sábado, 1 de fevereiro de 2025

A Festa do Encontro - P. Manuel João, MC

 A Festa do Encontro

Ano C – Festa da Apresentação do Senhor
Lucas 2,22-40: “Luz para iluminar as nações”

No dia 2 de fevereiro, exatamente 40 dias após o Natal, celebra-se a festa litúrgica da Apresentação de Jesus no Templo, que este ano, ao cair no domingo, tem precedência sobre as leituras dominicais. Esta festa é popularmente conhecida como festa da Candelária, pois neste dia são abençoadas as velas, símbolo de Cristo, luz do mundo.

A festa é muito antiga: teve origem no Oriente e difundiu-se no Ocidente após o século VI. No passado, era dedicada à Purificação da Virgem Maria, como recordado no Evangelho de hoje. Segundo o costume judaico, uma mulher era considerada impura devido ao sangue menstrual por um período de 40 dias após o parto de um menino (e por 80 dias no caso de uma menina!). Como toda mulher judia observante, Maria, após quarenta dias, vai ao Templo para se purificar e oferecer um sacrifício em obediência à Torá (Levítico 12,1-8): um cordeiro e uma pomba ou, se fosse pobre, duas rolas ou dois pombinhos. Isso explica por que Maria e José foram ao Templo com Jesus e ofereceram duas rolas ou dois pombos (Lucas 2,22-24).
Com a reforma litúrgica de Paulo VI (1969), a celebração de hoje retomou o título original de Apresentação do Senhor.

Segundo as Escrituras Sagradas, todo primogênito, seja humano ou animal, pertencia a Deus (Êxodo 13,2). O filho primogênito era resgatado mediante o pagamento de cinco siclos de prata, dentro de 30 dias após o nascimento (Números 18,15-16). Esse resgate era um sinal da consagração dos primogênitos a Deus, em memória da libertação do Egito, quando Deus feriu os primogênitos egípcios, mas poupou os dos israelitas (Êxodo 13,1-2.11-16).
Notemos, porém, que nas Escrituras Sagradas não existe uma lei específica que imponha a apresentação do filho primogênito no Templo. São Lucas não menciona o pagamento do resgate, mas fala apenas da apresentação no Templo.

As leituras ajudam-nos a compreender teologicamente o significado profundo desta festa.
Na primeira leitura, o profeta Malaquias (3,1-4) anuncia a entrada messiânica do Senhor em seu Templo para purificar o sacerdócio e o povo de suas infidelidades. Assim, a apresentação do Menino prenuncia profeticamente sua entrada no Templo para purificar tanto o culto quanto o próprio Templo. Aliás, seu corpo torna-se o novo Templo.
Na segunda leitura, o autor da Carta aos Hebreus (2,14-18) apresenta Jesus que, tornando-se semelhante em tudo aos irmãos, é o sumo sacerdote misericordioso, vindo para purificar o povo de seus pecados.

O trecho do Evangelho é rico em referências às Escrituras Sagradas. São Lucas é um narrador refinado e, nos seus escritos, consegue combinar textos bíblicos e diferentes tradições judaicas. Seu objetivo não é tanto histórico, mas catequético e teológico.
Por trás desse relato, aparentemente simples e linear, emergem, em filigrana, alusões a vários textos: a profecia de Malaquias sobre a entrada de Deus no seu Templo (Malaquias 3); o episódio do pequeno Samuel que sua mãe Ana leva ao Templo de Silo (1 Samuel 1-2); o relato da subida da Arca da Aliança a Jerusalém (1 Reis 8); a visão de Ezequiel sobre o retorno da “Glória do Senhor” (Shekinah); e, finalmente, as alusões à visão do profeta Daniel sobre Jerusalém e o Templo (Daniel 9).
Poderíamos dizer, portanto, que “Jesus entra no Templo não para se consagrar, mas para consagrá-lo e tomar posse dele. A referência, de fato, a Malaquias, Samuel e Daniel revela a intenção profunda de Lucas, que não se limita a narrar simples ‘fatos’, mas ‘acontecimentos’, ‘kairòi’, que abrangem e determinam toda a história: a de Israel e a nova que começa com o nascimento de Jesus” (Paolo Farinella).

Pontos de reflexão

1. Festa do Eis-me aqui.
A Apresentação de Jesus no Templo pode ser relida à luz do Salmo 40,7-9, reinterpretado pelo autor da Carta aos Hebreus nestes termos: “Entrando no mundo, Cristo diz: [...] Eis-me aqui, eu venho para fazer a tua vontade” (Hebreus 10,5-10). Esse “Eis-me aqui” de Cristo ao Pai é, ao mesmo tempo, um “Eis-me aqui” dirigido a cada ser humano. A relação de fé é um diálogo amoroso contínuo entre o Eis-me aqui de Deus e o nosso. No entanto, a verdade do nosso Eis-me aqui se manifesta concretamente no nosso Eis-me aqui às necessidades do próximo.
O drama de Deus e do homem está bem expresso nestas palavras: “Eu me deixei buscar pelos que não perguntavam por mim, eu me deixei encontrar pelos que não me procuravam; eu disse: ‘Eis-me aqui, eis-me aqui!’ a uma nação que não invocava o meu nome” (Isaías 65,1).

2. Festa do Encontro.
Esta festa teve origem no Oriente com o nome de “Hypapanté”, ou seja, “Encontro”. Deus vem ao encontro do seu povo e nós vamos ao encontro dele. A procissão, como ato comunitário, expressa essa profunda realidade da fé cristã: caminhar juntos em direção ao Senhor. O deslocamento físico remete ao movimento espiritual da alma.
Essa dimensão do encontro é multifacetada. Simeão e Ana representam o Israel crente e o Antigo Testamento que acolhe o Novo. Além disso, esse casal simboliza toda a humanidade que caminha em direção à luz de Cristo. Finalmente, o encontro entre o casal idoso e o casal jovem, José e Maria, expressa a comunhão entre as gerações. A festa de hoje é, portanto, um belíssimo e eloquente ícone da vocação cristã e do ideal de uma humanidade em caminhada para o encontro com Deus e entre nós.

3. Festa da Luz.
A dimensão da luz é uma característica fundamental e distintiva desta festa. Jesus é a Luz que vem para iluminar cada ser humano, mas as trevas não o acolheram (João 1,4-9). Por isso, Jesus e cada um de seus discípulos tornam-se “sinal de contradição”. Para viver na Luz e ser testemunha da Luz, é preciso aceitar ser um sinal de contradição, disposto a enfrentar a oposição das “trevas” que tentarão suprimir a Luz!

P. Manuel João Pereira Correia, mccj