os nossos medos e nos faça ver a tristeza, a doença, os maus tratos e até a morte, do lado certo: o do "terceiro dia". Desse lado, Calvário aparecer-nos-á como o Tabor. As cruzes parecerão antenas, colocadas ali para ouvirmos a música do Céu. Os sofrimentos do mundo não serão para nós os gemidos da agonia, mas as dores do parto.
E os estigmas deixados pelos pregos nas nossas mãos crucificadas, serão as brechas através das quais já vislumbraremos as luzes de um mundo novo!” (Don Tonino Bello).

Desejo a todos uma boa Páscoa!

P. Manuel João Pereira Correia mccj
Verona, 27 de março de 2024

 

 

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