segunda-feira, 3 de fevereiro de 2025

Donald Trump. Que Deus? Anselmo Borges 31 Jan 2025

 Donald Trump. Que Deus?

Anselmo Borges

31 Jan 2025

Ao terminar a minha colaboração semanal no DN, quero deixar uma homenagem

sentida a uma mulher, a bispa episcopaliana Mariann Edgar Budde, e a tantas e tantos

que, com inteligência e coragem, continuam a missão do Evangelho de Jesus.

1. No passado dia 20, no seu discurso de tomada de posse, Donald Trump declarou

triunfalmente que começava “a era de ouro” da América. Fora salvo por Deus da bala

assassina, “para fazer a América grande outra vez”; a partir de agora, “há apenas dois

géneros: masculino e feminino” e um novo sistema de imigração nas fronteiras e a

deportação massiva de imigrantes ilegais, delinquentes...

2. No dia seguinte, iniciou o dia com uma celebração religiosa na Catedral Nacional de

Washington, um acontecimento que encerra os actos da investidura do novo

Presidente.

A pregação - ficam excertos - coube à bispa Mariann Budde: “Como país, reunimo-nos

esta manhã para rezar pela unidade..., uma unidade que serve o bem comum..., uma

forma de estar com os outros que abraça e respeita as nossas diferenças. Permite-nos,

nas nossas comunidades e nas esferas do poder, preocuparmo-nos verdadeiramente

uns com os outros, mesmo quando discordamos.” A unidade tem de importar-nos:

“Espero que nos importemos, porque a cultura do desprezo que se normalizou neste

país ameaça destruir-nos.” Temos de continuar a acreditar nos ideais expressos na

Declaração da Independência, com a sua “afirmação da igualdade e dignidade

humanas inatas”.

E quais são os fundamentos da unidade? “Com base nas nossas tradições e textos

sagrados, existem pelo menos três.” O primeiro é “honrar a dignidade inerente a cada

ser humano, que é o direito inato de todas as pessoas como filhos do nosso único

Deus.” O segundo é “a honestidade, tanto nas conversas privadas como no discurso

público.” O terceiro é a humildade, “da qual todos precisamos, porque somos todos

seres humanos falíveis.”

“Permita-me um último pedido. Senhor presidente, milhões de pessoas confiaram em

si e, como disse ontem à nação, sentiu a mão providencial de um Deus amoroso. Em

nome do nosso Deus, peço-lhe que tenha compaixão do povo do nosso país que agora

está com medo.” E lembrou gays, lésbicas e transexuais. “E as pessoas que cuidam das

nossas colheitas, limpam os nossos escritórios, trabalham nas explorações agrícolas e

nas fábricas, lavam a louça e trabalham no turno da noite nos hospitais: podem não ser

cidadãos ou não ter a documentação adequada, mas a grande maioria dos imigrantes

não são criminosos. Eles pagam impostos e são bons vizinhos. Peço-lhe que tenha

misericórdia, senhor presidente, e ajude os que fogem das zonas de guerra e da

perseguição nas suas terras a encontrar compaixão e acolhimento aqui. O nosso Deus

ensina-nos que devemos ser misericordiosos com o estrangeiro, pois éramos todos

estrangeiros nesta terra.” “Que Deus nos conceda a força e a coragem para honrar a

dignidade de cada ser humano.”

Trump, que é presbiteriano e tem a Bíblia como livro favorito, não gostou, escrevendo

na sua rede social contra a bispa: “Com comentários inapropriados, o sermão foi

aborrecido e muito pouco inspirador. Ela e a sua Igreja devem pedir desculpa ao

público.” Evidentemente, a bispa declarou que não o faria, de modo nenhum.

3. Numa carta aberta, o jesuíta J. I. González Faus lembrou a Trump que o Deus de

Jesus é “o Amor infinito”, não “o orgulho infinito”. Penso que isto deveria ser lembrado

a todos.

Padre e professor de Filosofia.

Escreve de acordo coma antiga ortografia

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