Donald Trump. Que Deus?
Anselmo Borges
31 Jan 2025
Ao terminar a minha colaboração semanal no DN, quero deixar uma homenagem
sentida a uma mulher, a bispa episcopaliana Mariann Edgar Budde, e a tantas e tantos
que, com inteligência e coragem, continuam a missão do Evangelho de Jesus.
1. No passado dia 20, no seu discurso de tomada de posse, Donald Trump declarou
triunfalmente que começava “a era de ouro” da América. Fora salvo por Deus da bala
assassina, “para fazer a América grande outra vez”; a partir de agora, “há apenas dois
géneros: masculino e feminino” e um novo sistema de imigração nas fronteiras e a
deportação massiva de imigrantes ilegais, delinquentes...
2. No dia seguinte, iniciou o dia com uma celebração religiosa na Catedral Nacional de
Washington, um acontecimento que encerra os actos da investidura do novo
Presidente.
A pregação - ficam excertos - coube à bispa Mariann Budde: “Como país, reunimo-nos
esta manhã para rezar pela unidade..., uma unidade que serve o bem comum..., uma
forma de estar com os outros que abraça e respeita as nossas diferenças. Permite-nos,
nas nossas comunidades e nas esferas do poder, preocuparmo-nos verdadeiramente
uns com os outros, mesmo quando discordamos.” A unidade tem de importar-nos:
“Espero que nos importemos, porque a cultura do desprezo que se normalizou neste
país ameaça destruir-nos.” Temos de continuar a acreditar nos ideais expressos na
Declaração da Independência, com a sua “afirmação da igualdade e dignidade
humanas inatas”.
E quais são os fundamentos da unidade? “Com base nas nossas tradições e textos
sagrados, existem pelo menos três.” O primeiro é “honrar a dignidade inerente a cada
ser humano, que é o direito inato de todas as pessoas como filhos do nosso único
Deus.” O segundo é “a honestidade, tanto nas conversas privadas como no discurso
público.” O terceiro é a humildade, “da qual todos precisamos, porque somos todos
seres humanos falíveis.”
“Permita-me um último pedido. Senhor presidente, milhões de pessoas confiaram em
si e, como disse ontem à nação, sentiu a mão providencial de um Deus amoroso. Em
nome do nosso Deus, peço-lhe que tenha compaixão do povo do nosso país que agora
está com medo.” E lembrou gays, lésbicas e transexuais. “E as pessoas que cuidam das
nossas colheitas, limpam os nossos escritórios, trabalham nas explorações agrícolas e
nas fábricas, lavam a louça e trabalham no turno da noite nos hospitais: podem não ser
cidadãos ou não ter a documentação adequada, mas a grande maioria dos imigrantes
não são criminosos. Eles pagam impostos e são bons vizinhos. Peço-lhe que tenha
misericórdia, senhor presidente, e ajude os que fogem das zonas de guerra e da
perseguição nas suas terras a encontrar compaixão e acolhimento aqui. O nosso Deus
ensina-nos que devemos ser misericordiosos com o estrangeiro, pois éramos todos
estrangeiros nesta terra.” “Que Deus nos conceda a força e a coragem para honrar a
dignidade de cada ser humano.”
Trump, que é presbiteriano e tem a Bíblia como livro favorito, não gostou, escrevendo
na sua rede social contra a bispa: “Com comentários inapropriados, o sermão foi
aborrecido e muito pouco inspirador. Ela e a sua Igreja devem pedir desculpa ao
público.” Evidentemente, a bispa declarou que não o faria, de modo nenhum.
3. Numa carta aberta, o jesuíta J. I. González Faus lembrou a Trump que o Deus de
Jesus é “o Amor infinito”, não “o orgulho infinito”. Penso que isto deveria ser lembrado
a todos.
Padre e professor de Filosofia.
Escreve de acordo coma antiga ortografia
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